quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Alguém Para Amar: Epílogo



            Aos seis meses de vida, os gêmeos Vicente e Cecília provavam que amor, ânimo e paciência de pais eram infinitos. Com a animação dos dois, Clara parecia a mais comportada das crianças. Vicente e Cecília os tinham mantido acordados em algumas madrugadas. Tanto que Lorenzo sugeriu que contratassem uma babá, mas logo depois os dois concordaram que aquele era um momento único, difícil às vezes, mas delicioso. E até no choro de Vicente e Cecília eles viam uma demonstração de amor. Uma demonstração barulhenta e que os deixava com sono no dia seguinte, mas que, ainda assim, não trocariam por nada.
            Reorganizaram suas rotinas agora que Jéssica trabalhava ao meio dia e à noite. Ele saía cedo pela manhã para cumprir as agendas da Vinícola e Jéssica ficava em casa com as crianças. No meio da manhã ela deixava a todos na escolinha. Jéssica tinha algumas horas livres durante a tarde, por meses elas foram dedicadas a verificar com eles estavam adaptados ao berçário e a retirar leite do peito. Agora, mais adaptada às crianças e ao novo trabalho, podia aproveitar para se cuidar e dedicar um pouco de tempo para si mesma. À tarde Lorenzo costumava envolver-se mais com a administração de sua jovem empresa e por volta das 18hs era ele a pegar o trio na escola. Jéssica ainda se surpreendia ao chegar em casa e encontrar os filhos banhados, alimentados e adormecidos. Essa era uma rotina deliciosa de ter em cada um dos dias.



            Menos nos domingos, quando nenhum deles trabalhava e passavam o dia todo sem olhar para o relógio. Os gêmeos em seus carinhos, Jéssica e Lorenzo sentados na grama e Clara, já com seis anos e meio, brincando na pracinha. Era essa uma boa forma de recarregar as baterias para mais uma semana de trabalho. Dessa vez, ainda mais corrida que as outras. Na sexta-feira pela manhã ela embarcaria para o sul com as crianças. Lorenzo iria no sábado.

            - Ainda acho que deveria esperá-lo e viajarmos todos juntos. – Jéssica argumentou.
            - Não. Na sexta você irá com calma, aproveitará para passar mais um dia na companhia de seus pais na fazenda e, caso precise, terá o apoio da minha família. Eu irei assim que me liberar. – Lorenzo respondeu.

            No final de semana seria comemorada uma dada muito importante na família Vicentin. Vovô Francesco e vovó Ângela completavam 60 anos de casados. Vindos de um tempo em que as uniões eram firmadas entre casais muito jovens e duravam muito mais tempo, eles eram o registro de um tempo diferente. Francesco olhava para Ângela como se ela ainda tivesse os 16 anos de quando se conheceram. E foi por isso que ele ensinou aos filhos e netos a amar e respeitar a companheira de toda a vida.
            Vovô já não tinha a mesma saúde do passado. Aos 81 anos, era normal, dizia o médico. Esporadicamente ele esquecia algumas coisas e na mais recente visita à Vinícola, Lorenzo e Jéssica perceberam que ele tremia muito uma das mãos. Aquilo despertou o alerta na família, mas não lhes tirou a alegria de festejar. E isso surpreendeu Jéssica.

            - Você não está preocupado com seu avô? – Ela lembrava-se de ter perguntado ao marido no voo de volta daquela viagem.
            - Sim, é claro. Mas infelizmente não posso evitar que vovô adoeça, só lhe oferecer bons tratamentos médicos e garantir que será amado até o último minuto de vida. E depois dela também.
            - Acho lindo isso.
            - O que? – Lorenzo não havia entendido realmente.
            - A forma como se completam. E aceitam o que a vida oferece.
            - Não há escapatória, Jéssica. As cartas quem nos dá é o destino, cada jogada é nossa. O que vale é ser feliz. O que me lembra...quero saber se você está feliz, amor. Com a nossa casa, o trabalho, tudo.
            - Muito. A casa é o nosso lar e eu descobre que gosto do que faço, mais do que imaginei no início. Receber é bom. Quero atender aos clientes cada vez melhor. E, por isso, pensei em me matricular num curso de vinhos. O que você acha?

            Lorenzo sorriu, orgulhoso e feliz em ver a esposa ter projetos, ter ânsia de aprender. E se seu objetivo era se tornar uma especialista em vinhos, ele estaria ao seu lado, disposto a ajudar em cada minuto.

