domingo, 1 de maio de 2016

Ariella - Capítulo 9


Ariella alcançou o auge de seu desespero ao se deparar com as grades fechadas do portão de sua nova e nada acolhedora casa. Os seguranças a impediram de sair e ela não pensou duas vezes em discutir com eles, de igual para igual. Apesar das diferenças no idioma espanhol falado por ela, com palavras e sotaque típicos da argentina, e o dos profissionais espanhóis que ali trabalhavam. Mesmo reconhecendo estar discutindo com as pessoas erradas, Ariella precisava descontar em alguém toda a raiva que sentia. Estar presa em um país estranho e ainda por cima não poder sequer deixar a mansão estava muito além do que ela suportava.
As ofensas gritadas por ela, no entanto, eram bem claras. A divergência era simples. Ela desejava sair, passear por Madri, nem que fosse com alguns seguranças a seguindo de perto. A sensação de estar presa naquela casa é que a transtornava. Somente uma vez na vida ela experimentou aquela privação de liberdade, quando de seu sequestro, em que passou dias amarrada e amordaçada. Não ia permitir que aquilo se repetisse, em especial com seu marido como responsável. E se eles estavam decididos a broquear-lhe a saída, ela estava mais do que disposta a comprar aquela briga.



-Como assim? Quem pensa que é para me impedir? – Ela gritava, em um tom estridente, que assustaria qualquer um. – Eu sou a esposa de Diego! Não pode me desobedecer.
- São ordens do patrão, senhora. – O segurança argumentou sem se exaltar.
- Pois ligue para o seu patrão e diga que eu desejo sair! Ou eu gritarei tanto que atrairei a polícia, a imprensa e quem mais for necessário!

Diego foi avisado imediatamente após sua esposa ter um ataque nervoso e gritar enfrente o portão de casa. Sua equipe estava orientada a impedir qualquer tentativa de Ariella no intuito de sair da casa, fosse alegando um passeio ou tentando escapar. Não se tratava de uma vontade particular de enclausurá-la, nem de ser sádico a ponto de sentir prazer em seu pranto. Apenas reconhecia Ariella ser esperta demais para sair. Ela fatalmente tentaria uma fuga.
Além disso, ela precisava aceitar que seus tempos de menina mimada que tudo tinha às mãos, em qualquer momento, pertenciam a um distante passado. Quando soube dos gritos dela, sua primeira reação foi sorrir. Assim, ao menos ela mostrava estar ressentindo-se de seu castigo e perdia aquele irritante ar de superioridade. E que gritasse à vontade. Nada ia ganhar com isso. Não podia dizer que ficou feliz com isso, mas era o que estava planejado.
A chance dela conseguir atrair a polícia ou curiosos era mínima. Ele tinha a credibilidade do nome de sua família ao seu lado. Estava seguro ali, tanto quanto Ariella estava presa. Ainda assim, ela conseguiu atrapalhar seus planos e retirá-lo de importantes compromissos agendados para aquela tarde. Diego precisou remanejar sua agenda para retornar a seu lar e tentar domar a esposa.

- Não quero saber de fiasco enfrente minha casa! – Disse após passar pelos portões com Ítalo conduzindo o carro.

Apesar da forte recriminação implícita na frase, ele estava aparentemente calmo e controlado. Com as roupas em ordem e o cabelo perfeitamente ajustado, Diego era o exemplo perfeito de um homem seguro de suas ações e sem nada a temer. Tranquilo e com a voz pausada, ele era o contrário de Ariella que, descontrolada, aos gritos e com os trajes já desarrumados após a longa discussão com os funcionários do marido, parecia aluguem prestes a um surto nervoso.

-Tenho de ficar presa aqui então?
-Poderá sair, acompanhada, desde que eu seja avisado antes. – Informou-a, apenas para afirmar ser ele quem decidia. – Mas não será hoje. Sairá quando eu permitir. Agora entre e não me irrite ainda mais. Não gosto de escândalos.

