domingo, 29 de novembro de 2015

Alguém Para Amar: Capítulo 34



Jonas Vicentin
Diretor

            O prazer sentido por Jonas ao olhar a placa na porta de sua sala foi surpreendente, até para ele mesmo. Aquele afastamento o fez ver como a JRJ lhe era importante. A sensação ali era de controle absoluto. Na vinícola dependiam do clima e de muitos fatores aos quais não podiam controlar. Por isso o vinho envolve tanto amor. Seu sabor é sempre uma surpresa. E isso sempre apaixonou Jonas, assim como Lorenzo e seus antepassados. Mas as certezas da construção civil também muito lhe faziam bem. Desenhar um prédio e vê-lo ser erguido, nas exatas medidas e detalhes estipuladas por ele, pelas mãos firmes dos operários, lhe dava orgulho.
            Jonas olhou em volta do seu escritório e viu a limpeza e organização de sempre. Sobre a mesa um porta retrato com Emily e Vida na foto. E outro vazio. Cortesia de Valquíria para ele se lembrar do novo integrante da família. No banheiro ainda havia o cheiro de sua loção pós barba e, penduradas em um cabide, camisa e gravata reservas. Quando voltou à sua mesa, ligou o computador e começou a verificar a sua agenda. Estava tudo tranquilo por enquanto. Valquíria entrou na sala e sentou-se à sua frente. Essa também era uma imagem tranquilizadora.



            - É tão bom tê-lo de volta. Já achava que eu seria remanejada para algum setor. – Reclamou a senhora enquanto verificava alguns documentos.
            - E isso seria ruim? Ser secretária de outro executivo, alguém que lhe peça menos vezes para remarcar compromissos e que tivesse menos coisas a fazer fora desse escritório e fora de São Paulo.
            - Seria péssimo! Meus dias como sua secretária não são monótonos. Sem falar nas garrafas de vinho maravilhosas que você me trás.
            - Que bom, Valquíria. O que tenho para hoje?
            - Sua primeira reunião é com Rafael, em quinze minutos para se atualizar. Depois uma reunião almoço com ele e um investidor. E seu único compromisso na parte da tarde é uma vistoria na obra do Pinheiros às 17hs.
            - Nada entre o almoço e a vistoria? – Isso lhe dava três horas de folga. Coisa rara.
            - Nada...como é um horário tranquilo para quem atua no setor alimentício...sugiro que marque algo com a Senhora Emily. Mas é apenas uma sugestão, é claro.
            - É claro! – Jonas riu dispensando a secretaria. Valquíria é realmente perfeita.

            Jonas fez mais do que passar a tarde com Emily. Marcou com ela em um parque da cidade e lá chegou com Bernardo e Vida. Com três meses e um ano de idade, eram dois bebês inquietos e encantadores. Brincavam juntos amigavelmente e, às vezes, se desentendiam. Nada com o que ele e Emily não conseguissem lidar no futuro. À sombra de árvores e tendo um belo lago artificial como vista, ele e Emily observaram Bernardo beber sua mamadeira com bastante vontade em sua cestinha enquanto Vida lambuzava-se em sua papinha de banana. Ela comeu, é verdade, mas a maior parte da fruta ficou espalhada no babador. E seus pais acharam lindo.



            - Agora chega! – Emily disse guardando o pote com a fruta. – A senhorita já se lambuzou demais. Vem com a mamãe. Vem!

            Nos braços de Emily, Vida não se importou de ter o babador retirado e mãos e rostos limpos com lenço umedecido. Ficou novamente limpa e com aquele cheirinho típico de bebê. Emily então brincou com ela por alguns minutos. Essas horas passavam muito rápido e logo eles voltariam a ficar sem os pais na creche enquanto ele e Emily voltavam aos compromissos na construtora e no restaurante. Mas mesmo que curta, aquela tarde prometia ser inesquecível.

            - Quem é a gatinha da mamãe? Quem? – Emily gritava entre sorrisos enquanto fazia cosquinhas na barriguinha de Vida.

            A bebê gargalhava e balbuciava alguns sons. Vida ainda não falava palavras completas. Ainda. Emily e Jonas estavam decididos a ensinar a filha a falar mamãe e papai. Dessa vez o vínculo entre mãe e filha pareceu prevalecer. Jonas teve o prazer de ser o único a observar Vida olhar nos olhos da mãe com veneração, colocar as mãozinhas e seu rosto e dizer a mais esperada palavra.



            - M – A – M – A! – Disse ela com alguma dificuldade.

            Nem mesmo as vezes em que imaginou aquele momento prepararam Emily para a emoção que tomou conta de seu coração. Seus batimentos cardíacos aceleraram e algumas lágrimas tentaram escapar por seus olhos. Nunca previu que quatro letras pudessem emocionar tanto. Aquela menininha que viu horas depois de nascer, jogada nos entulhos de uma construção feito algo desprezível agora lhe abraçava e chamava de mamãe. O mundo fora injusto com as duas quando não deu à Vida uma genitora digna da filha e quando fez Emily sofrer tanto pela maternidade. Porém, o destino foi certeiro ao colocar uma no caminho da outra.

            Assim como Jonas se emocionava vendo Vida crescer, Lorenzo observava Clara desabrochar. Quando se conheceram, Clara foi responsável por ele se preocupar ainda mais com Jéssica.  Clara sempre foi uma criança encantadora, esperta e carinhosa. Mas também era sensível e carente. Clara tentava agradar em tudo, com medo de perdê-lo. Agora parecia mais livre. E também mais feliz à espera dos irmãos. Os nomes já estavam decididos. Seria Cecília e Vicente.




            Jéssica estava muito tranquila à espera dos herdeiros. Não era mais uma mãe solteira e adolescente. Dessa vez sabia o que esperar do parto, tinha apoio e não temia nada. Ela entrou no último trimestre da gravidez muito calma, trabalhando diariamente e sem se esforçar demais. Lorenzo estava mais preocupado e ansioso. Quando a médica falou no parto, ele se surpreendeu. Esperava que uma cesariana fosse marcada com antecedência o bastante para ele estar preparado. Quando os bebês chegassem, tudo estaria pronto para recebê-los. Mas não. Leonor explicou que o excesso de cesarianas no Brasil levou o governo a estipular regras. A cirurgia só era possível quando a mãe realmente não podia ter o filho da forma natural.

            - Mas são gêmeos. – Ele disso, quase como se a médica já não soubesse ou tivesse esquecido.
            - Eu sei. Mas isso não significa que Jéssica terá alguma complicação. Ao contrário, seu histórico nos indica que ela tem condições de dar à luz os bebês. Não se preocupe. O parto normal é melhor. Se Jéssica fizer a cesariana, ficará com dores por dias, sem poder cuidar dos filhos. Com o parto normal, saíra andando do hospital no dia seguinte e pode ter vida normal.

            Lorenzo não questionou a médica, mas estava longe de concordar com aquela decisão. Se Jéssica precisasse de alguns dias de resguardo na cama, qual o problema? Ele estaria ali para cuidar dos filhos. E se não conseguisse dar conta dos bebês, contrataria uma babá. Isso ainda lhe parecia melhor do que deixá-la sofrer num parto que poderia levar horas. Jéssica, porém, parecia muito calma e preparada para o desafio de colocar dois bebês no mundo. E olhá-la agir assim, numa serenidade sem limites, fazia com que Lorenzo se orgulhasse ainda mais da mulher que escolheu para mãe de seus filhos.
            Quando Jéssica entrou no nono mês de gestação Lorenzo lhe pediu que já iniciasse sua licença maternidade. Seu trabalho atualmente, como recepcionista do restaurante, podia ser mais leve que o serviço na cozinha, mas também cansava e exigia muitas horas de pé em salto alto. Quando Jéssica foi conversar com Emily, a chefe concordou sem problemas. Disse inclusive gostar da ideia dela sair agora porque ao retornar teria um novo desafio a assumir.

