domingo, 31 de janeiro de 2016

Vida Roubada - Capítulo 13


    No momento em que colocou os pés no lugar que considerava seu lar, Sebastian disse a si mesmo que ali era necessário concentrar-se no que realmente era importante em sua vida. Seus negócios e sua família estavam nos EUA. Lá, não havia espaço para garotas de programa, bebedeiras ou nada que pudesse comprometer sua imagem pública. Então, pelas próximas semanas precisaria manter os pensamentos longe de Beatriz e de tudo que envolvia esse lado de sua vida, um lado obscuro e do qual ele não se orgulhava.



            Não que fosse fácil. Sempre que uma morena clara e altura mediana passava por ele, a imagem de Beatriz lhe vinha a mente. E era rapidamente deixada de lado, como o momento exigia. Quando pudesse retornar à Rússia, ela lá estaria, esperando por ele com toda a sua beleza e sensualidade. Ele freqüentava a boate Noxotb há muitos anos. Lá conheceu Gregory. Sempre soube que ele era apenas o administrador, não o dono, mas, ainda assim, mantinha contato com ele porque Gregory lhe obedecia sem pestanejar e lhe enviava as garotas que desejava. Estava a milhas de confiar nele, porém, tinha certeza que o cafetão não descumpriria sua ordem. Passasse o tempo que fosse, ele não ofereceria Beatriz a outro enquanto ele lhe ordenasse o contrário. Com essa tranquilidade, ele retornou a sua vida normal.

            - Estou de volta. Oficialmente. – Comunicou à secretária, pelo telefone, ainda no aeroporto.
            - Já não era sem tempo, Sr. Sebastian. – Comentou a funcionária, com a liberdade de quem há muito tempo convivia com o executivo. Hilary, conhecia Sebastian e seus segredos melhor do que muitos. – Não lhe faltam compromissos.
            - Como você me lembrou diariamente por mensagens nos mais diversos meios, Hilary. Por favor, priorize os compromissos que envolvem os negócios mais importantes à empresa.
            - É claro, senhor. Vem agora mesmo ao escritório?
            - Não. Só no período da tarde. Vou passar a manhã em casa com minha família. Só me ligue em caso de urgência.
            - É claro. – A funcionária confirmou pouco antes de desligar e voltar ao trabalho.

            Já Sebastian pegou um táxi e rumou em direção a grande casa que habitava junto da mãe e da filha. Não colocava os pés ali há semanas e mesmo sua última passagem havia sido muito rápida. Não tirava a razão de sua mãe ao criticá-lo por tantos períodos distantes. Eles se repetiam com uma frequência cada vez maior e, para Angelina, representavam um desprezo com a família. Principalmente com Luíza, sua filha de cinco anos.
            Isso não é verdade, por mais que Sebastian reconhecesse suas falhas como pai. Aliás, também reconhecia não ser o melhor dos filhos. Angelina deveria estar curtindo a terceira idade com tranquilidade enquanto ele arcava com todas as preocupações. Mas a realidade era que ela dava amor a Luíza enquanto ele estava fora na maior parte do tempo. Ainda assim, a mãe lhe recebeu com um imenso e sincero sorriso no rosto.



            - Meu filho! Aí está você. Enfim, em casa. – A mãe abraçou o filho, como sempre fazia mesmo que estivesse descontente com suas atitudes.
            - Mãe, como pode ver, não fugi de casa nem da minha família. Cheguei, como disse que faria, assim que os compromissos permitiram.

            Angelina não questionou-o, apesar de saber que negócios poderia ser uma das razões para Sebastian preferir qualquer lugar menos o seu lugar no mundo. E trabalhava, e muito, é claro. Mas procurava razões para ficar longe. E apesar de compreender suas razões, ela acreditava que já era hora dele aprender a lutar na vida particular tão firmemente quanto comumente faz no trabalho.

            - Entre e recupere as forças. – Se bem que ele não lhe pareceu muito abatido dessa vez. - Tem alguém que espera ansiosamente a sua chegada.
            - Luíza passou bem essas semanas? – Lá no fundo ele sentia a consciência pesando. – Eu sei que estou em falta com ela.
            - Está bem sim. Mas...Luíza é uma criança. E sem a mãe, a sua presença é ainda mais importante. Eu tento suprir a sua falta e de ...
            - Ela está melhor sem mãe! – Sebastian não desejava aquele tipo de conversa. - E eu tentarei lhe dar mais atenção. Onde ela está?
            - No quarto. Se arrumando, nós vamos sair. Ou melhor, íamos. Agora ela vai exigir sua atenção.

            Nisso, a avó estava completamente certa. Assim que ouviu a voz do pai, Luíza desceu as escadas da casa e veio ao encontro dele. Ela abraçou-o apertado e sorriu. Apesar do tempo afastados, Luíza reconhecia o amor do pai. Só não entendia porque ele tinha mudado tanto nos últimos tempos e ficava tanto tempo longe dela e da vovó. E se isso a deixava triste, também fazia ficar ainda mais alegre quando conseguia vê-lo. Ela tratou de garantir um pouco de seu tempo, antes que o telefone tocasse, ou ele se trancasse no escritório.

            - Papai! Você voltou!
            - Sim, pequena. Eu disse que logo estaria aqui. Lembra.
            - Sim...mas demorou muito.
            - Tanto assim? – Sebastian riu ao ser recriminado pela filha.
            - Sim! Muito mesmo! E eu não gostei!



            - Desculpe o papai então. Vamos brincar? Papai trouxe presentes! – E assim ele dispersou qualquer sinal de tristeza na criança e seguiu com ela para a área aberta da casa.

            Enquanto isso, no Brasil, Paty também tentava manter os pensamentos distantes da Noxotb  e de tudo que envolvia aquele campo de sua vida. E não conseguia. Desde o jantar com Elizabeth os pensamentos não saem de sua cabeça. E quando enfim ficou novamente sozinha com Matt, Patrícia não conseguiu mais relaxar. Apesar de todo o cuidado e atenção do namorado, ela seguiu acordada até muito tarde, revirando-se na cama e revivendo seus dias de escrava. Ela sentia que devia fazer algo por Bia, coisas que somente ela seria capaz. Ainda assim, o medo gelava seu coração.
            Ainda recordava-se dos dias trancada em quartos similares a celas, de noites trabalhando com um ou com vários clientes. A dor daqueles tempos de solidão, quando não podia confiar em ninguém. Lembrava-se da agonia de não mais ter vontade de viver, mas sentir medo até mesmo disso. De encontrar-se tão perdida que aceitava a tudo que vinha, sem força para lutar. Agora não. Agora tinha Matt, uma vida honesta, emprego e amigos. Lá no fundo uma parte de sua consciência ordenava que se mantivesse distante de tudo aquilo, daquele passado que parecia teimar em lhe puxar de volta. Por outro lado, isso significaria acovardar-se e esse tipo de comportamento nunca lhe agradou.

            - Por mais linda que a minha namorada seja, dormir um pouco lhe deixaria ainda mais bela ao amanhecer. São quase 3h da manhã, Paty.
            - Desculpe. Não estou deixando você dormir. – Essa era a terceira vez que ela acordava Matheus ao virar-se de um lado para o outro.
            - Não é isso. Só estou preocupado. Não deixe que a pressão feita por Liza te tire do eixo. Ela está nervosa. Todos nós estamos, Paty. Mas ninguém espera que você retorne aquele lugar. Não se preocupe.
            - Eu sei, Matt. – E disse e tentou concentrar-se na própria respiração e dormir.

