quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Ariella - capítulo 25


            O tempo ia passando, cumprindo seu papel de sarar feridas, disfarçar angústias e deixar dores no passado. Diego e Ariella aos poucos iam aprendendo a conviver. Experimentavam uma vida nova, com suas dificuldades, mas totalmente diferente da experimentada há 10 anos. Primeiro porque naquela época, além de muito jovens, eram também movidos pelos sentimentos errados. Ele era comandado pela vingança. Ela por sonhos irreais de uma menina que ainda não conhecia bem o mundo.
            Agora era diferente. E ambos estavam prontos para lutar pelo que desejavam, de verdade, sem interferências, sem aceitar palpites que não os vindos do próprio coração. Hoje eles se compreendiam um pouco melhor e conheciam as razões um do outro para suas ações, mesmo aquelas as quais não concordaram. Diego sabia o quanto seu depoimento à polícia incomodava Ariella, sobretudo por ele não esconder sua certeza de que Afonso era, de alguma forma, o principal culpado de tudo o que ocorria. Mas ela não podia, nem tentaria impedi-lo de falar à polícia.



            - Meu pai é..difícil, eu sei. O que ele disse no hospital foi horrível. Mas não pode ter sido ele. Afonso é meu pai... – Ariella afirmava sempre que falavam no assunto.
            - Ele também é alguém de tudo por dinheiro. E parece estar mais desesperado ainda. – Diego sempre reafirmava. – Se ele tivesse vindo apenas atrás de mim, poderia pensar em ignorar o fato e, pelo seu bem, deixar passar todo o horror que foi aquela noite. Mas ele colocou você e o nosso filho em risco e isso eu não relevarei.

            O depoimento ocorreu poucos dias após eles estarem instalados de volta à casa de Ariella à beira mar. Ela não o acompanhou, já tinha falado as autoridades e estava certa do furacão que tumultuaria sua vida após aquele depoimento. Diego, acompanhado de um representante legal, contou a sua versão dos fatos. Como já esperava, suas acusações, extremamente graves, precisaram de uma grande argumentação. À frente do delegado, foi obrigado a voltar mais de três décadas no tempo e explicar o início daquela história do ódio que unia e afastava as famílias Bueno e Amaral.

            - O senhor está afirmando que Afonso Amaral, pai de sua ex-exposa, seria responsável pela invasão a casa da própria filha? E isso tudo por uma desavença com o senhor, iniciada há muitos anos? Não acha essa história um pouco fantasiosa? – O policial demorou a aceitar o que Diego contava.
            - Não, nenhum pouco. E o senhor entenderá o por quê. Permita-me iniciar pelo começo.



            Ele contou mais do que gostaria, para manter a própria privacidade. Afinal, não tinha dúvidas de que aquela história muito em breve atrairiam a atenção da imprensa. Era uma história fantástica demais para não ganhar ar revistas. Com o mínimo e detalhes possível voltou no tempo e contou a história de seus pais. E a entrada de Afonso Amaral na vida da família.

            - Meus pais viviam um casamento normal, com dificuldades. Afonso aproveitou-se da fragilidade de minha mãe para envolver-se com ela lhe tirar dinheiro. Isso culminou com uma tragédia familiar, um acidente de carro no qual minha mãe faleceu.
            - Desculpe, senhor Bueno. Mas não entendo como algo da sua infância pode ter ligação com o assalto sofrido recentemente pela sua namorada.
            - Você entenderá, policial. Deixe-me explicar. Eu e minha namora fomos casados, por um breve período, há 11 anos. E nosso relacionamento também teve um final trágico, também com um acidente de carro.
            - Uma triste coincidência. – O delegado agora já estava mais curioso do que desconfiado. Havia algo de estranho naquelas coincidências.
            - A coincidência mais está no fato de Afonso tentar lucrar em cada um desses momentos. Dessa vez ele não conseguiu, porque sua filha negou-se a pagar.

            A história era fantástica demais. O que a tornava mais possível ainda, a experiência lhe ensinou. Naquele instante ele estava disposto a embarcar na fantasia de Diego Bueno, depois a investigação lhe diria o quanto de realidade existia ali.

            - E qual a sua teoria, senhor Bueno?
            - Ainda não está claro o bastante, delegado? Afonso Amaral está falido, a filha lhe nega dinheiro desde o dia que ele tentou extorqui-la aproveitando-se de um momento de fragilidade médica. Ele resolveu roubar o que ela tinha na casa...talvez forjar um sequestro. Minha equipe de segurança tem informações que dão conta de uma funcionária da casa facilitar o crime. Era para ocorrer no Carnaval, com Ariella sozinha na casa. Mas eu vim passar o feriado ao seu lado. E nós sabemos como terminou.
            - Pode ser que o senhor esteja certo. Mas até agora, são só suposições.
            - É...mas eu estou certo de que, com algumas investigações, provas podem surgir.



