domingo, 31 de agosto de 2014

Tá chegando novidade!


Promessa é dívida! Como prometido, a Diaba Ruiva e seu amado ladrão estão de volta. Eu pretendia já postar hoje o primeiro cap, mas devido a alguns problemas não será possível. Mas ele já está sendo feito, quase saindo do forno. Até domingo que vem eu posto. O nome será Diaba Ruiva: Passado Revelado. É a continuação da fanfic Dupla Perseguição e segue contando a história de Neal Caffrey e Rachel Turner.

Pra quem não leu a Dupla Perseguição, já está completinha na aba de Fics Concluídas. Passa lá!

Bjss e enquanto isso, leiam Vidas Ocultas. Não irão se arrepender. Miguel e Elizabeth irão contá-las

Vidas Ocultas - Capítulo 7




Miguel encarava Elizabeth sem saber se havia uma forma menos desagradável de dar a notícia. Não. Qualquer meio que não fosse a verdade crua e sem desculpas a faria se sentir traída.

            - Javier desapareceu. Não retornou dos EUA.

            A notícia não pegou Elizabeth totalmente desprevenida. Javier era, em uma desconfiança muito pessoal, seu suspeito favorito. Era o segundo na hierarquia da BTez. Sempre fora o segundo. No passado, Ramón Benitez deu início ao seu império automobilístico e teve o irmão como braço direito. Porém jamais abriu mão do controle absoluto do negócio. Mesmo tendo posse de ações da BTez, Javier nunca teve o poder devido a obsessão do pai de Miguel.  Quando o irmão morreu precocemente e o sobrinho não manifestou nenhum interesse em deixar a medicina para administrar a multinacional, resolveu que era sua hora de comandar a BTez. Os planos foram frustrados quando Miguel resolveu assumir o desafio. Relegado ao posto de ajudante mais uma vez, Javier resolveu lucrar escondendo negócios ilegais por trás de uma empresa com reputação ilibada.
            Essa era a aposta de Elizabeth para toda a trama que envolvia Miguel. Mas não poderia discutir isso com ele agora. Estavam sem as roupas e ainda na cama após transarem pela madrugada toda. Como ela poderia investigar aquela empresa se estava envolvida sexualmente com o proprietário? O primeiro passo era deixar Miguel o mais afastado o possível.

            - Assinou o atestado de culpa. – Ela levantou-se da cama e começou a se vestir. – Vou dar o alerta e ele será considerado foragido internacional. Se vista e vá trabalhar Miguel. Quando essa informação vazar você terá muitos problemas.



            - Ei! Calma! Ele fugir não significa que é culpado. – O tio teve a pior das ideias, abandonou o barco à deriva, deixando-o com graves problemas para resolver, mas Liza não podia condená-lo sem provas. – Você é rápida demais para achar culpados.


            Indignada, Elizabeth já fechava a calça jeans e ia para o banheiro quando voltou e encarou Miguel firmemente.

            - Eu sou paga justamente para encontrar culpados. E quem foge tem algo a esconder. Encare a realidade, Miguel. Você acaba de deixar de ser o ‘fixa 1’ na lista de suspeitos.
            - Você fala como se fosse bom, droga! - Ele também já estava vestido. – Como pode ser tão fria?
            - Não é frieza, é praticidade! Você tinha um alvo nas costas. Seu tio lhe fez um grande favor. – Já prontos para o trabalho, Elizabeth e Miguel deixaram o quarto. – Não pense que eu gosto disso, Miguel. Eu preferia ter a certeza de que tudo não passou de uma armação contra sua empresa e família. Mas nada me indica isso. Quer tomar café antes de ir?
            - Não. – Deixando de lado a discussão, Miguel a puxou para os seus braços. – Eu não quero que isso nos afaste.
            - Eu...eu não sei Miguel. Não posso abdicar do caso sem atrair holofotes negativos à investigação. E também desejo ser justa no meu trabalho. É absolutamente necessário que ninguém saiba do que se passou entre nós. Ou a sua empresa e a minha carreira terão graves problemas.
            - O que ‘se passou’ entre nós não. Ninguém saberá do que há entre nós. É no presente.
            - Talvez, Miguel. Mas até isso tudo se resolver...é melhor nos mantermos afastados.
            - Não! – Eram adultos. Não precisavam esconder um relacionamento como adolescentes. – Isso é ridículo!
            - Eu falo sério Miguel. Daqui para frente nós vamos nos manter distantes.