            Porém, estava decidida a fazer algo. Tinha sim condições de ajudar Elizabeth. Precisava apenas encontrar uma forma de fazer isso sem ir tão fundo naquele pântano que jamais conseguisse sair. Quando enfim adormeceu, o sono de Paty foi confuso e entrecortado por imagens da prostituição. Nomes e rostos se misturavam, alguns que poderiam ser decisivos na investigação de Liz.

            E se, no Brasil, Elizabeth solicitava suas férias e, com isso, gerava muita desconfiança em seu chefe, lá na Rússia Samantha seguia com seus planos. A cada momento sentia-se mais convicta de que um leilão seria um ótimo negócio para eles. E livrar-se de Beatriz uma jogada perfeita.
            Ela só não contava em receber uma ligação de Gabriela. A chefe de todo o esquema em raras oportunidades lhe dirigiu a palavra. Sempre tratava-a como se não existisse. Nas raras vezes em que esteve na Rússia, marcou encontros com Gregory deixando claro que deveria ir sozinho e, nos poucos momentos em que estiveram cara a cara, Gabriela não hesitou em destratá-la. Ainda assim, era com ela que Gabriela agora desejava falar.




            - Gregory está no escritório, Gabriela. Quer que o chame?
            - Não. Em primeiro lugar, esqueça meu nome. Ele jamais deve ser dito ao telefone. Depois, se quisesse falar com Gregory, teria lhe telefonado diretamente. Tenho um assunto a tratar com você. As respostas de Gregory sobre esse assunto não estão me convencendo.
            - Qual assunto?



            - O lucro desse salão não está me agradando. Gregory me disse que havia uma possibilidade de melhorar os números. E que ela foi proposta sua. Eu confesso que fiquei com medo ao ouvir isso. Ainda mais porque ele não soube me dar detalhes. Espero não estar perdendo meu tempo. Fale.
            - Precisamos se mercadoria nova...eles querem menininhas, de preferência com carinha de anjo e dessas temos poucas. Pode ser da América do sul, mas nem todas com o perfil curvilíneo. Umas bem garotinhas iam deixá-los enlouquecidos. – Samantha sugeriu.
            - Estamos com problemas em conseguir garotas no Brasil, mas tentarei enviar algumas bem jovens do México e do Panamá. Mas não posso perder o investimento nas que aí estão. O que faremos?
            - Vendê-las. Alguns homens estão dispostos a pagar para tê-las só para si. Pelo menos para umas cinco eu tenho comprador encaminhado. Às outras, se não surgir ninguém interessado, trocamos de boate.
            - Pode ser. Envie-me por e-mail o nome, perfil e quem é o interessado de cada uma delas. Já fizemos leilões antes e rendeu muito. Prepare as garotas para estarem lindas no dia, feito rainhas a enlouquecê-los. O lucro garante o investimento. E todo comprador tem de estar ciente que é responsável pela segurança depois que tirá-la da casa e também que não aceitamos devolução. Então, quando ele enjoar da aquisição, terá de se desfazer ele mesmo.
            - É claro. E vir aqui encontrar outra. – Samantha concordou.
            - Obviamente. Agora outro assunto...como está a adaptação de Beatriz?

            Ouve um silêncio profundo antes de Samantha responder. Não gostava do fato de Beatriz sempre ser tratada como alguém especial. Obviamente, Gabriela não poderia saber que ela estava listada para o leilão ou não permitiria. Mas se o objetivo da chefe era apenas fazer a brasileira sofrer, nada impedia que ela sofresse nas mãos de Sebastian, em outra porte de mundo e bem longe de Gregory.

            - Como todas as outras. – Respondeu, simples e amarga.
            - Ela não é como todas as outras. Quero saber se ela está sendo controlada e se Gregory está lhe dando o tratamento que orientou. Ela tem de sentir na pele o pior de ser uma vadia, tem de terminar cada dia pior. Não me importa se os clientes pagam por ela. Só desejo que trabalhe, dia e noite. Quando eu entrar aí novamente, quero ter o prazer de encontrá-la destruída. E, não sei porque, Gregory me parece simpatizar com ela...ser complacente demais...talvez ela o lembre de você ou ele se interesse por Beatriz. – Esse comentário servia apenas para despertar o ciúme e a raiva da outra. – Por isso quero que você cuide para que Beatriz tenha o atendimento que eu determinei.
            - É claro! E quando você virá?
            - Não tenho nenhum plano de aparecer nos próximos meses. Não importa. No dia em que eu for, quero ter o prazer de vê-la destruída. E espero que você não me decepcione e me obrigue a fazê-la voltar do salão à cela por incompetência.
            - Não será necessário.

            Ao contrário. Garantiria que Beatriz tivesse o pior dos tratamentos e depois a entregaria para Sebastian. E Gregory não teria chance de proteger sua mais recente paixão.


            Sem saber de nada do que ocorria, Beatriz percebeu a mudança de comportamento de Samantha. Ela parecia estar sempre a espreita de algo muito importante ou, pelo menos, lhe interessasse demais. Ao menos, tê-la por perto era bom para afastar Gregory e seus avanços forçados. Ajudava, mas não resolvia. Após quatro noites se passarem sem que ela atendesse nenhum cliente, Gregory apareceu no alojamento no meio da madrugada, quando o salão estava cheio e Samantha trabalhava fiscalizando o serviço e o atendimento.

            - Não posso te colocar no balcão. Sebastian não quer. Mas se pensa que vai comer de graça, está enganada. – Lhe disse sem fazer mistério do que desejava. Ele trancou a porta por dentro e sentou-se em uma das camas, abrindo a braguilha da calça. – Vem aqui vem. Quero um serviço bem rápido e eficiente dessa boquinha.

            Bia não tinha muita alternativa. Podia dizer que Sebastian pagava sua ‘diária’ de trabalho e que chupá-lo não fazia parte do serviço, mas, se o fizesse, despertaria seu ódio. E mesmo Sebastian despertando o respeito de Gregory, talvez até o temor, mas com ele distante não poderia contar com sua proteção. Então passou a caminhar até ele para cumprir a repugnante tarefa.

            - Não. De joelhos, feito uma cadelinha. – Com algumas doses de vodka barata ele conseguia ficar ainda mais nojento. – Quero você com o bumbum bem arrebitado, me chupando gostoso. Igual faz pra ele.



            Ao contrário do que Gregory pensava, sua saída do salão não passou despercebida. Samantha, porém, não se apressou em vir lhe procurar. Sabia exatamente onde ele estava, com quem e o que faziam. Ela controlou a raiva e esperou alguns minutos. Se ele queria se satisfazer, que o fizesse. O importante é que entendesse quem mandava ali e percebesse que aquilo só acontecia porque ela permitiu.
            Então usando da sua cópia das chaves, entrou no dormitório e pode assistir o marido urrar ao se satisfazer na boca carnuda de outra mulher. De olhos fechados e rosto sujo ela concluía o serviço e esperava que ele se afastasse. Ele também não via nada enquanto curtia o momento. E ambos foram surpreendidos pela voz alta e fria da negra que soube esconder seu ódio.

            - Se acabou, estamos precisando de você lá fora, Gregory. Agora! – Disse simplesmente.

            Ela ficou esperando-o recuperar-se do choque, empurrar Beatriz para longe, arrumar as roupas e erguer-se. Quando o fez, saíram juntos e sem dizer nenhuma palavra. Beatriz ficou calada, no chão, sem saber o que fazer. Aquela mulher era incompreensível. No corredor, sozinhos, Samantha deu ao marido apenas um aviso.

