domingo, 29 de novembro de 2015

Alguém Para Amar: Capítulo 34



Jonas Vicentin
Diretor

            O prazer sentido por Jonas ao olhar a placa na porta de sua sala foi surpreendente, até para ele mesmo. Aquele afastamento o fez ver como a JRJ lhe era importante. A sensação ali era de controle absoluto. Na vinícola dependiam do clima e de muitos fatores aos quais não podiam controlar. Por isso o vinho envolve tanto amor. Seu sabor é sempre uma surpresa. E isso sempre apaixonou Jonas, assim como Lorenzo e seus antepassados. Mas as certezas da construção civil também muito lhe faziam bem. Desenhar um prédio e vê-lo ser erguido, nas exatas medidas e detalhes estipuladas por ele, pelas mãos firmes dos operários, lhe dava orgulho.
            Jonas olhou em volta do seu escritório e viu a limpeza e organização de sempre. Sobre a mesa um porta retrato com Emily e Vida na foto. E outro vazio. Cortesia de Valquíria para ele se lembrar do novo integrante da família. No banheiro ainda havia o cheiro de sua loção pós barba e, penduradas em um cabide, camisa e gravata reservas. Quando voltou à sua mesa, ligou o computador e começou a verificar a sua agenda. Estava tudo tranquilo por enquanto. Valquíria entrou na sala e sentou-se à sua frente. Essa também era uma imagem tranquilizadora.



            - É tão bom tê-lo de volta. Já achava que eu seria remanejada para algum setor. – Reclamou a senhora enquanto verificava alguns documentos.
            - E isso seria ruim? Ser secretária de outro executivo, alguém que lhe peça menos vezes para remarcar compromissos e que tivesse menos coisas a fazer fora desse escritório e fora de São Paulo.
            - Seria péssimo! Meus dias como sua secretária não são monótonos. Sem falar nas garrafas de vinho maravilhosas que você me trás.
            - Que bom, Valquíria. O que tenho para hoje?
            - Sua primeira reunião é com Rafael, em quinze minutos para se atualizar. Depois uma reunião almoço com ele e um investidor. E seu único compromisso na parte da tarde é uma vistoria na obra do Pinheiros às 17hs.
            - Nada entre o almoço e a vistoria? – Isso lhe dava três horas de folga. Coisa rara.
            - Nada...como é um horário tranquilo para quem atua no setor alimentício...sugiro que marque algo com a Senhora Emily. Mas é apenas uma sugestão, é claro.
            - É claro! – Jonas riu dispensando a secretaria. Valquíria é realmente perfeita.

            Jonas fez mais do que passar a tarde com Emily. Marcou com ela em um parque da cidade e lá chegou com Bernardo e Vida. Com três meses e um ano de idade, eram dois bebês inquietos e encantadores. Brincavam juntos amigavelmente e, às vezes, se desentendiam. Nada com o que ele e Emily não conseguissem lidar no futuro. À sombra de árvores e tendo um belo lago artificial como vista, ele e Emily observaram Bernardo beber sua mamadeira com bastante vontade em sua cestinha enquanto Vida lambuzava-se em sua papinha de banana. Ela comeu, é verdade, mas a maior parte da fruta ficou espalhada no babador. E seus pais acharam lindo.



            - Agora chega! – Emily disse guardando o pote com a fruta. – A senhorita já se lambuzou demais. Vem com a mamãe. Vem!

            Nos braços de Emily, Vida não se importou de ter o babador retirado e mãos e rostos limpos com lenço umedecido. Ficou novamente limpa e com aquele cheirinho típico de bebê. Emily então brincou com ela por alguns minutos. Essas horas passavam muito rápido e logo eles voltariam a ficar sem os pais na creche enquanto ele e Emily voltavam aos compromissos na construtora e no restaurante. Mas mesmo que curta, aquela tarde prometia ser inesquecível.

