domingo, 28 de junho de 2015

Diaba Ruiva - Passado Revelado: Capítulo 17 - Parte II

Precisando ficar sozinha, Rachel deixou seus amigos e colegas discutindo seu passado e foi para rua. Precisava pensar. Todos eles eram bem intencionados, mas ninguém poderia entender o que se passava dentro dela. Peter tentava antecipar as atitudes de um criminoso, Mozz estava deliciado com a chance de investigar os mistérios de um líder político e Neal tentava se equilibrar nisso tudo e ainda lhe oferecer algum apoio.



            - Não preciso de apoio. Quero respostas. – Ela dizia a si mesma.

            Ela ficou em um café que funcionava 24 horas e ali amanheceu. Repassou cada um de seus passos ao lado de John. Seus treinamentos enquanto adolescente. A entrada na MI5. Os planos secretos. A obsessão pelo diamante. Chegou ali nervosa, com as mãos tremendo. Saiu bem mais segura. Impossível negar o óbvio. Teve de aceitar que seu pai estava vivo e, possivelmente, sempre soube qual sua origem. Mesmo assim, nunca a entregou por desejo de usá-la. Com os pensamentos em ordem conseguiu organizar uma estratégia. Se John voltou após tantos anos, havia uma razão. E nada seria tão importante para ele, a ponto de colocá-lo na mira do FBI, a não ser o diamante que o tornou tão obsessivo. Tudo indicava que John percebeu que ela se aproximava da pedra. Só podia ser isso. Ou seguia as mesmas pistas que ela e, por isso, seus passos se cruzaram.

            - Nunca quis me reencontrar. E quando estivemos próximos, não hesitou em atirar.

            Mas John estava longe de ser a última peça de quebra cabeça. Três pessoas tinham muito o que explicar. Nicole criou-a ao lado de John, chorou sua morte, sofreu a viuvez e lhe estendeu a mão em cada necessidade. Não conseguia pensar na mãe como alguém capaz de roubar um bebê. Por enquanto, pensava nela como mais uma vítima. Assim como Dr. Richard. O médico que lhe ajudou tanto conheceu seu pai e sempre agiu como se tivesse certeza de sua morte.
            Eles ficariam para mais tarde. Primeiro resolveria suas outras dúvidas e elas tinham suas respostas em uma única pessoa: Melissa. Seu erro fora focar suas desconfianças em Nohan. Ele podia sim estar envolvido. Mas era a filha do primeiro ministro inglês a ter segredos. Se tudo o que Mozz descobriu era verdade, e, normalmente, as investigações de Mozz eram certeiras, ela e Melissa seriam irmãs. E ela, longe de ser apenas uma advogada de embaixada, teria um diamante idêntico ao que procurava.
            Ainda muito cedo ela estava tocando a campainha de Melissa. E, para sua surpresa, ela não estava sozinha. Henry, seu amigo de longa data, que esteve ao seu lado desde a adolescência enquanto John tentava afastá-los e lhe deu apoio quando chorava a morte do pai, lá estava. Não podia culpá-lo. Ela mesma havia incentivado aquele relacionamento, achando que Melissa era uma mulher agradável, que combinaria com Henry. Agora estava arrependida. Quanto mais descobria dela, menos a conhecia de verdade. Quando Melissa abriu a porta estava com os olhos assustados, já devia saber o que ela veio buscar. E não demorou a mandar Henry embora.
           


            - Rachel! – Henry também se surpreendeu. – Eu vim tomar café com Melissa. Tudo bem?
            - Não, nada bem. Mas não me importa se você passou a noite aqui ou não, Henry. Meu problema é com Melissa.
            - Você está nervosa. O que aconteceu? – Henry não queria abandonar sua amiga ali.
            - Tenho certeza de que não é nada demais, Henry. Preciso conversar com Rachel. Se você puder ir embora agora é melhor. – Melissa pediu. – Vá tranquilo. Será apenas uma conversa importante.



            Quando se viram sozinhas no cômodo, Melissa não se esquivou de Rachel. Sabia que não havia mais para onde fugir, nem razão para tanto. Ela já sabia do ressurgimento de John Turner. E já tinha informado seu pai. Logo ele deveria estar nos EUA. Só que Rachel não parecia nada interessada em esperar.
            Rachel observava Melissa agora com outros olhos. Assim, frente a frente, parecia tão óbvio. Como ela não percebeu? A mesma pele clara, mesmos olhos azuis e com a intensidade de quem sabe o que quer. Mas soube o que a impediu de reconhecer a semelhança. A cor dos cabelos. Melissa escondia os fios ruivos tingindo-os de castanho claro. Elas eram parecidas demais para haver um erro, uma coincidência.

            - Por que não me disse? E antes de pensar em inventar mentiras, lembre-se de quem eu sou. Já que você sabe bem quem eu sou.
            - Sim, eu sei, Rachel. E parece que você também agora já sabe quem você é.
            - Fale! Tudo! Agora! – Ordenou com a voz tremendo.
            - Não é de mim que você terá suas respostas.
            - Fale! Eu não vou sair daqui sem minhas respostas. – Não desejava se descontrolar, mas via tudo avermelhado. – Por bem ou por mau você vai falar.

