Ariella alcançou o auge de seu desespero ao se
deparar com as grades fechadas do portão de sua nova e nada acolhedora casa. Os
seguranças a impediram de sair e ela não pensou duas vezes em discutir com
eles, de igual para igual. Apesar das diferenças no idioma espanhol falado por
ela, com palavras e sotaque típicos da argentina, e o dos profissionais
espanhóis que ali trabalhavam. Mesmo reconhecendo estar discutindo com as
pessoas erradas, Ariella precisava descontar em alguém toda a raiva que sentia.
Estar presa em um país estranho e ainda por cima não poder sequer deixar a
mansão estava muito além do que ela suportava.
As ofensas gritadas por ela, no entanto, eram bem
claras. A divergência era simples. Ela desejava sair, passear por Madri, nem
que fosse com alguns seguranças a seguindo de perto. A sensação de estar presa
naquela casa é que a transtornava. Somente uma vez na vida ela experimentou
aquela privação de liberdade, quando de seu sequestro, em que passou dias
amarrada e amordaçada. Não ia permitir que aquilo se repetisse, em especial com
seu marido como responsável. E se eles estavam decididos a broquear-lhe a
saída, ela estava mais do que disposta a comprar aquela briga.
-Como assim? Quem pensa que é para me impedir? –
Ela gritava, em um tom estridente, que assustaria qualquer um. – Eu sou a
esposa de Diego! Não pode me desobedecer.
- São ordens do patrão, senhora. – O segurança
argumentou sem se exaltar.
- Pois ligue para o seu patrão e diga que eu desejo
sair! Ou eu gritarei tanto que atrairei a polícia, a imprensa e quem mais for
necessário!
Diego foi avisado imediatamente após sua esposa ter
um ataque nervoso e gritar enfrente o portão de casa. Sua equipe estava
orientada a impedir qualquer tentativa de Ariella no intuito de sair da casa,
fosse alegando um passeio ou tentando escapar. Não se tratava de uma vontade
particular de enclausurá-la, nem de ser sádico a ponto de sentir prazer em seu
pranto. Apenas reconhecia Ariella ser esperta demais para sair. Ela fatalmente tentaria
uma fuga.
Além disso, ela precisava aceitar que seus tempos
de menina mimada que tudo tinha às mãos, em qualquer momento, pertenciam a um
distante passado. Quando soube dos gritos dela, sua primeira reação foi sorrir.
Assim, ao menos ela mostrava estar ressentindo-se de seu castigo e perdia
aquele irritante ar de superioridade. E que gritasse à vontade. Nada ia ganhar
com isso. Não podia dizer que ficou feliz com isso, mas era o que estava
planejado.
A chance dela conseguir atrair a polícia ou
curiosos era mínima. Ele tinha a credibilidade do nome de sua família ao seu
lado. Estava seguro ali, tanto quanto Ariella estava presa. Ainda assim, ela
conseguiu atrapalhar seus planos e retirá-lo de importantes compromissos
agendados para aquela tarde. Diego precisou remanejar sua agenda para retornar
a seu lar e tentar domar a esposa.
- Não quero saber de fiasco enfrente minha casa! –
Disse após passar pelos portões com Ítalo conduzindo o carro.
Apesar da forte recriminação implícita na frase,
ele estava aparentemente calmo e controlado. Com as roupas em ordem e o cabelo
perfeitamente ajustado, Diego era o exemplo perfeito de um homem seguro de suas
ações e sem nada a temer. Tranquilo e com a voz pausada, ele era o contrário de
Ariella que, descontrolada, aos gritos e com os trajes já desarrumados após a
longa discussão com os funcionários do marido, parecia aluguem prestes a um
surto nervoso.
-Tenho de ficar presa aqui então?
-Poderá sair, acompanhada, desde que eu seja
avisado antes. – Informou-a, apenas para afirmar ser ele quem decidia. – Mas não
será hoje. Sairá quando eu permitir. Agora entre e não me irrite ainda mais.
Não gosto de escândalos.
