domingo, 30 de junho de 2013

A Mentira - Capítulo 15: A cascata

            Era o quinto dia usando o maldito cinto. Ele não havia cumprido a promessa de retirar antes. Isso muito provavelmente era culpa de Jacob. Ele aparecia na fazenda muito seguidamente para dizer ‘oi’ ou trazer algum agrado. Nunca tentou nada ou foi desagradável, mas estava sempre presente, despertando a ira e o ciúme de Christian.
            Não tiveram grandes brigas nos últimos dias. Grey passava muito tempo fora de casa e ela pouco conseguia conversar com ele. A não ser logo cedo pela manhã. Hora em que ele vinha e, constrangedoramente, abria o cinto. Ela usava o banheiro e tomava banho, antes de voltar a restrição imposta por ele.
            - Está sentindo algo de errado? Está tudo bem? – Ele sempre perguntava.
            - Se eu falar que não você abre essa coisa?
            - Eu vou olhar, Ana. Já que confiança é algo que não existe entre nós.
            - Você acha que eu te enganaria, Grey? Pra que? Se eu quisesse, exigiria a chave e acabava com essa palhaçada! Só fico porque, apesar de tudo, ainda te amo e...você curte essas coisas.
            Aproveitando-se da vulnerabilidade que ela mostrava naquele momento, Christian deitou-se na cama levando-a junto beijou-a como sempre desejava, mas nunca fazia. Apalpou-a por todo o corpo até alcançar a região temporariamente liberta do cinto. Colocou dois dedos nela e sentiu-a apertada e molhada. Queria continuar, mas preferiu castigá-la...mesmo que isso também representasse deixá-lo dolorido pelo resto do dia.
            - Não seja tão oferecida, Ana. Assim posso achar que realmente precisa do cinto para conseguir ficar sem sexo. – Abriu-lhe as pernas de forma nada conservadora para olhar se havia algum machucado ou sinal de que o cinto a estava fazendo mal. – Está avermelhado....mas nada que um talquinho não resolva. Minha menininha vai se comportar hoje?
            - Depende...se não apagar meu fogo...posso procurar outro. Querido esposo. – Era claramente apenas uma provocação. Estava há dias sem sexo e agora ele ainda a provocava daquela forma antes de aprisioná-la.
Ana sentia-se como um bebê tendo sua fralda trocada. Ele parecia se divertir com a situação. Apertou bastante o couro rente a sua pele. Doeu, mas não iria reclamar. Não ia se fazer de frágil para ganhar alguma migalha de Christian. Não!
- Vamos ver se agora você consegue procurar outro, Anastásia! – Caminhou vermelho de raiva até a porta. – Eu não quero aquele Jacob intrometido na nossa casa novamente! Ele não deve vir aqui. E também não quero que você saia.

Ana achou que não valia a pena iniciar outra briga apenas para dizer pra ele que não iria impedir ninguém de visitá-la e, muito menos, ficar sentada na sala tricotando enquanto ele não voltava. Ele que fosse trabalhar que ela logo encontraria uma coisa legal para passar o dia. Talvez pegasse seu cavalo e fosse explorar melhor a região.
- Nossa... dessa vez ele caprichou no aperto. – Falou vestindo uma calça jeans e uma blusa leve. Afinal seria um dia quente.
- Falou comigo, Ana? – Kate apareceu na porta.
- Não Kate...falei sozinha mesmo. Essa terra deve estar me deixando louca. Já que meu celular não funciona, comecei a falar sozinha. – Elas riram. – Como está a Bia?
- Bem...na verdade ela sente falta do movimento da cidade grande. De ter amigos. De interagir. E quando fomos pro sul ela frequentava uma escolinha maternal. Aqui só irá para escola quando ficar mais velha.
- Eu entendo, Kate, isso é ruim. Na verdade acho que a sua vida não é aqui. – Não quis ser desagradável. - Quero você aqui comigo. Mas esse lugar não é para você.
- E é para você, Ana?
Por essa ela não esperava. Anastásia não podia dizer que amava aquela fazenda. Por vezes nem se sentia a dona do lugar. Lhe era estranho não ter a companhia de dança, não estar perto da família ou dos amigos, não ter contato com as pessoas queridas a estava incomodando mais que qualquer cinto de castidade.
- Não sei, Kate. Aqui pode não ser o meu lar...mas o Grey é o meu marido. E eu o amo...então sim, eu acho que é o meu lugar no mundo. Mas eu estou aqui por que desejo e não para me esconder.
- Sim, eu sei. Ainda bem que vim parar aqui, Ana. Você me ajuda muito. Se fosse embora, não sei o que faria.
- Se um dia eu deixar esse lugar, Kate, eu levo você e Bia comigo.