            Antes de oferecer qualquer resposta, Melissa observou Rachel. Não sentia medo dela. Não após observá-la por meses. Hoje orgulhava-se de Rachel. Eram irmãs gêmeas, mas não idênticas, mesmo que muito parecidas. E após tantos anos de afastamento, entendia que ela tivesse a sensação de ter sido traída, roubada e enganada.

            - Vai me ameaçar? Agredir a sua irmã? – Era a verdade. E elas não tinham porque evitar a palavra. – Eu acho que não. Eu tenho certeza que não.

            Descontrolada, Rachel tinha as mãos trêmulas e algumas lágrimas correram por seu rosto. Então era mesmo verdade. Não um devaneio sem valor, nem um sonho infundado. Ela e Melissa eram mesmo irmãs.

            -Irmã. – Rachel repetiu. – Como pode vir aqui, frenquentar a minha casa, estar com meus filhos. E não me contar?!?!
            - Eu não podia. E ainda não posso. Nem eu, nem minha mãe...a nossa mãe.
            - Onde...Brígida está? – Ainda não conseguia chamá-la de mãe.
            - Teve ir para Londres. Logo retornará. Ela quer muito te abraçar, te chamar de filha e ser chamada de mãe por você.
            - Eu já tenho uma mãe! Dela eu quero apenas respostas!
            - Rachel, ela se emocionou muito ao ver você. George e Helen são muito amados por nós. Eles têm uma família, Rachel!
            - Eles têm a mim e ao Neal. Mais ninguém! Não precisam de vocês! Gente que nos enganou!
            - Acalme-se, por favor. Chiara está dormindo e prefiro que permaneça assim enquanto conversamos.
            - Me acalmar? Fácil pra quem sabe de tudo! Pra quem não tem que ficar tentando descobrir qual é a sua vida, a de mentira e a de verdade. Fácil pra quem teve a chance de escolher o que queria ser na vida! Ninguém tomou a sua vida!



            - Não foi uma escolha da nossa família, Rachel. Mamãe passou anos desejando te conhecer. E logo você irá entender tudo.
            - Agora!
            - Não é possível. Papai está vindo e ele conversará com você. Ele não gosta de ser contrariado.
            - A não? Pois avise ‘papai’ que eu não gosto de ser feita de idiota! – Ela disse e saiu, batendo a porta, percebendo que não conseguiria nada de Melissa.
            - Ele sabe, Rachel. Ele sabe. – Foi a resposta dita por sua irmã antes de pegar o telefone para ligar para a mãe. Brígida esperava ansiosa por aquela notícia.
            - Fale de uma vez, Melissa! Como sua irmã está?
            - Chocada, é claro. Mas ela é forte. Tem estrutura para se reerguer. Mesmo assim, é bom você e papai se apressarem. Rachel não é paciente.



            - Sim, é claro. Nós estamos embarcando agora mesmo. Cuide dela, enquanto isso, Melissa.
            - Eu vou tentar. Mas ela não quer ser cuidada, mãe.

            Melissa até podia ter vontade de segurar Rachel, porém, estava longe de conseguir. Enquanto Brígida e ela ainda conversavam por telefone, Rachel já se encaminhava para casa de outra mulher, àquela a que cresceu chamando de mãe e, mais uma vez, tornava-se alvo de desconfiança.
            Ela apenas adiou sua chegada ao destino para atender a ligação de Neal. Ele estava lhe telefonando há horas e ela não atendia. Não tinha nenhuma esperança de desconhecerem os lugares por onde foi. Não com aquela tornozeleira controlando seus passos. Isso significava que atendia o telefone ou o FBI logo a encontraria.

            - Oi, Neal. Não se preocupe, estou bem. – Disse assim que atendeu, antes dele ter chance de falar algo.



            - Ótimo! Porque eu não estou nada bem! Porque não falou comigo antes? Estamos todos aqui preocupados!
            - Eu sei, me desculpe. Mas eu precisava ficar sozinha.
            - Não vai perguntar sobre os seus filhos? – Ele estava irritado e estressado.
            - Não. Porque sei que estão bem, com você. Eles têm um ótimo pai. Você nunca faltará a eles.
            - Nem você. Volta ao FBI, por favor. Juntos nós vamos resolver tudo isso.
            - Logo, antes verei minha mãe. Nós temos assuntos de família para resolver. Fique tranquilo. Não sairei do perímetro. Eu te amo, Neal. Muito.
            - Também te amo. Demais. Você não está sozinha. – Neal respondeu antes de desligar.

            A ligação pode ter acalmado seu coração de marido, mas não minimizou o problema policial em que se encontravam. Enquanto monitoravam os movimentos de Rachel, faziam suas próprias buscas. John sumira. Não havia nenhuma pista. Mozzie, sempre uma esperança de conseguir informações pelos meios menos usuais, também não conseguiu descobrir nada. Estavam todos apreensivos. Se tinha frieza para atirar na própria, John Turner poderia ser capaz de qualquer coisas.

            - Henrique! Marque depoimentos com todos que possam nos dar alguma informação. Isso inclui seu ex chefe, Shepherd foi parceiro de John e terá como nos ajudar. Ele terá de abandonar a sua aposentadoria.
            - Tenho certeza de que, para ajudar Rachel, ele não se importará.
            - Ótimo! Quero que convoque Nicole Turner, Henry Roussel, aquele médico que é amigo de Nicole. – Peter tentava recordar-se do nome.
            - Dr. Richard. – Neal lembrou-o.
            - Isso. Quero ouvir Nohan e Melissa também. Tudo isso envolve o passado de Rachel. E eles têm envolvimento.