Somente quando estavam na privacidade de seu
escritório é que Diego voltou a falar. Por dentro, estava também muito
irritado, principalmente com o que via no olhar recriminador de seus
funcionários. A forma como Ariella conseguia rapidamente virar a situação ao
seu favor era desconcertante. Ela sabia como transformar-se em vítima, posar de
sofredora e conquistar a simpatia de todos. Aqueles olhos claros e cabelos
alaranjados pareciam conquistar a quem estava à sua volta. Ariella transmitia
uma ingenuidade distante da realidade. Tinha herdado do pai o talento para
mentir, roubar e enganar. Podia funcionar com os outros, ele já era vacinado.
- Não sei até que ponto você é fiel à sua família e
não ficaria surpreso se sumisse no mundo sem se preocupar com seu pai. Por
tanto, você só deixará essa casa vigiada e com a minha autorização. – Avisou,
sem dar margem a negociações.
- Eu nunca faria isso!
- Sua palavra não vale nada Ariella. Agradeça ao
seu pai pela péssima reputação familiar. – Falou com desdém. – Aonde desejava
ir?
-Não sei. Sair, espairecer, pensar na vida e em
como ela ficará melhor quando eu me livrar da sua presença.
-Não deveria pensar em um momento tão distante. Demorará
muito tempo até que EU deseje me ver livre de você e, então não precisará mais
conviver com a minha presença.
Ariella observava o marido. Tão diferente do homem
que, mesmo mexido pela bebida alcoólica e muito distante de ser um companheiro
normal, ainda assim, soube lhe demonstrar carinho na noite passada. Agora ele
era digno de pena. Antes de se apiedar, porém, lembrou-se que todos aqueles
absurdos eram culpa sua. E dele dependia por fim naquilo tudo. Somente dele. Se
Diego realmente sentia todo aquele sofrimento, era uma escolha pessoal de quem
prefere ficar amarrado ao passado. E ela não o pouparia de nada por isso.
- Quero que ligue para o seu pai! – Em mais uma
ordem Diego tirou Ariella de seus devaneios.
-Por quê? – Não tinha esperança de que aquilo fosse
algum tipo de piedade, mas sim a certeza de que havia algo por traz do pedido.
Algo ruim, talvez cruel.
-Não pergunte o porquê de tudo o que faço, apenas
obedeça.
Ariella não precisava que ele respondesse. Rapidamente
aprendeu a antecipar suas atitudes. E isso representava estar sempre um passo à
frente. Estava claro que Diego planejava que ela chorasse para o pai e implorasse
para que ele viesse buscá-la. Desejava ver Afonso desesperado e tendo de
escolher entre a empresa que construiu e a felicidade da filha. No que
dependesse dela, decidiu Ariella, ficaria esperando. Sem saber ao certo como deixou
a explosão de fúria para trás e se tornou fria, com voz sóbria e até mesmo
aparentando tranquilidade, respondeu ao seu pedido, aceitando colaborar.
Diego acreditou que aquilo seria um passo em seu
favor. Se nos primeiros contatos Ariella nada fez para atrair o pai, agora,
percebendo a dureza daquela prisão, ela certamente exigiria que Afonso fizesse
algum acordo. Agora lembrou-se de algo que, surpreendentemente, havia lido no
histórico de Ariella e esquecido. Ela fora sequestrada no passado. Talvez isso
servisse para explicar seu desespero em ver-se trancada. Era algo a usar a seu
favor. Agora certamente ela estava mais assustada e disposta a obedecer.
Errou. E numa larga escala. Cada vez mais percebia
em Ariella um talento nato para surpreendê-lo. Ela parecia falar com o pai a
respeito de um feliz acampamento de férias. E isso fez qualquer rastro de pena
ou remorso abandoná-lo. Odiava Ariella sempre que ela se mostrava de verdade,
em toda a sua falsidade e capacidade de enganar.
- Está tudo perfeito pai. Não se preocupe com minha
felicidade e cuide da sua empresa. Como já lhe disse anteriormente, nada tem a
temer por mim. – Ela anunciou, com uma voz serena e sem dar nenhuma pista da
realidade.
- Ariella, minha filha, eu não quero que pense que
a estou abandonando e... – Nem mesmo Afonso compreendia aquela postura em sua
filha. Havia algo de muito errado acontecendo.
