sábado, 15 de fevereiro de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 22






 
Chegar ao presídio, receber uniforme, ouvir a tranca se fechar...nada disso era novidade para Rachel. Ainda lembrava de como era. E sabia que poderia fugir novamente. Com os contatos certos tudo era possível. O problema era...fugir e deixar George para trás. Ele deveria estar com Neal. Se tivesse ficado com Henry, poderia visitá-lo. Com Neal, não. Nele não podia confiar. O pior era não saber de nada. Não ter certeza de onde ele estava, com quem, se estava bem. Isso era o mais doloroso. Não podia simplesmente fugir. Se recebesse alguma visita poderia perguntar. Talvez se sua mãe aparecesse, pediria para ela ir visitar o neto e lhe trazer notícias. Ficou ali...olhando pra a parede e lembrando dos últimos quatro meses. Os mais lindos de sua vida. 

            Até que algum tempo depois um guarda avisou que ela teria visita.

            Quando Neal viu Rachel caminhando até ele sentia tantas coisas ao mesmo tempo que não conseguia saber qual sentimento prevalecia. Estava feliz por ela estar viva, triste por estar presa, magoado por ter perdido os primeiros meses de George, porém agradecido por ela tê-lo deixado nascer. Estava confuso. Há cerca de um ano estiveram exatamente na mesma situação. Rachel presa e ele vindo visitá-la, só que agora era tão diferente. Naquele tempo, achava que se fosse duro com ela colocaria um fim naquela relação. Agora a via se aproximar algemada sabendo que a relação não tinha fim. Estavam ligados para toda a vida.
            Quando ela o viu seus olhos azuis escureceram. A expressão facial ficou mais dura. O olhar era frio. No passado ela se disse envergonhada por ele a estar vendo de uniforme, agora erguia o rosto e o desafiava. Os policiais a deixaram a sua frente e se retiraram. Ela só falou quando estavam sozinhos.



            - Vá embora e não volte. Não tenho nada para te dizer. – Ela falou duramente.
Neal não se surpreendeu.
            - Eu tenho. – Disse num tom que não entregava nada do que sentia.
            - Eu não quero ouvir.
           
            Ele teve que usar a única arma que tinha para se fazer ouvido. Uma coisa que a faria se acalmar e ouvir pelo menos.

            - Não quer saber de George? – Por trás daquela parede de gelo que ela tinha erguido, pode ver surgir um pouco da mulher que conheceu. – A gente tem muito assunto Rachel. Então fala comigo. É o melhor pra você.
            - Você não sabe nada do que é melhor pra mim! Você tanto fez que conseguiu me prender mais uma vez! Diz a verdade e assume, Neal. Assume que você está adorando arrancar o George de mim! Preferia que eu estivesse morta! Mas eu não estou e você não vai me tomar ele!
            - Isso! Grita! Grita esse monte de loucuras que você criou na cabeça e passou esse tempo todo acreditando! Ainda é melhor do que ficar me olhando sem reação nenhuma! Você só se esquece que foi você que sumiu com o meu filho! Você que me afastou!
            - Ele é meu! Eu o gerei. Não vai ficar com ele. Eu vou pegá-lo de volta! – Os dois sabiam que Rachel tinha pena perpétua. Ela estava dizendo que ia fugir.
            - Arriscaria George? O colocaria em perigo?
            - Ele é meu filho. – Foi a única resposta.
            - Eu sei. Não tenho como, nem gostaria de desfazer isso. Se quer saber, Rachel, ele chora porque quer você. A noite de ontem foi bem difícil. – Ele começava a vê-la se abrir e o olhá-lo nos olhos.
            - Não quero que ele sofra. Eu tirei leite mais cedo...alguém deve te entregar.
            - Tudo bem. Ele está tomando um pouco do em pó. Não fique preocupada com isso.

Amamentar era uma ligação entre ela e o bebê. Perder isso a machucava um pouco mais.