            Nicole recebeu a filha calorosamente, como sempre fazia. Perguntou de Neal e dos netos. Mas havia algo de errado. Rachel ficou feliz em saber que ainda conseguia perceber quando a mãe mentia. Hoje ela não teria escapatória.

            - Sejamos diretas, mãe. Meu amado pai reapareceu. Estou vendo em seus olhos que você sabe. A pergunta é: você participou dessa farsa? Ajudou-o a fingir sua morte? Ajudou a me enganar.
            - É claro que não...eu também fui pega de surpresa. Nunca imaginei que...estou tão em choque quanto você. Não desconfie de mim, Rachel. Eu te amo. Sou sua mãe. Jamais quis te fazer sofrer.
            - Então me diga se faz ideia do que ele quer. Porque reaparecer depois de tanto tempo?



            - Eu não sei. Eu...estou tão no escuro quanto você.
            - Ele estava seguindo a pista do diamante. Só não contava em dar de cara comigo. Ele atirou em mim! Me deu um tiro!
            - O que?!?! – Nicole apavorou-se com aquela informação. – Não! Você precisa se cuidar e preservar as crianças. Onde Helen e George estão?
            - Com Neal, em segurança. – Ela não tinha dúvida disso. – E eu garantirei a segurança deles sim, pegando John. Eu não vou parar até pegá-lo.

            Aquela ida à casa de sua mãe fora perda de tempo. Rachel, segura de que ela não participou de todo aquele plano de John despediu-se de Nicolle e notou o quão forte ela lhe abraçou. Sua mãe, mesmo apenas adotiva, a amava mais do que tudo no mundo. E certamente não concordava com o que John estava fazendo.

            - Prometa-me que vai se cuidar. – Ela implorou.
            - É claro, mãe. Eu não esqueci de nada do que John me ensinou.

            Quando Nicole fechou a porta, tinha a mão tremendo contra a maçaneta. Estava sim muito nervosa pela filha e feliz em vê-la se afastar. Durante toda a conversa temeu dizer algo que gerasse o início de uma guerra, bem ali, no centro de sua sala.



            - Nossa menina é realmente fantástica! Eu me orgulho dela, da fortaleza em que a transformei. – John disse, rindo enquanto descia as escadas.
            - Como pode atirar contra ela? A nossa filha! Nossa menina!
            - Ela não tinha nada de se colocar no meu caminho. Fiz o que ela também faria, se aprendeu tudo o que lhe ensinei.
            - É a nossa menina! Você se transformou em um monstro.
            - Não seja tão trágica, Nicole. Foi apenas um arranhão, um aviso. Que, pelo que ela lhe disse, não surgiu efeito. Talvez da próxima vez eu tenha de lhe dar um corretivo mais eficaz.
            - Nunca! Ouviu bem?!?! Nunca ouse machucar a minha filha!
            - Não grite comigo! Se quiser sair viva dessa nossa amigável conversa! Da Rachel eu ainda preciso, para me levar até minha pedra. De você não. – Ele ameaçou friamente.
            - Teria coragem de me matar? Eu, que estive ao seu lado por duas décadas como sua esposa. Fui sua companheira leal mesmo quando fez coisas com as quais não concordava.
            - Sim, teria. Não tenha dúvida disso. Mas eu guardo por você um grande carinho, Nicole. Foi apenas para agradá-la que eu fiquei com Rachel, naquela noite.
            - Maldita noite, maldito acidente que a colocou nos nossos caminhos! Como me arrependo de tê-la pego para criar. Se não tivéssemos encontrado-a, minha Rachel teria sido criada por uma boa família, talvez encontrado seus verdadeiros pais. E não teria sido usada por você a vida toda!
            - Acidente?!?! Você acredita mesmo nisso, Nicole. Permita-me lhe contar uma história.

            Houve sim um acidente, mas não da forma como Nicole se lembrava. No trabalho da MI5 ele ficou sabendo de uma quadrilha que planejava roubar um diamante. Ainda era jovem e acreditava naquela instituição. Mas, aos poucos, foi perdendo essa característica. E quando entendeu o que aqueles criminosos fariam, não desejou pegá-los. Passou a invejá-los. O líder da quadrilha? Joseph Harabo. Ele atuava numa rede de tráfico de crianças e há muito o investigava. Mas quando descobriu porque ele planejava roubar aquela criança, resolveu lucrar encima daquela informação.