- Eu estou casada com o homem que amo! – Ariella
ergueu o tom de voz no objetivo de transmitir convicção. - Talvez muito em
breve o senhor seja avô.
Diego não conseguia acreditar no que ouvia. Ariella
falava como se estivesse feliz ao lado de um homem como ele. Até aquele
instante somente havia se aproveitado dela para se vingar e se satisfazer e ela
falava sobre ele com amor. O que ela pensava conseguir com aquele teatro? Até
mesmo ele, que conhecia tão bem suas artimanhas, sentia dificuldade em
entender.
- Até quando irá manter esse teatrinho ridículo de
esposa feliz? Afonso não irá acreditar. Sabe muito bem que não me enquadro
muito no papel de príncipe encantado.
- Nem eu para donzela em apuros! Pensou que vou
ajudá-lo a deixar meu pai desesperado? – Agora era Ariella a jogar com o estado
de ânimo de Diego. Ela fria, ele descontrolado. - Não sou burra e não se
esqueça: só faço o que quero!
-Acha que seu pai vai acreditar que está feliz?
-Meu pai confia em mim, Diego. – E eu estava
falando a verdade, pensou. – Vamos sair agora?
Diego estava borbulhando de ódio pelo que Ariella
havia feito. Ela o fizera de burro! O enganara! Se continuasse naquele rumo,
ela iria atrapalhar, e muito, tudo o que havia planejado. Sua vingança
consistia em tirar o controle das empresas das mãos de Afonso Amaral.
Financeiramente, já o tinha dominado, mas ele seguia como líder da corporação. Tendo
Ariella sob o seu comando, Afonso seria obrigado a lhe obedecer. Depois que conquistasse
o comando de tudo, iria vender o que fosse possível, por fim às atividades e
decretar a vergonhosa falência, humilhando os Amaral em toda a Argentina.
Mas isso dependia dele sair da presidência. Essa
seria a condição para ele ver a filha esporadicamente e tê-la de volta, se ela
quisesse, após Ariella dar à luz seu filho. Ariella teria de deixar o filho
para trás para retomar sua vida na Argentina, com o pai. Ou ficaria com ele na
Espanha para sempre, cortando ligações com um já humilhado Afonso. Tudo isso
dependia do acordo que Ariella dificultava.
Não foi algo planejado, nem mesmo pensado. Em um
arroubo de raiva, Diego a pegou pelos braços e jogou sobre um dos ombros,
subindo as escadas rapidamente rumo ao segundo andar da gigantesca casa.
Ariella não hesitou em gritar, reação que já não surpreendia Diego.
Desesperada, ela gritou muito enquanto se debatia e arranjava-o nas costas e
pescoço. Urrava coisas sem sentido, de xingamentos a pedidos de socorro que
certamente foram ouvidos por todos na casa, mas que não foram capazes de atrair
ninguém. Ali, todos obedeciam ao patrão. Aquilo só serviu para a raiva dele
subir. Estava a ponto de fazer loucuras, piores que as praticadas até aquele
momento.
-O que está fazendo? – Ela, enfim, gritou algo
compreensível.
-Pensa que faz somente o que quer é Ariella? Pois
vai aprender que a partir de agora faz apenas o que mando! Ou será castigada!
Sem mais nada dizer Diego a jogou sobre a cama e
saiu do quarto. Trancou a porta rapidamente, mesmo sabendo que, atordoada como
estava, ela não tinha chance alguma de tentar interrompê-lo. Disse a si mesmo
que aquela atitude era necessária e sem escapatória. Traria benefícios a todos,
inclusive a Ariella que, quando esfriasse a cabeça, perceberia que a melhor
atitude a tomar era deixar no passado os tempos de menina mimada e aprender a
obedecer sem questionar a tudo. Se seguisse suas ordens e não o desobedecesse,
poderiam ter uma relação amena, quase fraterna.
Diego desceu as escadas confiante de ter feito o
certo. Após algum tempo confinada no quarto, Ariella agiria de forma mais
sensata e talvez até veria que o mostro daquela história chamava-se Afonso. Era
o mais obvio e algo a que ela, teimosa como se mostrava, insistia em não ver. Só
não sabia que iria passar um dia tão preocupado.
