sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Dupla Perseguição - capítulo 7







O FBI amanheceu nervoso naquela manhã. Dessa vez não por culpa de Rachel, mas sim de um roubo a banco ocorrido naquela madrugada. Sem deixar rastro, uma quadrilha limpou um dos cofres do maior banco da cidade. Câmeras de segurança mostraram pessoas entrando e saindo normalmente durante o dia e, ao fechar as portas tudo vazio. Salvo a do cofre, que não tinha gravação. Alguém ou algumas pessoas, ficaram dentro do banco, roubaram e saíram de lá sem deixar pistas.

            - Fantástico. – Neal disse quando lhe contaram.
            - O que disse, Neal? – Peter perguntou.
            - Nada, nada. – Mas que o golpe era muito bem bolado, isso era. – Já revistaram o cofre?
            - Não. Vamos agora. Eu, você e...a investigadora Lucy Moore.
            - Quem? – Como assim outra investigadora.
            - Teremos o auxilio dela, é investigadora de seguros e atua com o banco.
            - Tipo...a Sara.
            - Exato. – Peter deu três batidinhas no ombro de Neal e sorriu. – Espero que você se dê bem com ela...tão bem quanto com Sara.
            - Ei...Peter...calma. Eu...
            - Está na hora de deixar a Rachel no passado, Neal. Quem sabe com Lucy...
            - Petter...a Rachel é passado e eu não preciso de Lucy nenhuma para...


            - Ouvi meu nome? – Quando olhou para trás Neal viu a mulher elegantíssima e realmente linda. – Muito prazer, senhores. Eu sou Lucy Moore.

            - Olá Lucy, eu sou Peter. Esse é Neal...tenho certeza de que vocês vão trabalhar muito bem juntos.
            A vistoria no banco foi longa. Interrogaram funcionários e todos pareciam bem sinceros ao negar qualquer envolvimento. Era sempre assim. Mentira. Sempre havia alguém lá dentro para facilitar o roubo. Teriam que investigar mais. Ele, Peter e Lucy.

            - Por hoje chega garotos. – Lucy disse do alto de seus saltos altos. – Se surgir algo novo me avisem.

            Ela saiu andando e eu estava prestes a me despedir de Peter pra ir pra casa quando ele resolveu armar um encontro de casais.

            - Eu e Elizabeth vamos fazer um jantarzinho...quem sabe, Neal, você e Lucy nos acompanham?

            O olhar de Neal foi claro. Não estava interessado. Lucy percebeu e negou o convite antes dele falar algo.
            - É melhor não, Peter. Depois que a gente concluir isso, se for para comemorar a gente marca.
            - Ok. – Peter não insistiu.

            Depois que ela se foi, Neal cobrou do amigo o que ele queria com aquilo.

            - O que foi isso, Peter Burke? Versão cupido?! Acha mesmo que eu preciso?
            - Ora Neal...ela faz o seu tipo e...
            - Que mania que inventaram agora que eu tenho um tipo! Você e a Rachel com isso!
            - Aaaaa a Rachel...ainda a Rachel...
            - Ela tá por aí com um filho meu na barriga...não tenho cabeça pra conquistar outra mulher agora. – Era verdade. Chegaria esse momento, mas ainda não conseguia. – E quando eu quiser...não será uma imitação da Sara. Vocês superestimam o que tive com a Sara. Não foi tão importante assim.
            - Ok,ok...você quem sabe. Mas que a ‘imitação de Sara’ é linda você não pode negar. – Peter ressaltou.
            - A Elizabeth vai adorar ouvir isso. – Neal também sabia jogar esse jogo. – É bonita...mas poderia ter um pouco mais de carne nos quadris.

            Pra essa frase Peter não teve nenhuma resposta. Desde quando Neal dispensava uma linda companhia feminina...ele realmente estava abalado.

            - É só pelo bebê mesmo? Ou você se apaixonou, Neal?
           - Claro que é só o bebê. Eu não aceitaria uma assassina de volta na minha vida. Eu gostei dela. Mas acabou e não tem volta.
            - Ok, então...mas o convite pra janta está de pé. Aparece lá em casa. – Peter insistiu.
            - Acho que não...tô cansado.

