sábado, 9 de abril de 2016

Ariella - capítulo 6

Casar! Ariella mal podia acreditar que estava fazendo aquela loucura. E sem falar para ninguém. Nem mesmo Dulce sabia que ela trocava alianças com o amor de sua vida. Nem mesmo ela conseguia acreditar naquela decisão tão impensada. Poderia dar errado, ela sabia. Aquele amor, como qualquer outro, poderia não ser eterno. Ainda assim, não se arrependia de ter dito sim. Diego é tão maravilhoso que não conseguia lhe negar nada.
Estavam juntos há apenas três meses e em nenhum momento ele lhe havia decepcionado. Passeavam, iam ao cinema, dançar, beber e aproveitavam maravilhosas noites a dois. A noite sempre lhe parecia curta demais quando ele lhe dizia que estava na hora de levá-la para casa. Ela chegava a torcer para que ele sempre dissesse que podia ficar, para dormir em seus braços. E normalmente ele deixava. Não hoje. Porque seu Conte espanhol aparentava ser um homem às antigas e mesmo já tendo levado-a para cama muitas vezes, disse preferir que ficassem separados naquela noite que antecedia o enlace. Diego disse não estar com pressa para levá-la para a cama porque daquele dia em diante a teria para sempre. Ela ansiava por Diego. Ainda assim, lá no fundo ficava uma réstia de desconfiança. Casar?
Diego passou a última noite de solteiro sozinho, bebendo no quarto do hotel enquanto verificava alguns e-mails de trabalho. Apesar de ter liberado Ícaro para sair em uma noite de folga, o amigo e motorista estava ali, observando-o em silêncio. Parecia ter aceitado que não havia mais escapatória. O mal estava feito ou, no mínimo, a um passo de ser concretizado.

- Porque me olha assim, Ítalo? Não percebe que tudo conspira ao meu favor porque é justiça o que faço. O destino de Ariella é ser minha.
- Não fale como um louco Diego. No fundo você sabe que é errado o que ocorrerá amanhã. Por isso teme que outros saibam do casamento.

Para isso Diego não tinha argumento. Tudo o que podia era esperar que seu plano funcionasse. Ariella estava completamente apaixonada e disposta a fazer tudo o que pedisse. Em três meses conseguiu com que ela se sentisse dependesse dele. Não financeira porque ela tinha tudo o que desejava de seu pai. Mas emocionalmente, algo que sempre surpreendia a Diego, Ariella era facilmente enredada. Ela queria tanto ser amada que foi fácil fazê-la crer que um homem a amava perdidamente. Então ludibriou-a na medida certa e na hora exata, após uma noite de amor, disse-lhe que casariam ou se separariam porque ele estava de viagem de volta marcada. Ela obviamente disse sim, por medo de perdê-lo. E prometeu que fariam visitas constantes à Argentina, além dele lhe auxiliar a encontrar uma faculdade de arte em Madri assim que lá chegassem. E caso ela tivesse dito não, ele se afastaria para fazê-la sofrer e ir atrás dele. Era importante que Ariella soubesse desde já que jamais voltava atrás em suas decisões.
Isso porque, depois de estar na Espanha, Ariella desejaria muitas coisas que lhe seriam negadas. E ela tinha de ter certeza disso, sem esperança nem margem de negociação. Principalmente quanto a entrar em contato com Afonso. Através da filha, ele teria preocupações pelo resto da vida e depois iria lhe entregar todo o dinheiro que havia tirado desonestamente de seu pai. Nem que para isto tivesse que perder a empresa, da qual já tinha a maior parte das operações. E em meio a tudo isso, Ariella a cada dia se tornaria mais sua dependente. Sem o pai para lhe fornecer ajuda financeira Ariella ficaria sem recursos e ambos os Amaral assim estariam em suas mãos.
Seu único temor era se ela iria conseguir manter segredo de seu nome e sua condição familiar e financeira até a assinatura da certidão de casamento. Até aquele instante tivera sorte porque Afonso esteve viajando por longo período e não era muito preocupado com a filha, mas em breve sua condição seria descoberta, caso alongassem o namoro. Ela aceitar prontamente foi providencial. Deu-lhe apenas alguns poucos dias para se preparar e passou-os torcendo para ela cumprir a palavra e não falar para ninguém.




Ela cumpriu. E evitou todas as ligações de Dulce e dos outros amigos. Os preparativos foram rápidos e simples já que Diego lhe pediu para adiantar tudo o que pudesse. A cerimônia foi simples, apenas com Ítalo e mais uma testemunha. Na véspera Ariella pediu que ela pudesse chamar uma amiga. E argumentou que se Ítalo poderia ser testemunha, Dulce também. Diego concordou, desde que Dulce soubesse apenas na hora do que acontecia ali. Assim ela não teria como impedir. Seu outro pedido foi que eles logo após o sim fossem a casa de Afonso para informar da união. Diego aceitou, ao menos era o que ela pensava.

- O que você pensa que está fazendo? – Dulce questionou, apavorada, minutos anos de concretizada a cerimônia civil.
- Garantindo a minha felicidade.
- Não...não! Isso é loucura!
- Pare Dulce, por favor. Eu estou feliz, fique contente por mim e aceite que minha vida mudou. Eu vou me casar com Diego, passar em casa para contar a papai e ir para Espanha com meu marido. Essa foi a minha decisão e ninguém me fará desistir. – Ariella disse e calou a amiga.