            - Logo ele vai me esquecer. É muito novinho pra lembrar do tempo que a gente passou junto. – Ela sorriu. – Leva ele na praia quando puder. Ele adora.
            - Ele não vai te esquecer porque eu vou trazer ele para te ver. Eu não pretendo afastar vocês dois.
          - Você está mentindo! Eu não acredito em uma só palavra que você diz! – Ela se lembrou de uma coisa. – A sua pena....já acabou. Por que continua de ‘cachorrinho do FBI’?
            - Não sou cachorrinho de ninguém. Sou um consultor contratado. Eles confiam em mim. – Ele sentia orgulho disso.
            - Certamente ajudar a me prender conquistou a confiança deles. – Ela não escondia a mágoa.
          - Não foi assim. Eu estava mal com o que você fez. Você me usou. E eu estava fazendo a coisa certa. Não sabia do George, eu não sabia do seu pai, eu não sabia da sua vida...
            - EI! Que papo é esse do meu pai?

            Se queria exigir que ela fosse sincera, teria que ser também. Então em fôlego único Neal explicou que e como acompanhou toda a gravidez dela e, depois, contou que o FBI tinha acesso ao seu computador quando ela esteve fora dos EUA. Ela ficou obviamente com raiva.

            - Eu não vou me desculpar por isso, Rachel! Não! Foi só por isso que eu pude saber que George estava bem. Eu sofri tudo junto com você. Eu passei madrugadas acordado só pra tentar ouvir alguma coisa. Eu ouvi o primeiro choro dele quando nasceu, Rachel...você gostava de ficar com o colar. Você sentia uma ligação comigo, não negue.
          - Eu fui idiota isso sim...a gravidez me deixou mais sentimental daquela época. – Ela riu, amarga. Seu olhar era de desprezo. – Você me enganou mais uma vez e eu fiquei usando aquele colar. Isso mostra o quanto você é bom, Neal Caffrey. Eu levei você no pescoço o tempo todo.
            - E mesmo ‘comigo no pescoço’ eu nunca consegui te achar. – Ele tinha certo orgulho na voz. – Isso mostra o quanto você é boa.
            - Ótima! Olha em volta. – Acabou presa.
            - A gente pode tentar alguma coisa, uma redução na...
         - Não tente me ludibriar. Acabou. No que depender deles, eu passo a vida aqui. – Eles trocaram olhares que somente quem já fugiu da prisão entenderia. – Eu não vou fazer nenhuma loucura. Por enquanto. Se acabou nosso assunto...Adeus Neal. Cuida bem do George.
            - Eu vou te ajudar. De alguma forma eu vou te ajudar. – Só precisava encontrar um meio.
            - Eu já disse que não acredito em você. – Foi a última coisa que falou antes de sair.

            Não era apenas Neal que estava num dia difícil. Os problemas se acumulavam na vida de Peter. Não bastassem os normais que tinha para resolver na chefia da Colarinho Branco, ainda estava sendo pressionado por resultados ruins. O engano que cometeram com Lucy e o fato dela ainda estar desaparecida geraram grandes críticas à unidade. Outros casos que estavam parados também. Para completar, a operação para prender Rachel foi avaliada como desastrosa. Além de criar atrito com a polícia, ainda deixou a foragida e outra pessoa machucadas.

            Mas o pior de tudo era a relação com Neal. Claramente abalada, a amizade dele lhe fazia falta. Gostava sinceramente de Neal Caffrey. Nos anos de parceria forçada aprendeu a respeitá-lo. Além de como consultor tê-lo ajudado muito no FBI, o tinha como um amigo, quase um filho. E agora simplesmente não sabia como agir com ele. Não podia simplesmente ouvi-lo dizer que ficaria próximo de uma mulher como Rachel Turner. Sabia como Neal podia ser levado a fazer besteiras quando estava apaixonado e, por mais que negasse, estava na cara que aquela mulher ainda era amada por ele.

            Chegou em casa naquela noite preocupado. Amanhã eles iriam se encontrar novamente. E não sabia o que fazer. Elizabeth o viu chegar com os ombros baixos, pesados. Foram conversar.