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Depois de cavalgar pelos arredores da casa, Ana veio pra casa almoçar. Sabia que Christian comeria com os peões e não se preocupou com horário. Quando chegou recebeu um debochado recado de Jéssica.
- O patrão procurou pela esposa...e ela não estava. – Disse a petulante garota.
- Não me diga! Vai ver você não procurou ela bem. – Respondeu. – Ele deixou algum recado?
- Disse que virá a tarde e quer encontrá-la aqui. Eu se fosse você não saía mais.

Essa ela não podia deixar passar.

- Essa é exatamente a questão, Jéssica. Você não é eu e você, apensar de desejar muito, não é a patroa dessa casa. Você é uma garotinha que fica se oferecendo para o meu marido...apenas isso.
- Você nem o quer...nem dá atenção pra ele. Se eu fosse mulher dele ficaria em casa esperando para almoçar junto, mas você sai.
- Você não é! Eu sou a esposa de Christian. E eu sei bem que está louca para eu sair, vai correndo contar pra ele e ficará imensamente feliz se nós brigarmos. Pois pode comemorar...eu vou sair para nadar assim que almoçar. Passe bem!
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Cumprindo exatamente o que havia dito, Ana almoçou sozinha e depois de urinar e fazer a demorada higiene que precisava repetir sempre que usava o banheiro estando com o cinto, saiu com seu cavalo. Ele realmente não tinha nada de manso, mas costumava obedecer sem refugar muito. Ainda não eram amigos...mas já estavam se relacionando bem.
- Jacob exagerou. Você é um cavalinho lindo e dedicado...só não obedece qualquer ordem. Tem gênio forte. Gosto de você!
Cavalgar usando o cinto apertado era bem desconfortável, mas suportável. Era um preço válido para relaxar nas calmas e lindas águas da cascata. A primeira coisa que fez ao chegar foi tirar as botas e molhar os pés encostava o corpo nas pedras. O barulho da água e a brisa refrescante eram deliciosos. Parecia o paraíso.
Quase 1h30min depois, estava de olhos fechados quando sentiu água sendo espirrada em seu rosto.
- O que quer aqui? – Nem precisou abrir os olhos para ver quem era.
- Não gosto quando você sai...muito menos quando eu disse que era para ficar em casa. Nós somos casados!
Agora ela se revoltou.
- E para você o que é ser casado?
- Viver juntos. – Ele respondeu calmamente.
- Só isso? Nada mais? Confiança...quem sabe?
- Confiança que nós não temos um no outro. – Ele respondeu, amargo.
- Eu confio em você, Christian, posso não entender porquê me trata mal as vezes, mas confio em você.
- Eu não confio em você.

Ela ficou observando-o, triste com essa resposta. O que fez para ele não confiar nela? Christian percebeu que foi duro demais. Não sabia como se comportar com ela. As vezes desejava que ela o obedecesse e sofresse calada os castigos que merecia, mas logo depois queria que ela o desafiasse. Gostava desse ímpeto de Anastásia. Nunca nenhuma outra o encarou de frente, era sempre obedientes. Ana o enfeitiçava com sua paixão e teimosia.

- Vamos embora pra casa! – Tentou puxá-la pelo braço.
- Não! – Ela o afastou. – Se quiser, vá você! Eu vou nadar um pouco. – Começou a abrir a roupa. – Um banho de cachoeira iria te fazer bem...melhorar esse humor de cão!
Ele olhou em volta e ficou feliz por constatar que não tinha ninguém por perto.
- O que isso, Anastásia! Você não pode sair nadando nua por aí!
- Como você adivinhou que eu nado nua todas as tardes?! – O tom era provocador. – Os passarinhos já ficam esperando pelo meu show! AAA Grey vá cuidar da sua vida! Já me basta esse troço me apertando e ainda tem que aturar besteira sua!
- Ana não! – Ele segurou-lhe a mão antes dela tirar a blusa. – Você não vai ficar nadando pelada aqui!
Ela resolveu mudar de tática.
- Não? – Ana se agarrou ao marido. – Então me beija, Grey.