            - Espero que tenha sido gostoso, porque foi a última vez que você veio atrás dela. Sem conversa nem negociação. Fui clara?
            - Porque a crise de ciúme. Não é a primeira garota nem a última que eu como. Você nunca se importou.
            - E você pode pegar a que bem entender, mas não ela, nunca mais. – Por alguma razão, o interesse do marido por Beatriz parecia ser maior. E isso a incomodava. – Será por pouco tempo que você precisará resistir a tentação. Vou leiloá-la. E se Sebastian não quiser, outro aceitará pagar alguns trocados.
            - Não pode! Gabriela a quer aqui. É uma questão pessoal.
            - Gabriela não pretende vir aqui. É só você dizer que ela está sendo castigada diariamente que Gabriela ficará satisfeito. E isso não deixa de ser verdade. Porque nós sabemos que Sebastian só tem a cara de bom moço. Eu já o vi destruir um quarto porque a garota o desagradou. Quantas ele já feriu?
            - Muitas. – Ainda assim, o plano era desagradável a Gregory.
            - Exato. Ou seja, todos estarão contentes. O modo dele tratá-la vai mudar assim que Beatriz desafiá-lo a primeira vez. Então ela vai sentir como ele sabe ser um monstro. Ela será castigada o bastante, para alegria de Gabriela. Nós arrancamos dinheiro de Sebastian. E, de brinde, eu me livro dela. Será isso, meu amor.
            - Se o que você deseja. – Gregory não pode negar.
           
            Logo que o marido retornou ao salão, Samantha voltou ao alojamento e encontrou Beatriz lavando o rosto. Viu surpresa nos olhos da garota de programa. Mas não se apiedou. Fez explodir em seu rosto uma bofetada em cada lado da face.

            - Nunca mais se ofereça ao meu marido! Ou eu mesma garanto que você não fica viva até que seu protetor volte. Retalho essa carinha inteira até ele não ser capaz de te reconhecer. – Avisou a garota mesmo sabendo que não era dela a iniciativa. – Conheço esse jogo e fiz uso dele para sair dessa vida. Mas não vai dar certo para você!
            - Não sei do que está falando. – Beatriz respondeu.
            - Ótimo. Que fique assim então. Mas trate de manter as mãos de Gregory longe dos seus peitos.
            - Porque você não faz isso?
            - Cala a boca! – Samantha vibrava em ódio. – Você achou uma inimiga. Mais uma, aliás. Pois saiba que farei de tudo para destruir a sua vida. Os poucos dias que você ainda tem por aqui serão um inferno. E eu darei um jeito de garantir que mesmo depois eles não sejam fáceis!

            Quando Samantha foi embora, Beatriz ficou pensativa. Não sentia medo. Aquela encenação não passava de ciúme. Mas não entendeu porque a mulher de Gregory afirmava com tanta certeza que ela não passaria mais muito tempo ali.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Vida Roubada - Cap 12


      Aquele comportamento de Sebastian estava confundindo Beatriz. Não sabia o que esperar dele. Na verdade, sabia pouco demais a respeito daquele homem. Em um silêncio constrangedor eles seguiram no banco de trás do carro enquanto Francisco guiava o carro pelas ruas de Moscou. Apesar do carinho com que foi recebida, Beatriz não se esquecia da forma bruta como Sebastian livrou-se dela no último encontro. Era essa alternância que a incomodava. Jamais sabia se lidava com o homem carinhoso e delicado ou com o violento e perigo. Ao chegarem ao hotel Francisco pareceu desaparecer. Cada vez mais ela tinha a sensação de que eles eram muito próximos e comunicavam-se quase que apenas com a troca de olhares.

            -Tire essa roupa. Ela não combina com você. Tem um roupão no banheiro, pode usar. – Sebastian disse e surpreendeu Beatriz mais uma vez.
            - Vestir algo para que quando logo você me deixará nua?
            - É verdade. Mas podemos conversar antes...e eu tenho uma ligação de trabalho para fazer. Não esperava encontrá-la hoje...e na rua.
            - Também não estava nos meus planos. – Beatriz respondeu. – Aparentemente, Gregory achou que você não me queria mais e não estava satisfeito com o lucro que lhe dava dentro da boate.
            - Pode ser. Eu resolverei isso. Agora faça o que mandei. Tire essa roupa, tome um banho e me espere no quarto. Quando resolver meus afazeres irei lhe fazer companhia.

            Sebastian na sala que compunha a suíte do hotel e ele usava como escritório. Ali fez duas ligações. A primeira para a mãe, nos EUA, para avisar que teria de mais uma vez adiar sua volta para casa. Há mais de um mês vinha retardando seu retorno a Massachusetts, estado que considerava o seu lar, mas no qual passava cada vez menos tempo. Beatriz era um dos motivos. Gostava dela, de passar algum tempo com a garota. E mesmo que dissesse a si mesmo que conseguiria com outras em qualquer parte do mundo o mesmo que Beatriz lhe oferecia, continuava desejando ela e não nenhuma outra. Só que não podia dizer isso a Angelina, ou ela viria para a Rússia colocar algum juízo na mente do filho.

            - Oi mãe. Como vai tudo por aí? – Ele perguntou assim que ela atendeu, tentando não lhe dar chance dela fazer comentários pela sua demora.
            - Bem, é claro. Como sempre. Boston segue maravilhosa como sempre foi, apesar de um de seus moradores não mais aparecer por aqui. Posso saber o que tanto de negócios você tem na Rússia? Vai se mudar para aí?
            - Não, mãe. Minha casa é aí com vocês.
            - Aaaa ‘vocês’, sim! Lembrou-se que tem uma filha?
            - Eu nunca me esqueço de Luísa, mamãe. Jamais. Estou lhe levando uma daquelas de porcelana russa que ela adora.
            - Luísa tem cinco anos, Sebastian. Precisa muito mais da presença do pai que de mais uma boneca.
            - Eu não posso abandonar meus negócios para ficar junto de Luísa, mamãe. E eu sei que a senhora cuida bem dela. Em dois dias eu embarcarei para casa. Prometo.
            - Que bom, meu filho. Nós estamos sentindo sua falta. – Disse Angelina antes de desligar.

            A outra ligação foi para Gregory. Em poucas palavras avisou ao gerente da boate que o cliente de Beatriz havia mudado e deixou claro seu descontentamento por ela ter sido colocada para trabalhar na rua.
            - Até onde sei, Sebastian, Beatriz não estava reservada para você. Não tem do que reclamar. Você sumiu depois de um final de semana com ela. Pensei que havia se satisfeito da garota. – Gregory respondeu.
            - Ainda não. – Sebastian disse simplesmente. – Ficarei com ela hoje. Depois terei de viajar uns dias...não quero que ela saia com outro. No dia em que eu aparecer em Moscou quero que ela esteja aí, esperando por mim.
            - Quantos dias?
            - Não sei ao certo.
            - Ela tem de trabalhar, Sebastian. Beatriz não é especial para ganhar hospedagem e comida de graça aqui. A chefia vai reclamar. – Nem tanto, já que Gabriela sempre afirmou que Beatriz tinha de sofrer, não dar lucro. Ainda assim ele a queria trabalhando.
            - Eu estou disposto a pagar por ela. – Sebastian respondeu e assim encerrou o assunto e a ligação.


           
            O restante do tempo passou na cama com Beatriz. Gostou de encontrá-la deitada na cama, com os cabelos molhados e o corpo coberto pelo roupão branco. Quando era capaz de obedecer suas ordens Beatriz ficava ainda mais bela. Só depois de muito se aproveitar de seu corpo e ver um novo dia nascer, ele disse-lhe que ficariam algum tempo sem se ver e que nesse período ela não atenderia mais nenhum cliente.

            - Pagarei para que me aguarde. É minha. Não gosto de dividir o que é meu e não gosto da ideia de outros homens tendo prazer no seu corpo. Só eu vou gozar em você e só eu decidirei se você merece ou não ter prazer na cama. – Ele lhe disse.