            E estava. Não só dos casos do FBI, mas de mentir pra Peter, de envolver Mozzie em seus problemas, de usar aquela tornozeleira e, principalmente, de ser sozinho. Entrava e saía dia e ele continuava só. A única pessoa com quem podia ser totalmente sincero era Mozzie.

            - O dia foi parado...sem informações interessantes. – Mozzie disse assim que chegou. – A não ser por essa conversa que eu gravei pra você.

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            - Mãe, quero que traga esses livros da livraria. Eu podia comprar pela internet...mas não quero deixar nenhum rastro.

            Fez-se um minuto de silêncio enquanto Nicolle lia a lista.

            - Vai começar tudo novamente? – Perguntou.
            - Eu não vou desistir, mãe. Essa pedra vai ser minha. É só nesse dia que isso vai acabar. Faça o que estou pedindo, por favor.
            - Ok, eu vou na livraria e compro isso. Só que vou ter de encomendar...eles não vão ter isso na prateleira. Vou te trazer umas outras leituras também.
            - Não tem problema.
            - Rachel...você não quer que eu acesse minha conta bancária então...
            - Não se preocupe com dinheiro. Eu tenho em espécie e em contas em vários bancos. – Rachel se levantou e abriu uma gaveta. – Aqui. É só pegar qualquer cartão, ver a senha correspondente, e sacar no automático. Sempre em quantias que não chamem a atenção.
            - Esse dinheiro vem do que, Rachel? Se for dinheiro sujo...
            - Mãe, por favor. Claro que tem dinheiro sujo aí...mas também tem a minha herança. Não fique cheia de frescura para usar. Ok?
            - Mas a sua herança estava numa conta...
            - Numa conta com o nome de Rachel Turner, claro. Mas eu tirei de lá e pulverizei em vários lugares antes da MI5 começar a me caçar. São contas seguras, abertas com outras identidades. Essas o Neal não descobriu. Eu não ia perder tudo pra eles. Não se preocupe, mãe. Dinheiro não é problema.
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            Rápido de raciocínio, Neal entendeu o que Mozzie queria que ele ouvisse. Eram duas informações importantes. Rachel realmente ia atrás de diamante e não era pelo dinheiro, afinal ela o tinha de sobra e já era rica antes de entrar para o crime. Essa mulher era um mar de enigmas.

            - O FBI continua acreditando na nossa história? – Mozzie perguntou.
            - Sim. Eu acho...apareceu um outro caso. E o Peter ainda começou a tentar me aproximar de uma mulher...só o que faltava.
            - Ele que se cuide...se a Rachel descobre, aí que ela dá um tiro no engravatado! – Mozzie e seus comentários irônicos.
            - Não existe Rachel na minha vida...existe a mãe do me filho. Eu e ela nunca vamos ter nada.
            Um barulho bem mais alto saiu do receptor e eles interromperam a conversa. A campainha da casa onde elas estavam tocou. Parece que Rachel e a mãe receberiam uma visita.
            - Espera, não abre ainda. – Rachel disse rapidamente. – Eu vou ficar no topo da escada com a arma. Lembra...você está sozinha. Despacha, seja quem for, o mais rápido que puder.
            - Não precisa de arma! Deve ser só um vizinho.
            - Se for, melhor. Se não, eu estou preparada. Não dá muito papo, não quero visitinhas. – Disse Rachel antes de subir a escada.

            Neal e Mozzie não ouviram o que se passava na porta da casa, mas podiam perceber a tensão de Rachel. Imaginavam ela, escondida, no topo da escada, com o visitante, seja lá quem fosse, na mira da arma. Se fosse da polícia, ela atiraria.

            - A palavra nitroglicerina, te diz algo, Neal? – Mozzie perguntou.
            - Sim. Isso não é uma mulher, Mozzi...é um furação com pernas...
            - Belas pernas...
            - Já chega, Mozzie.

            Demorou pouco mais de cinco minutos pra Rachel voltar para a sala e tornar a guardar a arma.

            - Não sei pra que isso tudo. Era a nossa vizinha, Mary. Ela parece ser uma graça...veio me desejar boas vindas.
            - Ótimo. É só não vir bisbilhotar muito que vai ficar tudo bem, então.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Dupla perseguição - Capítulo 6




            Já com o computador em mãos e com um dispositivo de internet 4G, Rachel conseguiu descobrir que sua fuga foi amplamente divulgada na mídia. Ela era uma assassina perigosa e violenta que deveria ser denunciada por qualquer um que a visse. A polícia de Nova York não tinha pistas de onde ela havia se escondido e existia a possibilidade de já ter deixado o país.