            - Quem é a gatinha da mamãe? Quem? – Emily gritava entre sorrisos enquanto fazia cosquinhas na barriguinha de Vida.

            A bebê gargalhava e balbuciava alguns sons. Vida ainda não falava palavras completas. Ainda. Emily e Jonas estavam decididos a ensinar a filha a falar mamãe e papai. Dessa vez o vínculo entre mãe e filha pareceu prevalecer. Jonas teve o prazer de ser o único a observar Vida olhar nos olhos da mãe com veneração, colocar as mãozinhas e seu rosto e dizer a mais esperada palavra.



            - M – A – M – A! – Disse ela com alguma dificuldade.

            Nem mesmo as vezes em que imaginou aquele momento prepararam Emily para a emoção que tomou conta de seu coração. Seus batimentos cardíacos aceleraram e algumas lágrimas tentaram escapar por seus olhos. Nunca previu que quatro letras pudessem emocionar tanto. Aquela menininha que viu horas depois de nascer, jogada nos entulhos de uma construção feito algo desprezível agora lhe abraçava e chamava de mamãe. O mundo fora injusto com as duas quando não deu à Vida uma genitora digna da filha e quando fez Emily sofrer tanto pela maternidade. Porém, o destino foi certeiro ao colocar uma no caminho da outra.

            Assim como Jonas se emocionava vendo Vida crescer, Lorenzo observava Clara desabrochar. Quando se conheceram, Clara foi responsável por ele se preocupar ainda mais com Jéssica.  Clara sempre foi uma criança encantadora, esperta e carinhosa. Mas também era sensível e carente. Clara tentava agradar em tudo, com medo de perdê-lo. Agora parecia mais livre. E também mais feliz à espera dos irmãos. Os nomes já estavam decididos. Seria Cecília e Vicente.




            Jéssica estava muito tranquila à espera dos herdeiros. Não era mais uma mãe solteira e adolescente. Dessa vez sabia o que esperar do parto, tinha apoio e não temia nada. Ela entrou no último trimestre da gravidez muito calma, trabalhando diariamente e sem se esforçar demais. Lorenzo estava mais preocupado e ansioso. Quando a médica falou no parto, ele se surpreendeu. Esperava que uma cesariana fosse marcada com antecedência o bastante para ele estar preparado. Quando os bebês chegassem, tudo estaria pronto para recebê-los. Mas não. Leonor explicou que o excesso de cesarianas no Brasil levou o governo a estipular regras. A cirurgia só era possível quando a mãe realmente não podia ter o filho da forma natural.

            - Mas são gêmeos. – Ele disso, quase como se a médica já não soubesse ou tivesse esquecido.
            - Eu sei. Mas isso não significa que Jéssica terá alguma complicação. Ao contrário, seu histórico nos indica que ela tem condições de dar à luz os bebês. Não se preocupe. O parto normal é melhor. Se Jéssica fizer a cesariana, ficará com dores por dias, sem poder cuidar dos filhos. Com o parto normal, saíra andando do hospital no dia seguinte e pode ter vida normal.

            Lorenzo não questionou a médica, mas estava longe de concordar com aquela decisão. Se Jéssica precisasse de alguns dias de resguardo na cama, qual o problema? Ele estaria ali para cuidar dos filhos. E se não conseguisse dar conta dos bebês, contrataria uma babá. Isso ainda lhe parecia melhor do que deixá-la sofrer num parto que poderia levar horas. Jéssica, porém, parecia muito calma e preparada para o desafio de colocar dois bebês no mundo. E olhá-la agir assim, numa serenidade sem limites, fazia com que Lorenzo se orgulhasse ainda mais da mulher que escolheu para mãe de seus filhos.
            Quando Jéssica entrou no nono mês de gestação Lorenzo lhe pediu que já iniciasse sua licença maternidade. Seu trabalho atualmente, como recepcionista do restaurante, podia ser mais leve que o serviço na cozinha, mas também cansava e exigia muitas horas de pé em salto alto. Quando Jéssica foi conversar com Emily, a chefe concordou sem problemas. Disse inclusive gostar da ideia dela sair agora porque ao retornar teria um novo desafio a assumir.