            - Como você sabe, eu e Nathan vamos abrir um restaurante especializado na mistura de sabores do Brasil e da Itália. Vai se chamar Calderone. Márcio será o maître do novo restaurante. E eu acredito que você tem plenas condições de assumir a recepção daqui. Quero saber se você aceita o cargo, com suas exigências e vantagens.
            - Mas Emily...eu não sei...Márcio é sim um mestre, conhece os vinhos, os pratos e os clientes como ninguém.
            - É verdade! – Emily concordou. – E por isso eu o incumbi de ensinar a você o trabalho nesse período em que o auxiliou. Você estudou inglês no colégio e sabe se virar caso recebamos algum estrangeiro. Os pratos você conheceu de perto lá na cozinha. E dos vinhos, duvido que você não tenha conhecimento sendo casada com um especialista.
            - Eu agradeço pensar em mim...mas realmente não sei Emily.
            - Pense bem, converse com Lorenzo e decida. Se quiser o cargo, terá que fazer um horário semelhante ao que eu e Márcio fazemos. Vir no horário de almoço e de jantar, com intervalo a tarde.
            - Sim, eu te respondo em breve.

            Na visão de Emily não tinha o que pensar ou decidir. Era uma grande oportunidade, sair definitivamente da cozinha para o salão. Era uma chance que ela não pensaria em agarrar. Mas entendia que para Jéssica era diferente. Ela via a vida de outra forma. Mesmo assim, torcia para a resposta ser positiva.

            - Ótimo. Porque se não quiser, terei de procurar outra funcionária. Mas lembre-se que isso não é uma caridade nem ajuda para minha cunhada. É uma proposta profissional. Se aceitar terá um aumento substancial de salário. E também de responsabilidades. Terá de estar sempre bem vestida, com o cabelo arrumado, unhas bem cuidadas e maquiada. Eu não brinco nem faço apostas com o meu restaurante, Jéssica. Se faço o convite é porque sei que você tem condições de não me decepcionar.

            Naquela noite Jéssica dividiu aquele convite com Lorenzo. E viu na expressão dele mais orgulho do que surpresa. Era bonito perceber o quanto Lorenzo tinha de confiança nela. Ainda assim, disse para ele que tinha receio de faltar como esposa e como mãe por se dedicar à profissão.

            - Amor, você não precisa trabalhar. Se decidir dedicar-se em tempo integral às crianças e a nossa casa, eu ficarei bem feliz. Mas eu acho que esse desafio lhe fará bem como mulher. Chega a ser um pecado alguém tão bela ficar escondida na cozinha. Eu sentirei ciúmes dos olhares de cobiça que lhe darão, mas também irei me orgulhar. Direi a todos que aquela princesa a atendê-los é minha.

            Jéssica ainda demorou a se decidir. Pensou com carinho, com atenção. Era uma decisão capaz de mudar sua vida. Mas eles tinham muito mais em que pensar. Incluindo os detalhes do quarto dos gêmeos. Lorenzo não abria mão de um quarto bonito e amplo, totalmente decorado. Por isso, eles haviam trocado de apartamento. O novo ficava no mesmo prédio, porém, contava com mais um quarto.



            Quando tudo ficou pronto, Cecília e Vicente já tinham seus berços macios e perfumados em seu aguardo, Lorenzo enfim sossegou. Ele já havia combinado com Jonas de reduzir suas atividades na vinícola até que os gêmeos estivessem em casa e o irmão concordou. O trabalho da consultoria ele fazia a maior parte em home office. Assim podia ver Jéssica mais tempo e estar por perto caso ela necessitasse.
            Mesmo na madrugada, ele parecia perceber quando ela deixava o quarto. Naquela noite, quando já estavam sobre aviso ao aparto, afinal, numa gestação múltipla, era comum o nascimento ser antecipado, Jéssica foi para a cozinha procurar o que comer. A dieta indicada por Leonor, rica em legumes e carnes magras, não lhe satisfez. O desejo era intenso, e estranho. Pizza com sorvete. Ela salivava enquanto mexia no refrigerador à procura do alimento.

            - Jéssica...o que você está fazendo? – Lorenzo veio buscá-la.
            - Procurando comida...uma comida muito específica e desejada nesse momento.

            Lorenzo achou graça daquele comportamento. Ela nunca teve desejos assim, com aquela ânsia. Era bonito de ver o que seus filhos conseguiam fazer, mesmo quando tão jovens.

            - E porque não me chamou?
            - Para deixá-lo dormir.
            - Eu só não brigo com você, porque estarei ocupado buscando o que quer. O que é, afinal? – Ela continua mexendo na geladeira.
            - Pizza com sorvete. Acho que Vicente quer pizza e Cecília sorvete. Mas só tem o doce no freezer.
            - Bom...ainda bem que meus filhos entraram em acordo quanto ao cardápio da noite. Eu busco a pizza. Fique aqui tranquila, volto logo. No posto de combustível deve ter pizza congelada.

            De desejo em desejo, Jéssica completou todo aquele último mês de gestação. Para surpresa de Leonor, nem sinal de parto prematuro. E a cada dia que passava, mais nervoso Lorenzo ficava. Jéssica estava muito bem fisicamente e com muita confiança. Como Leonor tinha lhe dito, tratava-se do sonho de qualquer obstetra.
            Ostentando sua barriga de nove meses de gravidez, Jéssica compareceu num almoço em família no restaurante no qual trabalhou nos últimos meses. Foi bem acomodada junto de Lorenzo, Emily, Jonas e as crianças que Jéssica informou sua decisão. Em alguns meses estaria com, além de dois bebês, a responsabilidade de ser maître do restaurante.

            - Fico feliz pela sua decisão. Muito! Estarei tranquila mesmo quando não estiver aqui, porque confio em você. – Emily lhe disse.

            A declaração da cunhada emocionou Jéssica. Muito. Mas não o bastante para lhe fazer entrar em trabalho de parto. Isso veio naturalmente. Ela levou a mão à barriga quando sentiu a bolsa se romper. E no mesmo instante sentiu Lorenzo passar o braço em sua cintura. Em algum momento do relacionamento ele desenvolveu o talento de sentir o que ela sentia.

            - Amor! É o que eu estou pensando? – Lorenzo perguntou.
            - Mamãe! Você fez xixi na calça! – Clara assustou-se quando a bolsa arrebentou.
            - É...é isso sim. Liga para Leonor, Lorenzo. E vamos para o hospital. Os bebês estão nascendo.
            - Eu quero ir com vocês! – Clara disse já entendendo o que acontecia.
            - Não, Clara. – Jéssica manteve a calma. – Você ficará com a tia Emily. Quando a mamãe voltar para casa, estará com Vicente e Cecília para você conhecer.



            Com Lorenzo muito nervoso, Jonas se ofereceu para dirigir até o hospital. Ele não confiava no irmão como motorista naquele momento. O mais provável é que ele causasse um acidente. Emily enviaria a mala com tudo o que eles precisavam. Coube a Lorenzo apenas segurar a mão de Jéssica e ligar para Leonor.