            - Querido, o que há? -  Ell perguntou.
            - Trabalho...sempre trabalho. – Tentou enrolar Elizabeth.
            - Não. – Ele nunca conseguia enganá-la. – Neal Caffrey. Sempre Neal. Fale.
           - Eu não sei como lidar com essa nova situação...ele pai do filho de uma assassina. Ela matou um colega de profissão. Um agente. E ele a trata como se ela fosse uma batedora de carteira qualquer. Ela é perigosa.
           - Você não tem mais nada com isso, Peter. Já deu sua opinião ao Neal. Já a prendeu. Acabou. Você está obcecado com essa moça da mesma forma como ficou com o Neal.
            - Isso não é verdade.
            - É! – Ela reafirmou. – Eu estava lá, lembra? Você só pensava em prender Neal Caffrey. Conseguiu. Duas vezes. E o trouxe para trabalhar com você, para te ajudar. E eu achei que ia acabar. Mas está novamente assim.
            - Eu me preocupo com ele.
            - Ele não é seu filho, Peter. É nosso amigo. E é pai de um filho dela. – Ela se aproximou ainda mais e tocou o rosto do marido. – Querido, eu não acho que ele vá fazer bobagem alguma agora que tem o George. Dê um voto de confiança ao Neal. E...quem sabe a Rachel também aprendeu um lição com tudo isso. Ela me pareceu tão sofrida com isso tudo.
            - Ela é uma assassina fria...
         - Ela matou, ok, você está certo. Mas...ela também é mãe. Deve ser uma experiência única. Deve...ser realmente capaz de mudar algo dentro de uma mulher.
           

O peso daquela frase não passou despercebido a Peter, mas não estava com cabeça para entrar naquele assunto com Ell. Foi tomar um longo banho e não respondeu nada.

            Rachel esperava alguns dias de solidão na cadeia. Sua mãe uma hora ou outra iria aparece, é claro. Mas seria apenas ela. Henry deveria estar correndo com a situação de Molly. Não ficaria magoada por ele não aparecer.

            Porém, aquela semana foi cheia de surpresas. Gratas. Era bom saber que era amada. No dia seguinte ao da sua ida ao presídio, foi novamente chamada para uma visita. Por um instante, achou que fosse Neal pra cumprir a promessa de trazer George. Não era. Não deveria mesmo acreditar nele.

            Mas sorriu ao encontrar Henry esperando por ela. Na frente dele não precisava mentir, mas mesmo assim fez questão de não deixar escapar nenhuma lágrima. Teria que ser forte.

            - Henry! Não esperava você aqui tão cedo. Como a Molly está? Eu a vi ser atingida, mas não fui eu quem atirou.
           - Shiiiiii eu sei. Sempre soube. – Ele tinha total confiança nisso. – Molly se colocou em risco, Rachel. Ela causou isso. Você não tem culpa nenhuma. Ela vai se recuperar, já esta se recuperando.
            - Eu fico feliz. Por você. – Não por Molly. – Sei que a ama.
         - É...eu tenho uma queda por mulheres complicadas. – Ele piscou. – Agora me diga como você está? Do que está precisando?
            - Nada que você possa me dar, Henry. Nada. Só sua visita já me fez um bem gigantesco. Como foi com o George? O Neal esteve aqui e...me disse que a noite foi difícil.
            - Ele esteve aqui? Já? Achei que seria sua primeira visita. – Era quase uma decepção. – É parece que não sou o único mais...
            - Eu perguntei pelo George.
         - Foi só um comentário. - Ele sentia que havia mais ali. – Ele falou a verdade. Foi complicado. O menino é muito ligado a você. O Neal ele aceita, mas ainda procura você. Só dormiu quando sentiu o seu cheiro numa peça de roupa.

            Deveria se sentir mal com isso. Mas saber que seu filho sentia sua ausência lhe acalentava o coração. Ele lembrava dela.

            - Mas estão cuidando bem dele? Ele nunca ficou doente, nunca teve uma assadura...ele é tão pequenininho. E não está mais mamando como antes. Eu tenho medo de...
            - RACHEL! Menos! Calma! Eu te garanto que ele está sendo muito bem cuidado. Ontem havia umas 10 pessoas em volta dele. Talvez fosse isso que o incomodava. Mas quando ficou só com o pai ele se acalmou. O Neal gosta dele, é dedicado. Seu filho está recebendo toda a atenção. Nós temos que pensar em você agora.
            - Não tem o que pensar. Acabou. – Ela fugia ou morria ali. Era simples.
            - Eu não me conformo com isso! Nós temos grana! Podemos contratar o melhor advogado.
            - Não há o que fazer. Eu já tinha problemas com a MI5. Já tinha pena para cumprir. Agora o Peter me cercou com muitas provas. Não posso te impedir de jogar fora o seu dinheiro, mas será inútil.
            - Por falar em dinheiro...- Ele não queria falar claramente sobre a transferência que ela fez para sua conta. Podiam estar sendo gravados.
            - Cuida bem do futuro do George...que sirva para ele ter boas oportunidades. – Acontecesse o que acontecesse, George teria uma bela herança.
           