Saiu de casa e foi exercitar-se antes de voltar ao
trabalho. Precisava queimar todo aquele ódio que sentia antes que se
transforma-se em compaixão e o fizesse tratar Ariella de outra forma que a
merecida por ela. Racionalmente, sabia que nada além daquilo era seguro. Mas lá
no fundo de seu coração, recordava-se de uma imagem triste, que agora o prosseguia.
Ariella como fora encontrada após um sequestro, amarrada presa em um quarto. Tão
presa quanto agora. Sabia que os criminosos foram presos meses depois e ainda
cumpriam pena na Argentina. Precisando esquecer aquela imagem, intensificou
ainda mais os exercícios e garantiu a si mesmo que tinha feito o certo. O
coração, porém, reclamava. O certo talvez, mas não o melhor.
- O que poderia esperar se deixou Ariella trancada
em sua suíte ao sair? Droga! Não era o que pretendia fazer! – Repetiu
mentalmente enquanto cansava-se nos equipamentos de ginástica.
Quando foi a sua casa imaginou uma horrível briga e
uma sessão de sexo para fazer com que ela se rendesse aos seus desejos. Mas aí
ela o desafiou com aqueles imensos olhos claros e ele fez algo impensável. Bem que gostaria de pensar que Olívia, sua
empregada mais antiga e querida, iria desobedecê-lo e abrir a porta, mas sabia
ser impossível. Não por lealdade. Olívia o tinha criado e constantemente o
desobedecia, bastava que considerasse errada a ordem dada por ele. E, devido ao
amor e respeito de tantos anos, nunca pode contrariá-la.
Nesse caso, porém, nada ela poderia fazer. Não
havia chave extra de seu quarto. Inferno! E se algo acontecesse a Ariella? Não
que estivesse pensando em algo muito trágico, afinal Ariella era capaz de
suportar algumas horas de solidão. Também não iria adiantar nada ficar se
martirizando. Não podia voltar atrás! Tinha muito trabalho a fazer naquela
manhã, interrompida por sua escandalosa esposa.
Retornando ao escritório, deparou-se com alguns
assuntos urgentes e apreciou ter algo além de Ariella lhe ocupando a mente. Por
volta do meio dia, ele cancelou a reunião almoço que teria, estava ocupado
demais e sentia o estômago embrulhado. A cada vez que o celular tocava, corria
em atender por medo de se tratar de Olívia. Muitas vezes pensou em ligar para
casa em busca de notícias, da certeza de que ela estava bem por lá. Não o fez
apenas por orgulho.
- Posso falar com você? – Murilo disse após bater
na porta.
- Claro, entre. – Ele até agradecia a chegada do
amigo. Assim conseguiria pensar em outra coisa que não Ariella. Algum problema?
Murilo tinha sim algumas coisas para conversar com
Diego. Muitas. E a maior parte das coisas que desejava lhe falar nada tinha a
ver com a cadeia de hotéis da propriedade dele e os quais ele ajudava a
gerenciar graças a confiança do amigo. Eles cresceram juntos, Diego como o
filho do patrão e Murilo como o dos empregados. Brincaram juntos, estudaram
lado a lado. Começaram a sair para festas na companhia um do outro e, mesmo que
as diferenças financeiras fossem grandes, sempre trataram-se como iguais. Até
que Ramón morreu e Diego assumiu a herança deixada pela mãe e pôde construir a
própria fortuna...e lhe oferecer um alto cargo na empresa, oportunidade única a
qual ele não desperdiçou.
Ao lado do amigo, também viu todo o seu sofrimento
e acompanhou todo o planejamento daquela vingança. Mas nunca realmente
acreditou que Diego fosse casar-se com Ariella Amaral. Sempre pensou que o
amigo desistiria na última hora ou que ela não lhe permitira se aproximar
tanto. Errou. Diego foi à Argentina e voltou trazendo uma esposa relutante e
que vivia presa feito uma escrava. Por seus pais – Olívia e Ítalo – Murilo soube
do que acontecia na mansão enquanto ele trabalhada fora. E Murilo estava
assustado.