Somente quando estavam na privacidade de seu escritório é que Diego voltou a falar. Por dentro, estava também muito irritado, principalmente com o que via no olhar recriminador de seus funcionários. A forma como Ariella conseguia rapidamente virar a situação ao seu favor era desconcertante. Ela sabia como transformar-se em vítima, posar de sofredora e conquistar a simpatia de todos. Aqueles olhos claros e cabelos alaranjados pareciam conquistar a quem estava à sua volta. Ariella transmitia uma ingenuidade distante da realidade. Tinha herdado do pai o talento para mentir, roubar e enganar. Podia funcionar com os outros, ele já era vacinado.

- Não sei até que ponto você é fiel à sua família e não ficaria surpreso se sumisse no mundo sem se preocupar com seu pai. Por tanto, você só deixará essa casa vigiada e com a minha autorização. – Avisou, sem dar margem a negociações.
- Eu nunca faria isso!
- Sua palavra não vale nada Ariella. Agradeça ao seu pai pela péssima reputação familiar. – Falou com desdém. – Aonde desejava ir?
-Não sei. Sair, espairecer, pensar na vida e em como ela ficará melhor quando eu me livrar da sua presença.
-Não deveria pensar em um momento tão distante. Demorará muito tempo até que EU deseje me ver livre de você e, então não precisará mais conviver com a minha presença.

Ariella observava o marido. Tão diferente do homem que, mesmo mexido pela bebida alcoólica e muito distante de ser um companheiro normal, ainda assim, soube lhe demonstrar carinho na noite passada. Agora ele era digno de pena. Antes de se apiedar, porém, lembrou-se que todos aqueles absurdos eram culpa sua. E dele dependia por fim naquilo tudo. Somente dele. Se Diego realmente sentia todo aquele sofrimento, era uma escolha pessoal de quem prefere ficar amarrado ao passado. E ela não o pouparia de nada por isso.

- Quero que ligue para o seu pai! – Em mais uma ordem Diego tirou Ariella de seus devaneios.
-Por quê? – Não tinha esperança de que aquilo fosse algum tipo de piedade, mas sim a certeza de que havia algo por traz do pedido. Algo ruim, talvez cruel.
-Não pergunte o porquê de tudo o que faço, apenas obedeça.

Ariella não precisava que ele respondesse. Rapidamente aprendeu a antecipar suas atitudes. E isso representava estar sempre um passo à frente. Estava claro que Diego planejava que ela chorasse para o pai e implorasse para que ele viesse buscá-la. Desejava ver Afonso desesperado e tendo de escolher entre a empresa que construiu e a felicidade da filha. No que dependesse dela, decidiu Ariella, ficaria esperando. Sem saber ao certo como deixou a explosão de fúria para trás e se tornou fria, com voz sóbria e até mesmo aparentando tranquilidade, respondeu ao seu pedido, aceitando colaborar.
Diego acreditou que aquilo seria um passo em seu favor. Se nos primeiros contatos Ariella nada fez para atrair o pai, agora, percebendo a dureza daquela prisão, ela certamente exigiria que Afonso fizesse algum acordo. Agora lembrou-se de algo que, surpreendentemente, havia lido no histórico de Ariella e esquecido. Ela fora sequestrada no passado. Talvez isso servisse para explicar seu desespero em ver-se trancada. Era algo a usar a seu favor. Agora certamente ela estava mais assustada e disposta a obedecer.
Errou. E numa larga escala. Cada vez mais percebia em Ariella um talento nato para surpreendê-lo. Ela parecia falar com o pai a respeito de um feliz acampamento de férias. E isso fez qualquer rastro de pena ou remorso abandoná-lo. Odiava Ariella sempre que ela se mostrava de verdade, em toda a sua falsidade e capacidade de enganar.

- Está tudo perfeito pai. Não se preocupe com minha felicidade e cuide da sua empresa. Como já lhe disse anteriormente, nada tem a temer por mim. – Ela anunciou, com uma voz serena e sem dar nenhuma pista da realidade.
- Ariella, minha filha, eu não quero que pense que a estou abandonando e... – Nem mesmo Afonso compreendia aquela postura em sua filha. Havia algo de muito errado acontecendo.
- Eu estou casada com o homem que amo! – Ariella ergueu o tom de voz no objetivo de transmitir convicção. - Talvez muito em breve o senhor seja avô.