            Aos poucos Diego entendeu que otimismo não era uma boa ideia. Os dias foram passando. A saúde dele foi se fortalecendo. A gravidez avançando. E o relacionamento deles melhorando a cada dia. Mas a polícia não chegava a nenhuma conclusão. Ao que parecia, Afonso seguia na Argentina, falido e tentando recuperar seus negócios. Inocentemente, os idiotas acreditariam. Por isso Diego, às costas de Ariella, iniciou uma investigação privada. Se prendê-lo não era possível, ao menos queria estar pronto para revidar o próximo golpe.
            O que mudou, e muito, com o passar das semanas, foram os desejos de Diego. Eles estavam bem no Brasil. Sentiam-se seguros. Estavam felizes. Mas algo passou a crescer no peito de Diego. A administração de todos os seus negócios estava em Madri. A maior parte de sua vida estava lá. Nem por isso, pensava em largar Ariella ali e retomar sua vida. Se necessário, nunca mais deixaria o Brasil.
            Mas não precisava ser assim. Ariella é uma artista. Retrata o que vê e o que sente em belíssimas telas. Pintar no Brasil ou na Europa não faria diferença. A própria Ariella, por diversas vezes na última década, rodou pelo mundo expondo e produzindo a sua arte. Porém, a ideia de voltar para a Espanha definitivamente, não apenas passava longe da mente de Ariella como ela rechaçada ao primeiro comentário.

            - Nunca morarei lá. A Espanha foi...muito sofrida para mim. Não desejo voltar nunca mais. – Ela lhe afirmou quando Diego arriscou questionar claramente os seus desejos.
            - Você já esteve lá, Ariella. Expos suas obras, fez sucesso, recebeu aplausos. Suas obras fizeram a felicidade dos críticos especializados. Não pode odiar tanto assim o meu país.
            - Foi apenas uma passagem rápida! Não morar!
            - Mas morar seria tão doloroso assim?
            - Sim! É impensável! – Ela reafirmou, e Diego se calou.

            Na semana seguinte ele sequer pensou em tocar novamente no assunto e tentou fingir não estar magoado. Não se tratava de frustração pelo não retorno à Europa. Se os motivos de Ariella fossem outros, estaria tudo bem. Mas o mal que ele lhe fez a gerar a aquela reação. Ariella foi tão infeliz na Espanha que seguia traumatizada até hoje, mesmo tantos anos depois. Ela ficara com cicatrizes bem mais marcantes que as da perna e, muito provavelmente, tão profundas que jamais desaparecerão.
            Quando tentou vingar-se de Afonso e feriu sua filha, física e emocionalmente, esperava machucá-la. O sofrimento dela fora milimetricamente planejado e conquistado. Quando ela chorava, ele deveria sorriu. E foi assim. Na época, ele se sentira realizado em fazê-la sofrer. Agora essa dor lhe era atirada na cara, lembrando que certos pecados não são perdoados nem apagados pelo tempo. Nada apagaria o que ele fez a Ariella. Lhe restava tentar lhe fazer feliz. E deixar o sofrimento no fundo do coração dela, atrás de momentos felizes.



            Talvez, a única alternativa para eles naquele momento estivesse em tirar Afonso de suas vidas definitivamente. Se isso não ocorresse pelas mãos da justiça, que fosse por ações particulares. Um encontro, cara a cara com Afonso, era iminente. Nenhum dos dois estava interessado em esquecer o ódio que despertou no outro. Talvez, Diego agora passava a pensar, somente com a destruição de Afonso, ele e Ariella conseguissem recomeçar.
            Essa destruição não viria da morte, nem mesmo da decadência financeira. Ele precisava de justiça. Ou jamais se sentiria completo. Ligou para a única pessoa que poderia ajudá-lo. O investigador que no passado conseguiu dados muito íntimos de Ariella agora seria encarregado de descobrir o que Afonso escondia do mundo.

            - Está bem. – O homem aceitou. – Não deve ser difícil. Ele tem uma medida judicial que o impede de sair da Argentina.
            - Sim. Mas ele tem braços fora de lá. Não subestime-o. Afonso está aprontando coisas à sombra a lei. Eu não tenho dúvida.
            - Ok, ficarei atento.

            Diego estava certo. Afonso poderia estar preso na Argentina. Mas seus “braços” criminosos estavam pelo mundo. Naquele momento um deles apertava a campainha de uma simpática vovó em Madri. Afonso também resolverá mudar os planos. Agora atacaria outra pessoa muito amada por Diego.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Vida Roubada - capítulo 30



            Observar a filha e ver nela, ainda vivas, as razões que a fizeram sobreviver às provações mais difíceis, fez Beatriz buscar forças e seguir lutando. Sua vontade era isolar-se e chorar na privacidade, sem ter de encarar uma filha que não a reconhecia. Essa fraqueza, porém, não lhe pertencia e ela obrigou-se a agachar-se e estender a mão para a tímida criança que nascera de seu corpo, mas não manifestava nenhuma lembrança de sua mãe.