            - Eu armei aquele acidente. Nós não estávamos lá à toa, andando por aquela estrada. Pra mim, não faria diferença se a criança saísse viva ou morta, mas eu desejava o diamante que sempre estava junto dela. Mas não estava. – Ele seguiu contando, pela primeira vez abrindo o jogo.
            - Mas e as pistas? E a história de se tratar de uma pedra de família? Aquilo que você sempre disse à Rachel?
            - Era uma versão da verdade. Um incentivo para Rachel querer me ajudar. A história que está nos livros que eu e Rachel pesquisamos é verdadeira, porém, incompleta. As pedras foram encontradas na década de 40. E estiveram com David Williams por alguns anos.
            - O político? – Nicole surpreendeu-se.
            - Sim, hoje Primeiro Ministro inglês. Que deu às filhas, paridas por sua amante.
            - Então...você está dizendo que...
            - Sim. Filha do Primeiro Ministro. – Ele ria, como se narrasse a trama de um filme, não da vida de sua própria filha. – Veja como é uma pedra de família. Nisso eu não menti. Na época pensei que Harabo havia pego o diamante. E ficar com a menina não me serviria de nada! Fiz de tudo para pegá-lo. E o ódio era retribuído na mesma medida. Desejávamos um a morte do outro porque, no fundo, eu sempre achei que o diamante estava com ele. E Harabo achava que estava comigo. Nenhum dos dois jamais teve sua posse.
            - Porque não devolveu Rachel aos pais? – Nicolle estava destroçada com aquilo tudo. Como pode viver ao lado daquele homem por duas décadas e não ter visto isso? – Você é um mostro!
            - Sou o que a vida me fez ser. Exatamente como Rachel. Porque a sua filha é como eu. Ela é o que eu a tornei. Alguém capaz de matar, de torturar, de trucidar sempre que for necessário!
            - Não! Não! Ela não é assim!
            - Finja, se lhe agrada. Mas a verdade é que Rachel é minha obra mais perfeita. Eu não a entreguei aos pais primeiro porque David Williams não merecia. Depois porque você não parava de choramingar por causa daquela criança perdida. Mas depois Rachel me conquistou! Ela tinha tudo de que precisava para se tornar uma grande mulher e eu a ensinei a ser firme, a ter força e a não levar os sentimentos em consideração. A não sentir. Ela venceu pelo que eu a ensinei.
            - O que você a ensinou levou-a para um presídio. Ela tornou-se uma fugitiva! Poderia ter morrido em disputas com policiais. Você não sabe o que diz!
            - Gente fraca como você, Nicole, não entende o que eu falo. Mas Rachel sim. Porque ela é como eu e sempre foi mais ligada a mim do que a você. Ela encarou Harabo para vingar minha morte. Primeiro o navalhou. Depois matou. Minha menina me deu um grande orgulho.
            - Harabo quase a matou! A fez perder uma filha! E enquanto tudo isso, você estava se fingindo de morto. Eu mesma tenho vontade de matá-lo por isso! Só por ter magoado a minha filha.
            - Felizmente nós dois sabemos que você é fraca demais para isso. Harabo morreu achando que eu estava no inferno. Deve ter se decepcionado ao chegar lá e não me ver.
            - Então faça um favor a nós dois e volte para o mundo dos mortos! Eu odeio você e Rachel está decepcionada. Ela não o quer mais como pai! Suma!
            - É uma pena. Mas eu não ligo para o que Rachel quer ou deixou de querer. Ela se deixou levar pelos sentimentos. Casou, pariu e tornou-se dependente emocionalmente daquele rapaz. Ele é bom ladrão. Os dois podiam fazer coisas fantásticas. É triste ver tanto talento desperdiçado. Mas se ela quis assim, dane-se! Agora eu vim buscar o que me pertence.
            - Suma das nossas vidas!
            - Logo, minha esposa amada. – Ele era amargo, debochado e cruel sem nenhum resquício de carinho. – Assim que me der o que busco. Quero todos os avanços de Rachel nas buscas ao meu diamante. Ela e Neal podem estar comportados, mas eles fizeram pesquisas. E eu as quero.
            - Não sei nada disso! E, caso as tivesse, não lhe diria nada. Não trairei minha filha.
            - A é? Não sabe? Eu sei que está com você, Nicole. Eu já revirei a casa onde ela vive com o ladrão e as crianças, lá não tem nada. Então está aqui!
            - Não está!
            - É bom você se lembrar, Nicole. Ou eu posso achar que você não serve de nada e resolver que ser viúvo é melhor. Fale!

            Rachel chegou ao FBI sem fazer ideia do que sua mãe passava. Peter havia transformado a sala de conferência, que um dia já havia servido de quarto para ela, num quartel general de procura a John Turner. Todos ali sabiam o que não estavam à procura de um criminoso qualquer. Neal lhe apertou os ombros e puxou aos seus braços assim que a viu.

            - É tão bom te sentir. – Ela respondeu ao carinho logo após beijá-lo sem ligar para quem assistia a cena. – George e Helen estão bem?
            - Sim. Estão com Ell. Mozz está tentando pegar algum rastro de John e praticamente todos os nossos amigos estão nos ajudando.
            - Ótimo. Obrigada por tudo, meu amor.

            Foi Peter a encerrar o clima de carinho. Estava ansioso por conversar com Rachel. Ela tinha de poder acrescentar algo que pudesse ajudá-los.

            - Posso contar com você inteira nesse caso, Rachel? – Peter perguntou. – Porque se for para tê-la com a cabeça confusa, prefiro que se afaste da investigação.
            - Não se preocupe com isso, Peter. Serei tão fria quanto John me ensinou a ser. – Era assim que se sentia. Fria, direta e objetiva. – Qual evolução o caso teve? Vamos trabalhar. Não temos tempo para perder.
            - Rachel, não precisa ser assim. Não é demonstrar fraqueza tentar se afastar desse caso. Nós entendemos que ele é o seu pai. – Neal via a dor em seus olhos, por mais que ela disfarçasse.