            Beatriz recebeu aquela notícia com alguma tristeza. Apesar das palavras duras, Sebastian sempre lhe dava prazer. Podia demorar, podia vir acompanhado de dor ou de desconfortos quando ele, afoito demais, acabava lhe ferindo. Mas ele sempre lhe dava prazer, ao contrário de tantos outros que avançaram para dentro de seu corpo sem importar-se com as barreiras que encontravam. Sebastian podia olhá-la feio, gritar e até feri-la, mas quando transavam ele sempre a levava ao céu. Mesmo que, às vezes, dissesse que não desejava agradá-la, que ela não merecia prazer, que estava proibida de gozar, Beatriz sempre descumpria a ordem.

            - Eu sempre tenho prazer nos seus braços. Não se engane pensando o contrário. – Beatriz lhe disse deitada sobre seu corpo. Naquela posição conseguia sentir seu corpo enrijecido, mesmo ele tendo se satisfeito poucos minutos antes.
            - Sempre? E se eu entrar em você agora? Enfiar em você com força como posso fazer com você porque é uma prostituta qualquer com qual eu não preciso me preocupar? – Ele estava com vontade fazer justamente isso e ver se ela suportava.
            - Ainda assim eu vou gemer de prazer. Quando estou com você, nada é ruim. – Uma parte dessa afirmação é verdadeira, a outra é uma mentira com destino certo ao ego de Sebastian.
            - Vamos descobrir se é isso mesmo. – Ele respondeu e virou-a bruscamente sobre a cama, deixando-a de bruços e pensando o que faria com Beatriz durante aqueles poucos minutos que lhe restavam.


            No Brasil, Miguel e Elizabeth jantavam com Patrícia e Matheus.Foram horas agradáveis, que intercalavam momentos de conversas pesadas nas quais Elizabeth atualizou os amigos da investigação que buscava encontrar Bia e, outros, em que eram apenas quatro amigos felizes. Enquanto Paty e Matty demonstravam ser exatamente o que eram – um casal feliz de namorados bem resolvidos – Miguel e Elizabeth não sabiam o que eram nem o que gostariam de ser.



            A união e a parceria do casal de amigos não passou despercebida de Liz. Eles estavam muito unidos e sorridentes, pareciam ter se completado. Quando acabaram de comer e foram para a sala provar da sobremesa feita por Paty, Matheus não economizou elogios à namorada. Tanto que Liz não suportou ficar calada.

            - Nesse ritmo logo vejo vocês no altar e pensando em bebês. – Ela disse ao amigo em tom de piada.

            Mas nenhum dos dois apressou-se em negar aquela afirmação. Ao contrário. Paty aconchegou-se mais nos braços de Matheus e ele acariciou seus cabelos loiros. O único a se sentir constrangido com a cena foi Miguel, que apesar de nutrir uma relação amistosa com o casal de amigos, não era íntimo deles como Elizabeth. Patrícia se sentia feliz demais para perceber qualquer constrangimento e Matt estava satisfeito em vê-la evoluir tanto desde quando se conheceram. A primeira vez que viu Patrícia, ela estava presa, com o corpo marcado por um comportamento destrutivo e uma sequência de abusos. Agora ela estava saudável, física e emocionalmente. E ele teve essa certeza quando a viu pensar no futuro e superar o passado.

            - É, talvez você esteja certa, Liza. – Matt afirmou. – Eu sempre quis ser pai. Você sabe. E eu e Paty pensamos sim em ficar juntos e adotar um bebê.
            - Adotar? – Elizabeth não conhecia detalhes da condição de saúde de Paty.
            - Eu não posso ter filho, Elizabeth. – Foi ela mesma a esclarecer. – Mas Matt me fez ver que isso não me impede de ser mãe.
            - É claro que não. – Liz concordou. Lá no fundo ela se perguntava por que ela, que biologicamente seria mãe, não conseguiu aceitar a maternidade daquela forma tranquila e doce. – Eu espero sinceramente que vocês consigam adotar esse bebê quando se sentirem prontos. Formam um lindo casal. Serão grandes pais.

            A conversa seguiu para assuntos mais sérios. Liz contou dos últimos avanços no caso de Bia. Na verdade, para a justiça era o caso de abuso sexual no qual atuava há muitos anos. A Polícia não acreditava que Beatriz estivesse viva, muito menos com os mesmos sequestradores. Ainda assim, Elizabeth sabia da verdade. E não mudaria seus planos até rever a irmã. Para isso, sabia poder contar com Matt. E estava prestes a descobrir que Paty enfim poderia cumprir aquele objetivo de ajudá-la.



            - Fizemos um acordo com Pedro Ferraz. Ele falou coisas muito interessantes. Realmente estão na Rússia as minhas respostas, em Moscou. Ele falou em casas noturnas clandestinas.
            - Quem é o chefe? – Matt perguntou.
            - Não disse. – Elizabeth respondeu.
            - É claro que não. O chefe eles nunca entrega. – Miguel opinou.
            - Segundo Pedro, o esquema é dividido em várias etapas e ninguém conhece tudo. Cada um se reporta a um superior e quase ninguém conhece o chefe do grupo. Segundo ele, Javier, o tio de Miguel, era conhecedor do esquema no Brasil e tinha contato com o chefe, seja lá quem for.
            - Mas Liz, você já revirou tudo o que é possível na vida de Javier Alencastro Benitez e não encontrou nada. Não acredito que por ali vá chegar ao líder.
            - Eu também não acredito, Matt. Por isso dependo de qualquer dica que Pedro possa fornecer. Moscou é muito grande. E os braços da quadrilha maiores ainda. Há mais de uma boate lá. Segundo ele, a cada ano aproximadamente 50 brasileiras e outras tantas latinas vão para lá. Algumas morrem, outras envelhecem trabalhando. Algumas são compradas por clientes e nem mesmo eles sabem o que acontece com elas depois.
            - Boa coisa não deve ser. Um homem capaz de comprar uma mulher ou apenas frequentar um lugar desse, não vale o ar que respira. – Matt opinou.
            - É. E ainda existe uma boate GLBT para onde travestis vão.
            - Tudo em Moscou? – Matt perguntou. – Patty ficou na Grécia. Pode não ser a mesma quadrilha, mas, se for, Bia pode estar em outro país.
            - É a mesma, Matt. Tenho certeza. Mas Pedro diz que nos últimos tempos eles têm preferido levar todas para Rússia e depois de algum tempo enviar para outros países. Lá eles têm um homem experiente no comando. Ele ‘treina’ as garotas e as usa na boate. Depois enviar para Madri, Paris e Lisboa, principalmente e recebe novas para repor em Moscou. Por tanto, Beatriz está na Rússia. E eu tenho de encontrá-la logo.
            - Nenhuma pista mais detalhada?
            - Não...Ele disse que a boate chama ‘luxúria ou algo assim’. Isso não ajudou muito.

            Não ajudou muito a Elizabeth desvendar o mistério. Já para Patrícia aquele ‘luxúria ou algo assim’ fez todo o sentido. Quando foi uma escrava sexual Paty prostituiu-se na Grécia. Seu único contato com a Rússia foi quando, ao ser comprada por um russo chamado Nicolay e ser abandonada por ele, fez escala na Rússia durante o voo de volta ao Brasil trazendo drogas no estômago. Ainda assim, soube instantaneamente do que Pedro Ferraz falava em seu depoimento a Polícia Federal.