Diego não se surpreendeu ao encontrar Ariella belíssima em um vestido branco de noiva com direito a uma tiara de flores, mesmo tendo um tempo tão curto para se preparar. Muito provavelmente, o tempo é um problema muito fácil de resolver para quem tem dinheiro. Ariella foi a um ateliê qualquer e exigir um belo traje perfeito feito sob suas medidas e, sem se importar com o preço, estar sempre bela. Ainda assim, olhava para Ariella e via um anjo flutuando até ele. Independente das razões que os levaram aquela união, ele podia se considerar um homem de sorte ao se casar com uma mulher de tamanha beleza.

- Eu te amo e aceito me tornar a sua esposa. – Ariella disse à frente do juiz de paz que oficializou a união.
- Eu aceito ser o seu marido. – Afirmou Diego, sem juras nem promessas.

Depois dos votos serem trocados e a certidão assinada, os recém casados trocaram um apaixonado beijo, Diego colocou Ariella dentro de um carro e quando ela menos esperava já estava em seu avião particular. Até aquele instante ela sequer sabia que ele possuía algo tão luxuoso até mesmo para ela, criada em meio ao luxo e envolta em todo o conforto.
Ariella estava até mesmo gostando da surpresa feita por seu marido, mesmo percebendo seu modo estranho de agir. Não passou por seu pensamento que antes de qualquer viagem deveriam passar por sua casa e contar ao pai que se casou. Ela imaginava que, como genro já oficialmente, Diego não iria pedir sua mão, mas conversaria com Afonso e lhe garantiria ser um bom marido, como era tradição nessas circunstâncias. Porém, nada disso aconteceu e Ariella se viu em uma luxuosa cabine dentro do avião.
Lá uma bandeja com champanhe e chocolates estava disposta sobre um móvel. E logo Diego lhe servia da deliciosa bebida. Uma taça, depois outra e mais uma. Entre beijos e chocolates, ela não percebeu o quanto bebeu. Sentiu sim os toques delicados com que lhe despiu e acariciou enquanto o avião já decolava. Naquele momento Diego não se lembrava dos motivos que o levaram a dizer sim enfrente a um juiz de paz de um a mulher que mais parecia uma criança esperançosa. Agora, no entanto, estando a sua frente vestindo um lingerie branco e rendado ela lembrava muito mais uma deusa do que uma criança. Independente do que o dia de amanhã trouxe-se, agora era somente o prazer que o interessava. Conhecer cada delicada curva do corpo feminino que se oferecia para ele. Arrancar todos os suspiros que tivesse para ouvir e enlouquecer Ariella com tudo que sabia fazer na cama.

- Eu te desejo menina. Mais do que deveria. – Ele sussurrou enquanto deixava uma trilha de beijos que saída de entre os seios e descia por seu corpo.
- Eu te amo. – Ariella respondeu.

O plano de enlouquecê-la nem precisava de álcool. Ele estava ali por outros motivos. Deseja que ela apagasse logo após a transa e não questionasse o motivo de estarem voando nem o destino. Foi exatamente isso que aconteceu. Logo após gozar, Ariella apagou sobre o colchão. E nem mesmo suspirou nas próximas horas.


Quando acordou Ariella sentia a cabeça pesada pela bebida. Tinha a sensação de ter dormido por um longo tempo. Depois de alguns minutos ainda zonza na cama resolveu levantar vestir-se e descobrir onde estava seu marido. Ela mal acreditava na loucura que havia feito. Acordar sem seu marido ao lado na cama e ainda descobrir que estavam voando não fez nada bem para o seu humor. Para onde estavam indo? Estranhando a atitude misteriosa de Diego, foi procurá-lo.

-Pensa que vai aonde vestida assim? – Ele já não estava nada carinhoso e a olhava de maneira estranha, desrespeitosa, encarava suas pernas cobertas apenas até o início das coxas como se fosse agarrá-la a qualquer momento. Em outras circunstâncias teria achado sexy. Mas a combinação com o olhar aterrorizador que via pela primeira vez em Diego a estava assustando.
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-Ia procurar você. – Ela preferiu não reclamar de nada para evitar brigas já no começo do casamento. – Notei que ainda estamos voando.
-É o que acontece quando se entra em um avião.
-Algum problema, Diego? Porque está irritado?
-Não! Agora volte para a cabine.
-Eu não sabia que iríamos viajar. Aliás, acreditava que iríamos visitar meu pai e contar do casamento.
-Mudei os planos. Vamos para Madri. – Ele sabia que uma tempestade iria começar agora naquele casamento. – Vamos morar lá, lembra?



-O que? Da onde você tirou isto? Eu aceitei ir com você para Madri, mas não assim! Não com papai sequer sabendo que me casei. E eu nem sabia que voaríamos hoje! – Agora ela começava a se preocupar. – Quero voltar agora!

-Cresça garota. Não sou seu amado pai para ficar lhe satisfazendo a todos os caprichos. Vai voltar para a cabine como mandei e ficar bem comportada enquanto voamos. Depois saberá de tudo. – Diego sabia que Ariella sequer cogitava obedecer então a puxou pelo braço até a cabine e a trancou lá dentro. Mesmo ao som de seus gritos, foi falar com o piloto.

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