            - Como você sabe, eu e Nathan vamos abrir um restaurante especializado na mistura de sabores do Brasil e da Itália. Vai se chamar Calderone. Márcio será o maître do novo restaurante. E eu acredito que você tem plenas condições de assumir a recepção daqui. Quero saber se você aceita o cargo, com suas exigências e vantagens.
            - Mas Emily...eu não sei...Márcio é sim um mestre, conhece os vinhos, os pratos e os clientes como ninguém.
            - É verdade! – Emily concordou. – E por isso eu o incumbi de ensinar a você o trabalho nesse período em que o auxiliou. Você estudou inglês no colégio e sabe se virar caso recebamos algum estrangeiro. Os pratos você conheceu de perto lá na cozinha. E dos vinhos, duvido que você não tenha conhecimento sendo casada com um especialista.
            - Eu agradeço pensar em mim...mas realmente não sei Emily.
            - Pense bem, converse com Lorenzo e decida. Se quiser o cargo, terá que fazer um horário semelhante ao que eu e Márcio fazemos. Vir no horário de almoço e de jantar, com intervalo a tarde.
            - Sim, eu te respondo em breve.

            Na visão de Emily não tinha o que pensar ou decidir. Era uma grande oportunidade, sair definitivamente da cozinha para o salão. Era uma chance que ela não pensaria em agarrar. Mas entendia que para Jéssica era diferente. Ela via a vida de outra forma. Mesmo assim, torcia para a resposta ser positiva.

            - Ótimo. Porque se não quiser, terei de procurar outra funcionária. Mas lembre-se que isso não é uma caridade nem ajuda para minha cunhada. É uma proposta profissional. Se aceitar terá um aumento substancial de salário. E também de responsabilidades. Terá de estar sempre bem vestida, com o cabelo arrumado, unhas bem cuidadas e maquiada. Eu não brinco nem faço apostas com o meu restaurante, Jéssica. Se faço o convite é porque sei que você tem condições de não me decepcionar.

            Naquela noite Jéssica dividiu aquele convite com Lorenzo. E viu na expressão dele mais orgulho do que surpresa. Era bonito perceber o quanto Lorenzo tinha de confiança nela. Ainda assim, disse para ele que tinha receio de faltar como esposa e como mãe por se dedicar à profissão.

            - Amor, você não precisa trabalhar. Se decidir dedicar-se em tempo integral às crianças e a nossa casa, eu ficarei bem feliz. Mas eu acho que esse desafio lhe fará bem como mulher. Chega a ser um pecado alguém tão bela ficar escondida na cozinha. Eu sentirei ciúmes dos olhares de cobiça que lhe darão, mas também irei me orgulhar. Direi a todos que aquela princesa a atendê-los é minha.

            Jéssica ainda demorou a se decidir. Pensou com carinho, com atenção. Era uma decisão capaz de mudar sua vida. Mas eles tinham muito mais em que pensar. Incluindo os detalhes do quarto dos gêmeos. Lorenzo não abria mão de um quarto bonito e amplo, totalmente decorado. Por isso, eles haviam trocado de apartamento. O novo ficava no mesmo prédio, porém, contava com mais um quarto.



            Quando tudo ficou pronto, Cecília e Vicente já tinham seus berços macios e perfumados em seu aguardo, Lorenzo enfim sossegou. Ele já havia combinado com Jonas de reduzir suas atividades na vinícola até que os gêmeos estivessem em casa e o irmão concordou. O trabalho da consultoria ele fazia a maior parte em home office. Assim podia ver Jéssica mais tempo e estar por perto caso ela necessitasse.
            Mesmo na madrugada, ele parecia perceber quando ela deixava o quarto. Naquela noite, quando já estavam sobre aviso ao aparto, afinal, numa gestação múltipla, era comum o nascimento ser antecipado, Jéssica foi para a cozinha procurar o que comer. A dieta indicada por Leonor, rica em legumes e carnes magras, não lhe satisfez. O desejo era intenso, e estranho. Pizza com sorvete. Ela salivava enquanto mexia no refrigerador à procura do alimento.