            Miguel deixou o apartamento de Elizabeth sem se despedir. Estava irritado e por mais que reconhecesse seus argumentos, não aceitava. Era um executivo com responsabilidades infinitas, não deveria precisar esconder um relacionamento.
            Elizabeth ficou na cozinha bebendo café. Preto e com muito açúcar. A diabetes era a última das suas preocupações. Passava das 6hs e o dia amanhecia quando Beatriz entrou na cozinha.

            - Devo fingir que não ouvi nada ou que não reconheci a voz de Miguel? Ou podemos conversar claramente?
            - Não precisa fingir nada...mas eu não sei por onde começar nossa conversa.
            - Pode começar me dizendo se o granfino é tão gostoso quanto aparenta.
            - Ele é, Bia. E é mais do que isso. Miguel é...atencioso e viril na medida certa.
            - Você não curte homem meloso, né? Gosta de caras com pegada!
            - É...tipo isso.

            Era uma forma bem bacana de explicar para Bia que gostava de ser destratada na cama e fugia de carícias delicadas.

            - Mas isso não vai continuar. Não até eu finalizar o caso.
            - E será que Miguel consegue esperar? Ele não me pareceu um homem muito paciente. Cuidado para não perder o gostosão, Liza! Não se encontra homens lindos, atenciosos e viris em cada esquina.
            - Beatriz, preste a atenção: nenhuma palavra sobre o que aconteceu aqui. Mantenha seus instintos jornalísticos desligados aqui em casa.
            - Claro né! Eu não trabalho da editoria de fofocas, Liza! Assim você me ofende! – Mas Bia deixou a mágoa de lado para mudar de assunto. – Você conhece um amigo do Miguel chamado Willian?
            - Não. Por quê?
            - Nada não...eu o conheci na delegacia e fiquei curiosa. – O choro de Eva fez o assunto ser interrompido. – Vou cuidar da minha princesinha antes de largá-la na escolinha e ir trabalhar.
            - E eu já vou para a Central.

            Longe de estar vestido de acordo com seu posto na BTez, Miguel foi em casa antes de enfrentar o difícil dia de trabalho. Juliana o viu chegar e deduziu que estava voltando de alguma noitada com mulheres. O plural era o único erro da cozinheira. Rúbia logo foi informada da chegada do filho e invadiu seu quarto afirmando ter passado a noite preocupada.

            - Creio que já passamos dessa fase, madre.
            - Passar a noite fora quando acaba de sair da cadeia é inaceitável, Miguel! Aposto que estava com alguma mulher!
            - Apostou certo. E isso não é crime. – Miguel levava as reclamações da mãe sempre com bom humor. Entendia que ela era apegada demais a ele e com a morte do pai isso piorou. A mãe deveria ter tido mais filhos para lhe fazer companhia. – Sempre apreciei belas mulheres.

            - Você não para em casa! Sempre com uma dessas vagabundas! Se você soubesse a saudade que sinto de Alejandra! Essa sim tem classe para ser a sua esposa e a mãe de meus netos.
            - Mas não será a mãe dos meus filhos. – Era hora de falar sério com Rúbia. – Entendeu? Alejandra virá passar uns dias conosco, provavelmente iremos jantar juntos. Mas não há a mínima chance de reatarmos nosso casamento. E a mulher com quem passei a noite não é nenhuma vagabunda.
            - Quem é? Conheço? É de boa família? Do nosso círculo social?