Diego não conseguia acreditar no que ouvia. Ariella falava como se estivesse feliz ao lado de um homem como ele. Até aquele instante somente havia se aproveitado dela para se vingar e se satisfazer e ela falava sobre ele com amor. O que ela pensava conseguir com aquele teatro? Até mesmo ele, que conhecia tão bem suas artimanhas, sentia dificuldade em entender.

- Até quando irá manter esse teatrinho ridículo de esposa feliz? Afonso não irá acreditar. Sabe muito bem que não me enquadro muito no papel de príncipe encantado.
- Nem eu para donzela em apuros! Pensou que vou ajudá-lo a deixar meu pai desesperado? – Agora era Ariella a jogar com o estado de ânimo de Diego. Ela fria, ele descontrolado. - Não sou burra e não se esqueça: só faço o que quero!
-Acha que seu pai vai acreditar que está feliz?
-Meu pai confia em mim, Diego. – E eu estava falando a verdade, pensou. – Vamos sair agora?

Diego estava borbulhando de ódio pelo que Ariella havia feito. Ela o fizera de burro! O enganara! Se continuasse naquele rumo, ela iria atrapalhar, e muito, tudo o que havia planejado. Sua vingança consistia em tirar o controle das empresas das mãos de Afonso Amaral. Financeiramente, já o tinha dominado, mas ele seguia como líder da corporação. Tendo Ariella sob o seu comando, Afonso seria obrigado a lhe obedecer. Depois que conquistasse o comando de tudo, iria vender o que fosse possível, por fim às atividades e decretar a vergonhosa falência, humilhando os Amaral em toda a Argentina.
Mas isso dependia dele sair da presidência. Essa seria a condição para ele ver a filha esporadicamente e tê-la de volta, se ela quisesse, após Ariella dar à luz seu filho. Ariella teria de deixar o filho para trás para retomar sua vida na Argentina, com o pai. Ou ficaria com ele na Espanha para sempre, cortando ligações com um já humilhado Afonso. Tudo isso dependia do acordo que Ariella dificultava.
Não foi algo planejado, nem mesmo pensado. Em um arroubo de raiva, Diego a pegou pelos braços e jogou sobre um dos ombros, subindo as escadas rapidamente rumo ao segundo andar da gigantesca casa. Ariella não hesitou em gritar, reação que já não surpreendia Diego. Desesperada, ela gritou muito enquanto se debatia e arranjava-o nas costas e pescoço. Urrava coisas sem sentido, de xingamentos a pedidos de socorro que certamente foram ouvidos por todos na casa, mas que não foram capazes de atrair ninguém. Ali, todos obedeciam ao patrão. Aquilo só serviu para a raiva dele subir. Estava a ponto de fazer loucuras, piores que as praticadas até aquele momento.

-O que está fazendo? – Ela, enfim, gritou algo compreensível.
-Pensa que faz somente o que quer é Ariella? Pois vai aprender que a partir de agora faz apenas o que mando! Ou será castigada!

Sem mais nada dizer Diego a jogou sobre a cama e saiu do quarto. Trancou a porta rapidamente, mesmo sabendo que, atordoada como estava, ela não tinha chance alguma de tentar interrompê-lo. Disse a si mesmo que aquela atitude era necessária e sem escapatória. Traria benefícios a todos, inclusive a Ariella que, quando esfriasse a cabeça, perceberia que a melhor atitude a tomar era deixar no passado os tempos de menina mimada e aprender a obedecer sem questionar a tudo. Se seguisse suas ordens e não o desobedecesse, poderiam ter uma relação amena, quase fraterna.
Diego desceu as escadas confiante de ter feito o certo. Após algum tempo confinada no quarto, Ariella agiria de forma mais sensata e talvez até veria que o mostro daquela história chamava-se Afonso. Era o mais obvio e algo a que ela, teimosa como se mostrava, insistia em não ver. Só não sabia que iria passar um dia tão preocupado.