            - Jéssica...o que você está fazendo? – Lorenzo veio buscá-la.
            - Procurando comida...uma comida muito específica e desejada nesse momento.

            Lorenzo achou graça daquele comportamento. Ela nunca teve desejos assim, com aquela ânsia. Era bonito de ver o que seus filhos conseguiam fazer, mesmo quando tão jovens.

            - E porque não me chamou?
            - Para deixá-lo dormir.
            - Eu só não brigo com você, porque estarei ocupado buscando o que quer. O que é, afinal? – Ela continua mexendo na geladeira.
            - Pizza com sorvete. Acho que Vicente quer pizza e Cecília sorvete. Mas só tem o doce no freezer.
            - Bom...ainda bem que meus filhos entraram em acordo quanto ao cardápio da noite. Eu busco a pizza. Fique aqui tranquila, volto logo. No posto de combustível deve ter pizza congelada.

            De desejo em desejo, Jéssica completou todo aquele último mês de gestação. Para surpresa de Leonor, nem sinal de parto prematuro. E a cada dia que passava, mais nervoso Lorenzo ficava. Jéssica estava muito bem fisicamente e com muita confiança. Como Leonor tinha lhe dito, tratava-se do sonho de qualquer obstetra.
            Ostentando sua barriga de nove meses de gravidez, Jéssica compareceu num almoço em família no restaurante no qual trabalhou nos últimos meses. Foi bem acomodada junto de Lorenzo, Emily, Jonas e as crianças que Jéssica informou sua decisão. Em alguns meses estaria com, além de dois bebês, a responsabilidade de ser maître do restaurante.

            - Fico feliz pela sua decisão. Muito! Estarei tranquila mesmo quando não estiver aqui, porque confio em você. – Emily lhe disse.

            A declaração da cunhada emocionou Jéssica. Muito. Mas não o bastante para lhe fazer entrar em trabalho de parto. Isso veio naturalmente. Ela levou a mão à barriga quando sentiu a bolsa se romper. E no mesmo instante sentiu Lorenzo passar o braço em sua cintura. Em algum momento do relacionamento ele desenvolveu o talento de sentir o que ela sentia.

            - Amor! É o que eu estou pensando? – Lorenzo perguntou.
            - Mamãe! Você fez xixi na calça! – Clara assustou-se quando a bolsa arrebentou.
            - É...é isso sim. Liga para Leonor, Lorenzo. E vamos para o hospital. Os bebês estão nascendo.
            - Eu quero ir com vocês! – Clara disse já entendendo o que acontecia.
            - Não, Clara. – Jéssica manteve a calma. – Você ficará com a tia Emily. Quando a mamãe voltar para casa, estará com Vicente e Cecília para você conhecer.



            Com Lorenzo muito nervoso, Jonas se ofereceu para dirigir até o hospital. Ele não confiava no irmão como motorista naquele momento. O mais provável é que ele causasse um acidente. Emily enviaria a mala com tudo o que eles precisavam. Coube a Lorenzo apenas segurar a mão de Jéssica e ligar para Leonor.

            - Fique tranquilo, amor. Nós três estamos bem. – Jéssica sabia que ele era o mais nervoso.
            - Eu sei amor, eu sei. – Só que saber não fazia seu coração bater mais lentamente.

            Estava ansioso, temeroso. E a respiração rápida que em Jéssica tinha o objetivo de reduzir a dor entre as contrações, em Lorenzo só servia para evidenciar seu desespero. Quando enfim Jéssica foi instalada em um quarto do hospital e Leonor chegou, Lorenzo conversou com ela antes da médica examinar a gestante. E, naquele momento, Leonor se preocupou mais com o pai da criança.