            A pergunta de Rúbia quase fez Miguel gargalhar. Não poderia ser mais descabida. Elizabeth além de não ser do círculo social, como Rúbia se referia a pessoas com muito dinheiro, sequer conhecia a própria origem, nem mesmo tinha certeza da nacionalidade. Liza podia ser filha de um doutor em física quântica ou de um analfabeto. Era um mistério completo.

            - No, madre. Mas tenho certeza de que, quando você a conhecer, não fará diferença.
            - Traga-a para jantar essa noite, então.
            - Não! – A resposta foi seca.
            - Porque não? Se é uma mulher à sua altura, deveria nos apresentar.
            - Quando ela quiser. – Ele abriu a porta do quarto. – Agora me deixe trocar de roupa em paz. Terei um dia atarefado. Por favor.


            Da rua a caminho da Central da polícia federal na qual atuava, Elizabeth ligou para Tom e lhe deu a informação recebida por Miguel. Era grave e não tinha nenhuma prova, mas Tom não podia ser excluído de algo que mudaria todos os rumos do caso.

            - Tem de solicitar mandado. Quero fazer uma varredura no apartamento dele ainda hoje.
           



            - Já farei isso e te aviso quando estiver liberado. Também vou colocá-lo na lista de procurados internacionais e solicitar sigilo bancário e telefônico.
            - Ótimo. Obrigada.
            - Eu só estou fazendo isso, Elizabeth, porque sei que sua fonte de informação é...ótima. Mas cuidado para não se deixar levar nessa investigação.
            - Não deixarei, Tom.

            O dia foi de trabalho intenso para o dois. Não se viram nem trocaram nenhum telefonema. Miguel estava decidido a esperar por Elizabeth e ela segurando as próprias vontades para não lhe fazer uma ligação e ir contra a regra criada por ela mesma mais cedo.
            As 10hs e 45min recebeu autorização para entrar no apartamento de Javier Alencastro Benitez e fazer uma busca delicada. Ficou lá com Rebecca e Fred por mais de quatro horas e recolheu tudo o que pudesse servir de prova ou, talvez, ajudasse a desvendar o paradeiro de Javier. Quando a perícia liberasse os laudos de impressão digital, ela poderia analisar os resultados com sua equipe e traçar uma estratégia. Encontrar a ligação entre a BTez, as três prostitutas mortas e Javier. Não tinha dúvidas de que o homem perigoso e com poder de quem Natália Villa se queixou para Miguel poucas horas antes de morrer era Javier. Apenas precisava provar.
            Javier foi muito cuidadoso. Nada encontrado no apartamento era uma pista real de seu paradeiro. Nada! Ele não usou passagens áreas pagas em cartão de crédito, nem deixou rastros em hotéis. Sua conta bancária sofreu três grandes saques durante a semana anterior, prova de que tudo foi planejado.
            O certo era que ele entrou nos Estados Unidos e deveria ter partido de lá quatro dias depois, retornando ao país de origem. Mas ele não usou a passagem de volta comprada pela secretária executiva da BTez. Com o rigor dos aeroportos americanos, dificilmente conseguiria passar das fronteiras sem passaporte ou usando documentos falsos. Ele estava escondido em território americano. Sua melhor pista encontrou ao analisar os dados familiares do empresário.

            - Rebecca! – Ela esperou a auxiliar se aproximar. - Intensifique os alertas nos EUA. Javier Alencastro Benitez ainda está nos EUA. Ele não saiu de lá.
            - Porque você acha isso? Se estava envolvido com uma máfia internacional, pode ter passaporte com outro nome.
            - Pode, mas não tem. Ele é prepotente demais. Achou que passaria ileso e, caso descobríssemos o golpe, seria Miguel o responsabilizado. Então ele se surpreendeu quando me viu cercando-o e no desespero recorreu aos EUA. Ele tem uma filha que vive lá. Vi fotos deles em um álbum guardado no apartamento. Chama-se Gabriela.
            - Você acha que vai procurá-la?
            - É bem provável. Não tive retorno detalhado dos dados bancários, mas trabalhar nos EUA de forma ilegal não deve pagar muito bem e um dia o dinheiro que levou em espécie vai acabar. Ele vai recorrer a Gabriela Alencastro.
            - Vou alertar a polícia deles então. Vamos vigiá-la.
            - Ótimo! E pesquise o que ela faz para sobreviver...quero ter certeza de que não está envolvida no golpe. – Ela desconfiava de todos.
            - Pode deixar comigo, Elizabeth! Vai para casa descansar? Já são 18hs.
            - Já? Nossa! Logo eu vou.