            - Fique tranquilo, amor. Nós três estamos bem. – Jéssica sabia que ele era o mais nervoso.
            - Eu sei amor, eu sei. – Só que saber não fazia seu coração bater mais lentamente.

            Estava ansioso, temeroso. E a respiração rápida que em Jéssica tinha o objetivo de reduzir a dor entre as contrações, em Lorenzo só servia para evidenciar seu desespero. Quando enfim Jéssica foi instalada em um quarto do hospital e Leonor chegou, Lorenzo conversou com ela antes da médica examinar a gestante. E, naquele momento, Leonor se preocupou mais com o pai da criança.

            - Acalme-se Lorenzo. Sua mulher tem tudo para dar à luz tranquilamente. Agora deixe-me a sós com ela para examiná-la.

            Lorenzo saiu do quarto e seguiu caminhando de um lado ao outro no corredor hospitalar. O tempo parecia não andar, os ponteiros do relógio não se movimentavam e mesmo sabendo que agia de forma irracional, não se importava. Esse devia ser o direito de qualquer homem em sua situação. Seu estado de nervos não melhorou quando após muitos minutos Leonor colocou a cabeça para fora do quarto e gritou para o enfermeiro.

            - Rápido! Preparem a sala de parto! É urgente! Preparem a paciente.

            Para os enfermeiros aqueles gritos pareceram não significar muito. Um profissional vestido de branco entrou no quarto e outro foi ao telefone, provavelmente confirmar se a sala de parto estava pronta. Mas a Lorenzo aquilo tudo soava como a informação de que algo estava errado. E por isso ele correu para junto de Jéssica. E para seu desespero Leonor barrou-o na porta. Lorenzo sentiu-se ainda pior ao ver a luva na mão da médica suja de sangue.

            - O que há de errado? Diga-me. Por favor. Você vai fazer a cesariana, é isso?
            - Não mesmo. Seus filhos nascerão pelo canal normal.
            - Mas são dois! – Ele gritou.
            - Eu sei, Lorenzo! E eles estão bem ansiosos por vir ao mundo. Jéssica tem nove centímetros de dilatação. Será normal e será muito rápido. Por isso pedi a equipe que se apresse. Se você não correr agora até o posto de enfermagem e colocar a roupa apropriada, é bem provável que não veja seus filhos nascerem.

            Nervosismo algum seria capaz de incapacitá-lo de ver Vicente e Cecília vierem ao mundo. Se Jéssica era capaz de dar a luz, ele tinha de conseguir assistir, mesmo apavorado. Minutos depois eles estavam colocados na sala esterilizada e com o cheiro dos medicamentos. Entre uma contração e outra Jéssica segurava a mão de marido. Na hora que a dor vinha ela abraçava o ventre e tentava erguer o tronco, ajudada pelos braços dele, que lhe davam apoio.
            Leonor colocou-se entre as pernas afastadas da paciente e lhe incentivava a fazer força quando a contração vinha. Cada uma era acompanhada por um grito seco de Jéssica que fazia Lorenzo ter vontade de dizer a Leonor que não aceitava todo aquele sofrimento. Mas antes dele ter a chance de fazer qualquer coisa, a médica orientou Jéssica a emburrar porque o primeiro bebê estava saindo. E no instante seguinte, após um aperto na mão e um forte grito de dor e emoção, Lorenzo e Jéssica enfim puderam ouvir o choro de um dos filhos. Enquanto Lorenzo já se dividia entre apoiar Jéssica e ver o filho receber os primeiros atendimentos, Jéssica colocava o segundo bebê no mundo. Mas esse veio ainda mais rápido.
            Quando ainda se recuperava do choque de um, Lorenzo ouviu o outro gritar sua chegada no mundo. Era pai. Era pai de dois filhos. Era pai de dois filhos fortes e saudáveis, a julgar pelo choro. Estava tão emocionado que tremia ao cortar o cordão umbilical e ver Cecília, nascida primeiro, ser colocada no peito da mãe. Logo Vicente lhe fez companhia. Ele era um pouco maior e tinha os cabelos mais claros. Ela parecia ter mais fios e com uma tonalidade mais escura. Eram tão detalhadamente perfeitos que Lorenzo se viu sem palavras para descrevê-los.




            - Obrigada, meu amor. Obrigada. – Ele disse à esposa com as lágrimas escorrendo pelo rosto.

            Via sua vida ser brindada com um imenso milagre. Um milagre duplo, lindo e cheio de amor. Vicente e Cecília pararam de chorar assim que foram postos sobre o colo da mãe. Encolheram-se junto dela, deixando claro que ali era um local gostoso, quentinho e macio de se estar. Aos poucos as boquinhas minúsculas pareceram procurar o seio da mãe e ali mesmo os dois mamaram pela primeira vez. Foram algumas poucas gotinhas, eles ainda estavam aprendendo a sugar e aquela posição não era a melhor. Mas eles mostraram que estava muito satisfeitos em ficar junto da mamãe.

            - Nós amamos muito você, papai. – Jéssica respondeu antes de ser beijada.

            Lorenzo deixou Jéssica ser cuidada pela equipe médica e acompanhou os filhos passando pelos primeiros testes e cuidados. Já vestidos e arrumados, eles foram para o berçário e puderam receber o carinho de visitas. Por telefone, avós e bisavós maternos e paternos ficaram sabendo da chegada dos bebês

            - Sim! Nasceram!Lindos! Perfeitos! Saudáveis! – Lorenzo repetia a cada ligação. – Eu mando fotos pelo celular. São muito parecidos com Jéssica. Ela está bem sim, foi tudo muito rápido.

            Giovanna e Leonel queriam vir, assim como Laura e Henrique, mas Lorenzo os aconselhou a esperar alguns dias, quando já estivessem em casa. Logo Jonas e Emily tiveram o prazer de segurar os gêmeos, tão pequenos. Clara também conheceu os irmãos, ainda dois pacotinhos cor de rosa e azul, sonolentos e muito quietos. Ela não se animou muito. E Lorenzo pode respirar aliviado, seguro que os filhos e a esposa estavam em segurança. Aquela madrugada ele passou entre períodos de sono entrecortados e minutos em que embalava um ou outro bebê enquanto Jéssica dormia.

            - Calminha Cecília. Mamãe já lhe deu mamá. Agora temos de deixá-la dormir.

            Assim Lorenzo passou as horas. Os primeiros momentos de um dia que, sonhava, era o início de um tempo de muita felicidade.


Alguns meses depois...

            Chegara a hora de inaugurar o Calderone. E num grande espaço aberto, Emily e Nathan reuniram familiares e amigos. Emily estava profundamente emocionada com aquela realização. E ainda em choque pelo que descobriu menos de uma hora antes, ao se arrumar. Quando procurava um par de brincos que não usava há muito tempo, encontrou em uma gaveta um envelope médico. Tratava-se de um laudo de procedimento ambulatorial feito por Jonas. E o que ali estava afirmado foi uma surpresa para Emily. Ela chamou por Jonas e exigiu uma resposta. Ele lhe deu da forma mais singela possível.

            - O que isso significa, Jonas? Por quê?
            - Significa que eu fiz uma vasectomia. – Jonas respondeu enquanto fechava as abotoaduras. – Porque não serei mais pai e não fazia diferença.
            - Você não precisava fazer isso...podia ser pai ainda.
            - Minha família está completa, Emily. Eu aproveitei o seu período de resguardo para fazer a operação. É algo muito simples. A decisão estava tomada há bastante tempo e eu a coloquei em prática. Se a mãe dos meus filhos já não pode gerá-los, não faz sentido continuar fértil. Agora termine de se arrumar feito uma rainha porque você tem um restaurante para inaugurar.