            - Ótimo. Talvez então eu possa ficar aqui até...por mais tempo. – Rachel disse sentada no sofá da sala enquanto a mãe secava a louça do almoço.
            - Por que diz isso?
            - Eles acham que eu fugi pra outro país. – Ela se sentia mais leve. – Isso significa que eu posso ficar mais tranquila. Respirar. Parar de ficar o tempo todo pensando em ser presa a qualquer momento.
            - Que bom, filha. – Ela olhou para trás e viu a escuridão. – Abre a janela, Rachel. Pelo menos a cortina.
            - Não. Ninguém pode me ver. Você sabe. – Ela fechou o notebook. – Eu subo pro quarto e você abre tudo.
- Não, filha. Eu só não quero você nessa escuridão total. – Nicolle largou o que estava fazendo, veio até o estofado e, tirando o computador das mãos de Rachel, sentou-se ao seu lado. – Vem aqui. Deita.
            - Vou ganhar cafuné de mãe?
            - Vai...como quando era criança. – Ela começou a acariciar o cabelo da filha e sentiu o colar de pedra esverdeada que ela nunca tirava. – Lindo colar.
            - Foi presente do Neal...pra Rebecca.
            - Rachel...por que você não consegue deixar a Rebecca no passado e esquecer esse passado. Filha...você já tem problemas o bastante. Esquece esse rapaz. Você tem vocação pra ser feliz. Eu quero te ver sorrir.
           
            Ouvindo a conversa, Neal sentiu medo de que Rachel tirasse ou até destruísse o colar, dando adeus a qualquer chance de vê-la novamente. Também ainda se assustavam com a facilidade com que Nicolle conseguia superar o fato da filha ser uma assassina. A mulher era estranha, a vida de Rachel era estranha.

            - Neal me acusou de não existir. Disse que a Rebecca é a cópia das mulheres que ele amou.

            - Ela é?
            - Um pouco. Eu as estudei sim, mas...não era só isso. Elas nunca o amaram como eu amei. Ele se derrete pela...Sara. Ela é investigadora de seguros e até já ajudou a prender ele e, mesmo assim, ele prefere ela a mim. Eu matei por ele.
            - Isso não é prova de amor, Rachel!
            - Eu sei...mas eu iria no inferno por ele!
            - Calma...fala baixo. Ficar 100% do tempo nesse estado de nervos não vai te fazer bem. Você tem que se controlar.
            - Mãe...poucas vezes na vida eu disse a verdade, pra poucos eu abri meu coração. Mas com ele eu fui sincera. Quando eu disse que o amava, que a gente podia fugir e ficar juntos...era verdade. Eu tava disposta a ser a Rebecca pra sempre. Mas ele me tratou feito lixo! Disse que eu não estava em nenhum dos seus planos.
            - Então tire ele dos seus e siga em frente. Rachel...você lembra quando a gente se mudava e você sentia falta de algum amigo? Seu pai sempre dizia: sobreviva, apenas sobreviva. Você é uma mulher linda. Não vão te faltar amores na vida. Você tem que esquecer esse homem e sobreviver a tudo isso.
            - É meio difícil quando eu sei que tem um pedaço dele dentro de mim! – As frases eram duras, mas vinham secas. Ela não derramava sequer uma lágrima. – As vezes eu tenho vontade tirar esse bebê só pra me vingar dele.
            - Não diz isso. – Nicolle suspirou.
            - Mas as vezes eu quero ficar com o bebê só pra ter comigo um pedaço dele. – Era difícil pra ela reconhecer isso. - Maldita a hora que eu coloquei os olhos em Neal Cafrey.
            - Filha...carregar um bebê no ventre é a coisa mais especial que uma mulher pode viver. – Nicolle olhou bem nos olhos da filha. – Os homens não entendem nada disso. Nunca vão entender a força que há em ter dois corações batendo dentro de você. Quando você tiver essa vida nos seus braços você vai amá-la sem nem lembrar que Neal Caffrey existe. Esse rapaz pode não sentir nada por você, mas ele te deu um presente muito mais importante que um colar...mas ele fica bem em você. Se te faz bem, use-o. Combina com seus olhos.
            - Por enquanto eu vou deixar ele aqui.