            - Ele não é meu pai, nunca foi. – Ela sofria para dizer as palavras. – E eu sou o caso. Por isso não vou me esquivar. Conte comigo, Peter. Com o melhor de mim para pegá-lo.
            - Ótimo. Comece me dizendo o que conseguiu de Melissa Williams. Sua tornozeleira nos disse que você passou algum tempo no apartamento dela.
            - Sobre John nada. Mas parece que a teoria de Mozz era verdadeira. Eu sou filha de  David Williams e ele virá falar comigo.
            - Sabe o que isso representa? É um dos homens mais influentes do mundo! – Peter estava em choque.
            - É. E ele sabe onde eu estou há bastante tempo e nunca veio me ver. Isso deve dizer algo. – Doía quase tanto quanto sua decepção com John.
            - Bom...nós chamaremos Richard, Henry, Shepherd e sua mãe para depor. Todos eles tiveram contato com John e podem nos ajudar em algo. Melissa e Nohan também terão de prestar esclarecimentos. E até o David Williams. É bom que o Primeiro Ministro esteja vindo pra os EUA.
            - Quando falaram com minha mãe ela confirmou algo? Pra mim disse não saber de nada. Acredito nela. – Rachel disse.
            - Nós não falamos com sua mãe, Rachel. – Diana informou. Rachel pareceu surpresa demais e todos a olharam. – O que foi, Rachel?
            - Fale, amor. Você ficou pálida. – Neal insistiu.
            - Nicole sabia que John está vivo. Não ficou surpresa quando eu falei. – Era como se mais uma bomba caísse sobre Rachel.
            - Nós não ligamos pra ela ainda porque sabíamos que vocês iam conversar e achamos melhor marcar um depoimento oficial. – Peter esclareceu.
            - Ela estava nervosa. John estava lá. Ele foi lá! John estava lá com ela quando eu cheguei e ela estava nervosa por isso. – Antes mesmo de terminar de falar ela já saía.


            Dessa vez Neal e Peter a acompanharam enquanto Diana e Henrique já sabiam que deveriam mandar reforço.

sábado, 27 de junho de 2015

Alguém Para Amar - Capítulo 12

          
          Agoniado, Lorenzo observava os ombros de Jéssica tremerem enquanto ela chorava. Não era apenas pelo aluguel ou alguns mantimentos. Ela estava desabafando por problemas muito mais profundos e dos quais não gostaria de falar para ninguém, muito menos Lorenzo, um homem que apesar das boas intenções, estava tumultuando ainda mais a sua vida.
            Lorenzo teria se sentado ao lado dela e simplesmente esperado ela se recompor antes de explicar que não desejava fazer nada que a desagradasse, apenas ajudar. A maturidade havia lhe ensinado algumas coisas. Uma delas era a ter paciência. Não precisava de pressa para agradar ou conquistar Jéssica. Porém, quando Clara olhou assustada para a mãe, ele viu que precisava fazer algo.

            - Porque você tá chorando mamãe? – A pequena menina não entendia a quantidade de problemas equilibrados por sua mãe.
            - Nada filha. Vai brincar. A mamãe vai recolher a louça do almoço.
            - Tá bem. Tio Lorenzo, você brinca comigo?

            Ser chamado de ‘tio’ era algo realmente incomum para Lorenzo, afinal, na família Vicentin não havia crianças. Ele sorriu para Clara tendo uma ideia.



            - Brinco. Mas não aqui. Vamos ao parque? Eu, você e mamãe?
            - Não. – Jéssica já tinha secado as lágrimas. – Eu tenho que arrumar a casa e você deve ter seus compromissos.
            - Sua casa não vai cair por falta de arrumação em um dia, Jéssica. Além do mais, Chiara quer brincar no parque, não é?
            - É, mamãe. Eu quero. – A menina não se continha de alegria.

            Não só Jéssica foi obrigada a aceitar o passeio, como viu-se na frente do elegante prédio residencial onde Lorenzo agora morava. Ele disse que não podia ir brincar no parque sem trocar de roupa. A escolha entre ficar no carro aguardando e subir foi feita por Clara antes de sua mãe conseguir raciocinar.

            - Eu quer ver a casa do tio Lorenzo. – Ela falou estendendo os braços para ele lhe tirar do banco de trás do carro esportivo.
            - Então vamos pequena. – Ele sorria, satisfeito.

            O apartamento era o típico lar de um homem solteiro. Elegante e organizado, sem muitos adereços ou peças para acumular pó. Na parede principal um grande quadro abstrato. Sobre um aparador algumas fotos de família. Em uma delas uma bela mulher de cabelos louros e ondulados. Lorenzo percebeu qual a dúvida nos olhos de Jéssica.

            - É Milena, minha irmã. – Havia uma pitada de provocação na voz dele. Como se desafiasse Jéssica a entrar outra razão para lhe afastar. - Eu sou viúvo há muitos anos.
            - Me desculpe. – Ela disse.
            - Tudo bem. É algo superado. Eu vou me trocar. Fiquem à vontade.

            Cuidando para Clara não mexer em nada e observando o lugar, Jéssica percebeu que apesar de poder, Lorenzo não a trouxe ali para ostentar seus bens. O lugar era confortável, mas modesto. Simples, até. Aconchegante, bonito de ver e agradável de sentir.

            - Como o morador. – Falou baixinho, quase para si mesma.
            - Mamãe! Eu quero brincar no escorregador! E no balanço! – A filha lhe trouxe de volta dos devaneios. A lista de desejos de Clara era interminável.