           
            A fuga de Javier ficou em segredo apenas por algumas horas. Não demorou muito para ser obrigado a dar uma entrevista coletiva e tentar explicar o fato de um dos executivos da empresa ter desaparecido em meio a maior crise da história da BTez.

            - Meu tio não fugiu de nada. Até o momento não há nenhuma prova contra ele. – Respondeu a um dos repórteres mais insistentes.
            - Então porque desapareceu justo agora?
            - Isso eu não sei informar. O que posso afirmar é que a BTez vai colaborar com as investigações. Eu sou o presidente e afirmo que desejo ter tudo esclarecido. A empresa fundada por meu pai jamais esteve envolvida em nenhuma irregularidade e permanecerá assim.

            O clima na casa dos Benitez estava ruim naquela noite. A família percebia que não se tratava de uma investigação sem sentido. Ninguém falava. Ninguém acusaria Javier. Mas todos pensavam na possibilidade dele ser culpado. Durante o jantar, Will manteve o bom humor habitual e procurou evitar tocar no nome de Javier à mesa. Rúbia estava pensativa e desanimada.

            - Não vou sair de casa mais. Iria passear com minhas amigas e tomar chá amanhã. Não irei para não ter de falar a respeito dessa investigação. É vergonhoso!
            - Não tem porque ficar trancada em casa, madre.
            - Como não?! Eu vi você no telejornal se explicando! Seu tio é considerado foragido! E aquela investigadora agora nega-se a dar entrevistas! Destruiu nossa paz e agora se cala!
            - Elizabeth apenas faz seu trabalho. Você deve culpar Javier. – Miguel já estava cansado de ficar entre Liz e a família. Recebeu a ajuda de Will para mudar de assunto.
            - Mas Miguel...entre os jornalistas que entrevistaram você, havia uma chamada Beatriz?



            - Não sei. – Ele não conhecia os jornalistas para poder afirmar. – Porque eu saberia os nomes dos jornalistas? São eles que conhecem minha vida, não o contrário.
            - Mas essa Beatriz disse que você a conhece...ela foi a única a entrar no dia da sua prisão.
            - Beatriz...jornalista conhecida...aaaa sim...trata-se da irmã de Liz. – Lembrou-se da bela moça que conheceu no hospital.
            - Liz??? – Rúbia questionou sem saber se tratar de Elizabeth. – É a mulher a quem serei apresentada em breve.
            - É, mãe. Ma nem tão breve assim. Acalme-se. – Então voltou a dar atenção ao amigo. – Não a conheço bem.
            - Mas pode marcar um jantar entre eu e Beatriz, você e ‘Liz’, não pode?
            - Posso tentar...não é má ideia. – Na opinião de Miguel seria uma ótima ideia. Era uma ótima chance de se aproximar de Liz. – Vou tentar.

            Naquela noite Elizabeth e Miguel mantiveram-se firmes na decisão de se manter afastados. Ela pela crença de que essa era a melhor atitude. Miguel por orgulho. Não ia correr atrás dela novamente. Elizabeth deveria procurá-lo dessa vez. Ambos demoraram a dormir.
            Quando o dia amanheceu Elizabeth sabia que não seria uma rotina comum. Tinha um compromisso no tribunal. Cristian Lima seria julgado por seus crimes e ela era uma das testemunhas de acusação. Ficariam frente a frente e aquele depoimento já havia lhe custado um tiro de raspão. Jamais conseguiria provar, mas fora ele. Soube com 100% de certeza no dia que fora pressioná-lo no presídio. Viu o desejo de vê-la morta em seus olhos. Isso só aumentou sua vontade de ser decisiva na condenação.

