segunda-feira, 9 de maio de 2016

Vida Roubada - Capítulo 20

          Miguel bem que tentou manter sigilo sobre seu retorno e de Elizabeth ao Brasil. Instalou-se com a esposa no apartamento e descansaram durante todo aquele dia, mas logo pela manhã do dia seguinte, tiveram de se separar e seguir para o trabalho. Elizabeth estava, oficialmente, retornando de férias e reassumindo sua investigação. E ele retomando as atividades na BTez, num momento de turbulência econômica em que a venda de carros estava em baixa, a produção reduzida e a empresa demitindo funcionários.

            - Não há alternativa. Mas é doloroso. – Comentou com um dos diretores.
           
            Bastaram algumas horas no escritório, assinaturas em contratos e duas reuniões para que a notícia de sua chegada tenha chegado até Rúbia. E quando ele voltou do almoço lá estava a mãe, esperando por ele no escritório com cara de poucos amigos.

            - Madre! Não esperava por sua visita hoje. Estou bem atarefado...
            - Não pense que irá se livrar de mim. Caso realmente estivesse realmente preocupado com essa empresa, não teria sumido pela Europa pelo capricho daquela mulher! O Brasil em crise, a economia pegando fogo e você brincando de policial por aí!

            Miguel observou a mãe primeiro sem nada responder. Depois, pensou se ela tinha alguma razão em lhe cobrar algo. Decidiu que não. Primeiro porque de forma remota esteve conectado com a empresa em cada um daqueles dias, também porque aquele posto jamais foi um desejo seu e só em ser presidente da BTez já dava sua contribuição à família e, por último, pela certeza de que aquilo tudo era muito mais uma retaliação ao seu relacionamento com Elizabeth que qualquer preocupação com a empresa. Fosse uma lua de Mel com Alejandra, Rúbia estaria satisfeita.



            - Madre, vou falar uma única vez. Estive em férias na Rússia com minha esposa. Ela está grávida e necessitava dessa viagem. As razões não são da sua conta! – Disse calmamente. – Se eu precisar me afastar novamente, o farei.
            - Além de sua mãe, sou viúva do fundador dessa empresa e tenho ações da BTez. Você me deve explicações sim!
            - Bom, nesse caso, você pode sugerir aos demais acionistas de que retirem do posto de presidente. Faça como preferir, Madre. Eu não me sentiria ofendido, garanto! Dava adeus a esse lugar, reabriria meu consultório e cuidaria de minha esposa e filho. Não preciso da BTez!
            - Desnaturado! É nisso que aquela mulher o transformou. Está abandonando o patrimônio que seu pai lutou para erguer pela vida toda.
            - Não, Madre. Não o abandono em respeito a memória de papai. Mas não estou disposto a encarar esse tipo de cobrança. Agora, se está tão preocupada com a BTez, me deixe trabalhar.
            - E seu filho? Por acaso lembrou-se de ligar para Alejandra e ter notícias de seu filho. Fique sabendo que ela não passou bem enquanto esteve abandonada aqui. Isso porque você estava viajando com a outra.
            - Com minha esposa, mãe. Eu estava com minha esposa e Alejandra passa por essa situação porque quer. – Mesmo assim, estava em falta com o filho. E nisso sua consciência pesava. – Vou entrar em contato. Quero ver  os exames e saber exatamente como ela está. E a senhora? Não quer notícias de seu outro neto? O bebê que Elizabeth espera também tem seu sangue.
            - Se for seu! Eu não tenho essa certeza!
            - Vá embora! – Miguel explodiu. Vá e só volte a falar comigo quando aprender a tratar minha mulher com respeito!

            Nos EUA, também em seu ambiente de trabalho, Sebastian recebeu uma visita inesperada. Alguém a quem jamais tinha visto e sequer conhecia o nome, mas lhe surpreendeu pela beleza. Não só pelos belos cabelos louros ou lábios avermelhados, nem mesmo pelas curvas fartas e mostradas amplamente na roupa ousada. Chegava ao olhar cheio de segundas intenções que ela lhe dirigia.



            - Boa tarde, Srº Gonzáles. Agradeço o senhor ter me recebido. Sei como é ocupado e, mesmo assim, encontrou um espaço em sua agenda para ouvir-me. Estou grata. – Ela falou num inglês calmo e pausado, mas que não conseguia disfarçar ser estrangeiro.
            - Um homem como eu, senhorita...
            - Alencastro. Gabriela Alencastro.
            - Um homem como eu, Gabriela, não nega jamais encontrar-se com uma mulher bonita. Mas antes de me explicar como posso ajudá-la, me diga da onde você é, certamente não é americana.
            - Vejo que é difícil enganá-lo. – Ela riu, charmosa. – Sou brasileira, mas moro aqui há muitos anos. Sou funcionária pública, trabalho no tribunal de justiça.



            A mente de Sebastian voou instantaneamente até outra brasileira. Curiosamente, aquele país tropical parecia persegui-lo. Uma perseguição linda e cheia de charme. As duas muito diferentes. Beatriz era uma fera enjaulada e guardada com discrição. Gabriela aparentava ser uma gata selvagem, daquelas que atraem muito, a com é preciso ter atenção. Aquelas belas unhas vermelhas poderiam servir de garras. Ele lhe deu atenção, mas resolveu ficar atento.