- Sim, temos um problema. Há uma questão
trabalhista que exigirá sua presença no hotel de Tóquio em cinco dias. – Murilo
falou.
- Sem chance. Vá você.
- Impossível. Já tentei. Você terá de ir.
- Acabei de me casar, estou de lua de mel. Não
posso me ausentar agora. – O olhar de Murilo deixou claro o quanto aquela
resposta soava ridícula quando os dois sabiam que aquele casamento não era um
relacionamento normal no qual a noiva não aceita a distância do marido. –
Ariella é arisca demais. Não posso viajar.
- Eu não devo...mas vou falar: que merda é essa em
que você se meteu? Está louco? Manter uma mulher presa contra a sua vontade em
casa?
- Sou seu chefe e...
- É! Mas eu falo como amigo agora! – Murilo reafirmou.
- Vai ficar louco
devido a essa vingança! Como é, Diego, que essa história termina? Você machucará
uma pessoa inocente, nada lhe fez de mau. Essa menina nada tem a ver com a
história de seus pais.
- Cale-se agora! – Diego corta o amigo aos gritos. -
Vou tirar dela aquilo de mais precioso! Eu saí dessa briga de família sem meus
pais. Ela vai me dar essa família de volta, sairá do casamento sem o filho.
- Que filho? – Murilo começava a realmente duvidar
da sanidade do amigo. Ele estava fora de si. Parecia...louco e apaixonado. Nunca
o vira tão envolto em sentimentos. Sempre muito frio, pela primeira vez, Diego
parecia envolvido por sentimentos que ameaçavam derrubá-lo.
- O filho que ela me dará. Pretendo engravidá-la o
mais depressa possível. – Diego afirmou, mesmo tendo consciência do absurdo
daquela afirmação. – Já disse: vá você para a Ásia. Eu pago o seu salário para
isso. E não para palpitar na minha vida.
Com aquilo, Murilo desistiu e resolveu sair da sala
do amigo. Não adiantava conversarem se Diego estava naquele nível de loucura. Ainda
assim, antes de bater a porta resolveu lhe dizer algo, para tentar abrir sua
mente.
- Faço isso por ser seu amigo e não querer vê-lo na
cadeia. Além disso, você pode não perceber ainda, mas já ama essa garota. E vai
se arrepender do que faz.
Com a frase de Murilo ricocheteando em sua mente, voltou
na decisão dada antes mesmo de almoçar. Já passava muito do meio dia, ele
seguia sem almoçar e com um sabor amargo na boca. Não conseguiu passar do início
da tarde sem nada fazer e ligou para casa.
-Olívia? Quero saber como estão às coisas por aí. Minha
mulher não fez mais escândalos?
-Eu não ouvi a voz da menina, senhor. – Diego sabia
que Olívia estava estranhando tudo o que se passava e, por isso, o tratava com
frieza. Não podia criticá-la por isso.
- Olívia... eu sei que você estranha tudo isso, mas
eu tenho motivos para...
- Eu não tenho de entender nada senhor, apenas
fazer o que me pede. Só que dessa vez é impossível. Não posso afirmar nada a
respeito da menina Ariella porque não tenho como ir ver sua esposa sem a chave.
Não pude nem lhe levar o almoço. – Visivelmente triste a empregada respondeu.
- Eu só liguei para saber se você não a tinha
ouvido chamar ou algo assim. – Procurou ser objetivo para evitar
questionamentos. – Ouviu ou não?
- Não! – Olívia respondeu de forma seca. Na verdade
a tinha ouvido gritar logo cedo, mas não diria nada porque conhecia aquele
homem e sabia que sua consciência iria falar mais alto. Logo Diego voltaria
para casa e conferiria se a esposa estava bem mesmo. – Se era só isso, eu
preciso cuidar de meu serviço...
- Olívia, espere! Não quero que fique pensando que
sou um monstro! – Só precisava que Ariella pensasse isso. Ter sua babá
decepcionada daquela forma lhe doía.
-Então não se comporte como um. – Olívia disse e
desligou o telefone.