Ela beijou-o. Não esperou, não iria permitir que ele saísse fugido. Sentiu suas mãos se enlear nos fios de seu cabelo. Não um carinho delicado, não um chamego. Isso não era Grey! Ele tomava posse. Com aquele toque dizia: é minha e de mais ninguém. E isso a alegrava. Até a que a machucou.
- Assim não, Christian! Mas porque você não consegue ficar sem me machucar...porque?!
- Eee eu não sei Ana...eu não sei. – Ele ficou sem saber o que falar porque naquele momento queria ser o amante que ela desejava e não conseguiu.
- Vai embora Grey...eu vou nadar e já vou. Depois a gente conversa...você sabe que não tem ninguém aqui e eu ficarei com o sutiã. Por favor...eu não quero brigar mais. Eu estou cansada disso! Christian, apesar de tudo, eu te amo. Mas está ficando difícil ficar com você se NUNCA parece me amar. Você as vezes parece desejar apenas me ferir.
Ele não ouviu quase nada. Ficou preso a primeira parte do que ela falou.
- Eu não suporto que diga que me ama. Nunca repita!
- Por que?
- Não interessa! Só não repita!
- Mas eu o amo! E nós podemos ser felizes.
Ele até desejou essa felicidade, mas a realidade se impôs.
- Não posso ser feliz sabendo que meu irmão está morto! – Disse esperando que ela confessasse sua culpa.
- E o que isso tem a ver? – Parecia uma loucura.
- Você não se importa nenhum pouco? Hora como pode ser tão fria? Se você tivesse algum sentimento sincero no corpo você assumiria os seus erros Anastásia.
- Do que você está falando?! – Ela pensava que um dos dois precisava estar louco. – O seu irmão morre e a culpada sou eu?
- Vai confessar agora? – Ele lhe dá mais um beijo. Mas logo a solta. – Eu te odeio, Anastásia. – E sai deixando-a sozinha.

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4horas depois...

Ana estava deitada na cama contorcendo-se de dor. Com raiva pelas coisas que Christian lhe falou, ela nadou na cachoeira antes de voltar para casa. Isso tornou a sensação do couro molhado e apertado friccionando contra a pele muito pior ao cavalgar o cavalo.
Ao chegar, secou-se bem, mas a sensação era de carne viva. E, o pior, não tinha como fazer nada, a não ser esperar Christian voltar. Não queria assumir que ele estava certo em lhe dizer para não nadar ali...mas como aceitar que errou e pedir pra ele abrir a o cinto antes.
Não o fez. Aguentou a dor calada, fechada em seu quarto. Pediu para Kate avisar que estava indisposta e não iria descer para jantar. Esperava que ele viesse ver como estava. Demorou, mas já tarde da noite ele apareceu no quarto.

- Tudo bem com você? – Perguntou com o rosto amarrado.

A vontade de dizer que não era imensa. Mas o orgulho foi maior.

- Tudo bem sim...a água estava deliciosa. – Respondeu segurando o choro pela dor.

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Christian estava nervoso na cama. Não gostava da forma como sua relação com Ana estava se encaminhando. Não eram um casal, mas também não tinham uma relação de dominação. Não só fazia o que desejava e se submetia conforme suas vontades.
Agora também não descia para jantar e isso o irritava terrivelmente. Não subiu e a obrigou a comer porque estava exausto de brigas. Mas a ideia dela ou qualquer outra pessoa passando fome o inervava. Nervoso, passou a madrugada acordado andando pela casa. Anastásia estava destruindo inclusive com seu sono.
As 4h27min da madrugada um barulho no quarto de Ana chamou sua atenção. Achou que ela havia acordado com fome e ia descer, mas percebeu que não era isso. Correu para o quarto. Encontrou-a no centro do cômodo, ainda no escuro, com o abajur no chão. Ela o tinha derrubado tentando acender. Mas o que lhe chamou a atenção foi a expressão de dor que tomava conta de sua face.
- O que você tem? – Não queria, mas estava preocupado.
- Nada! Sai daqui!
- Não mente...o que você tem Anastásia? – Será possível que ela não tinha limites na teimosia.
- A cinta tá me machucando. – Ela disse mordendo o lábio.
A primeira coisa que ele fez foi dentá-la na cama e correr até o seu quarto para pegar a chave e logo estava abrindo a peça de tortura sexual. Tinha consciência que independente dos seus planos de vingança, aquilo era para dar prazer e não para machucar sua mulher. SUA Ana.
Quando abriu a peça e viu a pele irritada e arranhada, sentiu-se culpado. Claro que ela estava sentindo dor. A peça deixou-a com assaduras bem sérias.
- Pela manhã não estava nem perto disso. – Comentou.
- Eu cavalguei molhada. – Ana assumiu.

Aí Christian entendeu o que se passou. O atrito do couro molhado a machucou. Mesmo assim, não parou de se culpar. Ela não tinha obrigação de saber, ele, como dominador, tinha a obrigação de protegê-la. Com estrema intimidade ele a lavou delicadamente, tendo o auxílio de uma toalha macia. Depois passou talco.
- Parece que você está cuidando de uma criança. – Ela brincou já sem sentir tanta dor.
- Não acho o infantilismo sensual, Ana. Preferiria você com uma lingerie sensual, acredite. Mas agora você está precisando de talco mesmo, então é isso que te dou. – Deu-lhe um comprimido para a dor. – Bebe água e toma o remédio, vai se sentir melhor amanhã.


Logo amanheceria e  nenhum dos dois tinha descansado. Christian tomou uma decisão rápida. Deitou-se da cama dela e puxou-a, de costas, para seus braços. Era ali que um desejava o outro. 

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