            - Eu tenho certeza da investigação que conduzi, Meritíssimo. Afirmo convictamente que o réu aqui presente é culpado pelo crime de contrabando. Comprovei isso de forma inquestionável. Além disso, como está dito na página 87 do inquérito, há indícios de outros crimes. Eu o denunciei ao tribunal com base em provas técnicas e testemunhais. – Ela foi o mais firme possível.
            - Obrigada pelo seu relado, Investigadora. Pode se retirar.

            Quando deu as costas e saiu, Elizabeth sentia às suas costas o olhar de Cristian e de seu advogado. O elegante homem de meia idade também deveria estar preso. Sabia e acobertava os crimes do cliente. Seus instintos mandavam-na ficar alerta.
            Nas primeiras 24hs de alerta quanto a fuga de Javier, nenhum retorno foi obtido. Rebecca ainda não tinha o relatório sobre Gabriela Alencastro e o apartamento do foragido estava limpo de impressões digitais. Limpo demais. Ele fez uma varredura e não deixou nenhum rastro antes de fugir. Quando Carla e Fred entraram agitados por sua sala, ela soube que novidades estavam a caminho.

            - Não me enrolem.  O que há agora?
            - A central recebeu uma denúncia anônima. – Carla começou a explicar. – Parece que alguém de fora da comunidade, vem visitando um bairro pobre da cidade e falando para algumas garotas que elas podiam trabalhar fora e fazer muito dinheiro.
            - O mesmo papinho de sempre. – Fora assim que todas as outras foram enredadas no golpe. – O que mais?
            - Nos deu um endereço e uma data. Daqui a três dias o homem disse que fará um teste para escolher bailarinas para dançar em boates na Europa.
            - Marque na minha agenda esse dia e hora, Fred. – Se a pista fosse quente e a quadrilha a mesma que já investigavam, seria mais um passo para encerrar o esquema e encurralar Javier. - Acho que também farei esse teste de dança.
            - Eu já marquei, chefe! – Fred lhe piscou o olho. – Estaremos todos lá. Essas garotas não irão embarcar.


            No meio da tarde Miguel foi surpreendido por uma ligação de Rúbia. Segundo a mãe, Alejandra, preocupada com os acontecimentos noticiados pela imprensa internacional, adiantou sua viagem. E já estava no Brasil. Ficaria por duas semanas.

            - O motorista já foi buscá-la no aeroporto.
            - Alejandra não tinha hora pior para vir. Deveria ficar afastada até as coisas se acalmarem. Será que não percebe isso?
            - Não fale assim, Miguel! Eu gostei. A presença dela me fará bem. – Rúbia confiava na antiga nora. – Chegue cedo para o jantar. Temos dois convidados em casa. Precisamos lhes dar atenção.

            O pedido de Rúbia foi levado a sério por Miguel. O que não o impediu de se atrasar. Não era um momento fácil na montadora e exigia atenção total. Ele se reuniu com o conselho que decidiu por afastar completamente Javier de seus cargos na corporação. Mesmo que voltasse e fosse absolvido das acusações, sua reputação estava destroçada e já não poderia ocupar nenhum posto na empresa. Ele tinha agora apenas sua porcentagem de lucros como acionista.

            - Você acha possível que as investigações apontem que a BTez lavou dinheiro de tráfico? As acusações podem ser reais? – Um dos executivos mais antigos perguntou.
            - Acho que sim, infelizmente. Estamos investigando internamente.
            - Se confirmado perderemos muito dinheiro e credibilidade. Podemos falir! – Outro acionista gritou.
            - Eu não deixarei que isso aconteça. – Miguel garantiu também elevando o tom de voz. – A BTez tem tradição e não vai cair por esse percalço. Eu irei reerguer nossa credibilidade. Se Javier realmente for culpado, ele pagará suas dívidas com a lei. Mas a BTez nada tem com isso.
            - É fácil falar! Enquanto Ramón esteve no comando isso jamais ocorreu!


