sábado, 25 de abril de 2015

Alguém Para Amar - Capítulo 3


            Era sábado 11hs da manhã e o restaurante estava preparando-se para receber os clientes. Emily e sua equipe trabalhavam arduamente para manter tudo à perfeição, dos ingredientes a oferta impecável das mesas. Ela sentia os aromas das ervas e tratava cada etapa da receita com carinho. Cozinhar era respeitar o tempo de cada ingrediente e combinar os sentidos. Não era apenas o paladar. Visão, olfato, tato...estava tudo lá.


            - Emily, teremos casa cheia. Novamente. Se continuar assim, você terá de mudar para um local maior, querida. O salão não comporta mais a quantidade de pessoas que deseja provar do seu tempero. – Márcio, maitre do restaurante, entrou, sorridente, na cozinha.
            - Me alega saber, Márcio. E para o jantar?
            - Estamos com 90% das mesas reservadas.
            - Ótimo. Eu tenho um compromisso às 15hs, mas volto a tempo de coordenar o jantar. Qualquer problema enquanto eu estiver fora, você me liga.
            - É claro, minha bela. – Márcio não era apenas funcionário de Emily, era amigo e confidente. E sabia exatamente qual era seu compromisso e as questões que estavam tirando a atenção de sua empregadora.

            Há exatos sete dias não via Jonas. Nem falava com ele. Mas assim como jamais se esquecia do sabor ou do perfume de um alimento, tinha as características de Jonas Vicentin muito firmes na memória. E tinha tomado uma decisão importante. Queria aquelas características em seu futuro filho. Mesmo que precisasse esperar algum tempo e passar por um difícil e longo tratamento de fertilidade. Depois de muito pensar e adiar a decisão, seu corpo havia informado que chegara hora de ser mãe.

            - Então você resolveu aceitar minha sugestão e fazer uso de um banco de sêmen? – Leonor sorriu ao ouvir a paciente manifestar curiosidade e interesse no tratamento sugerido na consulta anterior.
            - Não. Sem banco de sêmen. Eu tenho meu doador.
            - Ótimo! Resolveu falar com Jonas.
            - Também não, Leonor.
            - Então eu não entendi, Emily. O que pretende fazer?
            - Será simples. Farei o tratamento que for necessário e, quando chegar a hora Jonas vai doar seu esperma...sem saber. Simples e indolor. Ele não quer um bebê. Eu não preciso de um homem para me ajudar a criar o meu filho.

            A médica então explicou à paciente que não era tão simples assim. Envolvia um tratamento hormonal para induzir a ovulação. O acompanhamento do ciclo de forma permanente. Coleta do esperma do doador. E, por fim, a inseminação. Sendo que raramente era na primeira tentativa que conseguiam gerar uma criança. O tratamento seria longo e desgastante e, levando em consideração o estágio avançado da endometriose, somente a inseminação artificial poderia oferecer melhores chances de concepção.

            - Vamos iniciar os procedimentos. Depois, quando chegar a hora da inseminação, eu lidarei com o problema da coleta do esperma. – Emily respondeu. Não fazia ideia de como faria. Eles sequer usavam preservativos. Seria impossível roubar um e usar como amostra. Mas encontraria um meio. – E se eu fizesse a raspagem? Com minhas trompas desobstruídas, não seria possível engravidar naturalmente?
            - Sim, seria. – A médica não acreditava que Emily iria realmente agir assim. – Com estímulo hormonal e a raspagem, você pode engravidar naturalmente. Mas estamos falando de uma cirurgia seguida de injeções hormonais diárias na barriga!
            - Eu estou disposta a tentar.
            - Ótimo. Então vamos começar com uma nova bateria de exames.

            Nas semanas seguintes Emily fez todos os exames pré-operatórios indicados antes da raspagem do útero. E tinha recebido boas notícias da médica. Ela tinha ovulação considerada saudável. Poderia engravidar facilmente por inseminação artificial e tinha chances, mais raras devido ao a endometriose ter atingido suas trompas, de conceber naturalmente.

            - Se você e o pai do bebê tiverem paciência para aguardar alguns meses, pode ser natural.
            - Não. Já tenho 37 anos. Sem paciência. Vamos fazer a raspagem para melhorar minha qualidade de vida e depois já começo o tratamento hormonal. Farei a inseminação artificial o quanto antes.
            - Se você prefere assim. – A médica preocupava-se com a forma como Emily estava lidando com aquilo. – Já conhece o procedimento. Você irá se internar pela manhã na clínica, passará pelos procedimentos com o anestesista, eu farei a raspagem no seu útero e trompas e você ficará em observação por seis horas. Depois pode ir para casa.
            - Precisa mesmo do repouso de três dias?
            - Depende de como você se sentirá. Não precisa ficar na cama, mas passar horas em pé cozinhando está fora de cogitação. Deve manter-se em casa, calma e sossegada. E se tiver qualquer sangramento, retorne ao hospital.
            - Está bem. Deixe pré-agendado para a próxima segunda-feira.