            - O Brasil é um lugar fantástico...e com mulheres fantásticas. – Disse-lhe. – Pode falar em português. Conheço o idioma muito bem. O idioma...e as brasileiras.
            - Fico feliz em lhe despertar boas lembranças. – Aquele sorriso soou arriscado a Sebastian. Gabriela Alencastro, belíssima, sem dúvida, é perigosa. Bastava olhar para ela para ver isso. – Mas vim aqui a negócios. Quero lhe fazer uma proposta.
            - Faça. Adoro propostas vindas de mulheres, especialmente as brasileiras bonitas.
            - Quero abrir um hotel no Brasil, entrar para esse ramo. Tenho o dinheiro para investir, mas não a experiência no ramo. Por isso...procuro um especialista no assunto. Quero ser sua sócia, Sebastian.
            - E posso lhe perguntar como uma funcionária pública tem os recursos necessários para abrir um hotel no Brasil? – Aquilo estava muito estranho.
            - É claro. Sou herdeira das ações de meu pai em uma multinacional do ramo automobilístico. Ele faleceu há cerca de um ano e eu tenho de começar a investir os recursos que se acumulam em minha conta bancária.
            - Qual multinacional?
            - BTez Motors. Javier Alencastro Benitez, meu pai, foi um dos diretores da empresa por décadas. Morreu recentemente.
            - Já ouvi falar da BTez. É uma empresa sólida. Dinheiro acumulado é um ótimo problema para qualquer um, senhorita Alencastro. Façamos o seguinte...envie para minha secretária um projeto do que deseja, como local, tipo de empreendimento e valores disponíveis. E então nós voltaremos a conversar. Está bem assim?
            - Sim, Sebastian. Será um prazer encontrá-lo novamente.

            Assim que ficou sozinho em sua sala Sebastian telefonou para a secretária. Para fazer sua fortuna, além de esforço e muito trabalho, sempre contou com uma ajuda subliminar, uma espécie de sexto sentido muito vivo. Alguns chamariam de premonição. Qual fosse o nome, estava agindo naquele momento.

            - Essa moça que acaba de sair do escritório irá encaminhar uma documentação. Quero ter os papéis em mãos assim que chegarem e também precisarei de uma ampla investigação. Chame o escritório de investigação mais renomado do país. Quero um relatório completo a respeito da senhorita Alencastro o quanto antes.
            Enquanto investigava Gabriela, Sebastian era investigado por Elizabeth. Nesse primeiro dia no Brasil, no entanto, nada descobriu sobre o homem grisalho e charmoso que apesar de não ser russo, visitava com frequencia a boate. Três mulheres que lá estavam quando da invasão policial já tinham retornado ao Brasil e retornado às famílias. Outras ainda chegariam. Quem ainda retornaria era o homem hospitalizado e sob vigilância policial. Aquele era um depoimento pelo qual ela ansiava.



            - Aquilo é o demônio! Pra ele não é apenas dinheiro. Ele tinha prazer em nos machucar, nos estuprar. Quanto mais ferisse melhor. – Lhe confidenciou uma jovem que tinha calafrios apenas em pensar no líder que mantinha as garotas obedientes na Noxotb.

            Ficar frente a frente com aquele carcereiro demoníaco era um dos grandes objetivos de Elizabeth. Não era apenas pelo que as mulheres lhe disseram. Era, em especial, pelo olhar dele lá na boate. ‘chegou tarde, dois dias atrasada’. Dois dias antes Beatriz fora vendida. Gregory a reconheceu. Ele fora o carcereiro de Beatriz. E, muito provavelmente, sua irmã também havia sofrido nas mãos daquele carrasco.

            - Mas ele não agia sozinho. – A mesma jovem ainda lhe disse. – Samantha, a vagabunda que ele tratava como esposa, era sua cúmplice em tudo.

            Elizabeth não faz ideia de quem é Samantha ou onde estaria. Mas já tinha descoberto como escapou da Noxotb. E tinha descoberto um pouco de sua história. A prostituta que ascendeu a criminosa. Casou-se com o carcereiro e mudou de status, sabia como fugir, mas preferia lá ficar. E, segundo lhe disseram, desgostava especialmente de Beatriz. Ela certamente teria o que lhe dizer.

            - Vou encontrá-la, Samantha. Pode apostar que eu vou. – Jurou, sem medo algum de estar mentindo.

            Em meio a toda aquela angústia, ao menos uma notícia positiva lhe chegou. Matheus, magoado por não ter recebido uma visita assim que ela chegou ao Brasil, lhe telefonou com uma bela novidade.

            - Saiu uma liminar a seu favor. A partir de agora, pode visitar Eva. - A pequena filha de Beatriz, cujo par que nunca havia demonstrado interesse por ela, mas a levou embora assim que a mãe foi sequestrada, agora finalmente poderia voltar a conviver com a família materna. – A cada 15 dias você terá um final de semana com Eva.



            - Obrigada, meu amigo. É um alento poder contar com você.
            - Eu quero saber detalhes de tudo o que descobriu. Porque você e Miguel não vem jantar aqui em casa? Paty vai adorar preparar uma janta leve e nós conversamos.
            - Não posso. Cheguei ontem, ainda estou cansada e...pra ser sincera...quero ficar quietinha em casa com Miguel. Mas vamos marcar logo um jantar quero sua ajuda para esclarecer algumas coisas. E de Paty também!
            - Está bem. Bom descanso então.

            Elizabeth bem que pensou em analisar mais alguns projetos antes de ir para casa. Só não vez isso porque quando lia a folha de rosto de um deles seu celular voltou a tocar. Dessa vez não era Matt, nem uma ligação comum. Era apenas uma mensagem vinda por WhatsApp. Mas vinda de Miguel, bastava para fazer seu coração saltitar no peito.

[Preparei a janta. Está uma delícia e só falta você chegar]

            Não havia como dispensar aquele convite. Não quando aquele homem fazia de tudo por ela e, ainda por cima, tinha a capacidade de preparar o jantar.

[Já vou pra casa. Estou com fome, de comida e de você]


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