            - Acalme-se Lorenzo. Sua mulher tem tudo para dar à luz tranquilamente. Agora deixe-me a sós com ela para examiná-la.

            Lorenzo saiu do quarto e seguiu caminhando de um lado ao outro no corredor hospitalar. O tempo parecia não andar, os ponteiros do relógio não se movimentavam e mesmo sabendo que agia de forma irracional, não se importava. Esse devia ser o direito de qualquer homem em sua situação. Seu estado de nervos não melhorou quando após muitos minutos Leonor colocou a cabeça para fora do quarto e gritou para o enfermeiro.

            - Rápido! Preparem a sala de parto! É urgente! Preparem a paciente.

            Para os enfermeiros aqueles gritos pareceram não significar muito. Um profissional vestido de branco entrou no quarto e outro foi ao telefone, provavelmente confirmar se a sala de parto estava pronta. Mas a Lorenzo aquilo tudo soava como a informação de que algo estava errado. E por isso ele correu para junto de Jéssica. E para seu desespero Leonor barrou-o na porta. Lorenzo sentiu-se ainda pior ao ver a luva na mão da médica suja de sangue.

            - O que há de errado? Diga-me. Por favor. Você vai fazer a cesariana, é isso?
            - Não mesmo. Seus filhos nascerão pelo canal normal.
            - Mas são dois! – Ele gritou.
            - Eu sei, Lorenzo! E eles estão bem ansiosos por vir ao mundo. Jéssica tem nove centímetros de dilatação. Será normal e será muito rápido. Por isso pedi a equipe que se apresse. Se você não correr agora até o posto de enfermagem e colocar a roupa apropriada, é bem provável que não veja seus filhos nascerem.

            Nervosismo algum seria capaz de incapacitá-lo de ver Vicente e Cecília vierem ao mundo. Se Jéssica era capaz de dar a luz, ele tinha de conseguir assistir, mesmo apavorado. Minutos depois eles estavam colocados na sala esterilizada e com o cheiro dos medicamentos. Entre uma contração e outra Jéssica segurava a mão de marido. Na hora que a dor vinha ela abraçava o ventre e tentava erguer o tronco, ajudada pelos braços dele, que lhe davam apoio.
            Leonor colocou-se entre as pernas afastadas da paciente e lhe incentivava a fazer força quando a contração vinha. Cada uma era acompanhada por um grito seco de Jéssica que fazia Lorenzo ter vontade de dizer a Leonor que não aceitava todo aquele sofrimento. Mas antes dele ter a chance de fazer qualquer coisa, a médica orientou Jéssica a emburrar porque o primeiro bebê estava saindo. E no instante seguinte, após um aperto na mão e um forte grito de dor e emoção, Lorenzo e Jéssica enfim puderam ouvir o choro de um dos filhos. Enquanto Lorenzo já se dividia entre apoiar Jéssica e ver o filho receber os primeiros atendimentos, Jéssica colocava o segundo bebê no mundo. Mas esse veio ainda mais rápido.
            Quando ainda se recuperava do choque de um, Lorenzo ouviu o outro gritar sua chegada no mundo. Era pai. Era pai de dois filhos. Era pai de dois filhos fortes e saudáveis, a julgar pelo choro. Estava tão emocionado que tremia ao cortar o cordão umbilical e ver Cecília, nascida primeiro, ser colocada no peito da mãe. Logo Vicente lhe fez companhia. Ele era um pouco maior e tinha os cabelos mais claros. Ela parecia ter mais fios e com uma tonalidade mais escura. Eram tão detalhadamente perfeitos que Lorenzo se viu sem palavras para descrevê-los.




            - Obrigada, meu amor. Obrigada. – Ele disse à esposa com as lágrimas escorrendo pelo rosto.