Saiu de casa e foi exercitar-se antes de voltar ao trabalho. Precisava queimar todo aquele ódio que sentia antes que se transforma-se em compaixão e o fizesse tratar Ariella de outra forma que a merecida por ela. Racionalmente, sabia que nada além daquilo era seguro. Mas lá no fundo de seu coração, recordava-se de uma imagem triste, que agora o prosseguia. Ariella como fora encontrada após um sequestro, amarrada presa em um quarto. Tão presa quanto agora. Sabia que os criminosos foram presos meses depois e ainda cumpriam pena na Argentina. Precisando esquecer aquela imagem, intensificou ainda mais os exercícios e garantiu a si mesmo que tinha feito o certo. O coração, porém, reclamava. O certo talvez, mas não o melhor.

- O que poderia esperar se deixou Ariella trancada em sua suíte ao sair? Droga! Não era o que pretendia fazer! – Repetiu mentalmente enquanto cansava-se nos equipamentos de ginástica.

Quando foi a sua casa imaginou uma horrível briga e uma sessão de sexo para fazer com que ela se rendesse aos seus desejos. Mas aí ela o desafiou com aqueles imensos olhos claros e ele fez algo impensável.  Bem que gostaria de pensar que Olívia, sua empregada mais antiga e querida, iria desobedecê-lo e abrir a porta, mas sabia ser impossível. Não por lealdade. Olívia o tinha criado e constantemente o desobedecia, bastava que considerasse errada a ordem dada por ele. E, devido ao amor e respeito de tantos anos, nunca pode contrariá-la.
Nesse caso, porém, nada ela poderia fazer. Não havia chave extra de seu quarto. Inferno! E se algo acontecesse a Ariella? Não que estivesse pensando em algo muito trágico, afinal Ariella era capaz de suportar algumas horas de solidão. Também não iria adiantar nada ficar se martirizando. Não podia voltar atrás! Tinha muito trabalho a fazer naquela manhã, interrompida por sua escandalosa esposa.
Retornando ao escritório, deparou-se com alguns assuntos urgentes e apreciou ter algo além de Ariella lhe ocupando a mente. Por volta do meio dia, ele cancelou a reunião almoço que teria, estava ocupado demais e sentia o estômago embrulhado. A cada vez que o celular tocava, corria em atender por medo de se tratar de Olívia. Muitas vezes pensou em ligar para casa em busca de notícias, da certeza de que ela estava bem por lá. Não o fez apenas por orgulho.



- Posso falar com você? – Murilo disse após bater na porta.
- Claro, entre. – Ele até agradecia a chegada do amigo. Assim conseguiria pensar em outra coisa que não Ariella. Algum problema?

Murilo tinha sim algumas coisas para conversar com Diego. Muitas. E a maior parte das coisas que desejava lhe falar nada tinha a ver com a cadeia de hotéis da propriedade dele e os quais ele ajudava a gerenciar graças a confiança do amigo. Eles cresceram juntos, Diego como o filho do patrão e Murilo como o dos empregados. Brincaram juntos, estudaram lado a lado. Começaram a sair para festas na companhia um do outro e, mesmo que as diferenças financeiras fossem grandes, sempre trataram-se como iguais. Até que Ramón morreu e Diego assumiu a herança deixada pela mãe e pôde construir a própria fortuna...e lhe oferecer um alto cargo na empresa, oportunidade única a qual ele não desperdiçou.
Ao lado do amigo, também viu todo o seu sofrimento e acompanhou todo o planejamento daquela vingança. Mas nunca realmente acreditou que Diego fosse casar-se com Ariella Amaral. Sempre pensou que o amigo desistiria na última hora ou que ela não lhe permitira se aproximar tanto. Errou. Diego foi à Argentina e voltou trazendo uma esposa relutante e que vivia presa feito uma escrava. Por seus pais – Olívia e Ítalo – Murilo soube do que acontecia na mansão enquanto ele trabalhada fora. E Murilo estava assustado.