            Eles se despediram com Henry prometendo voltar. Nele ela acreditava.

            No seu terceiro dia de presídio recebeu mais duas visitas. Surpreendeu-se muito ao ver o Dr. Richard ali. 

            - Vejo que recuperou-se muito bem do parto. – Ele disse, simpático. – Está bem de saúde?
         - Sim. De saúde, sim. Mas não veio aqui para me dar uma consulta, Dr. Ou veio? – Ela realmente estranhou essa visita.
            - Não, menina. Não vim. Vim aqui porque...me sinto um pouco culpado por tudo o que se passou. Se não tivesse saído daquela forma ainda poderia estar escondia em algum lugar.
     - Sim, Dr., poderia. – Ela iria reconhecer algo difícil. – Mas eu teria abandonado meu filho...provavelmente sem nunca tê-lo visto. E teria perdido os quatro meses mais fantásticos da minha vida.
            - Não...você mudaria de ideia assim que ouvisse o choro dele. – Ele tinha certeza disso. – Fiquei sabendo que é um lindo menino. Sua mãe só faz falar nele.
            - É...lindo e maravilhoso. Eu não merecia um bebê tão fantástico. – Ela se derretia pelo filho. – Acho que nunca lhe agradeci devidamente pelo que fez por mim. Naquela noite em que salvou minha gravidez você...salvou tudo. Obrigada!
            - Menina...seu pai teria orgulho de olhar para você. Ele tem, de onde estiver, aliás. Sempre teve.

Ela riu, amarga.

            - Não acho. Mas é bom pensar que sim. – Ela tinha uma dúvida ainda. – Mamãe falou a verdade quando disse que nunca buscaram por mim depois do acidente? Não tem nenhuma ideia do que pode ter ocorrido? Quem estava no carro?
            - Não. Nada. Eu se fosse você, Rachel me convenceria de que nasceu naquela noite. Na verdade eu sempre pensei isso. Sua mãe me ligou para te examinar, mas eu disse pra mim mesmo que fiz um parto.
            - É. Melhor assim mesmo.
            - Acho difícil que um filho de sangue se torne tão parecido com pais do que você com os seus.
            - Para o bem e o mal. – Ela reconheceu.
            - Sim. – Ele concordou. – Todos cometemos erros.

            A segunda visita foi de Nicolle. E ela já nem esperava que fosse Neal. Ele tinha mentido mais uma vez. Recebeu a mãe de coração aberto. Estava com saudade dela. Depois de passarem tantos meses juntas, o período afastadas foi difícil. Ter George também a mudou como filha. Entendia Nicolle de outra forma. Sabia o que era fazer loucuras por um filho.

            - Eu sofro tanto te vendo assim. – Nicolle já começou chorando. Ali a forte teria que ser a filha.
            - Por isso não quero que fique vindo me ver. Guarde seu tempo para visitar George.
            - Mas eu não te abandonar nesse lugar! Que tipo de mãe eu seria?!
            - A que eu mereço? – Era uma pergunta, mas soava como afirmação.
            - Não...imagina. Você é a minha filha. A menininha que Deus me deu. Você desistiria de George por algum motivo. – Contra esse argumento Rachel não tinha resposta. – Então? Eu não desisto de você! Nunca.
            - Você viu ele? Me fala. Eu só quero ouvir dele! – Ela fechou os olhos para ouvir a mãe.
            - Aaaa parece tanto com você Rachel! Ele tem sim alguns traços do pai, mas tem você também. E que combinação. Você e esse rapaz me deram um neto lindo. Mas George tem seu gênio! Deu um banho no pai na primeira noite! É forte! As coisas são como ele quer! Tem personalidade.
            - Meu menininho...não quero que sofra nada.

            No quarto dia ninguém veio e a solidão bateu. Ficou triste. Será que George estava bem? Ela tirava o leite todos os dias, mas percebia que ele estava diminuindo dia a dia. Será que estavam dando? Será que ele estava bem alimentado? Não podia fazer nada senão esperar e torcer para que sim.