            Naquela noite, sem nada saber sobre os planos de Emilly, Jonas recolheu-se ao seu quarto logo após o jantar. Já estava há três semanas no Rio Grande do Sul e na segunda-feira retornaria a São Paulo para dedicar-se a construtora e também fechar mais um contrato de comercialização da vinícola. Estava ansioso para voltar. E por mais que negasse até a si mesmo, a culpada dessa ansiedade era Emily. Pela primeira vez em todos esses anos ligou para ela da fazenda.



            - Oi. É estranho receber essa ligação. Algum problema?
            - Não, nenhum. – Ele também reconhecia o quão estranho era. – Estou atrapalhando?
            - Não. Cheguei do restaurante e estou bebendo uma caneca de chá antes de dormir.
            - Chá? Acabou o estoque de vinho? Vou te levar mais algumas garrafas.
            - Isso eu jamais recuso. Ainda mais de você. – Mas Emily sabia não poder beber.
            - Sua voz está diferente...mais feliz. Recebeu alguma boa notícia?
            - É, estou feliz sim. – E por um momento surpreendeu-se por Jonas conseguir perceber isso de tão longe. – Você não faz o tipo que liga para dar boa noite. O que deseja, Jonas?
            - Você. – Simples assim. – Volto pra São Paulo na segunda-feira e quero passar a noite com você. Eu levo o vinho.

            Ela queria, muito. Mas estaria ainda grogue com a cirurgia e passaria uma semana sem poder ter relações sexuais. Teria de fingir outra longa viagem e mentir para Jonas.

            - Sinto muito, Jonas. Mas nossas agendas estão incompatíveis. Vou a Paris na segunda-feira pela manhã e retorno apenas na outra semana. Farei um curso por lá.
            - Outro? Ainda há o que você não saiba cozinhar? – Havia decepção em sua voz.
            - Sim. Sempre há o que aprender.

            Jonas reconheceu naquele momento que não desejava ficar mais uma semana sem tê-la em seus braços. Cogitou voltar hoje mesmo para São Paulo e ficar com ela antes de sua viajem. Mas então teve uma ideia.

            - Eu te contei que a fazenda está aberta para visitação? Muitas pessoas têm curiosidade de como o vinho é feito, sua história e seus diferentes tipos. E receitas. Muitas receitas fantásticas. Porque não vem passar o final de semana aqui, Emily?
            - Ficar...aí? Aí em Bento Gonçalves? Com você?
            - Sim. Muitos chefes de cozinha vêm. – Ele queria deixar claro que não era um convite pessoal. Estava falhando terrivelmente na tarefa. – Como você disse, sempre há o que aprender.


            Emily não resistiu ao convite. Como poderia? Então alongou sua licença do restaurante e deixou sua chefe assistente responsável por tudo. Ela e Márcio tocariam os negócios enquanto ela aproveitaria dois dias nos braços de Jonas, num lugar que era brasileiro, mas parecia um pedacinho da Itália. No sábado pela manhã ela desembarcou no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e Jonas a buscou para subirem a Serra Gaúcha de carro.

            - Fico feliz que tenha aceito o meu convite. – Ele disse após beijá-la.
            - Eu não dispensaria uma bela mesa italiana. – Em outras palavras, não estava ali por ele. – Sua família sabe sobre mim?
            - Não e nem precisa saber. Diremos que somos amigos e eles não irão enchê-la de perguntas. Eu os avisei para respeitar minha privacidade. Você terá dois dias muito agradáveis, Emily.

            A família de Jonas podia não saber do relacionamento dele com Emily, mas isso não os impedia de imaginar que em São Paulo ele tinha uma companheira ou, ao menos, algumas namoradas no decorrer do tempo. Jonas é um homem jovem, bonito, educado e com vida financeira estável. Podia ser considerado um ‘bom partido’. Porque as mulheres não o desejariam? Se estava só, deveria haver um motivo. Quando Giovanna perguntou ao filho se não desejava ser amado por uma companheira, ele respondeu apenas que tinha tudo que necessitava na vida.

            - Há alguém no coração dele. Eu sinto. – Ela confidenciou ao marido numa noite.
            - Deixe Jonas em paz, Giovanna. Ele aprecia sua vida como ela é. Já basta mamãe pressionando nossos filhos por bisnetos. Deixe-os construir as próprias famílias quando desejarem.
            - Eu sei. Não irei pressioná-lo, Leonel. Mas sinto que meu Jonas já não está sozinho...ele está diferente. Mãe sente essas coisas.

            Mas o tempo passou e Jonas jamais contou do estranho acordo mantido com Emily. Agora ela passava pelas porteiras da fazenda e todos os Vicentin estranhavam. Até mesmo os empregados não entenderam bem porque um dos patrões foi pessoalmente à Capital buscar uma convidada. Quando viram-no abrir a porta do carro para a bela e elegante loura descer, todos perceberam que ela não era apenas mais uma chefe de cozinha interessada em aprender a história do vinho e as receitas típicas da família.

            - Buongiorno. Sou Milena, irmã de Jonas. Sou eu quem recebe e acompanha os visitantes. Muito prazer.