- Sim, temos um problema. Há uma questão trabalhista que exigirá sua presença no hotel de Tóquio em cinco dias. – Murilo falou.
- Sem chance. Vá você.
- Impossível. Já tentei. Você terá de ir.
- Acabei de me casar, estou de lua de mel. Não posso me ausentar agora. – O olhar de Murilo deixou claro o quanto aquela resposta soava ridícula quando os dois sabiam que aquele casamento não era um relacionamento normal no qual a noiva não aceita a distância do marido. – Ariella é arisca demais. Não posso viajar.
- Eu não devo...mas vou falar: que merda é essa em que você se meteu? Está louco? Manter uma mulher presa contra a sua vontade em casa?
- Sou seu chefe e...
- É! Mas eu falo como amigo agora! – Murilo reafirmou. - Vai ficar louco devido a essa vingança! Como é, Diego, que essa história termina? Você machucará uma pessoa inocente, nada lhe fez de mau. Essa menina nada tem a ver com a história de seus pais.
- Cale-se agora! – Diego corta o amigo aos gritos. - Vou tirar dela aquilo de mais precioso! Eu saí dessa briga de família sem meus pais. Ela vai me dar essa família de volta, sairá do casamento sem o filho.
- Que filho? – Murilo começava a realmente duvidar da sanidade do amigo. Ele estava fora de si. Parecia...louco e apaixonado. Nunca o vira tão envolto em sentimentos. Sempre muito frio, pela primeira vez, Diego parecia envolvido por sentimentos que ameaçavam derrubá-lo.
- O filho que ela me dará. Pretendo engravidá-la o mais depressa possível. – Diego afirmou, mesmo tendo consciência do absurdo daquela afirmação. – Já disse: vá você para a Ásia. Eu pago o seu salário para isso. E não para palpitar na minha vida.

Com aquilo, Murilo desistiu e resolveu sair da sala do amigo. Não adiantava conversarem se Diego estava naquele nível de loucura. Ainda assim, antes de bater a porta resolveu lhe dizer algo, para tentar abrir sua mente.

- Faço isso por ser seu amigo e não querer vê-lo na cadeia. Além disso, você pode não perceber ainda, mas já ama essa garota. E vai se arrepender do que faz.


Com a frase de Murilo ricocheteando em sua mente, voltou na decisão dada antes mesmo de almoçar. Já passava muito do meio dia, ele seguia sem almoçar e com um sabor amargo na boca. Não conseguiu passar do início da tarde sem nada fazer e ligou para casa.

-Olívia? Quero saber como estão às coisas por aí. Minha mulher não fez mais escândalos?
-Eu não ouvi a voz da menina, senhor. – Diego sabia que Olívia estava estranhando tudo o que se passava e, por isso, o tratava com frieza. Não podia criticá-la por isso.
- Olívia... eu sei que você estranha tudo isso, mas eu tenho motivos para...
- Eu não tenho de entender nada senhor, apenas fazer o que me pede. Só que dessa vez é impossível. Não posso afirmar nada a respeito da menina Ariella porque não tenho como ir ver sua esposa sem a chave. Não pude nem lhe levar o almoço. – Visivelmente triste a empregada respondeu.
- Eu só liguei para saber se você não a tinha ouvido chamar ou algo assim. – Procurou ser objetivo para evitar questionamentos. – Ouviu ou não?
- Não! – Olívia respondeu de forma seca. Na verdade a tinha ouvido gritar logo cedo, mas não diria nada porque conhecia aquele homem e sabia que sua consciência iria falar mais alto. Logo Diego voltaria para casa e conferiria se a esposa estava bem mesmo. – Se era só isso, eu preciso cuidar de meu serviço...
- Olívia, espere! Não quero que fique pensando que sou um monstro! – Só precisava que Ariella pensasse isso. Ter sua babá decepcionada daquela forma lhe doía.
-Então não se comporte como um. – Olívia disse e desligou o telefone.