            Não houve saída. E quando Jéssica percebeu já havia um sorriso em seu rosto. Pudera, logo estavam no Parque Ibirapuera, aproveitando a sombra das árvores enquanto Clara já corria junto de outras crianças. Um lugar bonito e arborizado assim tranquilizaria até o mais preocupado dos humanos. Mesmo assim, aquele homem lindo, charmoso e tão atencioso com ela e sua filha, ainda lhe gerava preocupação. Não entendia porque tamanha atenção quando ele poderia ter uma mulher de seu círculo e classe social. Ele parecia não ver o óbvio.

            - Porque faz isso? Clara vai se habituar a tê-lo por perto. Não deve mal acostumá-la e mimá-la assim.
            - Mimá-la? Não estou fazendo isso. Não ofereci a Chiara nada além do que é direito de qualquer criança. Alimentação, atenção e lazer. Veja como ela está feliz.
            - Só que daqui alguns dias ela vai pedir para vir aqui novamente, ela vai querer mais chocolate, vai pedir por coisas que eu não tenho como dar. E não posso me tornar dependente de alguém a quem eu não conheço. Eu não sou burra, Lorenzo. Porque está fazendo isso!?!? Não me diga que leva ao parque todas as crianças que conhece. Ou que paga o aluguel de suas casas sempre que as mães não são boas o bastante! Você nem nos conhece!
            - Mas quero conhecer. Gostei de você, encantei-me por Chiara. E não estou te pedindo nada em troca.
            - Não faz sentido! Olhe para você e olhe pra mim! E agora ainda estou te devendo meses de aluguel! Eu não quero depender de você!
            - E não depende. Foi um presente para Chiara. – Quando ela lhe olhou feio ele explicou melhor. – Eu trabalhei a vida toda, Jéssica. Desde menino. A minha família e de Jonas têm uma fazenda no sul do país.
            - Fazem vinhos, eu sei. Todos na construtora sabem.
            - É. Eu trabalhava nas colheitas da uva e recebia um salário por isso. Mesmo ainda na escola. Eu sei o que é trabalhar duro. Fiz isso a vida toda. Ainda faço. Porque amo o trabalho. Mas hoje eu vejo que só trabalho não traz felicidade. A natureza é muito sábia. Pra da terra nascerem frutos, não basta apenas plantar, é necessário a luz do sol e a vida trazida pela chuva. Com a gente também é assim. Não adianta só ganhar dinheiro se não repartimos com aqueles que nos são importantes.
            - Eu nem sei quem você é!
            - Então pergunte! Diga, Jéssica. O que você deseja saber? – Quando o silêncio ecoou em resposta, Lorenzo inverteu a pergunta. – Então começo eu mesmo. Porque cria Clara sem a ajuda do pai dela? Onde ele está?
            - Não sei. E prefiro assim. É bom que fique longe dela.

            Lorenzo queria saber qual o problema ali. Ela tinha todas as razões e o direto de exigir que esse homem contribua para o sustento da filha, mas preferia arcar com tudo para mantê-lo à distância. Deveria haver alguma razão.



            - E sua família? Pai, mãe, irmãos? Eles conhecem Clara?
            - Não. Eu me afastei deles quando estava grávida. Eles não gostavam do pai dela e eu fui embora de casa. Independência é algo lindo e muito desejado quando não se tem contas para pagar.
            - Mas se o pai dela já não está com você, porque não volta? Fala com eles. Duvido que virarão as costas para uma neta como Chiara. Família é o que há de mais importante na vida. Eles vão lhe acolher.
            - Melhor não.
            - Porque não?
            - Você está curioso demais. – Ela disse sorrindo, para disfarçar a reclamação.
            - Já que você não quis falar nada, eu aproveitei. Mas estou disposto a responder tudo o que deseja saber.
            - Se valoriza tanto a família, porque não está casado e com vários filhos? Você mesmo disse que ficou viúvo há bastante tempo.
            - Eu me casei aos 18 anos, Jéssica. E fiquei viúvo aos 19. É provável que eu tivesse alguns filhos já crescidos, caso minha falecida esposa ainda estivesse comigo. Mas a vida não quis assim. Nem me apresentou alguém com quem eu desejasse formar uma família. Hoje tenho 44 anos e aquele modelo de família com o qual sonhava há duas décadas não me importa mais.
            - Não deseja mais formar uma família?
            - Eu não luto contra o destino, Jéssica. Eu não preciso de filhos para ser feliz, mas, se eles surgissem no meu caminho, ficaria feliz. Mesmo que fosse uma menina já crescida e louca por chocolate e batata frita.
            - Você não sabe o que está falando.
            - Porque diz isso? É tão impossível assim eu gostar de você? Querer cuidar de você? Zelar por Chiara?
            - Impossível não. Mas é muito difícil. Olha pra mim e olha pra você.
            - Quanto mais eu olho, mais perfeita te vejo.

            Impossível não sorrir frente a um elogio tão simplório e carinhoso. Ele era realmente apaixonante. E Jéssica já sentia um imenso medo de envolver-se e se decepcionar quando o conto de fadas acabar. Ele deve ter percebido seu temor porque não hesitou em lhe dar alternativa. A saída a qual ela não tinha como nem desejava escapar.