            - Bom dia, Milena. Sou Emily. Agradeço a hospitalidade de vocês. Estou achando tudo lindo até aqui.
            - Seja bem vinda, Emily. – Giovanna disse enquanto analisava a postura corporal de seu filho. Ele estava ao lado da mulher loira e arrumada demais para uma fazenda. – Espero que tenha trazido sapatos de salto baixo. Vai precisar. Sou mãe de Jonas. E você é o que de meu filho?



            - A, sim...eu trouxe sapatilhas. Comprei especialmente para isso! Costumo usar salto alto sempre. – Toda essa explicação era para ganhar tempo. Não sabia o que responder sobre Jonas.
            - Emily tem um restaurante e serve nossos vinhos, mãe. Além disso, é minha amiga. Agora vamos deixá-la descansar.
            - Sim, claro. – Por que ele estava tão tenso quanto a falar da moça? – Não tempos mais nenhum visitante no momento então Emily terá o alojamento só para si. Está pronto e...
            - Não! – Jonas interrompeu. – Ela ficará na casa conosco. No quarto de hospedes ao lado do meu. Venha, Emily. Eu mostro o caminho.

            Milena e a mãe trocaram olhares e piscadinhas. Não precisavam de mais nenhuma confirmação. Emily era importante para Jonas. Ainda não sabia exatamente porque eles não se assumiam, mas o amor estava nos olhos dele.

            Emily trocou-se e logo saiu para visitar os parreirais. Pareciam infinitos e conforme Lorenzo lhe explicou abrigam diferentes tipos de uva. Delas era fabricado o vinho branco, tinto, espumantes e uma pequena parte transformava-se em suco de uva. O negócio era completamente familiar, mas muito organizado e com o passar do tempo foi se modernizando.

            - Hoje temos o que há de mais moderno em equipamentos. Mas os cuidados com a lavoura são muito manuais e papai cuida dos frutos como no tempo dos nossos avôs. Prove a uva, Emily. Sinta o sabor.


            - É deliciosa. – Doce, mais doce do que ela esperava.
            - Nosso negócio pode ter se modernizado muito, mas ainda dependemos da terra exatamente como há séculos atrás. E da chuva na hora certa. Deus foi generoso esse ano e nos deu uma bela safra. Já podemos afirmar com certeza que os vinhos originados dessas frutas terão qualidade.
            - Quanto tempo leva até que esteja pronto ao consumo?
            - Bastante. Depois de todo o processo da colheita, seleção dos frutos e fermentação, ainda há o envelhecimento. O mínimo é seis meses, mas há lotes que ficam mais. Jonas vai lhe mostrar essa parte. Ele adora aquele local.



            Na hora do almoço Emily se deparou com um banquete tipicamente italiano. Da sopa de capeletti até a macarronada, tudo estava ali. Ela encantou-se com o perfume das ervas e temperos, além da variedade de pratos. Seria impossível provar tudo.

            - É manjericão, certo? – Ela sentia o aroma no molho delicioso.
            - Sim. – Giovanna. – Ana, nossa cozinheira, pode lhe passar as receitas. Prove os nhoques no molho de queijo e a lasanha à bolonhesa. É maravilhosa.
            - o Tortei de abóbora é divino. Tenho certeza de que desejará colocar no cardápio do seu restaurante. – Milena disse.
            - Os clientes de Emily gostam de pratos mais chiques, Milena, elaborados. A culinária francesa é o carro chefe de Emily. – Jonas disse um tanto mal humorado. Trouxe Emily de São Paulo e pouco teve de sua companhia.
            - Nós não gostamos dessas frescuras. Aqui a comida é como deve ser: com gosto e fartura. Forte para alimentar um homem que vai a sua lavoura. – Vovó Ângela falou.
            - Por favor, mamãe. Assim Emily se sentirá ofendida. Tenho certeza de que oferece pratos maravilhosos em seu restaurante.
            - Não me ofende, Sr. Vicentin. – Ela gostou da avó de Jonas. Lembrava-a de Marta.
            - Por favor, me chame de Leonel.
            - Leonel, então. Na verdade o cardápio do restaurante é de comida internacional, no geral. Fazemos noites francesas, alemãs, gregas, italianas também e tipicamente almoços tipicamente brasileiros.
            - Que ótimo! Deve servir esses pratos na noite italiana então! – Giovanna disse.
            - Algumas coisas sim. Mas nada com esse sabor! Estou me sentindo na Itália!
            - Essa região pode ser chamada de um pedacinho da Itália.



            - Mas nos conte mais sobre você, Emily. É casada? – Vovô Francesco, que manteve-se calado por bastante tempo, não resistiu em perguntar. – Eu achei que namorava Jonas, mas meu neto disse que não então...
            - Não, sou solteira.
            - Não sei o que há com esses jovens! – Ângela voltou ao seu assunto favorito. – Não querem mais casar, ter filhos, constituir família! Agora é só trabalho. Pensam que não chegarão à nossa idade, meu velho.
            - Não ligue, Emily. – Giovanna estava se divertindo, em especial por observar a forma como seu filho mais novo não tirava os olhos da convidada. – Minha sogra está em campanha por alguns bisnetinhos. Eu também adoraria algumas crianças por aqui, mas meus filhos não parecem ter pressa para isso. Você também não quis ser mãe cedo?
            - É...o trabalho sempre esteve em primeiro lugar.
            - Isso por que eu pedi para evitarem interrogatórios. – Jonas reclamou. – Vovó, aceite a ideia de que não lhe darei bisnetos. É simples.