            - Eva? Porque não me deixa lhe dar um abraço? – Afirmou, tentando não deixar a voz trêmula dominá-la. – Não vou machucá-la, venha.

            Não foi rápido, nem instintivo. A pequena havia perdido o contato com a mãe numa idade ainda tão jovem que os laços não foram reafirmados. Mas com um rápido incentivo de Matt, Eva deu um passo em direção aos braços que tanto precisavam senti-la. Foi questão de tempo para ter início um abraço, banhado em lágrimas que a criança não entendeu, mas tornaram o coração e Bia um pouco mais leve.



            Os olhos de Eva podiam não reconhecer sua mãe, mas algo, dentro daquele abraço, fez com que não mais desejasse ficar sem os braços da visitante a protegê-la. Talvez fosse o cheiro. Quem sabe a voz doce e carinhosa. Ou, ainda, alguma lembrança revivida no inconsciente. No íntimo, elas se reconheceram. E quando Eva enfim saiu do abraço de sua mãe, foi para estender-lhe a mão.

            - Vem brincar comigo, vem? De massinha. – A filha convidou e mãe acompanhou, disposta a compensar o tempo perdido.

Horas se passaram até que Eva se cansasse de sua nova amiga. Era assim que ela via a mãe no momento. E já estava muito bom, pensava Bia. Com Eva já adormecida, Matt colocou a menina para dormir sobre um sofá macio e pode, enfim, dar atenção à sua amiga. Viu cansaço nos olhos de Bia e, também, alguma confusão mental. Natural. Retornar a rotina de mãe após tudo o que viveu não era tarefa simples.
Matt abraçou sua amiga, sabendo que Patty lhe dava espaço e mantinha-se mais afastada. Nesse momento, agradecia ter uma namorada compreensiva, que não tinha crise de ciúmes por causa de suas amigas. Isso, que por vezes pôs fim em relacionamentos seus, não aparentava sequer incomodar Patrícia. Ao contrário, ela e Bia pareciam rapidamente retomar a amizade do passado.

- A gente tem tanto à conversar. – Bia disse ao abraçar Paty.
- Temos bastante tempo. Não se preocupe.

Eles jantaram juntos e, mesmo sendo já tarde, passaram um longo tempo conversando. Primeiro amenidades, depois um pouco do que Bia viveu naqueles meses, as pessoas que conheceu, as diferenças do que acreditava enquanto repórter para o que constatou, na realidade dura do cativeiro. Matt mais ouvia do que falava. Tentava entender sua amiga de infância. Aquela que sempre fora a mais ingênua e sonhadora do trio, quem subia na casa da árvore e fingia que o abrigo era um castelo, quem se casou tão jovem na busca por uma família. Havia outra mulher à sua frente. Amadurecida, mas muito mais que isso. Ferida. Coberta de tantas cicatrizes que ele arriscava dizer não ser a mesma mulher. Elizabeth havia lhe enviado uma mensagem lhe dizendo desconfiar que a irmã sofria da Síndrome de Estocolmo. Talvez, mas ele não estava certo. Era inegável que ela criara laços com alguém por quem tem motivos para fugir. Se amor ou doença ele não arriscava dizer.



Liz tentou manter a conversa o mais leve possível, sem que a curiosidade deles tornasse aquele jantar uma prévia do duro interrogatório pelo qual ela teria que passar em breve. Ainda assim, não demorou o assunto alcançar seu tema principal, Sebastian Gonzáles e o estranho relacionamento deles. E foi então que o clima deixou de ser ameno. Ao falar dele Beatriz ganhou ares de leoa, já armada para revidar críticas e acusações. Matheus tentou guardar os seus questionamentos mais duros para um momento mais tranquilo. Elizabeth não teve a mesma paciência.

- Não adianta você tentar transformar esse homem num santo, Beatriz. Ele não é. E juiz algum acreditará. – Ela lembrou a irmã, mais uma vez.
- Nem você vesti-lo de demônio. – Revidou Beatriz. Ela olhou para Matt em busca de socorro, mas não encontrou. – Vocês não entendem que Sebastian me salvou de tudo, da forma dele, é verdade, mas me protegeu e ofereceu o melhor que tinha. Eu conheço o melhor dele.
- Pode ser, Bia. – Matt tentou argumentar. – Mas você não pode, devido a isso, esperar que a lei o absolva do que o “pior Sebastian” fez. Ao que fiquei sabendo, nem mesmo ele nega várias ilegalidades.
- Eu estaria morta agora, ou seria escrava de alguém cruel e sem escrúpulos se ele não tivesse me tirado daquele lugar horrível. Ele me salvou de Gabriela, é o que importa.
- Ele também não teve escrúpulos em comprá-la e escravizá-la, Bia. – Liz insistiu. – Ou você irá dizer ao juiz que viveu em um apartamento dele, escondida, sem ter as chaves ou liberdade de acesso a rua, mas, que era uma hóspede comum?
- Vocês não estavam lá para saber como foi! – No fundo, porém, ela sabia não haver saída para aquelas acusações. Sobretudo, porque elas não eram feitas por uma irmã qualquer, mas por uma experiente investigadora policial que estava habituada a fazer suspeitos tropeçarem em interrogatórios.

