sábado, 22 de dezembro de 2012

Regras Quebradas, Limites Ultrapassados - Capítulo 6: Um garoto muito especial parte I



            Anastásia sabia que ser mãe solteira seria difícil e especial, mas não imaginava que seria tanto. Difícil porque ela era responsável por tudo e especial exatamente pelo mesmo motivo. Ela viu Theodore rolar pela primeira vez no berço, ouviu suas primeiras palavrinhas, o colocou para dormir em cada uma das noites e se preocupou quando ele deu os primeiros passos. A participação de Christian se restringia a aporte financeiro.
            A primeira vez que Ana viu pai e filho juntos foi quando Teddy, como ficou conhecido na família, tinha quase um ano. A grave alergia ao leite fazia com que quinzenalmente Taylor trouxesse latas de um pó lácteo que Teddy podia beber. Era caro e ela aceitava por insistência de Grace.

            - Dê tempo ao meu filho. Chegará o dia em que ele verá o erro que está cometendo. Enquanto isso, não lhe negue o alento de participar ao menos colaborando com o sustento do menino. – Disse Grace.

            Mas numa tarde, na antevéspera de natal, provavelmente pelas férias de Taylor, Ana foi avisada de que vieram fazer a entrega das latas de leite. Ela estava na sala, com Teddy engatinhando pelo tapete e apenas disse ao porteiro para liberar a entrada e dizer que a porta estava destrancada.
Qual não foi sua surpresa ao encontrar o ex, encostado na porta observando a ela e ao filho. Ele tinha um olhar estranho. Por um momento pensou que ele iria sentir algo. Mas quem disse que Christian Grey tem sentimentos? Na verdade ele até tem, mas estão soterrados abaixo de tantas dores que nunca sobra nada agradável para ninguém, muito menos para o filho dele.

            - Continua sem se preocupar com a própria segurança? A porta destrancada e você apenas com uma criança na casa. E se eu fosse um assaltante?
            - Menos Grey! Resolveu bancar o entregador hoje?
            - O Taylor tirou folga nos feriados de fim de ano.
            - Oooo meu amor, você ouviu? O tio Tay não vem te ver esse mês. – Disse pegando Teddy no colo. – Obrigada. Deixa sobre a mesa.
            - Tio Tay? – Grey estranhou a intimidade.
            - Sim, Teddy é um bebê muito ativo e simpático. Conquista a todos...menos ao pai, é claro. Taylor o adora. Mas foi bom você vir. Assim não preciso mandar recados. Theodore já está comendo outros alimentos. Vou reduzir o leite. Não precisa mais comprar.
            - Ok. Eu vou pedir para Taylor trazer o dinheiro e você compra o que o garoto estiver precisando.
            - Não! Eu...eu aceitava o leite porque era muito caro, mas pro resto não precisa. Eu consigo pagar. Não se preocupe.
            - Mas alguma coisa o menino vai comer e eu quero pagar droga!
            - Pra que Grey hemmm? Pra amenizar a sua consciência? Pra poder dormir tranquilo achando que fez a sua parte na criação dele?! Não! Não fez! Theodore precisa de muito mais que comida. Ele precisa de um pai!

            Droga! Já estava se descontrolando.

            - Mas dinheiro é o que eu posso oferecer. E a lei me garante isso. Portanto você vai aceitar. Outra coisa: você vem passar o natal com a gente?
            - Eu? O convite é só pra mim?
            - Eu não espero que você largue um menino de menos de um ano em casa e sozinho, Ana. Pode não parecer, mas eu não quero o mal do Teddy. O convite é para ambos.
            - Euuu agradeço o convite, mas acho que não.

            Aquele foi um natal muito triste. Ele deu uma grande festa, chamou amigos, alguns funcionários mais próximos e a família. Mas nada apagou a solidão de Grey. Era ainda pior ter de acompanhar a felicidade de Elliot e Kate. Logo depois do casamento Kate anunciou que estava grávida. Agora eram só mimos, carinhos e beijos na barriga. A felicidade deles chegava a incomodar, a mostrar o que a vida dele e Ana poderia ter sido. Mas era diferente.

            - Elliot nasceu para ser pai. Eu não, simples assim. – Era o que repetia a si mesmo.

            Conforme Theodore foi crescendo Ana permitiu que ele saísse com os Grey’s. Ela ficava com o coração na mão em todas as ocasiões, mas Teddy estava crescendo e adorava brincar com Ava. A filhinha de Elliot e Kate era apenas um ano mais nova que Teddy e eles faziam uma dupla bem arteira. Segundo Grace, ter Ava por perto estava fazendo Grey ver como é bom ter crianças na família.

            - Pena que esse encanto dele por Ava não alcance o próprio filho.
            - Não é isso Ana. Apenas ele não se sente responsável por Ava. Ser tio é fácil para Grey, mas do papel de pai ele tem medo. – Grace dizia, mas não apagava a magoa de Ana. Seu maior temor era que Theodore crescesse sentindo-se rejeitado.