            - Agora chega de tristeza. Eu tenho uma coisa que pode te animar.
            - O quê? -  Rachel disse enquanto a mãe ia mexer numa caixa.
            – Veja essa foto. Lembra?


            A saudade daquele tempo calou fundo quando ela colocou os olhos na imagem que tinha quase 15 anos. Ela e Henry, ainda em Paris, numa antiga estação rodoviária onde marcaram de se encontrar para conversar. Dalí seguiriam direto para o ensaio de dança. Eram bons tempos.

            - Claro que eu lembro. Eu e o Henry...eu tinha 17 anos aqui e ele tinha acabado de fazer 18. A gente tava indo ensaiar alguma dança e ele me disse que não estava com vontade dançar, mas ia pra me acompanhar.
            - Vocês tinham uma amizade bonita. Foi um pecado o que seu pai fez pra afastá-los. O John achava que ele ia tirar você do caminho que...ele tinha traçado. Mas ele te fazia bem. Não deviam ter se afastado.
            - Nunca nos afastamos...eu sempre mantive contato com ele.
            - Como assim? Seu pai...
            - Me proibiu de ver ele. – Ela sorria falando. – E essa foi a única ordem do papai que eu descumpri na vida. Eu e o Henry mantivemos contato por todos esses anos, mãe. É um bom amigo. Alguém a quem eu confiaria minha vida.
            - Só amigos...eu sempre achei...
            - Hoje só amigos. Já fomos mais...eu perdi a virgindade com ele, bom...acabou. É um amigo. Eu tenho que mandar uma mensagem pra ele, inclusive. Se viu os jornais, deve tá nervoso e...numa dessas o FBI descobre alguma ligação e chama ele.

            Por algum tempo Rachel ficou quieta lembrando daquele tempo. Dias em que estudava, fazia aulas intermináveis de lutas, música, línguas e, sua preferida, danças. Sorria olhando pra foto.
- Eu tinha uma acordo com o pai. Se fosse a melhor aluna da turma e tivesse bons resultados em todas as atividades extra curriculares, no sábado podia fazer a aula que desejasse...aaa e como era bom dançar.
- E eram muitas atividades extra.
- Sim. Pela manhã eu tinha a escola regular. A tarde eu intercalava lutas, línguas e artes. No sábado a dança...no início papai odiava. Depois parou de reclamar. Nunca entendi por que.
- Foi porque ele viu que você já não era uma menina. Era uma mulher linda que estava desabrochando. E pra uma mulher a sensualidade podia ser uma arma importante. – O ambiente ficou pesado. - Que pena que eu não trouxe seus vídeos. Você fez apresentações lindas de dança.
- Você os tem ainda?
- Claro, Rachel. Um dia nós ainda vamos assistir juntas.
- Combinado.

            Assim que Nicolle encerrou a conversa dizendo que ia tomar banho, Mozzie foi até uma caixa e pegou um DVD. Pelo jeito teria que devolver ou fazer uma cópia, afinal Nicolle parecia interessada no que ele roubou. Neal tinha dito que não desejava ver, mas isso podia mudar. Agora ele estava conhecendo um pouco da verdadeira Rachel. 

            - Não vai mesmo querer assistir o vídeo?

            Neal o olhou pensativo.

            - O que pode ter de tão especial?
            - São algumas das apresentações a que a mãe da Rachel se referia. Realmente é bonito. Ela é talentosa. Ela muda muito de visual desde nova. E Neal...que pernas sua ex tem. Fantásticas.
            - Coloque. Vamos ver Rachel dançar.



            - Me deixe sozinho, por favor, Mozzie. Eu preciso pensar em tudo que eu vi e ouvi sobre Rachel. – Disse Neal pegando uma garrafa de vinho e saindo da sala.

            Mozzie resolveu fingir que não percebeu a raiva que Neal tinha nos olhos. Neal Caffrey podia odiar Rachel Tarner...mas estava com ciúmes dela.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 5





Neal foi chamado no FBI ainda naquela noite, enquanto Mozzie ficou encarregado de ouvir o receptor. Mozzie nem teve tempo de conseguir mostrar ao amigo as coisas que trouxe da casa de Rachel.
            A casa na verdade era de Nicolle, mas guardava muitas coisas de uma jovem Rachel. Fotos de uma menina de sorriso doce, estudiosa e obcecada pela perfeição. 