Eles não chegaram a consenso algum. No final, Bia pediu para que Matt deixasse Eva ali naquela noite. Elas precisavam de mais tempo juntas. Matheus até temeu que a menina se assustasse no meio da noite caso acordasse com uma estranha, mas permitiu. Afinal, elas iriam se entender bem e Rafael nem precisaria saber. Era comum Eva passar vários dias com os padrinhos, sem que ele soubesse exatamente como a filha estava. A verdade é que o pai da menina pouco se importava com ela.



Depois que todos se despediram, Matt e Paty foram embora. Beatriz foi para o quarto junto de Eva, não desejando entrar em mais uma discussão. Ficou na cama, abraçada à filha, relembrando coisas que desejava esquecer, mas que não saiam de seus pensamentos. Mesmo desejando entender Matt, Paty e Liz, sentia-se um pouco magoada com eles. Porque aqueles que mais amava não podiam entender seus sentimentos e apoiá-la, fosse qual fosse a sua decisão. Ela olhava nos olhos de Matt e via consternação. Ele relevava seu comportamento, que considerava insano, em prol da amizade. Liz a tratava como se estivesse demente. Só nos olhos de Paty encontrou alguma compreensão. Talvez, por ter vivido algo semelhante, a namorada de Matheus entendesse o que sentia. Soubesse que mesmo naquele ambiente era possível encontrar alguém diferente.
Eles acreditam que ela estava doente. Creditavam tudo o que sentia a chamada Síndrome de Estocolmo. Ignorância era tentar decifrar e catalogar os sentimentos de alguém dessa forma. Nos tempos de repórter escreveu uma matéria a respeito dessa doença que parecia acometer algumas pessoas que passavam por situações de risco e de forte impacto emocional. Na época pensou se tratar de algo muito estranho e perigoso. Uma confusão de sentimentos. Hoje tinha uma visão completamente diferente. Ninguém, nem mesmo o maior especialista na mente humana poderia julgar ou entender melhor os sentimentos de alguém que aquele a senti-los dentro do peito. E se eles preferiam desacreditar, que ficassem na ignorância. Ela sabia decifrar o que sentia. No dia seguinte, mesmo sem o apoio de ninguém, iria ver Sebastian, conversar com ele e ver o que poderia fazer para ajudá-lo a ser libertado.
No quarto ao lado, Elizabeth também tinha dificuldade em dormir. Fosse pela barriga de final de gestação, o impasse com Beatriz ou a ausência de Miguel, o sono teimava em não vir apesar dela ter o corpo cansado e a mente exausta. Quando ouviu o barulho na porta forçou-se a manter a calma, sem desejar fazer o papel da esposa chata.

- Acordada? Espero não ser eu o culpado. – Ele lhe disse aproximando-se para um beijo rápido.
- Não exatamente. Eles saíram tarde, Eva ficou com Bia e eu...dei uma ajeitada na cozinha antes de deitar. Ela não está querendo muito assunto comigo.
- Isso passa. Ela precisa de um tempo.  – Ele respondeu esvaziando os bolsos sobre a cômoda antes de ir ao chuveiro. – Não vai me perguntar por que eu cheguei depois da meia noite?
- Não. Porque você tem a obrigação de me explicar sem que eu precise perguntar. – A resposta afiada fez a ambos sorrir.



- Bem pensado, senhora Benitez. – Ele seguia falando enquanto tirava a roupa. – Eu não estava com Alejandra até essa hora.
- Isso eu imaginei, Miguel. – Elizabeth tentava manter a calma. Traição, naquele momento, não lhe gerava calafrios. Ela e Miguel nunca estiveram tão dedicados ao relacionamento como agora. – Até porque Catarina é uma recém-nascida e, segundo me falaram, o pós-parto costuma ser difícil mesmo para dermatologistas cheias de pose.
- Sim, não está sendo fácil para Alejandra lidar com as mudanças que a maternidade trouxe, nem para a rotina ou para o corpo.
- Bom saber que ela é humana. – Ácida, Elizabeth revidou. – Então, se não estava com elas...
- Eu as visitei e conversei com Alejandra para ver do que ela está precisando. Catarina já saiu do hospital registrada como minha filha. Eu acho que vamos conseguir conviver bem.
- Que ótimo. – Infelizmente ela não tinha essa certeza. E no íntimo, desejava que Alejandra voltasse para Espanha. Infelizmente, sabia o quanto isso faria Miguel sofrer.
- Depois eu encontrei com um arquiteto. Meu amigo há anos, do tempo da faculdade. Pedi que ele visitasse nosso novo apartamento e apresentasse um projeto de mudanças. Vamos decorá-lo juntos, nós três. E quando você se sentir confortável, nos mudamos para lá. Sua irmã poderá recomeçar a vida por aqui.