            Via sua vida ser brindada com um imenso milagre. Um milagre duplo, lindo e cheio de amor. Vicente e Cecília pararam de chorar assim que foram postos sobre o colo da mãe. Encolheram-se junto dela, deixando claro que ali era um local gostoso, quentinho e macio de se estar. Aos poucos as boquinhas minúsculas pareceram procurar o seio da mãe e ali mesmo os dois mamaram pela primeira vez. Foram algumas poucas gotinhas, eles ainda estavam aprendendo a sugar e aquela posição não era a melhor. Mas eles mostraram que estava muito satisfeitos em ficar junto da mamãe.

            - Nós amamos muito você, papai. – Jéssica respondeu antes de ser beijada.

            Lorenzo deixou Jéssica ser cuidada pela equipe médica e acompanhou os filhos passando pelos primeiros testes e cuidados. Já vestidos e arrumados, eles foram para o berçário e puderam receber o carinho de visitas. Por telefone, avós e bisavós maternos e paternos ficaram sabendo da chegada dos bebês

            - Sim! Nasceram!Lindos! Perfeitos! Saudáveis! – Lorenzo repetia a cada ligação. – Eu mando fotos pelo celular. São muito parecidos com Jéssica. Ela está bem sim, foi tudo muito rápido.

            Giovanna e Leonel queriam vir, assim como Laura e Henrique, mas Lorenzo os aconselhou a esperar alguns dias, quando já estivessem em casa. Logo Jonas e Emily tiveram o prazer de segurar os gêmeos, tão pequenos. Clara também conheceu os irmãos, ainda dois pacotinhos cor de rosa e azul, sonolentos e muito quietos. Ela não se animou muito. E Lorenzo pode respirar aliviado, seguro que os filhos e a esposa estavam em segurança. Aquela madrugada ele passou entre períodos de sono entrecortados e minutos em que embalava um ou outro bebê enquanto Jéssica dormia.

            - Calminha Cecília. Mamãe já lhe deu mamá. Agora temos de deixá-la dormir.

            Assim Lorenzo passou as horas. Os primeiros momentos de um dia que, sonhava, era o início de um tempo de muita felicidade.


Alguns meses depois...

            Chegara a hora de inaugurar o Calderone. E num grande espaço aberto, Emily e Nathan reuniram familiares e amigos. Emily estava profundamente emocionada com aquela realização. E ainda em choque pelo que descobriu menos de uma hora antes, ao se arrumar. Quando procurava um par de brincos que não usava há muito tempo, encontrou em uma gaveta um envelope médico. Tratava-se de um laudo de procedimento ambulatorial feito por Jonas. E o que ali estava afirmado foi uma surpresa para Emily. Ela chamou por Jonas e exigiu uma resposta. Ele lhe deu da forma mais singela possível.

            - O que isso significa, Jonas? Por quê?
            - Significa que eu fiz uma vasectomia. – Jonas respondeu enquanto fechava as abotoaduras. – Porque não serei mais pai e não fazia diferença.
            - Você não precisava fazer isso...podia ser pai ainda.
            - Minha família está completa, Emily. Eu aproveitei o seu período de resguardo para fazer a operação. É algo muito simples. A decisão estava tomada há bastante tempo e eu a coloquei em prática. Se a mãe dos meus filhos já não pode gerá-los, não faz sentido continuar fértil. Agora termine de se arrumar feito uma rainha porque você tem um restaurante para inaugurar.



            Com uma postura digna da realeza, Emily se colocou diante dos entes queridos e, ao lado de Nathan, informou a todos que aquele lugar estava oficialmente aberto e que ali ela espera ser tão feliz quanto em seu outro restaurante. Discreto como sempre, Nathan deixou com Emily a missão de dizer algumas palavras.

            - Quando abri minha primeira cozinha, disse a todos que a inauguração era como o nascimento de um filho. Que o restaurante era como um filho. Naquela época eu não era mãe e meu trabalho era realmente o mais importante. Hoje não direi o mesmo. Porque sei que nada se compara com a família. Ainda assim, é muito bom estar aqui. Porque sei que faço algo pelo qual meus filhos, quando crescidos, se orgulharão da mãe. Sejam bem vindos ao Calderone.