O telefonema somente serviu para piorar a situação e deixar Diego mais preocupado com a garota. Agora, sua consciência lhe dizia que, além de ter deixado sua esposa presa e em completa solidão, também a estava forçando a passar fome. Ela nada tinha comido desde o café da manhã. Quando sua secretária o lembrou que deveria sair para comer algo, afinal passava das 15hs da tarde, não aguentou e respondeu mudando os planos do dia.

- Eu vou para casa! – Não estava concentrado hoje e decidiu fazer melhor. – Não volto mais tarde.

Ao passar novamente pelos portões de ferro naquele interminável dia, esperava encontrar Olívia calada na sala ou na cozinha da casa e Ariella revoltada em sua ‘cela’ improvisada. Silêncio de uma, gritos da outra. Era para isso que veio prevenido. Mas não foi o que aconteceu. Sua antiga babá e hoje guardiã da casa estava furiosa e lhe reclamou muito. Disse estar farta e decepcionada ao ver cometer não apenas maldades insanas como crimes.

- Isso não é forma de tratar um anjo como aquele! – Olívia gritou.
- Ela não é anjo coisa nenhuma e a maneira como devo tratar minha mulher sou eu que decido. – Diego gritou em resposta...para se arrepender logo mais.

Droga! Agora teria que se desculpar com Olívia. Com essa certeza ele ficou assim que ela lhe deu as costas. Sem muitas alternativas, foi ao quarto levando uma farta bandeja com muitas coisas gostosas. Jamais admitiria em voz alta, mas era um meio para pedir desculpas. Deixá-la sem comer jamais esteve em seus objetivos.
Ao entrar teve mais uma surpresa. Viu o cômodo em uma desordem total e Ariella totalmente despenteada e desarrumada, adormecida na cama. Era para se sentir satisfeito por aquilo representar a rendição de Ariella. Ela havia chegado ao auge do estresse. Em um momento de preocupação foi até o banheiro e abriu o armário buscando pelos remédios que sempre guardou ali, para uma emergência. Jogou a todos fora para evitar uma atitude impensada da esposa.

- Ela não é desequilibrada e, aparentemente, ama viver. Mas, ainda assim, melhor não arriscar. – Disse a si mesmo.

Depois, sem nada mais para fazer e nenhum compromisso profissional na agenda recém limpa, decidiu arrumar a bagunça em que o quarto se encontrava. Arrumou cada cantinho, cada roupa jogada pelo chão e retirou os restou de um quadro que enfeitava sua parede e agora, quebrado, para nada mais servia. Depois que arrumou todo o quarto, ele almoçou parte do lanche que trouxe para ela, ainda observando o sono da esposa. Por fim, num ato de provocação, Diego se despiu e deitou ao lado de Ariella. Não conseguiu dormir, mas descansou sabendo que ela estava bem. Talvez tenha ali permanecido porque precisava vê-la acordar. Não foi boa ideia. Quando ela acordou, a tranquilidade terminou.



- O que faz aqui? – Ela acordou assustada. – Planejando acabar com a vida de mais alguém?
- Não. Apenas observando como minha esposa é bela.

Naquele momento, Diego sabia que não havia espaço para retornos. Ele precisava ir até o fim e, diante de tudo o que se passou, Ariella render-se e passar a obedecer era o melhor dos futuros.