A ideia de deixar Beatriz ainda lhe assustava, mas Elizabeth entendia o que Miguel estava fazendo. Aquele apartamento lhe trazia grandes lembranças, de tempos felizes com Bia e Eva, depois com Miguel, mas ele não comportava três adultos e duas crianças pequenas. Chegaria o momento em que ela, Miguel e Benício precisariam de privacidade. E Miguel estava tentando facilitar as coisas.

- Depois nós ficamos tomando algumas cervejas e conversando. – Ele concluiu antes de ligar o chuveiro. – Você quer me acompanhar no chuveiro?
- Não...nesse momento não estou me sentindo muito sensual. Vou te esperar na cama.
- Está bem. Eu não demoro. – Miguel tratou de se banhar e ir descansar. Aquela rotina, sem brigas, estava lhe agradando muito. Enquanto conseguisse conciliar a BTez com a vida de marido e pai estaria feliz.

Com Miguel já na cama envolvendo-a com braço sobre Benício, Elizabeth conseguiu pegar no sono e repousar como há muito não fazia. Dormiu tão tranquila que perdeu a hora na manhã seguinte. E, quando despertou, encontrou apenas Miguel na casa.

- Bia? Eva? Onde elas estão? Porque me deixou dormir tanto?
- Talvez porque você esteja precisando descansar e, também, porque está de licença da polícia e pode aproveitar para dormir enquanto Benício não nasce.
- E Bia? – Ela insistiu.
- Você estar acordada e se opor só geraria mais uma...
- Onde estão Bia e Eva, Miguel? – Elizabeth não aceitaria ser enrolada.
- Ela ligou para Matt, que veio buscar Eva. E logo depois saiu, sem dizer para onde iria.
- Mas que inferno! Ela foi atrás dele! Eu vou me trocar e atualizar as coisas com Rebeca.



Miguel não se deu ao trabalho de tentar impedi-la ou fazer recomendações. Nada impedia Elizabeth de fazer o que decidia. Então tudo o que Miguel fez foi lhe servir o café da manhã e obrigá-la a levar uma bebida. Ela precisava se manter hidratada durante o dia, lembrou-a.

- Obrigada. É bom ser cuidada assim.
- E tente não se estressar demais. Está bem? – Ele pediu, mesmo duvidando do efeito.
- Vou tentar. – Ela respondeu e saiu.

Quando Liz saia de casa Beatriz já se encontrava na carceragem onde Sebastian passou a noite. Conversando com o delegado, descobriu que poderia vê-lo, mas seria por poucos minutos. Como o caso gerou grande repercussão e atraiu a atenção da imprensa, ele seria transferido para outro estado, onde a sua permanência atrairia menos holofotes. Provavelmente, ficaria na unidade da Polícia Federal em Curitiba até que seu destino fosse selado e ele retorna-se aos EUA. O advogado planejava propor um acordo de colaboração para que ele não ficasse preso. Isso dependeria, porém, dele ser absolvido de qualquer acusação que o vinculasse a quadrilha que levava brasileiras rumo a escravidão sexual na Europa. Beatriz também ficou sabendo que deveria comparecer para depor oficialmente.

- Hoje mesmo, à tarde, eu darei meu depoimento. – Primeiro precisava conversar com Sebastian.
- A senhorita pode passar. Tem 10 minutos com ele. – Um guarda informou logo depois.

Encarar Sebastian naquele ambiente, tão acinzentado e triste, logo ele que parecia atrair riqueza e elegância para onde estava, parecia errado. Ele não pertencia aquele lugar. Mas ela sim, pertencia a ele. Então, se Sebastian estava em cárcere, ela poderia permanecer em qualquer outro lugar.
- Qualquer homem honrado proibiria você de voltar aqui. – Ele lhe disse de cabeça baixa, sem se aproximar para lhe dar um beijo. - Mas eu preciso reconhecer que não sou esse tipo de homem.
- É quem eu quero. Basta. – Ela aproximou-se e beijou-o. – Olha pra mim.