           
            A descrença dos executivos era justa e apenas um dos problemas enfrentados. Falência era algo distante, mas os lucros estavam caindo. Reerguer a empresa seria um trabalho duro. E agora estava praticamente sozinho. Sem poder confiar no tio. Hoje seu pai fazia ainda mais falta.

            - O que você faria se estivesse aqui, pai? Quais as decisões que você tomaria?
           
            Tentando deixar os problemas no escritório e lembrando que tinha um jantar e convidados Miguel foi para casa e chegou apenas 1 hora atrasado. Encontrou Alejandra consolando sua mãe e Willian extremamente constrangido com o momento.

            - Isso são horas, Miguel?!
            - Desculpe, madre. Não pude sair antes. – Disse antes de cumprimentar a ex esposa. – Como vai Alejandra?
            - Bem, querido. Eu fiquei sabendo da turbulência pela qual passam e vim fazer companhia para Rúbia. Eu posso ter me divorciado de você, mas não de sua mãe.
            - Eu sei. – Não entendia toda aquela proximidade, mas respeitava a amizade da mãe e Alejandra. – Me dê licença, Ale. Vou tomar banho e me trocar e já acompanho vocês no jantar. Preciso estar de acordo com esse belo vestido.
            - Sabe como o clima desse país me deixa vaidosa, Miguel. Na Espanha passo mais com meu jaleco no consultório. Aqui posso me arrumar.
            - Quanto tempo ficará?
            - Duas semanas. – Ela sorriu feliz. – Sua mãe me convidou para ficar aqui, mas acho que um hotel é mais apropriado. Poderiam surgir boatos de uma reconciliação já que está solteiro. E você não está carente de escândalos no momento.
            - Nem tão solteiro assim, Ale. Mas faça como preferir. Will também está hospedado aqui e podemos ficar muito bem.
            - Ficará e está decidido! – Interferiu Rúbia. – Quero os três médicos comigo.
            - Verdade! – Willian concordou. – Assunto não nos faltará.

            Enquanto jantaram eles realmente falaram de medicina.  A experiência de Willian como pediatra era imensamente mais agitada do que de Alejandra. Como dermatologista, ela atendia a consultas mais regulares e com hora marcada.

            - Crianças parecem ter uma preferência por adoecer no meio da madrugada. – Ele brincou.
            - Eu acho que terei essa paciência apenas com meus filhos.
            - Pode ser mais duro. Mas eu me sinto feliz com a especialidade que escolhi.

            Depois de comer foram para sala e tentaram variar os assuntos. Música, cinema, teatro...tudo que pudesse animar os ânimos. Ninguém tocou no assunto polícia e preferiam que continuasse assim. Quando Rúbia elevou o volume da música, Alejandra pediu que Miguel a acompanhasse em uma dança.

            - Eu não estou no clima, Ale. Will dança com você.
            - Nãooo...você Miguel. Sempre dançamos. Qual o problema?

            A noite prometia ser longa e Miguel começava a desejar ver Alejandra ir para um hotel. Há tempos não a via e dessa vez ela parecia querer ficar mais próxima que de costume. Eles estavam divorciados e não fazia sentido dançarem. Apenas para não desagradar Rúbia, ele ergueu-se e lhe estendeu o braço.



            Seria apenas uma música, mas animação de Alejandra parecia não ter fim.


            - Tire esse paletó e fique dançando comigo Miguel. Eu quero mais vinho!
            - Vamos com calma, Ale!
            - Isso Alejandra. Faça-o relaxar um pouco. – Rúbia incentivou.

            Do outro lado da cidade, Elizabeth também precisava relaxar e, para isso, também estava interessada nos braços de Miguel. Estava em casa, com Beatriz, e louca para vê-lo. Louca para tê-lo. Estava precisando dele.