O telefonema somente serviu para piorar a situação
e deixar Diego mais preocupado com a garota. Agora, sua consciência lhe dizia
que, além de ter deixado sua esposa presa e em completa solidão, também a
estava forçando a passar fome. Ela nada tinha comido desde o café da manhã.
Quando sua secretária o lembrou que deveria sair para comer algo, afinal
passava das 15hs da tarde, não aguentou e respondeu mudando os planos do dia.
- Eu vou para casa! – Não estava concentrado hoje e
decidiu fazer melhor. – Não volto mais tarde.
Ao passar novamente pelos portões de ferro naquele
interminável dia, esperava encontrar Olívia calada na sala ou na cozinha da casa
e Ariella revoltada em sua ‘cela’ improvisada. Silêncio de uma, gritos da
outra. Era para isso que veio prevenido. Mas não foi o que aconteceu. Sua antiga
babá e hoje guardiã da casa estava furiosa e lhe reclamou muito. Disse estar
farta e decepcionada ao ver cometer não apenas maldades insanas como crimes.
- Isso não é forma de tratar um anjo como aquele! –
Olívia gritou.
- Ela não é anjo coisa nenhuma e a maneira como
devo tratar minha mulher sou eu que decido. – Diego gritou em resposta...para
se arrepender logo mais.
Droga! Agora teria que se desculpar com Olívia. Com
essa certeza ele ficou assim que ela lhe deu as costas. Sem muitas
alternativas, foi ao quarto levando uma farta bandeja com muitas coisas
gostosas. Jamais admitiria em voz alta, mas era um meio para pedir desculpas.
Deixá-la sem comer jamais esteve em seus objetivos.
Ao entrar teve mais uma surpresa. Viu o cômodo em
uma desordem total e Ariella totalmente despenteada e desarrumada, adormecida
na cama. Era para se sentir satisfeito por aquilo representar a rendição de
Ariella. Ela havia chegado ao auge do estresse. Em um momento de preocupação
foi até o banheiro e abriu o armário buscando pelos remédios que sempre guardou
ali, para uma emergência. Jogou a todos fora para evitar uma atitude impensada
da esposa.
- Ela não é desequilibrada e, aparentemente, ama
viver. Mas, ainda assim, melhor não arriscar. – Disse a si mesmo.
Depois, sem nada mais para fazer e nenhum
compromisso profissional na agenda recém limpa, decidiu arrumar a bagunça em
que o quarto se encontrava. Arrumou cada cantinho, cada roupa jogada pelo chão
e retirou os restou de um quadro que enfeitava sua parede e agora, quebrado,
para nada mais servia. Depois que arrumou todo o quarto, ele almoçou parte do
lanche que trouxe para ela, ainda observando o sono da esposa. Por fim, num ato
de provocação, Diego se despiu e deitou ao lado de Ariella. Não conseguiu
dormir, mas descansou sabendo que ela estava bem. Talvez tenha ali permanecido
porque precisava vê-la acordar. Não foi boa ideia. Quando ela acordou, a
tranquilidade terminou.
- O que faz aqui? – Ela acordou assustada. –
Planejando acabar com a vida de mais alguém?
- Não. Apenas observando como minha esposa é bela.
Naquele momento, Diego sabia que não havia espaço
para retornos. Ele precisava ir até o fim e, diante de tudo o que se passou,
Ariella render-se e passar a obedecer era o melhor dos futuros.
- Agora quero que preste a atenção no que vou
dizer. Eu resolvi ser paciente com você por ser uma época de adaptação, mas não
pense que vou aceitar chiliques como o de hoje.
- Paciente? Pensa que devo agradecer? – Obedecer
não passa nem perto dos planos de Ariella.
- Pois deveria. Eu poderia ser bem pior!
- Você me carregou nas costas por sua casa e depois
trancou a porta do quarto. O que vai fazer quando ficar nervoso?Amordaçar?
Espancar? Atar ao pé da cama?
- Nossa, eu não sabia que você era tão cheia de
fetiches! Mas saiba que eu posso esquecer que sou um conde, um homem moderno e
um cavalheiro e, apenas por um momento, perder a cabeça e ficar muito pior do
que hoje!