Seu pedido foi realizado, mas Beatriz não gostou do que leu no olhar dele. Sebastian lhe pareceu muito desanimado e descrente de um final feliz para eles. Um instante depois ele se recompôs, sentou-se e pediu que ela fizesse o mesmo. Tinham coisas à conversar.
Naquela madrugada preso, provavelmente a primeira de muitas, Sebastian não dormiu. Observou as horas passarem enquanto organizava seus planos. Se a cadeia fosse seu destino por anos, precisa organizar as coisas para que todos os que amava ou dele dependiam estivessem bem resguardados. Pensou em sua mãe, em Luísa, em Beatriz e em suas empresas. Era muito a organizar.
Logo ao amanhecer conversou com Aristeu e alinhou as principais ações a serem tomadas. Nos negócios haveria um terremoto. Acionistas reclamariam, clientes se afastariam e a opinião pública deveria atrair curiosos aos seus hotéis. Coisas com as quais seus diretores poderiam lidar. Aos poucos os negócios superariam a crise. Aristeu, àquela hora, já tinha passado suas orientações a lideranças que comandariam tudo em sua ausência. Também orientou que Aristeu abrisse uma conta em nome de Beatriz num banco brasileiro e lhe passasse os dados de acesso. Ela precisaria de recursos para retomar a vida. O mais difícil era resolver a situação de sua família, que já devia estar sofrendo o impacto de tudo aquilo nos EUA. Mas para conversar com Luísa e Angelina pensou que Aristeu não seria a pessoa mais indicada. Rapidamente, devido ao tempo, explicou tudo para Beatriz.

- É claro que eu converso com Angelina, isso não é problema. – Ela lhe garantiu. Já com o resto não concordava. – Eu não preciso que você me sustente, não mais. Fiquei amparada após meu divórcio e tenho economias...só preciso ter acesso a isso agora que estou de volta.
- Eu quero lhe oferecer uma vida tranquila. É o mínimo depois do que fiz. E não gosto de saber que...que se sustenta com dinheiro do seu ex. Não me agrada. – Sebastian afirmou.
- O dinheiro é meu, Sebastian. Recebido num acordo de divórcio anos atrás. Assunto velho, que eu não vou discutir. – Ela afirmou e Sebastian deu-se conta que agora conhecia a verdadeira Beatriz, menos obediente, mais forte e com opinião própria. Uma combinação deliciosa. Sorriu diante dessa mulher que antes ela mantinha amordaçada. – O que foi?
- Estou observando tudo o que perdi.
- Não perdeu...é só um adiamento. – Ela afirmou o que não tinha certeza.
- Não podemos ter certeza disso, Bia. Por isso quero te pedir uma coisa e peço que ouça com atenção. Não se complique com a polícia de seu país para tentar me proteger de coisas que, meu advogado já me alertou, eles têm provas. Eu não me perdoaria caso você passasse a responder na justiça por minha causa.
- Mas você não pode ser preso e eu posso inocentá-lo...
- Não, querida Bia, você não pode. Porque eu estou envolvido até o pescoço. Muito antes de você chegar à Rússia eu já usava garotas de Gregory e frequentava várias outras boates do tipo. Eu já te contei algumas coisas horríveis ao meu respeito. Eu não estou aqui injustamente.
- Não...mas...a culpa também é minha. Se Elizabeth não estivesse tão decidida a...
- Não é sua culpa. Nem de sua irmã...apesar de que ela não parece disposta a me dar nenhuma chance. – Pela primeira vez, Bia viu Sebastian sorrir naquela sala. – Vocês são parecidas. Fale-me de Eva.
- Ela...ela é tudo pra mim. Não se lembra de mim...não me reconheceu tantos meses depois, mas...eu...eu acho que nós podemos recomeçar afinal ela tem pouco mais de dois aninhos. Eu perdi só um pouquinho da sua infância.
- É. E, se desde o início, quando me pediu ajuda, eu tivesse feito a coisa certa, não teriam ficado tanto tempo afastadas nem nós estaríamos nessa situação. Perdoe-me, Bia. O que eu ajudei a lhe tomar, jamais poderá ser devolvido.

            Beatriz não teve tempo para lhe dizer muito mais. Ele lhe puxou para um beijo, apaixonado, como os que costumavam trocar a sós, cercados por uma riqueza agora impossível. Naquele tempo tinham grades à sua volta, mesmo que vivessem presos por mentiras e segredos. Agora Beatriz podia senti-lo de forma completa, sem nada esconder. A partir daquele instante pode ter certeza de conhecer o Sebastian Gonzáles escondido da maioria, despido da vaidade e da prepotência, agora era conhecedora de seus defeitos e virtudes. E descobriu-se encantada com o conjunto da obra.
            Talvez tenha sido a emoção do reencontro, a tristeza pelo afastamento iminente ou a pressão de equilibrar os próprios desejos com os dos outros. Quando o policial entrou pedindo que se separassem já que o tempo havia se encerrado, a pressão por tudo o que sentia e, também, por ter de deixá-lo ali preso, pareceu sufocá-la. O ar faltou e suas pernas recusaram-se a caminhar até a porta. Nos braços de Sebastian estava e ali ficou quando perdeu a consciência. Ele desesperou-se e contou com a ajuda do guarda, que pediu auxílio pelo rádio.