            Os que não conheciam Nathan foram apresentados por Emily. Eram poucos, alguns familiares apenas. E a mais entusiasmada era vovô Ângela, que só largou os bisnetos para perguntar a Emily qual o estado civil do sócio.

            - Casado, vovó. Infelizmente, diriam muitas. – Emily riu ao lado de Jonas, Melissa e Giovanna. – Ainda bem que vovô Francesco não ouviu.
            - Nada, querida. Ele sabe que não tenho mais idade. Pensava em Milena. Ele parece um partidão! E agora que já resolvi a situação dos meninos, preciso concentrar minhas orações em Milena. Essa menina tem que desencalhar!

            Risos tomaram conta de todos. Mas para Emily e Melissa, tiveram um significado diferente. As duas, que conheciam o italiano há bastante tempo, sabiam que a vovó não era a única a colocá-lo em planos matrimoniais. Porém, apesar de envolver-se com muitas mulheres, Nathan é casado. Valentina, sua esposa, com quem não era visto em público há quase uma década, foi uma bela mulher. Da qual ele não se divorciava, mas fazia questão de não citar o nome.
            Apesar de decidida a se manter discreta, Melissa viu que o sonho de vovó Ângela não estava tão distante quando observou Nathan e Milena voltarem juntos ao espaço destinado a festa. Ela com a face acalorada de quem tinha a respiração acelerada. Ele com a mesma expressão de sempre. Eles estavam juntos. E Melissa não sabia o quanto aquilo era bom ou ruim. Então foi falar com Nathan.

            - Ela sabe de Valentina? – Perguntou diretamente ao amigo de longa data.
            - Não sei do que está falando, Mel.
            - Sabe. Mas também sabe mentir como ninguém. Resta perguntar se Milena também aceitará. Como está sua esposa?
            - Da mesma forma que há 10 anos. Não pode me culpar, Melissa. Sabe que não. – Nathan defendeu-se sem que Melissa tivesse que acusá-lo claramente.
            - Por trair Valentina? Realmente não. Já por enganar Milena, não tenho certeza. Mas não vou me intrometer nisso. Só peço que tenha cuidado. Ela não merece ser magoada. – E com isso Mel voltou para a companhia de seu marido.



            Pouco antes da hora do brinde, Lorenzo procurava por Jéssica. Encontrou-a ao celular, conversando com uma babá e recebendo notícia dos filhos. Cecília e Vicente estavam com quatro meses e muito bem. A mãe é que, mesmo já tendo voltado ao trabalho, ainda sentia dificuldade em tê-los distante. Bela num vestido negro e discreto, Jéssica não aparentava ter dado à luz há tão poucos meses. Estava elegante e simples, exatamente como ele se lembrava dela desde o primeiro dia.

            - Tudo certo?
            - Sim...sim. Os gêmeos e Clara estão ótimos. Eu é que preciso sossegar o coração. – A mãe respondeu.
            - Ótimo. Assim tenho tempo de lhe beijar mais uma vez antes do brinde.

            Quando enfim as taças se chocaram no ar, havia um ar de confraternização e de expectativa em todos. Ciclos se fechavam para dar espaço a outros, com novos desafios e emoções. Eram novos tempos para cada um deles. Poucos perceberam que no auge da felicidade vários casais se formaram. Oficiais ou não, estavam unidos por muitos sentimentos. Emily e Jonas, Jéssica e Lorenzo eram dois deles. E estavam satisfeitos em aproveitar aquele instante de plena alegria e satisfação.

FIM


AVISO: Ainda haverá um epílogo. Segurem as lágrimas. Bjs

           Enquanto isso, fiquem com o vídeo final de Alguém Para Amar e conheçam todos os que deram rosto a essa história.






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