            - Vamos nos conhecer melhor. Se é de tempo que você precisa, eu lhe dou. Só não me afaste por completo. Somos...amigos. Está bem assim?
            - É, amigos. Mas tem uma condição. Tem que me prometer que irá parar de levar coisas para Clara. E não vai mais pagar nenhuma conta. Eu não quero depender de você.
            - Está bem, eu prometo. – Só não sabia como iria cumprir sem deixá-la passar necessidade.

            Quase sem perceber, claramente selando e desrespeitando aquele acordo ao mesmo tempo, Lorenzo foi se aproximando. Não foi exatamente um beijo, apenas um roçar de lábios, tímido e carinhoso. Ali apareciam aquelas diferenças tão vistas por Jéssica. Sua pele, tão macia e jovem sentiu a aspereza da barba cerrada dele. Ela só não esperava querer se aranhar nela, desejar que ele continuasse aquele toque. Sentia vontade de passar os braços envolta dele e devolver o carinho oferecido.



            - Tio Lorenzo! Vem brincar! – Chiara interrompeu-os. Lorenzo não disse nada. Apenas, sorrindo, deixou Jéssica sozinha para ordenar os próprios pensamentos.

            Naquela noite, Emily e Jonas conversaram abraçados na cama. E falaram da estranha situação vivida por Lorenzo. Jonas não queria e sabia que não tinha o direito de se intrometer em nada tão pessoal. Mas ficou preocupado. E Emily não demorou a perceber a mudança em seu noivo.

            - Fale o que te preocupa, Jonas. Posso fazer algo para ajudar?
            - Não pode. Não depende de nós. Eu falei com Lorenzo agora ao anoitecer. Não vai acreditar no que ele fez hoje. Almoçou e passou a tarde com Jéssica, a moça que serve cafezinho na construtora. Está interessado nela, apaixonado, talvez. Agora me diga, isso tem alguma chance de dar certo?
            - Deixe de ser preconceituoso. Porque não teria?
            - Não é preconceito! Eu não ligo para o fato dela não ter grana. Lorenzo tem o bastante, fruto do trabalho dele. Mas ele é um homem sensível. Está sozinho há muito tempo. Sofreu muito quando perdeu Alice.
            - Como ela morreu?
            - Um acidente de carro. Ela dirigia há poucos meses e estava descendo a serra em direção a Porto Alegre. Um motorista alcoolizado perdeu o controle do carro e invadiu a pista no sentido contrário. Ela não conseguiu frear a tempo. Morreu no local. Nós achamos que Lorenzo nunca ia se recuperar. Ele só pensou em trabalho depois disso.
            - Foco no trabalho é bom. Faz com que alcancemos nossos objetivos.
            - Falou a senhora empresária Emily Fruett. – Jonas brincou. – Sim, é bom. E ele conseguiu ótimos resultados. Quando eu e Lorenzo éramos jovens a vinícola era uma empresa muito pequena, foi ele a ampliá-la e fazê-la render mais dinheiro. Ele é muito competente e dedicado.
            - Então eu acho que você deveria estar satisfeito de seu irmão estar encontrando felicidade. Ele já fez muito pela empresa.
            - Não é dinheiro, Emily. Se Lorenzo jogasse fora todas as reservas financeiras da Vinícola Vicentin, eu ficaria feliz em ajudar minha família com os recursos da construtora. Meu medo é ele estar depositando tanta esperança numa menina, muito jovem e cheia de problemas que vai acabar decepcionado. Ele me contou que ela e a menina não tinham o que comer. Ele comprou mantimentos e hoje quando chegou lá com uma refeição pronta, ela estava cozinhando feijão. Ele disse todo feliz que a menininha adorou as batatas fritas.
            - O feijão era bom? – Emily perguntou tendo uma ideia.
            - Não sei. Encantado como está, acharia gostoso até pedra.
            - É só por me amar que você gosta da minha comida então? Bom saber.
            - Não é isso. Você sabe! Mas por que você quer saber do feijão?
            - Nada. Deixa pra lá. Não implique com seu irmão, Jonas!
            - Eles vivem em mundos diferentes.
            - Mas que podem se complementar. Eu lembro de comer massa com salsicha no orfanato quando as verbas do governo atrasavam e Marta não tinha como nos oferecer nada melhor. Às vezes só o que a gente precisa é de uma oportunidade.
            - É. Mas e se Jéssica apenas usar Lorenzo como oportunidade? Ele diz que ela não quer seu dinheiro, mas, mesmo assim, acho arriscado. Ele quer que a empresa terceirizada que contratou Jéssica pague melhores salários.
            - É ótimo que ela não queira que ele a banque. Ela precisa de um salário digno.
            - Não é tão simples. Existe um contrato com a empresa terceirizada.
            - E quem da JRJ cuida desses contratos?
            - Juliana é a diretora administrativa. Ela já me adiantou que não seria simples rever isso com a terceirizada.

            O nome de Juliana não fez nenhum bem ao humor de Emily. Não gostava da ideia daquela mulher trabalhando junto de Jonas todos os dias. Enquanto ela estava envolta com suas panelas e especiarias, Juliana estava ao lado dele.

            - Deveria você mesmo revisar esses contratos. Não gosto dessa Juliana.

            Jonas sorriu, encantado. Adorou ver aqueles olhos brilhando de desconfiança. Emily, sempre tão elegante e segura, perdia a compostura por sua sócia. Ele sabia o motivo. Melissa havia falado demais e contato que ele e Juliana tiveram um relacionamento. Aquilo, porém, fora tão sem importância que não fazia sentido brigar.