            - Ela precisa de um médico! Bia! Acorde! Bia! – Ele repetiu, como se o seu pedido fosse capaz de acordá-la.

            Sebastian não a viu acordar. Beatriz foi levada para a enfermaria e lá atendida. A médica afirmou se tratar apenas de uma queda de pressão, algo comum devido a situação vivida. O mal estar, porém, serviu para que ela conseguisse um adiamento do depoimento, o que lhe agradou. Afinal, ainda tinha muito a pensar. Não sabia o que iria falar para os investigadores.
            As razões do adiamento do depoimento chegaram até Tomaz e Rebeca na Federal. Mesmo sem ser o mais correto a fazer, eles avisam Elizabeth. E Tom aproveitou para dar o recado do preso à investigadora afastada do caso. Sebastian desejava lhe ver. “Ela é irmã da mulher que eu amo”, afirmou ele. E aos poucos Elizabeth sentiu que precisariam ter uma conversa olho a olho com aquele homem. Somente assim poderia ter certeza de quem era Sebastian Gonzáles e como ele conseguiu cegar Bia tão fortemente. Ela já sabia que a irmã iria visitar o namorado, se é que esse termo servia para explicar a relação deles. Liz se sentia de mãos amarradas. Se apoiasse Sebastian, iria contra suas convicções e sua ética pessoal e profissional. Se conseguisse manter-se firme, feriria Bia para sempre. Recorreu abrir o coração a uma pessoa sempre disposta a ouvi-la, sem acusações nem julgamentos.



            Patrícia primeiro ouviu tudo o que Elizabeth tinha a ouvir. Depois, deu a sua opinião. Antes, porém, deixou claro que estava oferecendo o pensamento de quem já havia se prostituído, sido escravizada e quase morrido ao servir de mula no tráfico de drogas. Quem falava era ela, não Matt. Isso porque, nesse tema, eles divergiam bastante. Após viver tudo o que já havia ocorrido em sua vida, Patrícia entendia o que Beatriz vivia. Quando Nikolay a tornou sua exclusiva, mesmo já sabendo o quanto ele podia ser difícil ou violento, nutriu esperanças por uma vida melhor. Era ingênua, sonhava em ser protegida, em ter um lar. E, nessas horas, qualquer afago, mesmo após uma bofetada, parecia ter valor.

            - Mas então você concorda que tudo não passa de um desvio psicológico? Ela não ama esse homem. – Liz questionou a amiga.
            - Isso só o coração dela pode dizer. Nikolay não tinha nada de bom dentro de si. Eu cavei o mais fundo que pude tentando achar um resquício de sentimentos...até que cheguei ao fundo e só encontrei mais maldade. Ao que parece, Beatriz também precisou cavar, mas encontrou algo bom. Há um lado bom em Sebastian. O lado que ela ama.
            - Ela vai se ferir...
            - E sem ele? Vai passar ilesa pela vida? – Paty questionou. – Se ferir faz parte desse jogo. Eu estou aqui, toda lanhada, ainda ressabiada por coisas que me aconteceram na Rússia e em Atenas. Só eu sei o quanto gostaria de me livrar das recordações, da dor, da humilhação, de tudo que Nikolay me deixou. Mas nunca conseguirei.
            - E Matt?
            - Ele me faz feliz. Ele...faz sarar minhas feridas a cada dia, com seu carinho e atenção. Mas são machucados profundos demais. Eles ainda estão aqui, e estarão por bastante tempo. Talvez para sempre. – Paty encerrou o assunto e voltou ao trabalho no escritório após a conversa que tomou grande parte do seu horário de almoço. Era hora de voltar ao trabalho no escritório, ao lado de Matt.

            No início da tarde, Beatriz, já recuperada, cumpriu o pedido de Sebastian. Ela telefonou para Angelina, que esperava ansiosamente por notícias. Nas últimas horas, seu telefone não parava, mas eram ligações de curiosos e jornalistas querendo informações. E era justamente isso o que ela mais necessitava. Porém, nem mesmo os advogados ou executivos mais próximos sabiam lhe dizer algo de concreto. E o que os programas de televisão noticiavam era assustador demais. Ouvir a voz de Beatriz foi um alento. Infelizmente durou pouco tempo. Aos poucos, a idosa entendeu que grande parte das “fofocas” repetidas pela mídia era verdade.