            - Nохоть. – Disse e foi instantaneamente observada por Liz, Matt e Miguel. – Noxotb é uma boate clandestina em Moscou. Lá há prostitutas...escravizadas. Noxotb significa ‘luxúria’ em russo. Só pode ser de lá que ele falou.
            - Como você sabe disso, Paty. – Matt questionou-a.
            - As pessoas falam demais quando pensam que você não as compreende. Mas, mesmo um idioma difícil como o grego começa a ser decifrado quando você convive com as pessoas. Eu ajudava a limpar a boate e ouvia muitas coisas nessa hora. Uma vez o homem que chefiava a boate disse que viriam garotas da Noxotb. Ele e o administrador dessa boate conversavam muito por telefone.
            - O nome! O nome deles! Você se lembra? Do administrador desse lugar na Rússia. – Liz pressionou.
            - Não...não lembro.
            - Tente Paty, por favor.

            Miguel e Liz ficaram sozinhos naquela noite sem que a apreensão os abandonasse. Quanto mais perto chegava, mais nervosa ficava. Não havia mais nada que pudesse fazer do Brasil. Precisava ir até Moscou e estourar aquele cativeiro de mulheres que eles chamavam de Noxotb. Só então teria Beatriz de volta.

            - Você está mais perto hoje do que ontem. Deveria estar feliz. – Miguel lhe disse.
            - Perto não é o bastante. E Tom ainda não conseguiu autorização para que eu embarque. Quando conseguir, talvez seja tarde demais. Vou passar para ele as informações cedidas por Paty e ele pedirá que a polícia russa faça uma batida no lugar. Mas o que nos garante que eles não têm o apoio da polícia local?
            - Então não diga nada. Apenas peça para tirar suas férias. – Miguel lhe disse.

            Elizabeth não entendeu de início.

            - O que? Não posso tirar férias agora e...só se...
            - Exatamente. Peça férias e nós vamos conhecer Moscou, a passeio. Checamos a boate com os nossos olhos e, se vermos Bia, alertamos a polícia.

            Por alguns instantes Elizabeth apenas observou Miguel. Como podia alguém capaz de errar tanto, também ser tão maravilhoso e surpreendentemente dedicado. Miguel se dizia satisfeito em abandonar seus compromissos com um multinacional para ir com ela até Moscou e encontrar Bia. Aquele homem a amava mais do que tudo. E se ela ainda precisava de alguma prova, acabara de tê-la.

            - Eu te amo, sabia? – Elizabeth disse simplesmente.
            - Fazia tempo que eu não ouvia...então comecei a duvidar. Mas eu te amo Elizabeth, mesmo com todos os meus defeitos, eu te amo. Nunca esqueça disso.



            Na manhã seguinte Miguel e Elizabeth acordaram na mesma cama. Tinham reatado o casamento. Não apenas por amor, nem por desejo. Miguel havia conseguido, duramente, reconquistar a confiança de Elizabeth.

            - Bom dia, meu amor. – Ele lhe disse ao amanhecer.

            E Elizabeth acreditou naquele bom dia como há muito tempo não acontecia. Podia ser as novidades do caso ou o retorno de Miguel na sua vida. Agora ela se sentia melhor e mais forte para encontrar Bia e receber seu filho no mundo.

            - Bom dia. – Ela respondeu simplesmente, sorrindo e sem lhe contar tudo o que passava por sua mente.



domingo, 10 de janeiro de 2016

Novidades na área


Enfim os recessos acabaram e voltamos a postar. Espero que tenham curtido o cap de Vida Roubada. Elizabeth, Miguel, Beatriz e Sebastian ainda trarão muitas emoções aos leitores. MAS 2016 trará muito mais. E em março duas novas histórias chegam. Confira?




Alguém Para Perdoar

O tempo passa e um dia você percebe que não era bem assim, aquele ódio não era tão profundo nem o amor eterno. Os sentimentos mudam e junto com eles as pessoas.
Alguém Para Perdoar traz três casais protagonistas. Cada um com seus desafios, felicidades e tristezas. E a certeza de que felicidade não vem sem esforço, é uma conquista obtida a cada dia.
As três histórias se entrelaçam pela família Vicentin, que com raízes no Rio Grande do Sul e muito trabalho, mostrou em Alguém Para Amar que amor é algo que passa de geração em geração e se bem alimentado de carinho só faz crescer.
Protagonistas: Milena e Nathan, Melissa e Rafael, Márcia e Alex
Ambientação: São Paulo (RS) e Bento Gonçalves (RS).




Ariella

Quando o erro dos pais afeta os filhos, nutre rancores e gera ódio onde havia tudo para nascer amor. Diego nutre um ódio que não nasceu dele, foi forjado em seu coração pela mágoa de seu pai. Ele não sabe, mas suas atitudes embasadas num passado que ele não viveu, vão mudar seu futuro.
E uma década à frente ele ainda estará pagando pelo erro que começou três décadas atrás. Ariella contará 30 anos da trajetória de duas famílias. Os Bueno, na Espanha. Os Amaral, na Argentina. Suas vidas estão entrelaçadas e assim seguirão enquanto os filhos seguirem pensando com a cabeça e as mágoas dos pais.

Protagonistas: Ariella e Diego 

Período: 1ª fase: 1989, 2ª fase: 2005, 3ª fase 2016

Cidades: Cádiz, Buenos Aires, Madri e Paraty



sábado, 9 de janeiro de 2016

Vida Roubada - Cap 11


            Nos dias que seguiram ao explosivo encontro com Sebastian, Beatriz viveu a dura sensação da incerteza. Ele poderia aparecer a qualquer momento, ou nunca mais. E se colocasse os pés na boate novamente poderia ser para passar a noite com outra. Essa possibilidade existia, porém, não lhe assustava. Algo despertava a confiança de que Sebastian não teria olhos para outra.
            Trabalhou nas noites seguintes suportando não apenas os clientes, mas, principalmente, as investidas de Gregory. Muito pior do que aturar os homens que pagavam por sexo era ter de suportar ser tocada por ele nos corredores ou aceitar seus abusos quando Samantha não estava por perto. As ameaças de Sebastian pareciam ser reais. Ele não mais foi violento. Parecia temer deixar alguma marca em seu corpo e despertar o ódio do americano. Mas isso não o impedia de chamá-la à sua sala sempre que a esposa saía e exigir para si o que costumava vender aos clientes.



            - Você não deve ser gélida assim com os outros. Ou não teria nenhum cliente a desejando. Vamos potranca...mexa esses quadris como faz com Sebastian. Quero a paixão com que você o enlouqueceu. – Ele lhe disse certa tarde quando irritou-se com sua passividade.

            Aquela foi a primeira vez em dias que ela ouviu o nome de Sebastian. E mesmo com Gregory intimamente ligado ao seu corpo, não pode perder a oportunidade de saber dele.

            - Talvez eu não o tenha enlouquecido tanto. Ou não teria desaparecido. – Provocou para tentar alguma resposta.
            - Ele é um homem ocupado. O que você esperava? Um amante 24? Esqueça. Sebastian aparece e desaparece conforme deseja. Uma noite dessas aparecerá querendo ou outra. – Ele então penetrou-a com mais força, querendo machucar. – Agora faça a única coisa para que serve antes que eu perca a paciência.