            E seguir vivendo cada dia daquela pena perpétua.

            Voltar ao FBI tendo um bebê pequeno exigia certa mão de obra de Neal. Com George não era simplesmente contratar uma babá qualificada. Não. O menininho estava sensível ainda. Não podia passar de mão em mão. Ele choraria com outro estranho por perto. Sobrou para quem? Mozzie, é claro. E ele não se importou. Os dois tinha se dado muito bem. Segundo o amigo, os bebês gostavam dele por causa do cabelo. 

            O primeiro dia foi diferente. Era a primeira vez que realmente não tinha uma razão para estar no FBI. Não tinha mais a tornozeleira e sem a procura por Rachel, não precisava de informações. Só tinha...a vontade de trabalhar.

            Ignorou Peter de todas as formas possíveis. Ele também não o chamou em sua sala. Pelo que viu, o chefe passou o dia resolvendo pepinos. E isso não era só naquele dia. Na véspera, quando esteve de folga, também foi assim.

            - Parece que alguns erros estão incomodando o alto escalão. – Jones lhe explicou. – O Peter odeia ter que lidar com a burocracia e tá tendo que explicar um monte de coisa.

            Então eles não conversaram e Neal e o restante da equipe tiveram que trabalhar até bem tarde tentando resolver algumas encrencas. Nem pensar em pedir para sair mais cedo para levar George até a mãe. Paciência.

            Só no outro dia trocaram algumas palavras. Nem duras, nem de amizade. Foram objetivos, se respeitaram, mas a parede entre eles estava ali. Chamava-se Rachel.

            - Você acha que temos chance de encontrar quem fez a falsificação?



            - Estou tentando encontrar alguma assinatura. – Neal respondeu. – Algum problema?
           - Vários. Preciso fechar esse caso. E de preferência encontrar Lucy também. Estão na minha sombra e isso me enlouquece.
            - É só isso? – Peter parecia estar escondendo algo. Ou nervoso com mais alguma coisa.
            - Só...bom e mais um caso que vem estourar na nossa mão.
            - Complicado?
         - Espero que não. Contrabandista de obras de arte. Tem atuação em receptação de outras coisas também. Drogas, armas...só que é escorregadio e tem conseguido escapar da polícia. Não deixa rastro nenhum. Há indícios muito fortes de que ele recebeu títulos do governo roubados há bastante tempo. E vai tentar repassar. Se o fizer, perdemos o rastro. E vai ser mais uma coisa para ficar na nossa conta. Mas ainda estão com ele. Provavelmente na casa dele. Só não posso invadir porque não tenho absolutamente nada que me permita pedir um mandado. Ele é um criminoso, mas não consigo provar. O fraco dele são as mulheres...vou tentar que Diana se aproxime. Ruan Rodrigues é o nome. 



            - Não deve ser tão complicado assim. Já pegamos piores.
         - Mas é desconfiado, escorregadio. Poucas pessoas entram na casa. Até os empregados ele escolhe. Está lá, eu sei. E deve ter muito mais.
            - O jeito é fazer Diana ser sedutora...acho que não temos muitas chances. – Neal tinha poucas esperanças. Ela não servia para isso. – Boa sorte, Peter.
           

            Somente três dias depois, no sábado, Neal conseguiu voltar ao presídio. Era um dia de folga e ia finalmente poder levar George para ver a mãe. Acabar com aquele sofrimento...ou prolongá-lo. Ao menos em uma coisa Rachel errou feio. George estava longe de esquecê-la. Ainda sentia muito a sua falta.


           

            Colocou uma roupa casual e foi. Ele parecia entender que era sábado e iam passear, iam fazer algo importante. Estava sorridente. Ficaram ambos esperando pela mamãe na mesma sala de visitas.

            - Se comporte. Se não ela vai achar que estou te deixando mal educado. – Pediu como se o menino pudesse entender algo.

            Quando foi chamada para mais uma visita Rachel ficou um pouco mais animada. Isso era cansativo, sempre acabava emocionada. Mas era bom rever pessoas queridas. Quem seria dessa vez?
            Soube que era Neal quando se aproximava da sala e o ouviu brincando com o bebê. Mas não teve olhos para ele inicialmente. O pacotinho azul em seus braços é que a emocionou terrivelmente e a fez desistir do plano de não chorar.