Ela era a melhor aluna em todas as disciplinas da escola. Fazia aula de música, dança, natação e lutas desde muito jovem. Seja quem fosse Rachel Turner, ela não fora criada para ser uma mulher, mas sim um soldado.
A casa ainda guardava o quarto que ela devia usar quando viveu ali. Era quase o quarto de uma adolescente, mas nele não havia nenhum cartaz de filme ou banda. Não tinha nenhum diário cheio de corações. Era tudo muito sóbrio, como se ela não tivesse vivido nada do que seria normal. Medalhas de primeiro lugar que iam desde olimpíada de matemática até vários esportes. Fotos de formaturas, imagens dela com os pais. Vídeos de apresentações de dança. E muitos, muitos livros. História, mística, meditação e outros temas dominavam uma enorme estante.
O que tornou Rachel assim e, principalmente, por quê?

No FBI, Neal tentava se concentrar. Não parava de pensar no caso de Rachel, mas sentia que Peter estava tentando afastá-lo. Sabia que eles já estavam procurando por endereços de pessoas ligadas a Rachel. Mas se surpreendeu quando outro nome apareceu. Um tal de Henry Cass. Amigo da família...e bem próximo de Rachel.
Não queriam lhe dar mais informação. Teve que ir espiando. Descobriu que já estiveram na casa de Nicolle, o que gerou pânico. Com a correria não teve tempo de conferir se Mozzie conseguiu deixar uma pista falsa que fosse realmente enganar Peter. Não poderia ficar no escuro assim!
- Peter! Quero falar com você. Na sua sala. Agora.
- Baixa bola, eu sou seu supervisor. – Peter falou quando chegaram. – O que quer?
- Por que sinto que estão me escondendo uma coisa. Todos ficam quietos quando eu me aproximo. Eu faço parte dessa equipe. – Era tudo uma farsa...ao contrário do que Rachel acha, não sou o cachorrinho do FBI, pensava.
- Neal...você era o namorado da Rachel! Não dá pra, do nada, pensar que você possa participar do caso.


- Eu sou o maior interessado em que ela apareça. – Neal viu nos olhos dele que tinha acreditado.
- França. – Foi o que Peter disse. – Eu só não entendo como. Ela estava sem documentos. Passou por aeroportos tendo o FBI na cola dela aqui e a MI5 caçando ela na Europa. Mas parece que Rachel foi louca o suficiente pra tentar.
- Como você sabe... – Neal instigou Peter a falar.
- Chegamos à casa da mãe dela. Que foi abandonada. Os vizinhos não fazem ideia de onde ela está. Poucos conheceram Rachel. Um a chama de ‘garota fantasma’, porque às vezes aparece e some sem dar pistas.
- Porque França? Tem certeza?
- Tinham revistas que indicavam isso. Além disso, Rachel morou lá. E eles não fazem acordos de extradição. Mas Neal...a casa é tipo um santuário. A mãe e o pai da Rachel parecem que criaram uma máquina de perfeição.
- Nossa! – Precisava ir pra casa e ouvir a versão do Mozzie. Saber o que era plantado por ele e o que era real daquilo que Peter falava.
- Então nós vamos pra França...não está no meu perímetro permitido. – Se Peter fosse e eu ficasse, ganharia tempo pra procurá-la.
- Você fica, eu só irei depois que confirmar que ela está lá...não sei...algo me diz que ela não tá longe. Acho que ela vai tentar sair do país, mas ainda está perto. Muito perto. Eu sinto isso, Neal.
- Ela é inteligente, muito. Não ia ficar por perto. – Neal teve a certeza de que precisava tirar isso da cabeça de Peter – E tem contatos na Europa. Deve ter conseguido a proteção de alguém. Numa dessas, está se bronzeando numa praia francesa e rindo da nossa cara.
- Pode ser. Já pedi autorização para colocar agentes nisso. Enquanto isso, vamos tocar os outros casos. Pronto pra trabalhar?
- Claro. – Não tinha como negar.

Algumas horas depois...