            Gregory teve apenas alguns minutos para se recuperar do encontro às escondidas com Beatriz antes da chegada de Samantha. Aquilo não o irritava, ao contrária, julgava divertido. Um tipo de tempero para as saídas com a prostituta e também o relacionamento com a esposa. Samantha é que não consideraria nada interessante caso soubesse que ele transava com Bia quando desejava. Ela se sentia ameaçada pela garota imposta na boate por Gabriela. Talvez porque logo no início ele tenha cometido o erro de permitir que Samantha soubesse que Bia não é como as outras. A classe, refino e beleza de Beatriz intimidavam Samantha.             Desnecessariamente, é claro. A desejava, tinha tesão por ela, mas logo após se satisfazer nela a liberava para ir deitar-se com outro homem sem sentir nenhum remorso. Com Samantha não. Há anos quando começou a se envolver com a negra linda, esguia e com curvas nos lugares certos, Samantha também se prostituía. Ela fazia sucesso entre os homens e logo ele resolveu provar dela. Entendeu que Samantha realmente tinha algo de especial e a comprou para si. Não exatamente por amor. Simplesmente não conseguia lidar com a sensação de estar repartindo o que é seu. Desde aquele momento Samantha tornou-se sua assistente nos negócios e dona de seus desejos. Podia desejar uma ou outra ocasionalmente, mas nenhuma se comparava a Samantha. E o fato de Beatriz falar bem, ter uma bela postura e estar atraindo um ricaço, não o fazia cogitar trocar de companheira. Ainda assim, podia se beneficiar com aquele ciúme.
            Samantha sempre se orgulhou do faro apurado. Desde os tempos de prostituta de rua, conseguia sentir o cheiro da encrenca quando ela se aproximava. Isso, no entanto, não a impediu de ser sequestrada e levada para aquela boate como escrava. Assim permaneceu até Gregory chegar, há alguns anos. Desde que ele passou a chefiar o lugar, não tirou os olhos dela. Algumas transas depois e começou a ganhar alguns agrados dele. Até que usou das artimanhas que só uma mulher conhece para arrancar o que desejava de seu homem. Passou a usar os clientes para fazer ciúme. Até que Gregory caiu na armadilha e a exigiu só para si. Saiu de presa para carcereira e,apesar de lá no fundo não gostar de muito do que ali acontecia, era o melhor que podia fazer de sua vida. E não arriscaria seu posto por nada. Muito menos permitiria que outra mulher utilizasse do mesmo golpe que ela para atrair Gregory.

            - Querido...sentiu minha falta? – Disse sentando-se em seu colo e beijando-lhe o pescoço. Não demorou a notar o cheiro de suor e de sexo. Mas disfarçou perfeitamente. – O que está fazendo?
            - Contabilidade. Coisas chatas e que não devem ocupar a mente de alguém tão linda quanto você. Como foi seu dia?
            - Ótimo. Fiz aquela depilação que você gosta. – Ela tornou a beijá-lo da forma como sempre o enlouquecia. Sabia quem esteve ali e quem estava despertando o apetite sexual de Gregory. Iria se livrar dela rapidamente, sem entrar em atrito com ele. – Te espero no quarto em meia hora.
            - Não posso. – Ele respondeu, pouco interessado. Beatriz havia cessado com sua libido.



            - Não? – Aquilo irritou Samantha. – E o que pode ser mais importante do que se deliciar no meu corpo? Sabe que sou só eu quem te enlouquece, não sabe?
            - Sei...é claro. Você é o meu sol, querida. Nenhuma outra a ofusca.
            - É bom mesmo. Porque se eu desconfiar que está pensando em outra das garotas, acabo com ela no instante seguinte e ficarmos sem uma mulher na boate é sempre um prejuízo.

            Além do corpo perfeito e olhos de gata, era o raciocínio gélido que o atraía. Não se tratava de uma ameaça vazia. E não seria a primeira vez, caso ela cumprisse. Em outra oportunidade havia se interessado por uma jovem menina que surgiu ali vinda do Uruguai. Ela tinha uma pureza e sensualidade displicente que pareciam atraí-lo mesmo contra a vontade. Um dia ela amanheceu morta. E ninguém ousou dizer o que todos sabiam. Sem pronunciar nenhuma palavra Gregory recebeu aquilo como prova de amor, coragem, força e crueldade. Uma combinação que o fez ainda mais apaixonado e devotado a Samantha. Ainda assim, cuidava-se. Ao menos por enquanto precisava, e desejava, manter Beatriz viva.

            - Sem prejuízos, querida. Preciso alavancar os ganhos. E é isso que me prenderá aqui por mais uma hora. Tenho uma reunião por Skype com Gabriela. E terei de lhe apresentar alguns números não tão bons.
            - Porque? A casa continua cheia como sempre.
            - Sim. Mas eles não andam gastando como no passado. Precisaremos encontrar um meio das garotas arrancarem mais dos clientes.
            - Falarei com elas. Para pedirem mais bebidas. E talvez precisasse vir mais algumas. Bem jovens. Sabe como adoram menininhas. Só temos uma com menos de 16.
            - É. Farei uma encomenda...mas...não do Brasil. A ordem é que o grupo não faça nada por lá por enquanto. Ainda há uma investigação xeretando perto demais. – Gregory explicou. Nos negócios não tinha segredos com a mulher. O único fato que lhe escondia era Beatriz se tratar de um problema pessoal para Gabriela. E isso era uma ordem expressa da chefe.
            - E quando não há?
            - Agora é diferente. A investigadora é... especialmente persistente. E está no rastro certo. – Ele resolveu se colar. – Por isso mesmo, Gabriela diz que sem o dinheiro que vem do Brasil, aqui e nas outras boates temos de lucrar mais.
            - Talvez esteja na hora de um leilão para movimentar as coisas. – A ideia já estava há algum tempo na mente de Samantha. Era momento de colocar em prática.
            - Como assim?
            - Simples. Vários clientes têm suas favoritas. E adorariam tê-las como exclusivas. O sonho de muitos aqui é ter o próprio harém. Vamos leiloar aquelas que já não dão o mesmo lucro na noite...as com mais de 25 anos. E você encomenda umas 10 ou 15 garotas jovens para por no lugar. Não precisam ser brasileiras.
            - Eu gosto da ideia...mas aqui nós temos segurança. E se alguma fugir do novo dono? E nos delatar?
            - As deixaremos bem apavoradas antes. E, se fugir, duvido que irão se meter conosco. Vão viver escondidas ou batendo ponto em alguma esquina. Não sabem fazer outra coisa. E o ‘dono’ pode ser orientado. Avisaremos que não nos responsabilizamos por fugas e que devem manter rédea curta em sua ‘escrava particular’. Eles vão adorar isso.
            - Sim...e pagarão alto pela chance e ter algo que no fundo já não nos serve. Como sempre, querida, você é brilhante.
            - Sou. – Samantha ria por dentro. Gregory realmente não imaginava o quanto ela fora brilhante. Resolveu o problema dele e de Gabriela, mas, acima de tudo, o seu. Iria se livrar de Beatriz fazendo que com alguém a comprasse. De preferência Sebastian, que além de levá-la para longe, iria tratá-la da pior forma possível e assim ela teria seu castigo por ceder aos encantos de seu marido.

            Enquanto Elizabeth tratava das próprias tentativas para convencer seus superiores de que contar unicamente com o apoio da polícia russa seria ineficiente e que ela deveria verificar pessoalmente as denúncias apresentadas por Pedro Ferraz, Miguel fazia os próprios arranjos. Ele conhecia Moscou devido aos negócios da BTez. Seu pai considerava o mercado russo de grande importância para a companhia e há mais de 10 anos era mantido por lá um escritório que servia de base aos negócios na Europa e na Ásia.
            Miguel não tinha a mesma confiança de Elizabeth de que a Polícia Federal permitiria sua ida ao país estrangeiro. E contava com isso para ela não conseguir viajar sozinha como planejava. Alguns telefonemas aos executivos locais da BTez e ele se interou das mais recentes novidades do mercado de carros por lá e deixou alinhada uma visita para breve. Seria providenciado um local para sua estadia, com a esposa. Quando Liz tivesse negada sua autorização para conduzir a investigação por lá, sugeriria que ela solicitasse uma breve licença e conhecesse Moscou ao seu lado. Nada mais natural que Elizabeth o acompanhasse em uma viagem de negócios.
            Eles estavam se acertando aos poucos. Há uma semana Miguel vivia no apartamento e, ao contrário do que imaginou à princípio, ele não fora convidado a ocupar sua cama. Mesmo assim, sentia-se mais próximo da esposa a cada dia. Dividiam o café da manhã em paz, coisa que com Rúbia por perto era impossível. À noite, preparavam e comiam o jantar entre sorrisos e até mesmo o almoço, quando as agendas permitiam, era dividido. Nem que fosse um sanduíche rápido. Isso sempre fazia Elizabeth rir ao observá-lo morder o lanche cuidando para não sujar a gravata.