            Com uma postura digna da realeza, Emily se colocou diante dos entes queridos e, ao lado de Nathan, informou a todos que aquele lugar estava oficialmente aberto e que ali ela espera ser tão feliz quanto em seu outro restaurante. Discreto como sempre, Nathan deixou com Emily a missão de dizer algumas palavras.

            - Quando abri minha primeira cozinha, disse a todos que a inauguração era como o nascimento de um filho. Que o restaurante era como um filho. Naquela época eu não era mãe e meu trabalho era realmente o mais importante. Hoje não direi o mesmo. Porque sei que nada se compara com a família. Ainda assim, é muito bom estar aqui. Porque sei que faço algo pelo qual meus filhos, quando crescidos, se orgulharão da mãe. Sejam bem vindos ao Calderone.

            Os que não conheciam Nathan foram apresentados por Emily. Eram poucos, alguns familiares apenas. E a mais entusiasmada era vovô Ângela, que só largou os bisnetos para perguntar a Emily qual o estado civil do sócio.

            - Casado, vovó. Infelizmente, diriam muitas. – Emily riu ao lado de Jonas, Melissa e Giovanna. – Ainda bem que vovô Francesco não ouviu.
            - Nada, querida. Ele sabe que não tenho mais idade. Pensava em Milena. Ele parece um partidão! E agora que já resolvi a situação dos meninos, preciso concentrar minhas orações em Milena. Essa menina tem que desencalhar!

            Risos tomaram conta de todos. Mas para Emily e Melissa, tiveram um significado diferente. As duas, que conheciam o italiano há bastante tempo, sabiam que a vovó não era a única a colocá-lo em planos matrimoniais. Porém, apesar de envolver-se com muitas mulheres, Nathan é casado. Valentina, sua esposa, com quem não era visto em público há quase uma década, foi uma bela mulher. Da qual ele não se divorciava, mas fazia questão de não citar o nome.
            Apesar de decidida a se manter discreta, Melissa viu que o sonho de vovó Ângela não estava tão distante quando observou Nathan e Milena voltarem juntos ao espaço destinado a festa. Ela com a face acalorada de quem tinha a respiração acelerada. Ele com a mesma expressão de sempre. Eles estavam juntos. E Melissa não sabia o quanto aquilo era bom ou ruim. Então foi falar com Nathan.

            - Ela sabe de Valentina? – Perguntou diretamente ao amigo de longa data.
            - Não sei do que está falando, Mel.
            - Sabe. Mas também sabe mentir como ninguém. Resta perguntar se Milena também aceitará. Como está sua esposa?
            - Da mesma forma que há 10 anos. Não pode me culpar, Melissa. Sabe que não. – Nathan defendeu-se sem que Melissa tivesse que acusá-lo claramente.
            - Por trair Valentina? Realmente não. Já por enganar Milena, não tenho certeza. Mas não vou me intrometer nisso. Só peço que tenha cuidado. Ela não merece ser magoada. – E com isso Mel voltou para a companhia de seu marido.



            Pouco antes da hora do brinde, Lorenzo procurava por Jéssica. Encontrou-a ao celular, conversando com uma babá e recebendo notícia dos filhos. Cecília e Vicente estavam com quatro meses e muito bem. A mãe é que, mesmo já tendo voltado ao trabalho, ainda sentia dificuldade em tê-los distante. Bela num vestido negro e discreto, Jéssica não aparentava ter dado à luz há tão poucos meses. Estava elegante e simples, exatamente como ele se lembrava dela desde o primeiro dia.

            - Tudo certo?
            - Sim...sim. Os gêmeos e Clara estão ótimos. Eu é que preciso sossegar o coração. – A mãe respondeu.
            - Ótimo. Assim tenho tempo de lhe beijar mais uma vez antes do brinde.

            Quando enfim as taças se chocaram no ar, havia um ar de confraternização e de expectativa em todos. Ciclos se fechavam para dar espaço a outros, com novos desafios e emoções. Eram novos tempos para cada um deles. Poucos perceberam que no auge da felicidade vários casais se formaram. Oficiais ou não, estavam unidos por muitos sentimentos. Emily e Jonas, Jéssica e Lorenzo eram dois deles. E estavam satisfeitos em aproveitar aquele instante de plena alegria e satisfação.

FIM


AVISO: Ainda haverá um epílogo. Segurem as lágrimas. Bjs

           Enquanto isso, fiquem com o vídeo final de Alguém Para Amar e conheçam todos os que deram rosto a essa história.






quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Alguém Para Amar - Capítulo 33


            A decisão de onde passar a noite de núpcias do casamento foi difícil para Lorenzo. Pensou em viajar com Jéssica naquela noite mesmo para a lua de mel. Desistiu acreditando que o descanso entre a festa e a viagem seria importante para ela. Então escolheu o mais simples, óbvio até, mas que representaria muito para eles. Levou-a até a casa deles, seu lar no RS. A casa feita em pedra e localizada no centro de Bento Gonçalves serviria bem para o início de sua vida de casados.
            Depois de muito ele pedir que Jéssica sugerisse modificações no lugar e conversasse com a arquiteta para iniciar uma reforma ali, Lorenzo convenceu-se de que não adiantaria. Ela não ira se intrometer naquilo por a casa ser dele. Ao invés de iniciar uma briga, ele mesmo conversou com a profissional e lhe pediu o que desejava. Manteve toda a estrutura da casa, mas reformou o banheiro do quarto de casal, ampliou o quarto de Clara e redecorou a sala de estar. No quarto dos gêmeos nada fez. Depois que soubessem o sexo dos bebês, eles poderiam decorar como desejassem. O restante da casa estava pronto. E Lorenzo teve o prazer de ver os olhos de Jéssica se iluminarem em surpresa.

            - Você mudou a casa. – Foi uma constatação, não pergunta.
            - Apenas uma cara nova. Não mexi na estrutura. – Lorenzo esclareceu. – Depois você vê tudo com calma. Agora estou ansioso para tirar esse vestido de você e tê-la na nossa cama.

            Jéssica gostou de saber que aquela noite seria passada na casa deles. Hotéis eram lindos, mas ali era o lar deles. Seria ali que viveriam sempre que viessem para o Rio Grande do Sul e era ali que precisam encontrar felicidade. Não seria difícil. Não quando Jéssica tinha um marido dedicado ao estremo.
            Eles passaram direto ao novo banheiro, que havia recebido uma banheira confortável. Ali, Lorenzo soltou cada mecha de cabelo, até que ele caiu sobre seus ombros, um tanto ondulados pelas camadas de fixador. Depois foi a vez do vestido ser descartado. Apesar de lindo, ele foi brevemente dispensado por Lorenzo. Assim como as roupas íntimas usadas pela esposa.

            - É um presente poder olhá-la assim. Tão linda. Tem noção de como está perfeita nesse exato momento?