            - Vá vê-lo. Ele bateu na sua porta. Porque você não pode fazer o mesmo?
            - Nem pensar!
            - Isso é orgulho, Elizabeth!
            - Eu já telefonei e deu caixa postal! – Já tinha se arrependido de fazer isso. – Qual sua sugestão? Bater na porta da casa dele e perguntar se está?
            - Porque não? Não foi o que Miguel fez há duas noites? Reconheça, Liza! Está louca por mais uma noite de sexo com ele!

            Elizabeth ainda passou mais algum tempo tentando se convencer de que não era de Miguel que precisava. Era apenas de sexo. Mas meia hora rolando da cama lhe provaram que ir procurá-lo era sim a melhor coisa a fazer. Arrumou-se de forma simples, vestindo uma blusa azul marinho com bom decote e uma saia discreta. Maquiou-se delicadamente e jogou a nécessaire na bolsa. Eram 15 minutos de caro no tráfego tranquilo da noite.
            Quando chegou a casa, explicou a uma empregada pelo interfone que era uma conhecida de Miguel e gostaria de vê-lo. Não disse que se tratava de uma investigadora da polícia. O assunto era pessoal. Identificou-se como Miguel a chamava: Liz. A senhora liberou o portão.

            - Você é ‘Liz’? É um prazer conhecê-la. Eu já ouvi Miguel falar em você.
            - Eee que bom...e qual seu nome?
            - Juliana. Trabalho aqui há muitos anos. Acompanhe-me...Miguel e dona Rúbia estão recebendo convidados na sala de estar.
            - Eu não quero atrapalhar.
            - Não é incômodo algum. Ele vai gostar de vê-la.

           


            E Miguel realmente adoraria ver Elizabeth em sua casa. Não fosse o momento inadequado e as reações que isso causou. Ela reconheceu a ex mulher de Miguel assim que pôs os olhos na sala e os viu dançando abraçados. Era a mesma mulher que estampara capas de revista como traída e ofendida. Agora estavam enlaçados e sorrindo. Com um vestido avermelhado, a loura sorria e se oferecia para Miguel. E ele aceitava feliz.
            Não foi apenas Elizabeth a desgostar do que viu. Rúbia levou apenas um instante para reconhecê-la e gritar, somente aí alertando Miguel do que ocorreu, e expulsando-a de sua casa.

            - O que quer aqui? Não é bem vinda em minha casa! A mulher que prendeu meu filho não pode entrar aqui! Juliana, quem autorizou isso?
            - Ela me disse ser... – A empregada tentou responder.
            - Liz...você aqui. – Miguel interrompeu esclarecendo tudo.
            - Liz??? O que? Miguel! – Rúbia agora entendia tudo.
            - Não se preocupe, senhora Benitez. Eu não vou ficar aqui.

            Elizabeth deixou a casa de Miguel ouvindo-o tentar acalmar a mãe. A senhora iria segurar o filho ao seu redor. O que era bom. Ela não desejava que ele viesse lhe dar explicação alguma. Como ela mesma tinha dito, eles não tinham mais nada. Não havia um relacionamento ou um compromisso entre eles. Eram livres. Ele estava aproveitando sua liberdade com a ex mulher. E ela...ela também aproveitaria. Ao seu modo.
            Após dirigir alguns minutos, Elizabeth parou o carro para se arrumar. Tirou a meia calça e ergueu a barra da saia o máximo que pode. Ela ficou acima do meio das coxas. Depois puxou o decote da blusa e expôs o volume dos seios. Antes de continuar o trajeto ainda pegou a maquiagem e deixou-a mais forte e vulgar.



            Iria provar para o seu corpo que não era de Miguel que precisava, era de sexo. Era de um homem forte e viril que a fizesse gritar pela noite toda. Qualquer homem. Dirigiu até uma rua conhecida pela prostituição, a mesma em que conheceu Miguel, e saiu deixando o celular no carro. Do alto de saltos com 8 centímetros, oferecia seu corpo para quem passava.
            Se tivesse levado seu celular, teria visto Miguel lhe telefonar repetidas vezes. Logo que acalmou a mãe e ele foi até a rua ver se ainda a encontrava, mas não viu nem sinal. Sem nenhuma ideia, ligou para casa de Elizabeth e Beatriz atendeu.