            - O que foi? – Ele perguntou olhando-a com carinho. O sorriso a deixava ainda mais bela.
            - Você não combinar com comer um lanche correndo no horário de almoço. Esse não é você. Deveria estar num restaurante elegante, cercado de empresários.
            - Pois saiba que esse aqui sou eu sim, e um ‘eu’ bem mais feliz do que de costume.



            Ao menos um beijo Elizabeth ofereceu a Miguel. Aliás, aqueles afagos vinham se repetindo com grande frequencia e ela reconhecia intimamente que não sentia mais raiva por ele. Ao deixar a própria casa e o conforto a que estava habituado para viver ao seu lado Miguel provou amá-la e colocá-la acima de qualquer outro interesse. Alejandra continuava como a pedra no sapato deles. Ela ligava, fazia chantagens emocionais, queixas e choramingos que serviam apenas para irritar Miguel. Elizabeth não negava o quanto aquilo a incomodava porque era sempre uma maneira eficaz de lembrá-la da traição. A cada aparição da rival, Elizabeth sentia a ferida se abrir e precisa reafirmar a si mesma a necessidade de conviver com ela.

            - Desculpe-me! Sei como isso te incomoda. – Miguel sempre falava.
            - Sabe qual o pior? É saber que nunca mudará. Nossos filhos serão adultos e ainda assim ela se achará no direito de fazer parte da sua vida.
            - Não. Eu não irei permitir. Agora não quero tomar nenhuma atitude drástica porque ela está grávida e tenho responsabilidades com ela. Mas depois eu colocarei freio em Alejandra. Além disso, tenho esperança de que ela retorne para a Espanha e retome sua vida. Ela é um dermatologista reconhecida lá. Não tem porque abandonar sua vida para ficar aqui, infernizando a nossa.
            - E você conseguirá ficar longe do seu filho?

            Isso mexia com Miguel. Por mais que sempre dissesse não ter por Alejandra e seu bebê o mesmo carinho e dedicação que oferecia a Elizabeth e o filho deles. Ainda assim, sentia-se responsável pela criança no ventre de Alejandra e jamais conseguiria abandoná-la. Mesmo que não conseguisse conviver com ela. A alternativa seria brigar pela guarda. Isso, porém, seria esperar que Elizabeth fosse mãe não de uma, mas de duas crianças, sendo a outra uma eterna recordação da traição do marido. Não era algo que pudesse pedir a Liz.

            - Talvez eu não tenha alternativa, Liz. Vamos dar tempo ao tempo. – Foi tudo o que ele conseguiu responder antes de voltar ao trabalho na BTez. – Vejo você a noite. Vamos jantar com Matheus e Patrícia?
            - Sim. Eles chegam às 20hs. E Miguel?
            - Sim...
            - Adorei esse almoço improvisado. – Ela queria dizer muito mais, porém, isso era tudo o que podia dizer naquele momento.

            Tempo. Não era penas Miguel a esperar que ele levasse embora coisas ruins e modificasse a vida deles. Elizabeth também contava com o passar dos dias para amadurecer a ideia de ser mãe, encontrar Beatriz, encerrar aquele caso e aceitar a ideia de conviver quase que eternamente com Alejandra. Começava a pensar que se suportar a ex de Miguel era o preço para ser feliz com ele, estaria disposta a pagar. Não sem antes deixar claro a ela que seu espaço na vida de Miguel era tão minúsculo quanto uma partícula de areia.
            Esse mesmo tempo Rúbia não parecia disposta a lhe dar. Liz não disse nada para Miguel. Mas durante aquela semana a sogra telefonou para a nora três vezes. E foi ignorada em cada uma delas. Havia um profundo ódio entre as duas Elizabeth não era o sonho de nora para Rúbia e essa era a pior das sogras aos olhos de Liz. Agora estavam ligadas por aquele bebê e, ainda assim, não manifestaram nenhuma intenção de melhorar a relação. Se Liz por um momento pensou que Rúbia objetivasse uma reconciliação, mudou de ideia quando a sogra entrou em sua sala ostentado mau comportamento e um olhos de nojo para tudo o que via. Ao corpo da nora olhou com descrença.

            - Você não pode estar grávida de quatro meses. Está reta feito uma tábua. Você está enganando meu filho. Só pode ser isso! – Ela gritou antes de fechar a porta, permitindo que as pessoas no corredor ouvisse a acusação nada profissional.

          
            Elizabeth observou a sobra pesando o que lhe era mais importante. Podia responder à altura ou engolir aquela explosão de ódio avaliando que mais importante seriam manter a paz familiar. Preferiu a primeira opção. Poderia não ser a mais doce ou promissora, mas era a mais sincera.

            - Se você soubesse a vontade que eu tento nesse momento, Rúbia, de chamar um policial e mandar lhe prender, fecharia essa porta delicadamente e se sentaria sem me irritar mais.
            - E sob qual a alegação iria me prender? Lhe gritar a verdade? – Apesar da resposta, a idosa fez o que Elizabeth ordenou e sentou-se após fechar a porta às costas.
            - Garanto que sou capaz de pensar em várias desculpas para prendê-la. Desacato é a minha favorita!
            - A postura típica dos prepotentes que lotam as delegacias desse país.
            - Eu é quem age com prepotência, está certo...diga o que deseja de uma vez! Antes que eu me arrependa!
            - Quero saber se está realmente grávida e se é meu neto.
            - Realmente não é da sua conta! E se respondo é porque tenho boa vontade além do que você merece! O filho que espero, apesar de estar magra ‘feito uma tábua’, é de Miguel. O lhe faz seu neto. Questão respondida. Então já pode deixar minha sala.

            Rúbia não estava convencida. Considerava aquilo azar demais. Principalmente quando Miguel seria pai da criança gestada por Alejandra. E a incomodava também o fato da gestação de Elizabeth estar mais avançada. Afinal, o primogênito deveria ser o filho de Alejandra, uma mulher digna de ser a mãe de seu neto. Ainda assim, caso fosse verdade, seria obrigada a aceitar uma relação mais estável com Elizabeth. Sendo seu neto, pensava, seria responsabilidade dela ensiná-lo coisas que alguém Elizabeth não tinha condições.