            De tanto ouvir de Lorenzo elogios daquele tipo, Jéssica começava a acreditar que era sim muito bonita. Ele estava fazendo maravilhas por sua autoestima. E disposta a cuidar dela muito mais. Seu agora marido, Lorenzo acomodou Jéssica na água morna enquanto tirava as próprias roupas. Só para provocá-la, fez o trabalho lentamente, provocando-a. Sabia que uma das mudanças trazida pela gravidez é que agora Jéssica tinha muito mais apetite sexual. Era estranho observar isso nela, principalmente quando o rubor tingia as maças de seu rosto tudo a vez que isso ficava evidente. Era quase como se ela se sentisse envergonhada por desejá-lo a ponto de perder o controle. Já ele, deliciava-se em cada instante. Agora sentava-se sorrindo, observando a esposa na água perfumada feito uma deusa e observava-a enquanto abria a camisa lentamente.

            - Vai me provocar muito? Ou virá me fazer companhia? – Ela estava tímida com aqueles olhares.
            - Eu não perderia isso por nada.



            Quando ele enfim tirou toda a roupa e entrou na água, Jéssica percebeu que as deliciosas provocações estavam apenas iniciando. Nas mãos de Lorenzo, Jéssica sentiu uma doce tortura. Ele sentou-se às suas costas e Jéssica tinha a sensação de senti-lo em todas as partes do corpo. Às costas sentia-o firmar-lhe, na cuca tinha arrepios em cada vez que seus dentes a arranhavam. E as mãos dele pareciam estar em qualquer lugar. De repente a água pareceu gelar, em contraste aos corpos fervilhando.

            - Eu quero você. Agora. Aqui. – Jéssica disse contorcendo-se.
            - Eu estou só começando, meu amor. – Lorenzo respondeu.

            Mas não na água. Porque ele também já começava-a a senti-la fria e o conforto e aconchego da cama macia estavam convidativos. Levou Jéssica para a cama e espalhou seus cabelos louros pelo travesseiro. Novamente pensou que ela, plena em feminilidade como estava, parecia uma deusa similar as das representações gregas.

            - Linda, perfeita. – Disse ao pegar um frasco de óleo perfumado e pingar algumas gotas sobre a pele de Jéssica.

            Com paciência e mãos delicadas, Lorenzo espalhou o produto, começando pelos seios inchados, a barriga redonda e seguindo pelas coxas alvas e macias até os pés. Curioso como algumas partes dos pés, ao tocadas, despertavam sensações muito intensas.

            - Depois vou querer saber onde você aprendeu a fazer isso. – Jéssica provocou entre suspiros.
            - Depois por quê? Não quer saber agora?
            - Não...agora não tenho condições de me concentrar em nada.

            Num riso charmoso e deliciado que já era conhecido de Jéssica, Lorenzo mudou de posição na cama para encostá-la em alguns travesseiros e, tendo-a confortável, aquecer-se na maciez de seu corpo. Fazer amor com uma gestante exigia criatividade e paciência ao amante para que a grávida tivesse prazer em segurança. Essas características não faltavam a Lorenzo e agora ele já conhecia tão bem o corpo e as reações de Jéssica que quando enfim a tomou para si, sabia que ela estava em êxtase. E quando se aliviou dentro dela encontrou reencontrou aquela velha sensação de estar em casa. Relaxou e deitou-se de costas na cama, puxando-a para encostar a cabeça em seu peito. A diferença é que agora sentia também a barriga arredondada de Jéssica junto de seu abdômen. Seus filhos estavam ali, manifestando-se ao mexer na barriga da mãe.



            - Tudo bem? – Ele perguntou mesmo sem ter dúvida disso.
            - Tudo ótimo. Tudo perfeito.
            - Ótimo. Vamos dormir então. Amanhã cedo viajaremos.


            A viagem na manhã seguinte foi rápida. Em menos de duas horas eles estavam em Gramado. Mas o visual da cidade deu a Jéssica a sensação de estar em um lugar muito distante. Não parecia o Brasil, não lembrava em nada os cenários tropicais tão procurados pelos turistas. Era um lugar famoso pelo frio e pelo chocolate que em alguns anos era brindado pela neve. Passariam ali uma semana, tempo suficiente para conhecerem os principais pontos turísticos e já sentirem saudade de Clara.



            Na primeira noite eles saíram para caminhar numa larga alameda. E Jéssica viu que, iluminada, Gramado ficava ainda mais bela. As casas mantinham arquiteturas antigas, com chaminés e torres. Muita madeira decorava as residências e todas contavam com lareira. Quando o frio ficou mais intenso, Lorenzo levou-a para o hotel. Essa era outra das vantagens da Serra Gaúcha, o frio dava a desculpa perfeita para manter Jéssica aquecida em seus braços.

            Aquela semana também passou muito rápido para Emily e Jonas. Ele curtia seus últimos dias de licença da JRJ e Emily estava a cada dia mais empolgada com o novo restaurante. E Dedicando-se intensamente a esse novo projeto, Emily já procurava o local e imaginava como organizaria a nova equipe de trabalho.

            - Quero te convidar para, quando esse projeto se concretizar, ser maitre. – Emily disse a Márcio. – Será um espaço muito mais refinado. O cardápio será assinado por Nathan Johnson. E servido num ambiente classe A.
            - Eu adorarei ajudá-la nesse novo projeto, minha querida. Mas e o seu restaurante?
            - Seguirá na ativa, como sempre. Eu contratarei chefs para ajudarem em ambos. E para o seu lugar...estou pensando. Como Jéssica tem se saído na recepção aos clientes?
            - É muito esforçada. Os trata com cortesia e eficiência. Mas não é uma conhecedora de vinhos, apesar de que com o marido que tem, muito em breve deve superar essa dificuldade. – Desde que Lorenzo, feito um herói, defendeu Jéssica de Bruno, Márcio estava encantado por ele.

            Emily orientou o amigo e funcionário de longa data a aproveitar o período entre o retorno de Jéssica da lua de mel e sua saída para licença maternidade para ensiná-la tudo o que sabia. Sem dizer nada. Ela iria observá-la mais de perto. Caso acreditasse que ela daria conta do cargo, faria o convite para que Jéssica assumisse o lugar de Márcio quando voltasse da licença maternidade. Caso não fosse possível, ela poderia seguir como auxiliar na cozinha.
            Mas nem só de trabalho viviam os Vicentin. A rotina com os filhos estava a cada dia mais deliciosa de ser vivida. As horas junto de Vida e Bernardo pareciam passar tão rápido que eles por vezes desejaram parar o tempo. Tudo passava muito rápido. Vida acabara de completar um ano. Eles comemoraram a data intimamente. Só os quatro no apartamento. Era assim que se sentiam mais felizes e confiavam que Vida percebia o tanto de amor já havia à sua volta. Já Bernardo completara três meses naquela semana. Havia ganhado muitos centímetros e algumas gramas. Estava lindo e a cada momento mais manhoso. Adorava o colo dos pais.
            Esse apego muitas vezes impedia Jonas e Emily de ter uma noite tranquila. O pior é que quando Bernardo chora, também acorda a irmã mais velha. E Vida não gosta de ter seu sono de beleza interrompido. Quando acorda no meio da noite ela chora junto do irmão. E aí ninguém no apartamento consegue descansar. Isso prejudicou a vida do casal no único setor que eles ainda seguiam inseguros dos resultados da cirurgia de Emily. Depois do parto e da histerectomia, eles não tiveram relações sexuais. Primeiro por proibição médica, depois pelos temores do casal e, atualmente, pelas interrupções dos filhos.
            Naquela noite Emily chegou tarde do restaurante e encontrou Jonas sentado na sala à sua espera. Vida e Bernardo estavam já em seus berços e Emily foi beijá-los antes de tomar seu banho.

            - Deram muito trabalho? – Banhar e alimentar dois bebês não era fácil.
            - Quase nada. – Jonas, porém, jamais reclamava.