            Todos à mesa encararam Jonas. Ele não costuma ser tão duro com seus avós. E nem tão mal humorado. Cada um imaginou um motivo para aquela reação exagerada, mas ninguém além de Emily podia imaginar que aquela frase estava muito próximo de tornar-se mentirosa. Jonas daria sim bisneto aquele simpático casal. E, pela primeira vez, Emily pensava se era justo negar ao seu bebê momentos em família como aquele. Ela não tinha pais, avós e irmãos, Jonas sim. E aquele pedacinho da Itália também seria o lar de seu filho. Talvez, quando o bebê nascesse, pudesse contar a Jonas. Iria pensar nessa hipótese.
            O humor de Jonas só piorou durante a tarde porque sua mãe levou Emily para a cozinha. Elas passaram horas entre a preparação de macarrão caseiro e molhos especiais. Pareceu bem divertido, pelas risadas que ele ouvia, mas estava longe de ser esse o seu objetivo ao convidá-la para vir até o Rio Grande do Sul. Desejava Emily em seus braços, não esticando massa na mesa da cozinha.
            Somente quando já era noite e a escuridão tomou conta do campo todos se retiraram até seus dormitórios. Emily estava lendo tranquilamente quando sua porta se abriu. Ela sequer precisou erguer os olhos do livro para saber quem era. O cheiro de Jonas já estava impregnado no lugar.

            - Pensei que você fosse passar a noite usando o rolo de abrir macarrão. – Ele a criticou. – Podíamos ter ido ao campo, só nós dois, fazer coisas bem mais interessantes.
            - Você me convidou para conhecer a fazenda e a culinária típica, Jonas. Não para alegrar sua cama. Amanhã Ana me ensinará a fazer o gellato tradicional. Estou ansiosa!
            - Ansiosa, é? Só pelo gellato?

            Depois de quase um mês separados, Jonas e Emily passaram aquela noite juntos. Foi tão prazeroso quanto sempre. Ele a brindava com carinhos lentos e delicados. Agora Emily entendia de onde vinha toda aquela calma e paciência.

            - É como fabricar vinho. O prazer está em esperar, em aguardar pelo sabor mais fantástico. – Ele lhe explicou.

            Depois do prazer Emily deitou-se sobre o peito do amante e deliciou-se beijando todo seu tórax. Ele era lindo, beirava a perfeição. Os músculos bem torneados, mas não exagerados, a pele sem nenhuma mancha, o cabelo macio e mãos firmes a pegá-la e segurá-la junto de si. Jonas era o parceiro que toda mulher desejava, na cama ao menos.

            - Quer dizer que sua avó deseja bisnetinhos? – Ela puxou o assunto e viu-o esfriar alguns graus. Estava acabada a noite de paixão.
            - Sim. Pode acreditar nisso?
            - É natural que ela sonhe com isso. Você não acha?
            - Não, não acho. Não é porque nossos ancestrais se reproduziam sem nenhuma regra que nós faremos assim. Minha vida é ótima sem fraldas, mamadeiras e musiquinhas infantis. Isso não é pra mim, Emily. Nem pra você, aliás.
            - É, você tem razão. – No que não a atingia, pelo menos. Jonas deixou claro como receberia a notícia da paternidade.

            Depois de passarem o domingo juntos e mostrar a Emily todo o processo de fabricação e envelhecimento das bebidas, Jonas preparou seu carro com as malas. Lorenzo iria levá-los até o aeroporto para trazer o carro depois. Emily despediu-se de todos com carinho. Em especial de vovó Ângela.

            - Trabalhe menos, menina. E abra espaço na sua vida para coisas mais importantes do que dinheiro. – A velha senhora lhe disse ao beijar-lhe as faces.

            Foi um voo agradável e sem turbulências. Quando chegaram a São Paulo despediram-se num último abraço. Cada um pegaria um táxi para sua casa e não se veriam pela próxima semana. Tinha de ser assim.

            - Que hora é o seu voo para Paris?
            - Às 9hs. – Emily mentiu. – Eu ligo quando estiver de volta.
            - Liga sim. Tchau Emily. E boa viagem amanhã.

            Havia certa tristeza naquela despedida e Jonas perguntava-se porque não conseguia encarar aquela partida como tantas outras. A vida deles era assim, corrida. Não podia exigir de Emily o que não estava disposto a oferecer. Eles eram felizes daquela forma.



Quando chegou ao prédio, Jonas cumprimentou o porteiro e pegou uma pilha de correspondências. Ao finalmente chegar ao seu apartamento a primeira coisa que fez foi ligar a cafeteira. Depois tomou banho, desfez a mala e sentou-se à frente da televisão procurando algum jogo de futebol ou seriado para assistir. Logo estava verificando seus e-mails e recados no telefone. Um alerta em seu Whatsapp chamou a atenção. Era de Bruno Gutiérrez.

                                                                     [Está pronto o seu relatório.
                                                                      Ache um lugar em sua agenda
                                                                      para nos encontrarmos.]