            - Como pode...o meu filho. Não! Ele não seria capaz! Ele não é um monstro. – Ela repetiu, assim que Beatriz confirmou a prisão e a confissão parcial feita por Sebastian.
            - Não. Ele não é. E eu o amo. – Bia repetiu.
            - Mas é tudo verdade? Você era...uma...
            - Uma prostituta. Eu fui levada do meu país para a Rússia e obrigada a me prostituir. E num desses programas conheci seu filho. Ele me tirou de lá. Ele me salvou. É isso que a senhora precisa saber.
            - Eu vou para aí...não...não posso deixar Luísa. Eu não sei o que fazer. – A senhora, já idosa, não sabia como agir. Criara um filho honesto e digno.  E acostumara-se a orgulhar-se de suas conquistas. Passar por isso, agora, era desesperador.
            - Não acho que deva vir. Não ainda, pelo menos. Eu manterei contato. Irei informá-la de tudo. Ele me pediu para lhe dizer que ama vocês e fará o possível para estar se volta logo, assim que a justiça brasileira lhe permitir. Mas se a senhora quiser vir, eu adorarei recebe-la.
            - E você acha que ele será libertado logo?
            - Eu espero que sim, dona Angelina. Mas não sei. – Por mais doloroso que fosse, Beatriz obrigou-se a ser sincera.

            O adiamento do depoimento deu algum tempo para Beatriz pensar no que diria às autoridades. Pretendia fazer isso sem pressões, mas era impossível. Por um lado, Elizabeth a lembra-la de sua obrigação. Por outro, o risco de sacramentar uma longa pena de prisão a Sebastian. Aristeu de Conto, o advogado de Sebastian no Brasil, pediu por uma reunião com ela. Assim como Bia já esperava, o profissional estava receoso de ver enterrada qualquer chance de Sebastian sair livre, caso ela fosse totalmente sincera em juízo.

            - Fico feliz que tenha vindo me ver, senhorita Santos. Nossa conversa é de vital importância. – O jurista afirmou.



            - Eu imagino. Por favor, vá direto ao assunto.
            - É claro. Bom, como a senhorita pode imaginar, a minha tarefa em não permitir que Sebastian seja condenado a prisão é das mais difíceis. Sobretudo porque ele não nega de todo as acusações nem sabemos exatamente quais provas a polícia tem. A soma disso é uma possível bomba nuclear que a senhorita pode desarmar, se assim desejar. – Aristeu não queria perder aquele caso. Primeiro porque Sebastian era seu amigo e também porque aquela vitória lhe serviria como um orgulho final antes de se aposentar. Por isso, já que Sebastian não quis pedir a Beatriz para ajudá-lo, ele pediria.
            - Está me pedindo para mentir no depoimento? – E ela seria incapaz de fazer isso? Sabendo o que representava?
            - Não, Beatriz. Estou pedindo que você escolha qual verdade irá prevalecer. A crua, que sanará apenas a ânsia por prisões dos policiais ou a verdade profunda, que promoverá a justiça. Você tem conhecimento de detalhes da vida pregressa de Sebastian capazes de complicá-lo muito, coisas que vão além dos temas que a polícia investiga agora, mas, minha experiência diz, que podem vir a tona. Se deseja ver Sebastian solto terá de esconder algumas verdades, em oferta de outras.
            - E qual verdade o senhor me sugere enfatizar, Aristeu. – Beatriz sentia antipatia por aquele discurso falso de advogado que não segue a lei, apenas tenta burlá-la. Infelizmente, naquele instante era obrigada a concordar com ele.
            - Sebastian não lhe comprou, ele a tirou daquele lugar horrível, lhe deu uma vida descente e planejava lhe dar a liberdade. Mas os meses de reclusão a deixaram traumatizada e você tinha medo de andar sozinha na rua. Por isso não saía. Ele iria contatar sua família, mas tinha medo. A investigação de sua irmã precipitou as coisas e aqui estamos. Note que esses...pequenos ajustes na verdade são capazes de mudar os rumos de Sebastian. Ele não é culpado e não merece ser preso. Você sabe disso.

Podia ser...mas, ainda assim, seria mentir para a lei e para os que amava. Seria contrair tudo o que acreditou desde muito jovem. Por anos estudou para falar a verdade, somente a verdade. Não para fazer esse tipo de ajuste.

            - Aristeu, me responda uma coisa antes de eu sair. – Um tanto confusa, Beatriz pediu,  numa última esperança.
            - É claro, minha jovem.
            - Estive com Sebastian há poucas horas e ele nada disso a respeito de “ajustes da verdade”. Por quê?
            - Sebastian não sabe o que é melhor para ele mesmo, nesse momento. Eu planejo tentar um acordo com a superintendência da polícia. Acredito que ele tenha informações úteis à investigação. Mas ele se nega a me dizer tudo o que sabe e pede uma reunião com sua irmã. Ela, já de licença maternidade e sem nenhum apresso por ele, obviamente não irá fazer acordo algum. A única chance de Sebastian é você.