            Tudo o que Ana desejava era que Grey pudesse ser um homem normal e, mesmo separados, conseguissem educar Teddy bem. Mas isso tornou-se impossível. Então ela se mantinha afastada. Era Kate quem lhe contava que nas tardes em que passavam na casa de Christian, ele pouco interagia com o filho.
            - Eu nem sei por que ele construiu a tal casa e se mudou pra lá. É imensa. – Ana dizia.
            - Eu não sei Ana. Ele faz questão que Teddy seja convidado. Encomenda comidas feitas sem leite especialmente pra ele, mas quando Teddy o chama pra brincar, fecha a cara e diz que não. A senhora Jones ama o menino e o Taylor também. Pode ficar tranquila porque nada ruim acontecerá com ele por lá. – Disse sua amiga.
            - Será que ele pensa que mandando dinheiro cumpre com todo o seu papel de pai? – Pergunta Ana.
            - Não sei Ana. O Christian é tão estranho.
            - Mas hoje você o odeia menos.
            - Sim, acho que hoje eu entendo ele mais e...bom ele é muito generoso e bacana para a Ava. Com o Teddy também...os presentes são fantásticos.
            - Sim. Quando Teddy fez três anos ele mandou um videogame que ele não consegue usar ainda. O filho dele ficaria satisfeito com um jogo de lego, mas Christian não faz ideia porque não o conhece.
            - Sim. Para Ava ele também manda umas coisas sem pé nem cabeça. Mas não dá pra negar que, do jeito dele, Grey está tentando.
            - Eu sei Kate. Mas o tempo está passando. Meu garotinho vai completar quatro anos e nunca ganhou um abraço verdadeiro do Christian. Ele está cada dia mais esperto e já nota que há algo de errado.
            - Por falar nisso...o Christian te mandou um recado.
            - Katherine trazendo recados de Christian Grey! O charme dele te conquistou mesmo hem? Elliot que tome cuidado.
            - Não fale bobagem. É só que...já faz tempo e você continua sozinha. Não acho isso bom. Talvez você e o Christian ainda pudessem...tentar. Ele também nunca namorou outra...o Elliot acha que ele voltou a se envolver com umas mulheres esquisitas, mas ele as leva só para o Escala, jamais pra casa onde vocês iriam morar. Se você acenar com uma reconciliação ele topa.
            - E o Teddy? – Ana respondeu.
            - Eu aposto que ele está arrependido Ana. Poxa! Ele está há quatro anos de castigo! Vocês não tiveram nenhuma recaída?
            - Eu não vou falar disso!
            - Eu sabia que você estava me escondendo algo Anastásia! Conta! Quando foi? Onde?
- E quem te falou que eu não tenho ninguém?
            - E tem???? Mas como você não me conta mais essas coisas?
            - Tem um cara...se aproximando. Ele é escritor e também tem um filho e...
            - E é bom de cama?
            - KATE!
- O que...nesse quesito você sempre falou bem do Grey. Como foi a recaída?? Conta...
            - Chega Kate! Qual é o recado do Grey?
            - Ele quer que Teddy tenha uma festa de aniversário de 4 anos. E como você não quis comemorar nenhum dos outros aniversários, pediu pra eu te convencer.
            - Sem chance!
            - Mas Ana...
           
            - Não Kate! Ele não pode comer brigadeiro nem nenhuma dessas guloseimas. Porque eu vou forçar o meu garotinho a ver os amiguinhos comendo o que ele não pode? Sem falar nos pais que vão junto e eu terei de explicar mais uma vez que o pai dele é muito ocupado e não pode ir. A não. Nem pensar!


            Kate foi embora, distraída com a questão da festa, mas Ana sabia que ela iria retornar na história da recaída dela e de Christian. Nunca iria lhe dar detalhes. Até hoje se envergonhava. Fora apenas uma vez...justo no aniversário de 1 aninho de Ava. Teddy estava brincando com as crianças e ela foi até o estacionamento buscar o presente.
            Christian estava chegando para a festa com um imenso urso de pelúcia. A paixão explodiu como uma faísca próxima de um paiol cheio de pólvora. Até hoje Anastásia se recriminava por se deixar levar por aqueles olhos acinzentados, por sentir tanto prazer novamente. Mas foi bom...muito bom.
 - Nunca mais! Isso fui um erro e nunca mais vai ocorrer.
            - Mas foi bom Ana, muito bom. – Ele ainda mordiscava-lhe o pescoço. – Sempre será bom entre nós.
                                                 
            Esquecer. Isso era a única coisa para fazer. E Raff era capaz de ajudá-la. Bonito, com uma vida estável e disposto a ter família. Raff era o homem certo!

            - É isso! Vou aceitar seu convite para jantar Raff! – Ela decidiu.
           
            Algum tempo depois gritinhos vieram até ela. Era Teddy com o telefone.

            - Mamãeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
            - Fale meu amor. É a tia Kate no telefone?
            - Não. É o papai e ele quer falar com você.


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