Ele conferiu rapidamente sua agenda. Após tantas semanas fora, está lotada de compromissos. Mas ele desejava saber aquelas respostas.

[Amanhã 20hs. Aqui no meu apartamento.]


domingo, 19 de abril de 2015

Vidas Ocultas - Capítulo 22


            Elizabeth dedicou-se à exaustão na análise dos arquivos encontrados no esconderijo da quadrilha. Levaria muito tempo até catalogar tudo aquilo. Mas era um começo. O dia seguiu com ela não tendo muito tempo para dedicar à própria vida. O que não a impedia de pensar em Miguel em cada segundo do dia. Ela até pretendia ir almoçar com ele, porém não conseguiu. Teve de cancelar após ser avisada de que um corpo fora encontrado com dos tiros num apartamento do subúrbio. Havia suspeita de se tratar de Caleb.

            - Meu almoço será bem indigesto. – Ela pensava ao sair para verificar o local do assassinato.

            Quando chegou lá, não teve dúvidas. Era sim Caleb. E tratava-se de uma queima de arquivo bem eficaz. Caleb levou para o inferno algumas informações importantes. Ela e Miguel viam-se livres definitivamente de suas chantagens, porém, a quadrilha se protegia. Havia alguém muito forte por trás daquilo tudo. Mas quem?

            - Envie o corpo ao IML. Duvido muito que alguém vá requisitar. O mais provável é que termine numa vala comum. – Disse enquanto colocava luvas e verificava o apartamento. Viu garrafas de bebida e um pó sobre a mesa. Cocaína, provavelmente. – Quero que agilizem a perícia. Se essa droga não foi consumida por ele, quero descobrir quem esteve aqui.

            O corpo foi retirado e Elizabeth continuou no apartamento. Mas não encontrou muita coisa. O lugar era, obviamente, apenas um esconderijo. Havia coisas pessoais. Quatro celulares e um notebook seriam periciados. Mas não espera descobrir muito. Enquanto mexia em suas coisas, Elizabeth tentava entender porque Caleb fora morto. Havia ao menos três hipóteses claras.


            - Atentados frustrados contra mim. Preso numa chantagem pra lá de fajuta. E exposto numa reportagem de capa no jornal. Quais outros erros irritaram seus colegas, Caleb? – Ela queria muito descobrir isso. – Isso foi um ‘cala boca’.
            - Investigadora! Veja isso. – Ou policial lhe estendeu um jornal. A imagem de Caleb estampada na capa.
            - Nosso assassino veio aqui bem informado. Apresse a perícia. Quero saber das impressões digitais e o calibre da arma. Vocês podem ir. Farei eu mesma o restante da varredura aqui. – Não era em vão. Tinha medo de algum policial encontrar as fotos com as quais Caleb chantageava Miguel. Ela as tiraria da cena do crime. Era errado, mas necessário.
            - Sim, senhora. – O jovem policial respondeu.

            Naquele momento, Miguel agradecia o fato de Liz ter cancelado o almoço. Caso tivesse vindo à BTez, teria pego Alejandra em seu escritório. E não por sua vontade. Ao entrar em sua sala após uma reunião, a secretária lhe informou que a ex entrou sem ser autorizada e ainda gritou com a equipe.

            - Miguel, finalmente! Eu espero você já faz quase meia hora! Você não almoça mais não? – Ela teve a ousadia de ainda reclamar ao vê-lo.




            - Quem te autorizou a entrar aqui, Alejandra? Nunca mais faça isso! Eu não combinei nenhuma reunião com você.
            - Não mesmo, querido. Até porque somos íntimos demais para agendarmos reuniões.
            - Fomos, não somos mais. Qual é o seu problema!?!?! Estamos separados há anos!
            - Preciso lembrá-lo do que aconteceu no início dessa semana, Miguel? De todo o prazer que tivemos juntos? Eu lembrei, Miguel, de como era bom quando éramos felizes. De como é gostoso ter você dentro de mim.



            - Então trate de esquecer novamente. Porque na minha memória só há lembranças das nossas brigas infernais. Eu não estou te reconhecendo, Alejandra! Você esteve no meu casamento, droga! – Mas ele era obrigado a reconhecer ter errado muito ao ir para cama com a ex. – Me desculpe pelo que eu possa ter dado a entender naquela noite. Eu amo a minha mulher, Ale. E não há chance alguma de eu deixá-la para reatar algo com você. Isso nunca passou pela minha cabeça.
            - Nem pela minha, Miguel. – Por dentro Alejandra ria da expressão confusa dele. – Você é um péssimo marido. Não me leve a mal, mas essa é a verdade. Em compensação, é um amante fabuloso. Sabe dar prazer para uma mulher, mas não consegue respeitá-la como esposa.
            - O que você está sugerindo, Alejandra?
            - Eu já estive no lado ruim. Fui a esposa traída e humilhada. Sabia que você tinha outras na rua e engolia o desaforo para não assumir publicamente a vergonha. Até que a sua traição virou capa de revista. Eu me divorciei e fui me esconder em Madri.
            - Você sempre amou a Espanha. Sua vida é lá, na sua clínica e com a sua família.
            - Não! Minha vida tornou-se o Brasil no dia em que me casei com você! Eu voltei para lá por vergonha da humilhação que você me fez passar. E se pensa que uma indenização milionária apagou a vergonha, está enganado!
            - Eu peço desculpas. Errei com você, Ale. Deveria ter pedido o divórcio assim que nosso casamento se mostrou falido. Mas eu era muito jovem e achava que na rua, com outras mulheres, resolvia o problema. Eu não tenho como voltar no tempo. Hoje sou outro homem. Meu casamento com Elizabeth é completamente diferente.
            - Não, Miguel. Você é o mesmo. Procura na rua o que não tem em casa. E por isso terminou aquela noite nos meus braços. Eu não quero você como marido...quero ser sua amante. Um acordo bom para os dois. Você sabe que não é homem deu uma só mulher, Miguel. Você precisa de mais.