            Logo depois estava sentada à mesa da cozinha, tenho a camisa de Jonas sobre o corpo e as mãos dele a apertá-la. Minutos assim eram raros para qualquer casal com filhos. Quando esses eram dois bebês era mais raro ainda.
                       


           
            Jonas até tentou lhe oferecer algum jantar. Emily estava mais interessada em ter o marido como refeição. Ela tratou de abrir as roupas dele e se fartar naqueles músculos, sempre à sua disposição. Mas foi só as carícias esquentarem para um chorinho fino se fazer ouvir. E logo depois ele ganhou eco em outra garganta. Quando Jonas se afastou de Emily e viu nela a mesma decepção que sentia.

            - Eu vou ver as crianças. – Ela avisou descendo da bancada da cozinha.
            - Vou com você. Amanhã terei uma conversa séria com essas crianças. Quando eles estão brincando papai não atrapalha. Mas é só eu chegar perto da mamãe que Bernardo solta as cordas vocais. Isso não é justo!

            Era brincadeira. Mas tinha um fundo de verdade. Três meses era tempo demais sem sexo, ainda mais quando Emily havia recuperado as curvas do corpo rapidamente. E, como se não bastasse, parecia agora mais macia e curvilínea que antes.
            Jonas e Emily acalmaram o choro dos filhos e os colocaram novamente em seus berços. Vida foi ninada por Jonas. E Emily afagou Bernardo até que ele adormecesse. O caçula da família, já grudado na mãe, parecia sentir seu cheiro de longe e adormecia muito mais fácil quando era Emily a cantarolar por perto. Bernardo parecia saber da força com que sua mãe desejou-o, inclusive arriscando a própria vida. E agora queria recompensá-la. Pena que nesse objetivo acabava estragando momentos íntimos do casal. Nada com o que eles não conseguissem lidar.
            Quando enfim chegaram em seu quarto era tarde demais e sabendo que o dia seguinte seria cheio, foram dormir cansados. Sem sexo, porém, com o coração transbordando de amor. O dia seguinte seria a despedida de Jonas dos tempos de descanso da construtora. Ele e Emily aproveitariam para passar o dia juntos. Jonas acompanharia a esposa numa visita a alguns pontos comerciais que poderiam servir ao novo restaurante. Após deixarem Vida na escola e Bernardo com Marta por algumas horas, seguiram para aquele raro momento de paz a dois. Foi uma manhã cansativa vistoriando lugares. Seguida por um almoço satisfatório. E na volta, quando Emily quis que Jonas seguisse em direção ao orfanato para resgatar Bernardo, percebeu que ele ia em outra direção. A do motel que costumavam frequentar nos tempos de relacionamento sem compromisso.

            - Motel! Quem você pensa que eu sou?
            - Minha mulher, querida. E uma mulher e tanto. – Ele não se surpreendeu com o bom humor que via em Emily. – Quero você. E não aguento mais esperar.




            A tarde no motel teve cara de reencontro. Não só com o lugar, ou de um com outro. Mas de cada um com o próprio desejo sexual. Jonas viu e tocou na cicatriz localizada no baixo ventre da esposa. Logo quando a trouxe para casa, temeu que ela se revoltasse com a marca e não lhe permitisse vê-la. Enganou-se. Emily via o que preferia ver e dizia a si mesma que aquele fino traço localizado na parte baixa de sua barriga era uma recordação do feliz dia de nascimento de Bernardo. Todo o resto ela apagou num passado distante.
            Emily não mais pensava em dor, endometriose ou histectomia. Ao se postar nua na frente do espelho via uma mulher normal. Qualidades e defeitos ali estavam. Cicatrizes lembravam-na de tudo o que já passou na vida. Também via uma mulher da qual se orgulhava. Profissional de sucesso. Capaz de se sustentar sem depender de ninguém. Esposa amada e apaixonada. E, agora, mãe de duas crianças. Estava realizada em sua vida. Por isso, não seria uma cicatriz que a faria sentir vontade de se cobrir. Que Jonas visse a marca, tocasse e acostumasse com essa Emily, marcada sim pela doença, mas curada e muito feliz.
            E Jonas não se importou nem um pouco com aquela cicatriz. Estava mais preocupado em, palmo a palmo, conhecer as novas curvas de sua mulher. Jamais lhe diria, sob pena de deixá-la muito irritada, que seu quadril seguia um pouco mais largo e as coxas mais roliças. Sentia um pouco menos de músculos e mais maciez em seu abdômen. Estava deleitando-se com isso.

            - Meus filhos que me perdoem, mas hoje a mamãe é só minha!
            - Sou sempre sua...só com um pouco menos de tempo. – Ela respondeu em provocação. – Agora acho bom você aproveitar esses minutos a sós que temos.

            Ele não se fez de rogado e avançou sobre ela com fúria digna do tempo distante.

            Uma semana se passou e lá no sul o clima de romance permanecia entre Jéssica e Lorenzo. Às vezes Jéssica se questionava se aquele homem era perfeito ou se ela é que não via seus defeitos. Qual fosse a resposta, estava ótimo daquela forma. Após manhãs de cafés coloniais fartos, passeios tranquilos, tardes de muitas compras e noites muito bem aproveitadas, chegara a hora de voltar para casa.

            - Gostou da nossa lua de mel?
            - Lorenzo, eu gosto de estar ao seu lado, seja onde for. – Ela não tardou em lhe falar.

            Quando chegaram novamente em Bento Gonçalves o plano era ficar mais alguns dias na fazenda ou na casa deles e só então retornar para São Paulo. Foram bem recebidos por todos. Mas ninguém comemorou mais do que Clara. Foram poucos dias e, mesmo assim, a menina sentiu a falta dos pais. As primeiras horas na fazenda após a viagem Lorenzo passou junto da filha abrindo presentes e ouvindo histórias de tudo o que ela fez naqueles dias.

            - Vovô Leonel disse que vai me dar um cavalo. Um cavalo bebê! E vai me ensinar a andar nele! – Clara disse entusiasmada. – Eu posso levar ele pro apartamento?
            - Acho que não. Ele será mais feliz aqui, com muita gente cuidando dele. Mas o papai te trará para vê-lo.

            Os tempos de tranquilidade só foram encurtados no dia seguinte quando a família foi passear no centro da cidade no meio da tarde. Como mesmo antes de Jéssica estar grávida Lorenzo já afirmava, dessa vez não haveria barriga escondida nem disfarçada. Ela usava um vestido que chamava a atenção aos gêmeos e muitos sorriam ao vê-la. Jéssica devolvia o sorriso e percebia Lorenzo acarinhar seu ventre como se fizesse questão de dizer a todos como se orgulhava daqueles bebês.
            Um desses olhares veio de um casal idoso já conhecido por Jéssica. Anitta e Fabrício, pais de Alice, primeira esposa de Lorenzo, estavam observando os dois com um olhar triste. Quando eles se aproximaram, Lorenzo pensou que teria pela frente gritos e ofensas. Mas não foi assim. Não havia mais raiva neles, só tristeza. Viam em Jéssica o futuro que foi tomado de Alice. Aquela felicidade, aqueles afagos no ventre, aqueles bebês, tudo aquilo deveria ter sido dela. A vida lhe foi tão injusta quanto breve.