Neal chegou no apartamento e pressionou Mozzie. França era armação dele...justamente porque seria fácil comprarem a ideia sabendo que Rachel morou lá. Com as dificuldades impostas pelo governo francês no auxílio a investigações internacionais, seria difícil decretarem que Rachel não estava lá. O resto era tudo verdade.
- Eu não chamaria de santuário...é mais um lugar de treinamento. Ela foi treinada para ser o que é, Neal. Eu trouxe umas coisas pra você olhar.
- Não estou interessado! Acredito em você. Eu to enojado de tudo isso. Ela sumida, a gente dependendo desse colar e enganando o FBI pra proteger ela. Essa mulher é uma completa decepção, uma assassina! E agora eu estou amarrado a ela e ao FBI. Porque eu não posso pedir para ser liberado da pena ou ficarei no escuro, sem saber o que descobrem. A Rachel conseguiu virar a minha vida ao avesso.
- Você pode esquecer tudo, desligar esse receptor e seguir com a vida. Pode dar adeus à Rachel, Neal.
- E nunca saber se meu filho nasceu. Não!
Como Neal estava irritado demais, Mozzie não insistiu nem tentou conversar. Tinha que dar alguns minutos de paz para seu amigo.
Horas depois...
            Não era possível ficar o dia todo ali esperando o receptor emitir algum som. Então Mozzie e Neal programaram o sistema para gravar tudo que ocorresse. Não podiam perder nada. Ela tinha passado a maior parte do dia em silêncio, seja no quarto ou caminhando pela casa. A falta de liberdade estava deixando Rachel nervosa.
            - Vamos jantar? – Nicolle lhe perguntou. – Quer que eu faça alguma coisa em especial?
            - Não...deixa que eu preparo. – Ela riu. – Porque me olha assim, mãe? Eu sei cozinhar muito bem.
            - Sim, mas raramente se oferece pra cozinhar.
            - Ao menos terei alguma coisa pra fazer. O que tem pra preparar?
            - Tudo que você possa imaginar. Eu enchi os armários. Tenho que alimentar meu neto.
            - Não vou nem te responder. – Depois se ouviu uma porta abrir quando Rachel foi pra cozinha.
            Ela cozinhou algo rápido por que logo estavam comendo. O clima estava mais leve entre mãe e filha. Elas estavam tentando conviver.
            - Amanhã preciso que você saia e compre um computador...preciso descobrir como estão as coisas.
            - Ok...Rachel você não pode realmente querer ficar presa nessa casa por meses. Você precisa pegar sol, respirar. Vai enlouquecer aqui, filha.
            - Não posso, é muito arriscado. O agente Peter Burke está me investigando. Sei que está. Ele é daqueles que não desiste e vai me caçar até no inferno. Ele prendeu o Neal duas vezes. Isso diz muito dele.
            - Saia do país então. Vá para longe. Você já se reinventou outras vezes. Deixe de uma vez por todas a Rebecca no passado.
            - Não posso. O Neal ferrou com isso quando descobriu minhas identidades falsas. Isso que eu dei um tiro nele...
            - Você atirou no pai de seu filho?
            - De raspão. Mas eu devia ter machucado um pouquinho mais. Só pra ele aprender a não mexer no que é dos outros!

            O olhar com que Mozzie encarou Neal era um aviso...a mulher era um perigo. Voltaram a encarar o receptor.

            - Primeiro eu tenho que resolver a questão do bebê. – Neal respirou fundo. Como assim resolver? – Sair por aí grávida está fora de cogitação. Minhas alternativas são ou aborto ou ficar por aqui até o parto e, depois de...dar um destino a criança, aí sim, fugir por alguma fronteira ou tentar uma nova identidade falsa. Mas eu tenho medo. O Neal é do ramo...conhece falsificadores. Poderia facilmente descobrir meu novo nome e me entregar mais uma vez.

Elas saíram da mesa antes de voltar a falar.

            - Filha...você já pensou em...digamos...já que vai entregar o bebê para alguém...entregar ao pai do bebê. Você disse que ele está com o FBI. Talvez ele esteja se tornando uma pessoa melhor e possa criar o filho.
            - Não, nem pensar. – Ela sequer cogitou.
            - Mas por quê?
         - Se for para ser criado por criminosos, então eu mesma crio. O Neal acha que mudou de time, engana a si mesmo, mas no fundo ele sempre será o mesmo falsário em que ninguém deve confiar. Eu confiei...e acabei num macacão laranja numa prisão.