- Não tenho medo! – Tinha, mas não ia demonstrar. -
Quer é que te obedeça, mas não vai conseguir. Não vou assustar meu pai e quando
menos esperar, fujo daqui!
-Pode até tentar, mas vai ser em vão! Tenho muita
gente em torno da propriedade.
-Vou fugir, não vai poder impedir. Você chegará um
dia aqui e não me encontrará. Eu estarei rindo em um lugar já distante! – Seria
delicioso envergonhar a ele daquela forma. Naquele momento de intenso ódio, lhe
parecia a vingança perfeita.
-Posso sim. Tenho um contrato assinado por você e
várias empresas que seu pai representa já são de minha propriedade.
-Até quando vai levar isso?
-Eu só quero duas coisas. Seu pai assumindo o golpe
que deu é a primeira. Depois ele pode até ficar com a empresa.
-E a segunda?
-O filho que me prometeu. – Diego lembrou-a, como
se fosse algo simples, comum e simplesmente esquecido por ela num ato falho.
-Não prometi nada!
-Prometeu sim, bela. – Ele se aproximou e lhe deu
um beijo na parte de trás do pescoço. – Mas como sei que não se pode confiar no
que sua família diz, fui precavido e tenho isso como cláusula do contrato.
Ariella gelou diante daquilo. Como poderia ele ser
tão perverso. Uma coisa era dizer tudo aquilo no furor de uma briga. Outra era
planejar aquilo junto de um advogado. Diego lhe provava ser um homem realmente
perigoso.
- Isso é ilegal. – Ficava excitada com ele, era
inegável, mas não conseguia se imaginar dando a luz um filho seu. Aquilo
beirava a loucura.
- Não. – Ele seguiu com as carícias e quanto mais
íntimo se tornava mais suspiros ouvia.
Diego veio cada instante mais íntimo. Doce em cada
toque, ferrenho nas palavras ditas. Ariella queria revidar, desejava afastá-lo.
Mas não conseguia. Quando ele lhe tirou a calcinha, os gemidos já estavam altos
e o pudor terminado totalmente. Apesar das poucas vezes que teve relações sexuais
com sua mulher, afinal o relacionamento foi intenso, porém, muito curto, Diego
sabia o que a agradava e fazia com todo o prazer. Seus toques não a deixavam
pensar e antes que percebesse Ariella estava gritando de prazer.
- Agora! – Ela ordenou, pronta para alcançar um
orgasmo intenso e perfeito. Na cama, não faltava nada a eles.
Diego não a deixou esperar muito desta vez. Quando
a respiração de Ariella voltou ao normal ela percebeu o que havia feitou e
permitido que ele fizesse. Permitido? Não, se fosse justa, ela reconheceria que
havia implorado por sexo com aquele homem.
-Você tem apenas duas opções, Ariella, se tornar a
esposa que eu quero e preciso, ou cumprir com sua parte no acordo e ir embora.
– Diego afirmou, de volta ao tom calmo e prepotente de sempre, pouco depois de
gozar dentro dela.
-Não concordei com isso!
-E tem mais. – Era como se ele não a ouvisse. –
Quanto mais se comportar de forma infantil pior. Enquanto eu não tiver certeza
absoluta de que vai obedecer e não tentar fugir, continuará sem poder sair de
casa.
-Eu vou fugir! – Ariella tornou a desafiá-lo.
Diego não queria fazer o que estava fazendo, lhe
doía agir feito um carrasco. Mas antes que percebesse já estava vestido e
respondendo num tom que refletia o dela.
- Eu vou embora e a noite nós nos falaremos
novamente. Quem sabe daqui a algumas horas você vai estar pronta para ser uma
boa esposa e me receber direito. Até lá, vai ficar aqui dentro, trancada e sem
poder falar ou ver ninguém. Não adianta gritar, ninguém tem a chave além de
mim.
Depois que saiu e trancou a porta, Diego
encostou-se a ela e ficou ouvindo o choro que vinha do outro lado. Perturbado,
ainda teve de assistir Olívia ignorando-o novamente. Não estava fácil suportar
a pressão de levar aquela vingança ao final. Mas nada o impediria, nem mesmo o
remorso que já passava a sentir intensamente.
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