            - Anitta e Fabrício. Como vão?
            - Bem, na medida do possível, Lorenzo. – Fabrício respondeu. – Ficamos sabendo do casamento. Meus sinceros parabéns.
            - Obrigado. – Lorenzo respondeu. – Anitta, eu espero que não guarde mágoas de mim ou da minha família. Eu a tenho como mãe.
            - Eu sei, querido. Apenas...não é fácil. Alice queria muito ter um filho seu, sonhava andar de mãos dadas com você com uma imensa barriga. Só achava que deveria esperar. Vocês ainda eram tão jovens. Eu lhe disse para espera. E me arrependo tanto. Hoje eu poderia ter um neto homem feito, que me lembra-se de Alice.
            - Anitta... – Fabrício tentou interrompê-la.
            - É uma dor que não se encerra. – Ela complementou.

            Aquele encontro terminou com os quatro emocionados. Anitta e Fabrício pela filha que perderam, Jéssica sentindo-se mal por estar feliz e Lorenzo dividido. Seus antigos sogros o puxaram de volta a uma tristeza que ele julgava ter enterrado. Calados eles voltaram para casa. Até mesmo Clara, que nada entendia do que se passava, pareceu mais quieta. Via na expressão dos pais que algo de muito errado ocorreu. Lorenzo levou Jéssica e Clara para a fazenda e, deixando a esposa muito preocupada, saiu novamente, sem dizer nada para ninguém.

            - Fica tranquila. Logo ele aparece. Lorenzo não é de sumir. – Milena lhe disse ao vê-la a cada instante mais nervosa.
            - Por isso mesmo. Lorenzo não é assim. Deve estar bebendo em algum lugar. Quer esquecer...ou lembrar.

            Pressionada, Jéssica contou para a irmã de Lorenzo o que aconteceu durante a tarde e então ela concordou que Lorenzo talvez estivesse precisando do ombro de alguém. Ele não atendia o celular e quando a noite caía Jéssica já estava decidida a ir atrás de seu homem.

            - Não! Você não conhece bem a estrada. – Milena se colou contra a ideia, assim como toda a família.



            Não houve quem pudesse dissuadi-la. Num carro emprestado, Jéssica seguiu pela cidade. Ela estava muito segura na direção. Ao contrário do que eles pensavam, há tempos havia decorado o caminho, após várias viagens naquele trecho. E dirigia muito bem desde os seus 16 anos. Só não teve condições financeiras de tirar carteira, algo que seria desnecessário porque não pretendia comprar um carro, nem tinha recursos para isso.
            Sinto posto e rádio ligado, ela colocou o carro na estrada um minuto antes de ligar para Lorenzo e mais uma vez não ser atendida. Fez o que considerou certo. Ele é seu marido, pai de seus filhos. Se alguém tinha de ir vê-lo num momento de dificuldade, esse alguém é ela. Chegou em casa e viu tudo escuro, talvez ele não estivesse ali. Estacionou já um tanto arrependida de vir. Piorou ao entrar e vê-lo no escuro. Na mesa à sua uma garrafa de vinho aberta, porém ainda cheia. Beber para Lorenzo era um prazer feliz, não um modo de esquecer as dores. Porém, em suas mãos estava a foto de Alice, aquela que ele guardou na primeira vez em que esteve na casa.

            - Então é aqui que você está...com ela. – Jéssica disse após entrar sem que ele tenha percebido sua presença.
            - Jéssica! O que faz aqui? – Ele ergueu-se da cadeira, guardou a foto e agiu como se aquilo não fosse importante. – Quem te trouxe?
            - Eu peguei um carro e vim.
            - O que? Não! Por quê?

            Jéssica já estava um tanto aborrecida quando chegou. Mas talvez se Lorenzo tivesse lhe abraçado e pedido desculpas pelo sumiço, tivesse se esquecido de tudo e só se aconchegado a ele. Mas Lorenzo escolheu atacá-la ao invés de assumir a culpa.

            - Você não pode dirigir, à noite, nessas estradas! Não grávida! Você nem tem carteira!
            - Não grita comigo, Lorenzo!
            - Irresponsável! É isso o que você foi hoje.
            - Não! Irresponsável é o marido que some e não atende a esposa no celular.
            - E se acontecesse um acidente? E se você batesse contra uma árvore qualquer? – A ideia, só a ideia, de perdê-la ou vê-la machucada era dolorosa demais. Tanto que o fazia perder a pouca razão que manteve em meio aquele péssimo dia. – Você é minha vida! Droga! Você e as crianças. Se perder vocês, não resta nada.
            - Então devia ter ficado com a gente. Não vir sozinho pra casa, chorar por uma mulher que já está morta. Eu estou viva!

            Ciúme. Apenas cinco letras capazes de fazer ferver o sangue de qualquer um. Ciúme que manteve Jéssica raivosa mesmo reconhecendo as razões de Lorenzo para estar nervoso. Enfim ela conhecia um lado dele do qual não gostava. Lorenzo mantinha sentimentos e medos por conta de Alice e de sua morte trágica. Isso não ia acabar, fazia parte dele e era muito pouco se comparado às qualidades daquele homem. Ainda assim, ela subiu as escadas triste e se trancou no quarto.
            Lorenzo ficou um pouco sozinho. Guardou o vinho que, naquela noite, teve sabor desagradável. Reconheceu que havia passado do ponto. Nunca aceitaria que Jéssica saísse à noite dirigindo naquelas estradas fatais. Ele, porém, errou muito. Com ela, com Clara e com os gêmeos. Não pensava em Alice como mulher. Lembrou sim dos sonhos perdidos na morte dela. Da dor que sentiu quando o médico lhe disse que não havia o que fazer. Lembrou-se do dia em que falaram de ter filhos, da tarde do casamento e...da manhã em que a viu pela última vez. Anitta tinha razão, aquela era uma dor que jamais cessaria. Mas precisava ficar encarcerada. Ou ele jogaria fora sua chance de ser feliz. E isso estava longe de seus planos. Correu até a porta do quarto do casal e encontrou-a fechada. Com poucos dias de casado isso era muito frustrante.

            - Jéssica! Abre, por favor. Me perdoa. Eu não quis gritar com você...só...só me assustei em te ver aqui. Abre, por favor.
            - Não, Lorenzo. Se quiser fazer algo de útil, vá buscar Clara.

            Preocupado, Lorenzo fez isso. E só ficou mais tranquilo quando ao voltar com a filha e instalá-la em seu quarto antes de voltar ao do casal, girou a maçaneta e viu a porta se abrir. Depois que a raiva passou, Jéssica destrancou-a. Ela já dormia e eles não conversaram. Sobre o travesseiro ela lhe deixou um bilhete. [Prefiro voltar para São Paulo amanhã mesmo] Passara da meia noite então o amanhã já era hoje. Antes de dormir Lorenzo transferiu as passagens. Naquela tarde eles embarcariam. Ainda sentindo o cheiro dos cabelos dela, Lorenzo adormeceu abraçando-a pela cintura.

            Levou dois dias para o relacionamento voltar ao que era. Mesmo em SP Jéssica não o tratou melhor. Não houve mais discussões nem gritos e o mais provável é que Clara sequer tenha percebido o clima ruim entre os pais. Mesmo assim, a mágoa continuava ali, densa e difícil de vencer. Em todos os momentos que Lorenzo tentou se aproximar, Jéssica tratou-o com respeito e, mesmo assim, ele via aquela tristeza em seus olhos. Talvez se ela estivesse brava e gritando, ele soubesse lidar melhor com o problema. Assim, Jéssica parecia a Lorenzo um pouco inacessível. Até porque as indicações médicas eram para não irritá-la. Tranquilidade fazia bem aos bebês.
            E foram eles que restauraram a paz. No dia em que eles teriam uma consulta médica para tentar descobrir o sexo dos bebês, Jéssica desde o início da manhã já olhava para Lorenzo com olhos mais doces. A expectativa por aquele dia era linda demais para gastar energia brigando com quem já lhe deu tanto. A família tomou café unida, num clima muito amistoso. Os planos eram deixar Clara na escola e seguir direto para a clínica. A filha estava tão ansiosa quanto eles.