            Ele não sabia se sentia pena, raiva ou desprezo por Alejandra. Ela sim estava se humilhando terrivelmente. Nunca pensou se tratar de uma mulher tão carente. E aquilo o fazia valorizar Elizabeth ainda mais.

            - Eu não pretendo ter amantes, Alejandra. E você estaria fora de cogitação, se fosse esse o caso. Então saia do meu escritório antes que eu chame os seguranças. E suma da minha vida!

            Três semanas de intenso trabalho policial se seguiram. Elizabeth encontrou e deletou as fotos íntimas dela e de Miguel. Com isso, alterou provas do processo criminal. Mas, levando em consideração que o bandido já estava morto, não fazia sentido mantê-la. A perícia apresentou resultados imprecisos e isso a irritou além do normal. Precisava de uma única pista que a levasse até os assassinos de Caleb. Aquele fio a levaria até o líder da quadrilha.
            Foram dias de muito estresse. Só nos momentos com o marido e os amigos conseguia relaxar.  Nesse momento, viviam um raro encontro triplo. Não era comum terem todos uma noite livre. Ainda mais agora que Beatriz tornou-se uma jornalista conhecida do público e vinha sendo requisitada pelo jornal em matérias bem mais importantes. Aquele encontro tinha ainda uma outra razão. Elizabeth e Patrícia organizaram tudo para reaproximar Bia de Will. Eles faziam um belo casal. E após uma grave discussão vinham ensaiando uma reconciliação. Mas ela demorava a aparecer. Jantar, vinho, risadas, carinhos e ao fim só os dois ficariam na mesa.

            - Bia fez um grande trabalho. Depois da reportagem e da morte de Caleb, ela cobriu toda a investigação. O jornal apresentou matérias muito legais. – Matheus elogiou.
            - Quando Liz destruir essa quadrilha farei uma grande matéria. Será manchete!
            - Isso ainda levará muito tempo, minha irmã. Infelizmente não consegui encontrar o fio que leva até o líder. – Liz lamentou.
            - Ainda! – Miguel tentou animá-la. – Conhecendo sua competência, tenho certeza de que conseguirá! E então Bia terá sua manchete!

            Willian observava calado e não conseguia entender toda aquela empolgação. Essa era a profissão de Elizabeth. Prender bandidos deveria sim animá-la. Mas, por isso, ela tinha treinamento policial, sabia atirar, usava colete à prova de balas nas ações e, acima de tudo, era capaz de perceber o momento certo de parar. Primava pela sua segurança. Bia não. Ela não tinha freio. E foi isso a por fim no namoro deles. Mesmo que ainda a amasse acima de tudo. Queria vê-la em segurança. E se ela não fosse achá-lo um homem das cavernas e rechaçar a ideia, a pediria em casamento e diria para ser apenas dona de casa e mãe de Eva em tempo integral. Mas sabia a resposta. Beatriz não abandonaria o jornalismo. Deixou isso bem claro ao preferir a matéria ao namoro deles.

            - Bom, eu e Matt temos um encontro com o nosso cobertor. Então boa noite. – Paty disse logo depois de recusar a sobremesa.
            - Acho que eu e Miguel também vamos aproveitar o momento. Tchau para todos. – Liz disse levantando-se e pegando a mão do marido.
            - Bom...se é assim... – Bia ficou constrangida com a situação.
            - Não Bia. – Will tocou-lhe a mão antes de pedir que ficasse. – Eu te levo depois.

            Levou algum tempo para eles realmente conseguirem conversar sem desculpas. Estava claro que ainda havia sentimentos entre os dois. Mas daí a abrir mão de seus objetivos pessoais era muito para Beatriz. E ela via em Willian a necessidade de uma vida tranquila. Ele queria uma esposa tradicional, um porto seguro de amor e atenção sempre em casa quando ele chegasse do hospital. Ela respeitava isso. Simplesmente não se enquadrava no papel.

            - Quero você Will, mas também quero meu trabalho. Perigoso ou não. Ele me mantém viva.
            - Eu e Eva não bastamos para te manter viva? Os filhos que nós possamos ter?
            - Descalça e grávida na cozinha? Não. Esse não é o meu sonho, Will. Preciso da minha profissão. Como você precisa da sua.
            - Eu abandonei o meu trabalho na Espanha para vir pro Brasil. Por você! – Não era uma acusação, mas podia soar como.
            - E veio trabalhar em outro hospital aqui. Não abandonou a medicina.
            - Você não irá nem mesmo pensar...
            - Não tenho porque pensar em algo para o que já sei a resposta. Eu não quero te perder Will, mas não irei abandonar meu sonho. Consigo ser jornalista e ser mãe. Também posso ser namorada nem desistir do resto. Se você me quiser.