            - Ela iria ver você, Miguel.
            - Eu sei...mas não chegou em boa hora e saiu chateada comigo.
            - Pra casa ela não voltou...mas não se preocupe. A Elizabeth some às vezes. Nem eu seu para onde vai. Acho que bebe com alguns amigos. Logo ela aparece.

            Miguel sabia para onde ela ia e o que fazia. E isso o incomodava. A ideia dela nos braços de outro o irritava e preocupava. Era um lugar perigoso onde ela podia se ferir. Além disso, sentia ciúme. Ele saiu de carro em alta velocidade em direção a zona de prostituição aonde Elizabeth costumava ir quando queria encontrar um parceiro sexual.



            Parada na rua, Elizabeth acendeu um cigarro e esperou os carros passarem. Estava escolhendo um cliente, não o oposto como eles acreditavam. Iria para a cama com o que mais lhe agradasse. Um homem já com mais de sessenta anos lhe chamou na janela do carro. Ela ignorou. Queria mais jovem e forte. Um grupo de três garotos também a quis...mas preferiu não ir. Para ela sexo era algo pessoal e não em grupo. Além disso, eram muito jovens. Quando um loiro de cabelos longos se aproximou da calçada ela titubeou. Levou alguns segundos decidindo se iria ou não. Ele não quis esperar e desceu do carro.

            - Não ouviu eu te chamar garota?! – Ele gritou e ela se decidiu a ir. – Quanto?
            - Isso a gente vê depois. – Ela respondeu. – O que você quer de mim?
            - Isso a gente vê depois. – O loiro repetiu sua resposta enquanto apertava-a conta o carro e enfiava a mão por debaixo da saia dela. – Entra no carro agora e tira essa calcinha.
           
            Miguel viu o homem apalpá-la no meio da rua sentiu nojo. Deveria dar as costas e lhe dizer que não queria nada com uma vagabunda, mas de alguma forma sentia-se responsável pela bobagem que ela fizesse naquela noite.

            - Solte-a! Ela tem dono. – Gritou e viu os dois olhá-lo. Ignorou o cara e olhou apenas para Elizabeth. – Entra no meu carro! Agora!
            - Não tenho dono algum! Eu não obedeço ordens suas!
            - Eiii...eiiii meu chapa...tem muita puta aí...essa é minha hoje. Cheguei primeiro– O loiro se calou ao ver Miguel ameaçá-lo com um soco. – Ei..ei...ei...calma. Você quer essa ok. Posso pegar outra na próxima esquina. Sem briga.

            Quando o homem deu as costas e saiu Elizabeth também fez menção de ir embora. Não ficaria ali discutindo com Miguel. Não lhe devia nenhuma explicação. Ele já havia acabado com sua noite por duas vezes. Mas sentiu-se ser erguida no terceiro passo.

            - Para! Me solta! Eu não vou com você! – Gritou.
            - Não vai? Vamos ver se não! – Sem nenhum aviso, Miguel ergueu-a sobre o ombro e carregou-a assim, de bumbum pra cima, até o carro.
            - Me põe no chão! Essa saia é curta! Miguel!
            - Pudores agora, Liz? Não! Pode gritar o quanto quiser! – Ele estava furioso. – Você não queria um homem das cavernas? Alguém que te tratasse mal? Te deixasse marcada? Encontrou um. – Ele atirou-a no banco de trás de seu carro e travou as portas. – Se quer ser tratada assim, ótimo! Eu mesmo te levo pra algum desses hotelzinhos e te trato feito uma qualquer. Mas nunca mais se ofereça assim na rua! Ouviu bem?! Você tem dono sim!
            - Pra onde está me levando? – Ela perguntou quando ele arrancou com o carro. Elizabeth não o temia, mas estava surpresa. Nunca tinha visto Miguel assim. Estava realmente furioso.
            - Provavelmente para o mesmo lugar onde você ia parar com aquele cara. Eu vou te dar exatamente o que você queria ao vir aqui, querida Liz.