            - Bom dia. – Como em todas as manhãs, Lorenzo cumprimentou-a com um beijo. – Se sente bem?
            - Bom dia. – Pela primeira vez desde a discussão ainda no RS, Jéssica beijou-o em resposta. – Muito bem. E muito ansiosa. Quero ver nossos filhos.



            Eles viram. Com as mãos entrelaçadas assistiram Leonor mexer no equipamento de imagem e observar os bebês por diversos ângulos. Já estavam bem mais formados e o que antes eram manchas, agora já tinha a forma de dois bebês. E eles pareciam se encaixar perfeitamente no ventre de Jéssica. Lágrimas surgiram nos olhos dela. Lorenzo manteve-se firme, algo que lhe custou muito esforço. O amor por aquelas crianças já o tinha mudado muito. E enfim tiveram a notícia que tanto aguardavam.

            - Um casal. Você carrega um menino e uma menina, Jéssica. Já podem preparar os enxovais, rosa e azul. Parabéns!

            Com essa notícia Lorenzo se sentiu tão sortudo, tão feliz e abençoado por Deus que passou a questionar-se se ainda tinha o direito de sofrer pelo passado quando o futuro lhe sorria daquela forma. Olhar para Jéssica, ouvir o sorriso de Clara e imaginar seus bebês pareciam como uma passagem só de ida para uma terra feliz. Como que confirmando isso, depois de se vestir Jéssica lhe beijou e estendeu a mão para sair. As tristezas ficaram no passado. E quem havia errado já não importava.

            - Me perdoa. Não devia ter gritado com você. – Ele ainda lhe disse.
            - Tudo bem. Eu também não tinha o direito de sentir ciúme do seu passado, nem deveria ter saído de carro sem ter carteira de motorista.
            - Depois que os bebês nascerem você pode tirar a carteira e dirigir meu carro quando quiser. Na verdade, não me ofereço para te comprar um carro porque você me faria engolir as chaves. E eu não quero mais brigar. Prefiro quando você sorri assim.
            - Eu brigaria mesmo. Não pretendo comprar carro, Lorenzo. Mas vou tirar a carteira. É bom para uma emergência.
            - Está bem, se você prefere assim. – Lorenzo tentaria se acostumar com ela ao volante e a não fazer comparações. Ela não era Alice, nem sofreria um acidente como ela.

            Com a paz reinando entre o casal, Jéssica voltou ao trabalho no restaurante. Mesmo já não sentindo enjoos, Márcio lhe pediu que não voltasse à cozinha. Ele explicou que Emily estava muito envolvida em um novo projeto e por isso algumas mudanças no quadro de funcionários ocorreriam. Jéssica trabalharia na recepção até entrar em licença maternidade.

            - Depois vemos como ficará com os gêmeos...se o bonitão deixar você trabalhar. – O maitre brincou.
            - Vou trabalhar sim. Sempre. – Jéssica respondeu. – E não fale assim do meu marido...posso sentir ciúmes.
            - Sinto muito, querida. Mas casando com aquele homem essa será a sua sina. Deus abençoe a mãe que pariu esses homens. Benzadeus!

            Jéssica ainda não sabia, mas os planos de Emily já estavam muito adiantados. Com o lugar escolhido, ela e Nathan já pensavam no menu do restaurante. Ainda havia muitos detalhes a serem decididos, mas Emily estava muito ansiosa. Junto de alguns amigos ela pretendia relaxar naquela noite e apresentar a eles alguns de seus planos. Repartir boas notícias era algo que sempre lhe agradava.


            Nessa noite, porém, não eram apenas os amigos a se reunirem em seu apartamento. Eram os amigos e os filhos deles. Além de Vida e Bernardo, Lorenzo e Jéssica trouxeram Clara. E Melissa e Rafael vieram trazendo Tales. Nunca tiveram uma reunião entre amigos com mais interrupções. Quando não era um ‘mãeee’ ou ‘não corre’, era o choramingo de um dos bebês. Mais ainda assim, foi uma linda noite.



            - Eu acho que Clara acabou de encontrar um ótimo partido. Tales é um menino de ouro. – Jonas brincou. E recebeu olhares surpresos dos quatro pais envolvidos.
            - Ele é. – Melissa disse. – E um tanto jovem.
            - Concordo. – Lorenzo ria das bobagens do irmão. Jonas estava de ótimo humor. – Além disso, ninguém manda no coração. Tales ainda pode se encantar por Vida no futuro.

            Nem mesmo a resposta afiada de Lorenzo tirou o humor de Jonas. Naquela noite ele estava particularmente feliz. Além de ter sua família e amigos por perto, reafirmou a Rafael que na manhã seguinte já estaria de volta a JRJ. Sua vida também era lá, talvez sem os mesmos laços sentimentais que na vinícola, mas, ainda assim, a construtora lhe era muito importante. Principalmente pelas amizades ali construídas.

            - A partir de amanhã vocês voltam a contar comigo. – Disse puxando um brinde.
            - Ótimo! Sentimos a sua falta. – Rafael respondeu.




            O único convidado que veio sozinho foi Nathan. E ele ainda levou algum tempo para se enturmar. Fora às novidades que ele e Emily tinham a contar, Nathan se manteve quieto. Ainda assim, muito simpático e agradável. Sempre fora um homem discreto, mas no passado de estudante do qual Emily se lembrava ele sorria mais. Depois de se casar Nathan ficou mais amargo e hoje é difícil arrancar dele alguma informação sobre a esposa. Nem mesmo aliança ele usa. Emily sempre evitou falar da vida particular do amigo. Melissa foi menos discreta.

            - Você não quis filhos, Nathan? Ou foi apenas Valentina que não...teve chance de lhe dar? – A ex-modelo perguntou.
            - Eu não quero falar disso. – Ele foi amargo. – Prefiro beber esse maravilhoso vinho que agora sei de onde vem.
            - Sim. – Jonas aproveitou para tirar uma dúvida. – Você visitou a Vinícola Vicentin, Emily me disse. Pena que nós não estávamos por lá. Podia ter nos avisado. Eu adoraria ter lhe mostrado nosso negócio.
            - Eu aproveitei outros compromissos. Eu pretendo voltar lá, inclusive. E levar alguns rótulos de vocês para Milão. Alguns vinhos têm perfeita harmonia com os pratos que sirvo lá.
            - Que ótimo. – Jonas simpatizou com ele. Muito. Tanto que logo depois o fato dele não falar na família ficou esquecido.

            Quando todos foram embora Emily e Jonas sorriram satisfeitos. Ter o apartamento cheio de amigos era algo que sempre lhes agradou. E a cada dia parecia melhor. Emily tinha certeza que não importava quantos compromissos profissionais tivesse. Sempre encontraria tempo para a família e os amigos. Jonas concordava e tinha isso como um das grandes qualidades de sua esposa. A capacidade de crescer, de ser ambiciosa, mas de manter-se dele, exatamente como quando se conheceram. Jonas foi dormir feliz, abraçado em Emily e otimista com a vida.