            - Não sei o que meu filho vê em você. Não tem nada que explique essa atração. Nem classe, nem educação, nem elegância....nada. E quando pensei ver-me livre de você, anuncia uma gravidez. Foi um momento muito propício para decidir procriar, Elizabeth, mesmo indo contra ao que você dizia entender como correto para uma mulher moderna e com carreira!
            - Destile todo o veneno que desejar Rúbia. Simplesmente não me atinge. Por mais que me odeie, é no meu apartamento que o seu filho escolheu viver. E esse bebê aqui será o seu primeiro neto, goste ou não. Agora saia ou eu mando lhe prender. Não estou brincando. – Lá no fundo aquelas ofensas a feriam. Principalmente por acreditar em cada uma. Alejandra realmente a superava em elegância, beleza e classe. Educação não. Ao menos na educação que ela considerava correta e ia além de regras de etiqueta. – Não preciso que goste de mim. Mas saiba que resolvi lutar pelo meu casamento. E Alejandra deve se contentar em ter conseguido uma noite e um filho de Miguel. Não terá mais nada. Porque ele é meu, vocês gostando ou não, ele é meu marido. E assim continuará!
            - Ele solicitará exame de paternidade, já lhe aviso. – Rúbia disse ao sair. – Espero que tenha certeza de que é de Miguel.
            - Saia daqui! – Liz gritou e viu a porta se fechar. Teria de tirar a limpo aquela história de DNA. Obviamente não se negaria a fazer o exame, mas não gostou nada de ouvir a sugestão vindo da sobra.

            Após uma anotação mental de que aquele assunto deveria ser discutido ainda naquela noite antes ou depois do jantar com Matt e Patrícia, Elizabeth voltou ao trabalho. Tinha muito o que fazer na Polícia Federal. Atualmente estava trabalhando para reunir elementos que comprovassem a veracidade da delação de Pedro Ferraz enquanto ele seguia preso, aguardando a concretização do acordo. Para ele entrar em vigor, tudo o que disse teria de ser provado. Só então ela conseguiria continuar com a investigação e ir para a Rússia procurar por Beatriz. Isso explicava a fúria e dedicação com que seguia investigando, sem se importar com o cansaço.

            Sem sequer desconfiar do quanto Elizabeth estava perto de resgatá-la, Beatriz descobria que a Rússia podia ser ainda pior do que pensava. Principalmente quando se irritava Samantha. A mulher de Gregory a observava a todo o momento. E era muito mais rigorosa com ela do que com as demais garotas. Desconfiava do interesse de Gregory, isso estava claro. Isso Beatriz, como mulher, conseguia entender. O difícil era tentar adivinhar o que ela estava esperando conseguir com aquele comportamento. Ao invés de cuidar das atitudes de seu homem, Samantha dedicava-se a dificultar a vida de Beatriz. E estava conseguindo.
            Sua mais recente atitude foi colocá-la para trabalhar na rua. As calçadas eram lugares onde normalmente as garotas sem clientes ricos ou fixos eram colocadas. Rendiam pouco dinheiro e eram de grande risco. As roupas usadas eram mais vulgares e o comportamento também. Ao contrário de Sebastian que valorizada a elegância e discrição, os homens a quem desejavam que se oferecesse pareciam desejar alguém que não se valorizasse ou realmente não tivesse valor algum. Beatriz julgava não ser possível se sentir mais humilhada. Mas quando se viu pronta para sair, usando um vestido vermelho e longas botas, pensou ter chegado ao fundo do poço.



            - É, parece que você realmente despertou o ódio dela. – Naomi disse ou vê-la. A roupa não deixava dúvidas de qual era o destino.
            - Não enche o saco! – Pela primeira vez Beatriz perdeu o controle com a oriental cujas emoções eram difíceis de entender.
            - Calma...não é a mim que sua raiva quer atingir.
            - Não estou com paciência para os seus olhares. Quero entender, Naomi, porque você parece ter o prazer de vir falar comigo unicamente para trazer recados ruins ou me espezinhar. Porque?
            - Não te odeio, Beatriz. Mas claramente alguém aqui sim. Eu apenas observo. Desculpe se meus olhares te incomodam. É apenas a minha forma de sofrer...também não queria estar presa aqui.
            - É fácil perceber.
            - Cuidado com Samantha. Você tem clientes. Não é normal te mandarem para rua assim. Ela teme que você lhe roube Gregory e isso a descontrola. Fique de olhos abertos.

            Não foi um grande conselho. Beatriz já tinha deduzido aquilo sozinha. Ainda assim, era melhor ter Naomi próxima de si. Ela realmente era uma mulher observadora. Devia saber de muito ali porque passa desapercebida de muitos.
            Beatriz deixou o assunto de lado e seguiu para a rua, cumprir sua missão. Ou se castigo, conforme o ponto de vista. Sabendo que ela e as outras eram observadas à distância por seguranças, fez da calçada seu ambiente de trabalho. De dia o frio de Moscou fora substituído por uma temperatura amena. O vento incomodava pela roupa que expunha o corpo, mas caminhando conseguia suportar bem. Pior eram os olhares. As famílias que passavam de carro evitavam olhá-la. Representava algo feio a que simplesmente ignoravam. Já os homens sozinhos a cobiçavam. Poucos realmente manifestavam algum interesse.
            Ficou ali, flertando com um e com outro. Se oferecendo sem saber se aquele possível cliente era ou não um risco. Ainda assim, mantinha um falso sorriso no rosto e a postura erguida do peito. Sobreviveria a mais aquela humilhação e encontraria um forma de desviar do ciúme feroz e rastejante de Samantha.
            Um homem de baixa estatura e cintura roliça aproximou-se com uma expressão que beirava a timidez. Beatriz simpatizou com ele. Tinha cara de homem inofensivo. Do tipo que havia brigado com a esposa e que na hora do jantar já estaria arrependido da traição e chegaria em casa com um ramalhete de flores e um pedido sincero de perdão. Sim, serviria para encerrar aquela tarde da maneira menos desagradável possível.
            Na primeira vez que tentou falar com ela, o homem disse algo em russo, incompreensível a Beatriz. Depois repetiu em inglês e enfim pôde compreender que ele lhe fez um elogio.

            - É muito bonita, jovem. – Algo muito simples, mas que fez bem a alguém quase desacostumado a gentilezas.
            - Me quer? – Foi sua resposta objetiva.

            Ele a queria. Estava em seus olhos cheios de cobiça. E teria levado-a para algum hotel próximo com o objetivo de ter sexo rápido e sem compromisso. Teria, caso alguns passos firmes não tivessem feito o homem se distrair.



            Quando olhou para trás Beatriz viu Sebastian se aproximar calmamente e com um olhar ameaçador. Estavam a apenas duas quadras da boate, numa área onde prostitutas de rua não eram nada surpreendente. O estranho era vê-lo ali. Um pouco mais atrás Bia avistou o segurança Francisco. É claro, aquela área não era muito segura. E só o fato dele ter decido do carro representava algo inseguro ao profissional.

            - Entre no carro, Beatriz. Agora. – Ele ordenou.
            - Não posso. Estou...trabalhando. – O cliente a quem sequer sabia como se chamava permanecia calado. Provavelmente se sentindo intimidado por  Sebastian.
            - Estou vendo. Mas entre no carro agora. Seu...ele...pode encontrar outra.
            - Mas... – Beatriz olhou em direção ao segurança que observava tudo do outro lado da rua, ao telefone, provavelmente informando Gregory do que ocorria.



            - Agora! – Sebastian gritou. – Eu já avisei a ele que você tinha conquistado um cliente.

            Do carro Beatriz viu Sebastian conversar rapidamente com o homem com quem deveria estar e dispensá-lo rapidamente. Quando ficou sozinho o segurança da boate se aproximou e eles pareceram discutir, mas Bia não conseguia ouvir o que diziam. Ao que parecia, Gregory não gostou da mudança de planos. Ainda assim, Sebastian deu-lhe as costas e caminhou lentamente para o carro. E, mais uma vez, Beatriz surpreendeu-se com a frieza daquele homem. Ele acabara de fechar um negócio. O seu aluguel por aquela tarde. Entrou no carro, beijou sua mão como se ela não estivesse vulgarmente se oferecendo na calçada instantes antes e fosse uma dama.


            - É bom tê-la aqui. – Disse simplesmente. – Para o hotel, Francisco. Por favor.