            - Isso é ciúme! Emily Fruett com ciúme?!?! Isso é uma ocasião especial! – Ele puxou-a ainda mais para seus braços. A perna dela por cima de sua cintura, colando-os.



            - Não sou ciumenta. Apenas cuido do que é meu.
            - Ei! Essa frase é minha!

            Eles continuaram na cama por algum tempo. Até que Emily lembrou a Jonas que não poderia passar aquela noite toda com ele, em seus braços, por mais que desejasse. Ao contrário da maior parte das profissões, não tinha folga domingo. Ela precisava ir trabalhar.

            - Mas nós já estamos na cama. – Jonas reclamou.
            - Nós passamos a tarde toda na cama, Jonas. Eu preciso ir. Não faça essa cara de surpreso. Amanhã é segunda, o restaurante não abre e vou ficar em casa enquanto você tem suas reuniões. Não vou pedir para você não ir.
            - Podemos negociar. Você não vai hoje e eu também não vou amanhã. Que acha?
            - Nos tornaríamos uma bela dupla de desocupados.
            - Garanto que seria muito agradável. – Jonas ofereceu.

            Para evitar brigas, Emily sugeriu que eles ficassem juntos no restaurante. Enquanto ela comandava a cozinha do restaurante, ele poderia jantar. Como sozinho não era agradável e ela não poderia ficar lhe dando atenção, ele marcou com Rafael e Melissa. O casal veio lhe fazer companhia enquanto se deliciava com os pratos oferecidos. Quando sobrava um tempo Emily vinha até eles. Não que isso impedisse Jonas de desejar tê-la com ele o tempo todo.

            - Não adianta você ficar assim Jonas. Emily ama seu trabalho e não vai, por nada, abandonar o restaurante. Ela ama esse lugar.
            - Eu sei. E não quero que ela abandone nada. Apenas sinto falta dela quando está trabalhando. – Ele respondeu.
            - Eu compreendo Jonas. – Rafael afirmou. – Adoro o fato de chegar em casa e encontrar você em casa, Mel.
            - É diferente. Eu fui modelo. Fiquei velha demais. Emily trabalhará por toda a vida.
            - Eu consigo lidar com isso. Só espero que Emily consiga tirar uma licença quando nosso filho nascer. Ao menos isso. – Jonas não se importava dela trabalhar apenas se preocupava com os problemas de saúde da noiva. E assustava-se com a possibilidade dela piorar e não conseguir realizar o sonho de ser mãe.



            Eles voltaram para casa juntos e confiantes que a vida iria ser boa para eles. Que conseguiriam conciliar a vida profissional e a familiar. E superar os problemas causados pela endometriose de Emily. Ambos já faziam planos para aquele bebê. Imaginavam se era menino ou menina. Sonhavam em tê-lo ali. E ele sentia uma grande apreensão pela possibilidade daquela inseminação não ter dado resultado. O sofrimento que aquilo traria a Emily seria imenso. Por trás de toda aquela força, Emily era frágil. Só não gosta de mostrar sua fraqueza. E Jonas desejava afastá-la de tudo que pudesse lhe trazer dor, física e emocional.
            Não conseguiu. Dias depois, espantou-se ao chegar em casa por volta das 19hs e encontrar Emily. Ela estava no banho e ele achou muito estranho tê-la ali a essa hora da noite. O mais normal era ela vir no meio da tarde, durante o intervalo do movimento de almoço e janta no restaurante e retornar depois. Naquele momento ela sempre já estava de volta às suas ocupações.


            - Emily? Tudo bem? – Ele gritou batendo na porta trancada.
            - Eu já vou sair. – Ela respondeu sem dizer que tudo estava bem.

            Quando veio para junto dele, Emily usava uma camisola discreta, longa e parecia pronta para se deitar, apesar da hora. Sua pele estava corada pela água quente, mas não escondia os olhos inchados pelo choro. Ela esteve em prantos e ele já desconfiava o motivo. Só ressentia-se dela ter preferido chorar sozinha a lhe telefonar.

            - O que aconteceu? Fale comigo Emily. Por favor.
            - Nada. Só que comecei a sentir cólicas. Está descendo minha menstruação. Só isso.

            Não era ‘só isso’. Era simplesmente o seu sonho sendo desmanchado sem que ela tivesse a menor chance de impedir. Estava destruída. E não queria que ele a visse assim. Ninguém via, nunca permitia. Precisava passar por aquilo sozinha.

            - Me deixa quieta um pouco, Jonas. Por favor. Eu preciso.
            - Não, precisa ficar comigo. Esse bebê é desejado por nós dois. – Ele não entendia como ela podia preferir sofrer sozinha.
            - Por favor! Deixa-me sozinha. Só um pouco. Eu preciso assimilar essa dor. Aprender a suportar. E eu só sei encarar isso sozinha.
            - Está bem. Não tranca a porta. Eu vou preparar um chá para você e já volto. – Ele disse e, contra sua vontade, saiu.



            Sentada na própria cama, Emily abraçou o corpo e o sentiu tremer. As lágrimas rolaram novamente por seus olhos. Na frente dele não conseguia chorar. Sozinha o sofrimento fluía. A dor física da cólica que lhe apertava o ventre, mas a emocional trazida pelo sonho desfeito era realmente insuportável.