            Ele quis. Não teve alternativa. Isso lhe garantiu muita preocupação no futuro, mas, em compensação, a teve de volta em seus braços. Isso acalmou seu coração. Sentiu muita falta dela. Beatriz sabia como fazê-lo feliz. Seguiram para o apartamento dela e, após, pagar a babá e verificar que Eva dormia o sono dos anjos, seguiram para o quarto. Mereciam aquele momento de prazer.
            Foram beijos de posse. Ela nunca tinha sentido Will tão possessivo. Ele mostrava sua paixão como nunca antes. E deixava seu corpo marcado. Além de muito saciado.

            - Eu não quero que você nunca mais brigue comigo por ciúme. – Ela lhe disse quando eles vestiam algo para dormir abraçados.
            - Não é ciúme. Não sinto ciúme por você porque sei do seu amor.
            - É ciúme sim. Confesse! – Ela ria e salpicava beijinhos em seu rosto. – Ciúme da minha profissão. Do meu tempo.
            - Não. Nada disso. – Willian tentava explicar o seu ponto de vista. – Eu só tenho medo pela sua segurança. Apenas isso.
            - Eu estou segura! Não se preocupe comigo. Nada irá me acontecer. Eu prometo. – Com um beijo ela selou aquela promessa. No fundo, no entanto, sabia que não tinha poder para lhe garantir aquilo.



            Beatriz, Elizabeth e Patrícia eram mulheres muito diferentes. Mas com uma qualidade em comum. Eram fortes. Arcavam com as responsabilidades de suas atitudes sem reclamar ou revoltar-se. De formas muito distintas, a vida de cada uma delas havia cruzado com aqueles criminosos.
            Agora elas sentiam-se seguras em suas vidas, ao lado dos parceiros. Mas não estavam. Não faziam ideias do risco que corriam. Desde que a matéria de Bia foi publicada, ela vinha sendo seguida. E não foi difícil para eles identificar as ligações entre as três mulheres. Naquele momento Pedro Ferraz analisava as informações de sua equipe. E não poderia estar mais feliz. Tinha novidades surpreendentes para passar à chefe.

            - Eu recebi seu e-mail. – Ela disse assim que atendeu. – Tem certeza?
            - Sim. As três são um risco. A jornalista é irmã de Elizabeth. Por isso teve fácil acesso as informações da investigação. E Patrícia foi nossa agenciada na Grécia.
            - Eu vi as fotos das três, mas a loirinha não me disse nada. Nada mesmo.
            - Ficou pouco tempo. Nikolay a comprou pouco tempo depois que a colocamos pra trabalhou. Ficou louco com a carinha de anjo e colocou para ser sua exclusiva. Nunca mais soubemos dela. É amiga das outras duas e vive com o namorado.
            - Me pergunto se ela é ou não um risco que valha matá-la.
            - E podemos acabar com todas. Juntinhas. É só você me dar aval e eu acerto as três num golpe só. Pode ser uma explosão quando estiverem reunidas. Um acidente de carro. As alternativas são várias. Faço parecer uma triste tragédia.
            - Gostei do plano. Mas vou pensar. Não quero mais erros como os de Caleb. Eu me enganei com Elizabeth. A subestimei. Deveria ter matado no início, quando não jogaria os holofotes sobre nós.
            - Antes tarde do que nunca. – Pedro queria matá-las.  Teria prazer nisso. Ela estava dividida entre a vontade de matar e o medo de se expor.
            – Nem sempre a morte é o melhor. Ter a todas ou apenas uma delas em nossas mãos poderia ser muito interessante. Assuste-as. Mande ameaças. Vamos impedir que se aproximem. Aguarde minha próxima ordem.
           
            No dia que se seguiu, cada uma delas recebeu um pacote. Um presente nada desejado. E que fez um tremor tomar conta de seu corpo. Uma não sabia da outra. Estavam completamente no escuro.
            Beatriz recebeu uma única rosa na redação do jornal. O pequeno cartão dizia ‘O peixe morre pela boca. Cale-se. Ou você pode ter o mesmo destino’. Não era a primeira jornalista a ser ameaçada. E ela preferiu ignorar. Não se curvaria a nenhuma ameaça. Ao contrário. Naquela noite mesmo voltaria a rua para encontrar o substituto de Caleb. Aquele homem com quem conversou poderia levá-la até o ponto mais alto do grupo. Ela não iria parar. Também não falaria nada sobre a ameaça. Seria preocupar os outros em vão.
            Patrícia recebeu uma ligação em seu celular. Numa voz grave e sem sotaque ouviu ‘A vida dá voltas. E pode trazê-la para nós novamente. Fique de boca fechada’. Ela entrou em desespero. Não sabia o que fazer. Era impossível terem informações suas. Ela se abriu com Matt e ele pensava da mesma forma.