- Agora quero que preste a atenção no que vou dizer. Eu resolvi ser paciente com você por ser uma época de adaptação, mas não pense que vou aceitar chiliques como o de hoje.
- Paciente? Pensa que devo agradecer? – Obedecer não passa nem perto dos planos de Ariella.
- Pois deveria. Eu poderia ser bem pior!
- Você me carregou nas costas por sua casa e depois trancou a porta do quarto. O que vai fazer quando ficar nervoso?Amordaçar? Espancar? Atar ao pé da cama?
- Nossa, eu não sabia que você era tão cheia de fetiches! Mas saiba que eu posso esquecer que sou um conde, um homem moderno e um cavalheiro e, apenas por um momento, perder a cabeça e ficar muito pior do que hoje!
- Não tenho medo! – Tinha, mas não ia demonstrar. - Quer é que te obedeça, mas não vai conseguir. Não vou assustar meu pai e quando menos esperar, fujo daqui!
-Pode até tentar, mas vai ser em vão! Tenho muita gente em torno da propriedade.
-Vou fugir, não vai poder impedir. Você chegará um dia aqui e não me encontrará. Eu estarei rindo em um lugar já distante! – Seria delicioso envergonhar a ele daquela forma. Naquele momento de intenso ódio, lhe parecia a vingança perfeita.
-Posso sim. Tenho um contrato assinado por você e várias empresas que seu pai representa já são de minha propriedade.
-Até quando vai levar isso?
-Eu só quero duas coisas. Seu pai assumindo o golpe que deu é a primeira. Depois ele pode até ficar com a empresa.
-E a segunda?
-O filho que me prometeu. – Diego lembrou-a, como se fosse algo simples, comum e simplesmente esquecido por ela num ato falho.
-Não prometi nada!
-Prometeu sim, bela. – Ele se aproximou e lhe deu um beijo na parte de trás do pescoço. – Mas como sei que não se pode confiar no que sua família diz, fui precavido e tenho isso como cláusula do contrato.

Ariella gelou diante daquilo. Como poderia ele ser tão perverso. Uma coisa era dizer tudo aquilo no furor de uma briga. Outra era planejar aquilo junto de um advogado. Diego lhe provava ser um homem realmente perigoso.

- Isso é ilegal. – Ficava excitada com ele, era inegável, mas não conseguia se imaginar dando a luz um filho seu. Aquilo beirava a loucura.
- Não. – Ele seguiu com as carícias e quanto mais íntimo se tornava mais suspiros ouvia.

Diego veio cada instante mais íntimo. Doce em cada toque, ferrenho nas palavras ditas. Ariella queria revidar, desejava afastá-lo. Mas não conseguia. Quando ele lhe tirou a calcinha, os gemidos já estavam altos e o pudor terminado totalmente. Apesar das poucas vezes que teve relações sexuais com sua mulher, afinal o relacionamento foi intenso, porém, muito curto, Diego sabia o que a agradava e fazia com todo o prazer. Seus toques não a deixavam pensar e antes que percebesse Ariella estava gritando de prazer.

- Agora! – Ela ordenou, pronta para alcançar um orgasmo intenso e perfeito. Na cama, não faltava nada a eles.

Diego não a deixou esperar muito desta vez. Quando a respiração de Ariella voltou ao normal ela percebeu o que havia feitou e permitido que ele fizesse. Permitido? Não, se fosse justa, ela reconheceria que havia implorado por sexo com aquele homem.

-Você tem apenas duas opções, Ariella, se tornar a esposa que eu quero e preciso, ou cumprir com sua parte no acordo e ir embora. – Diego afirmou, de volta ao tom calmo e prepotente de sempre, pouco depois de gozar dentro dela.
-Não concordei com isso!
-E tem mais. – Era como se ele não a ouvisse. – Quanto mais se comportar de forma infantil pior. Enquanto eu não tiver certeza absoluta de que vai obedecer e não tentar fugir, continuará sem poder sair de casa.
-Eu vou fugir! – Ariella tornou a desafiá-lo.

Diego não queria fazer o que estava fazendo, lhe doía agir feito um carrasco. Mas antes que percebesse já estava vestido e respondendo num tom que refletia o dela.

- Eu vou embora e a noite nós nos falaremos novamente. Quem sabe daqui a algumas horas você vai estar pronta para ser uma boa esposa e me receber direito. Até lá, vai ficar aqui dentro, trancada e sem poder falar ou ver ninguém. Não adianta gritar, ninguém tem a chave além de mim.

Depois que saiu e trancou a porta, Diego encostou-se a ela e ficou ouvindo o choro que vinha do outro lado. Perturbado, ainda teve de assistir Olívia ignorando-o novamente. Não estava fácil suportar a pressão de levar aquela vingança ao final. Mas nada o impediria, nem mesmo o remorso que já passava a sentir intensamente.

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