            Em silêncio estendeu os braços para pegá-lo. Queria senti-lo. Tinha medo de que o filho a olhasse e a estranhasse, pensasse que era uma estranha. Não foi assim. George a reconheceu instantaneamente. Encostou o narizinho em seu pescoço e começou a passar as pequenas mãos em seu cabelo. Estava cheirando a mãe e sorria sem parar.

            Depois de alguns minutos ela falou com Neal.

            - Você cumpriu sua promessa. – Disse simplesmente.
            - Sem mais mentiras Rachel, nenhuma. – Ele respondeu. – Viu? Não te esqueceu. Nem vai, nunca. Todo sábado nós vamos vir. Estaremos aqui. Nós dois.

            Aí sim que ela emocionou-se. Teria chorado muito mais se George não tivesse começado a mexer em sua blusa numa clara mensagem de que queria mamar. Era constrangedor. Ali? Na frente dele...tanto tempo depois. Mas George ia chorar se ela não desse o peito e não ia lhe negar isso. Como a blusa era muito fechada, foi obrigada a praticamente tirá-la. Neal ficou ali, um tanto constrangido com o momento, mas também louco para ver o filho mamar.

            E George não escondeu a felicidade em mamar no peito da mãe. Ficou muito tempo sugando um seio, depois o outro, e só parava para sorrir, faceiro por ganhar o que reclamava há dias.



Neal sorria ao observar os dois.

            - É uma cena linda, mas eu quero ver ele pegar a mamadeira hoje a noite. – Neal brincou. – Eu te entendo, filho.

Ela continuava concentrada no filho. Ele então pegou o celular para registrar isso.

            - Posso fotografar vocês?

Rachel concordou. Apesar de não ser um momento que quisesse recordar.

            - Pode. Vamos registrar a primeira visita do meu filho... - Ela estava triste.
            - Vamos registra a alegria dele. É o que conta.
            - Ele está mamando bem o leite em pó?
            - Sim. Prefere o do peito, mas bebe o outro.
         - Ótimo. Porque está secando. Já tive bem mais leite. – Ela disse triste. – Ainda bem que já está ficando grande né filho? Não precisa mais do peito da mãe.

            Como se para discordar, George voltou a sugar com força. Neal e Rachel riram do menino. Alongaram a visita o máximo que puderam. E conversaram também sobre eles, o relacionamento deles. Era uma conversa difícil de se ter. Em especial com um bebê junto, mas ele era o maior símbolo da situação que se encontravam.


        - Você representou muito na minha vida. Quero que saiba disso, Rachel. – Ele disse surpreendendo-a. – A forma como entrou na minha vida... foi com um monte de mentiras, mas ... eu lembro de ter o seu sorriso pra mim, ver isso acontecendo todos os dias. É algo que eu não esperava ter.
            - Foram mentiras dos dois lados. – Ela se defendeu.
            - Eu sei. Eu também errei. – Já que começou, ia até o fim. – Você não quis me mudar, você queria esse vigarista. Você quis estar perto de mim.
            - Eu precisava te conquistar para te dar um golpe. Só isso! – Ela mentiu.
            - Foi uma jogada de mestre. – Ele respondeu

Ela o observou, primeiro. Mas depois falou também.

      - Quando te conheci, vi um mistério em você. Eu tinha uma missão para cumprir e você me desconcentrava, às vezes o seu jeito de olhar me incomodava, me deixava inquieta. Eu te amei sim, Neal. Mas você não quis esse amor. Ele se transformou em ódio.
            - Você escreveu para sua mãe que não me odiava mais. – Ele gostou disso.
            - É...eu não sei o que eu sinto por você. Mas certamente não é o que eu sentia naquela época.

            Algum tempo depois eles se despediram e era hora de terminar a visita. George havia adormecido nos braços da mãe e Neal se aproximou para pegá-lo. Estavam tão próximos, tão juntos...enquanto ela lhe passava o bebê, num impulso, lhe tocou os lábios.

            Foi um beijo meio sem pensar. Ela foi pega de surpresa pelo que ele fazia. Neal também não sabia bem o que pensava naquela hora. Talvez não pensasse nada. Foi um beijo rápido. Os dois ficaram confusos.



                Ele foi embora com George.

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