            - Não se preocupe. Você é uma testemunha protegida da justiça. – Mas qualquer possibilidade dela estar em risco deixava-o nervoso. – Eu vou falar com Elizabeth.

            Naquele momento a própria Elizabeth recebia uma encomenda. Uma pequena caixa na qual havia um bilhete. ‘Você tanto tenta que conseguirá nos alcançar. Mas não sairá viva disso e acabará levando seu marido junto ao túmulo’.

            - Miguel! Droga! – Ela podia não se importar com ameaças contra si. Mas não Miguel.

            Sem muito pensar, Elizabeth não avisou ninguém na Polícia sobre a ameaça. E seguiu em direção à BTez. Só ficaria tranquila após conversar com Miguel a respeito do que acontecia e garantir que ele tivesse cuidado. Ele era um alvo natural apenas por ser rico e ter uma vida social muito exposta. Casado com ela, tornou-se ainda mais um risco.
            Elizabeth entrou na empresa preocupada, até mesmo estressada. Mas nada se comparado ao seu estado de espírito quando deixou a BTez. A secretária não se opôs a sua entrada na sala. Mas havia algo de errado em sua face. Só quando entrou e viu Alejandra praticamente no colo de Miguel e dependurada em seu pescoço é que entendeu por que. Claramente Miguel tentava se desvencilhar dela. Mas isso estava longe de amenizar o problema. Bastava daquilo! Ela sequer entendia porque há semanas aquela mulher continuava morando em São Paulo. Logo Miguel estava olhando espantado para a porta. Apavorado com o que via. E Alejandra estava interessada em piorar a situação.

            - Não é o que você está pensando, Liz. Acalme-se! – Ele empurrou Alejandra. – E você, me largue! Quantas vezes vou dizer que não deve vir aqui nem se aproximar de mim.
            - Agora fará o santo para enganar a esposinha? Oraaaa Miguel, Elizabeth não é assim tão frágil.
            - Rua, Alejandra! Vá embora! Suma da minha vida!
            - Até parece que você não gostou naquela noite. – A espanhola respondeu sabendo o estrago que aquela informação faria no casamento do ex.
            - Você não cansa de se humilhar, Alejandra? – Liz disse pegando o telefone de Miguel de sobre a mesa. – Linda, loura e rica. E, ainda assim, se humilhando por um ex marido que não te quer mais. É ridículo. – Ela discou o número um e falou com a secretária de Miguel. – Por favor, chame a segurança aqui. Agora.
            - Quem você pensa que é para mandar em alguém dessa empresa?!!? Manda na sua delegacia e só! – Alejandra provocou.
            - Ela é a minha esposa e isso torna a BTez parte do patrimônio de Elizabeth. Ela manda aqui sim. – Miguel já tinha escolhido seu lado e ficou feliz por Elizabeth ter se imposto como autoridade ali também. Mas sofria antecipando o próximo e fatal gole de Alejandra.
            - É, ela é sua atual mulher. Mas quando ela te abandonou, foi na minha cama que você procurou calor. Nos meus braços. E sempre será assim. Sempre vai ser bom entre a gente. Vai ser gostoso. Porque eu combino com você. Não uma policialzinha que não tem ideia do que é ser a esposa de um homem como você, Miguel.
            - Cala a boca! – Miguel entrou no exato momento em que os seguranças chegaram. – Levem essa mulher daqui! Ela está proibida de entrar nessa empresa.
            - Mas a porta do meu quarto estará sempre aberta, Miguel. E você vai me procurar novamente. Lembre-se disso!


            Elizabeth esperou os dois ficarem sozinhos. A verdade estava na cara de Miguel. Não tinha como negar. Mesmo assim, queria ouvir. Precisava ouvir da voz dele. Miguel teria de reconhecer que traiu os votos do casamento para ela conseguir acreditar que, apensar de todo aquele amor visto em seus olhos, ele tinha transado com Alejandra.

            - É verdade?
            - Liz...não é assim. Eu não sinto nada por Alejandra.
            - Vocês transaram? Sim ou não! Diga!
            - Não é tão simples.
            - Diga! – Ela precisava ouvir.
            - Sim.
            - Como pode fazer isso comigo? – Ela estava destroçada. Demorou tanto para confiar em alguém e, quando finalmente pôde, ele provou não merecer a confiança.
            - Eu estava mal com a nossa briga. Bebi muito. Ela apareceu e..eu...
            - Uma briga, Miguel. Bastou uma briga e você foi pra cama de outra.
            - Liz...por favor, me perdoa. Eu te amo!
            - Não seja ridículo! Se isso é amor para você então eu nunca deveria ter confiado. – Ela saiu em direção a porta.
            - Liz! Não, por favor!
            - Acabou, Miguel. Eu vou pegar as minhas coisas agora mesmo na sua casa. Já posso imaginar a felicidade da sua mãe. Eu não quero te olhar nunca mais. Adeus!

            Miguel teve vergonha até mesmo de tentar convencê-la. Não merecia Liz. Ela tinha razão em não desejar mais o casamento. E ele não conseguia imaginar a vida sem ela daqui para frente.