            - Acho ótimo. Acho inclusive que eu posso te dar a primeira aula, agora à noite, no nosso apartamento. Comprei uma garrafa chilena hoje maravilhosa. – Ele ofereceu mordiscando o pescoço dela.
            - Eu gostei bastante desse plano, muito mesmo. – Jéssica não demorou em responder, atirando-se em seus braços.

            Na segunda-feira bem cedo Jonas e Emily também  acordaram cedo para organizar tudo o que era necessário antes da viagem. Eles já estavam bem mais adaptados a rotina profissional agitada e aos bebês. E após algumas tentativas falhas, Emily convenceu-se de que precisava de uma babá. Apesar de não querer e por vezes negar a possibilidade sugerida por Jonas, ela aceitou.

            - Nada a tornará menos mãe deles, meu amor. Só precisamos de ajuda. – Jonas lhe garantiu.
            - Eu sei. Bobagem minha. Mania de querer dar conta de tudo sempre, de aproveitar cada minutinho do dia.
            - É, mas nós lidamos com as responsabilidades de uma vinícola, uma construtora e dois restaurantes, Emily. Precisamos de uma ajudinha. E a Helena será isso.

            Era com Helena, uma mulher de meia idade indicada por Márcio, que Bernardo e Vida estavam. Agora que tinham uma ‘secretária do lar’, eles não precisavam acordar tão cedo quanto os pais.  Só depois das nove horas Helena os levava para a escolinha e organizava a casa. Também era ela a buscá-los às 17hs para estarem descansados e no lar quando os pais chegassem. E os jantares em família agora eram uma tradição. Os dias para Jonas e Emily costumavam começar cedo e terminar tarde, mas eles não reclamavam, eram felizes daquela forma.



            Tanto que, às vezes, Emily sequestrava o marido logo cedo. Tudo para tê-lo junto de si por mais alguns minutos e num lugar lhe adorava. A feira. O cheiro das frutas frescas e dos temperos lhe encantava. Junto do aroma de Jonas ficava ainda mais tentador. Antes das 7hs da manhã eles caminhavam entre as bancas e, dê mãos dadas, faziam planos.

            - Você vai poder viajar na sexta-feira? – Emily questionou.
            - É claro. E você?
            - Tudo combinado com Márcio. Dei-lhe folga hoje e amanhã para que, descansado, consiga dar conta dos dois restaurantes. Já está tudo programado inclusive com Marta. Ela irá no mesmo voo que nós.
            - Ótimo...a não ser porque isso significa que hoje você trabalha em dobro. Certo?
            - Certíssimo! E tenho reunião com Nathan.
            - Algum problema? – Jonas evitava se envolver nos problemas do restaurante. Confiava no talento de Emily e conhecia sua independência, mas, como administrador, gostava de saber como tudo estava.
            - Nenhum. Desde o início seu plano era ficar na Itália a maior parte do tempo e eu administraria tudo. Até porque sua esposa está lá. Mas ele ficou aqui no Brasil todos esses meses e eu achei que ele iria se instalar aqui.
            - Também pensei. Fiquei sabendo que esteve novamente na vinícola e enviou um grande lote de vinhos para a Itália. Nos deu uma ótima propaganda internacional ao colocá-los na carta de seu restaurante.
            - É, ele...se encantou pelos Vicentin. Os vinhos, digo. Mas eu o convidei para ir conosco nesse final de semana e ele respondeu que não e me avisou que precisávamos conversar porque ficará um bom tempo sem vir ao Brasil.
            - Você acha que tem a ver com a esposa?
            - Não, acho que não. Não é esse o tipo de relação deles. – Emily disse simplesmente.

            Emily não desejava falar do assunto porque não o conhecia por completo. Sabia que Nathan se casou com Valentina após um namoro breve e que era do interesse dos dois, mas que envolveu mais interesses econômicos do que amor. Alguns poucos meses depois do enlace Nathan lhe confidenciou que a união na prática nunca ocorreu, que eles queriam coisas diferentes da vida e não havia chance de permanecerem juntos.
            Num acontecimento pouco esclarecido, no entanto, poucos dias depois Valentina sofreu uma parada cardiorespiratória. Sobreviveu. Porém, ficou com sérias sequêlas. Há oito anos vive sem falar ou deixar a cama. Na verdade ela não vive, apenas sobrevive no que, para Emily, representava o pior  dos destinos. Diante disso, Nathan nunca se divorciou. Mas também nunca se importou com ela. Pagava para ela ter atendimento médico e jamais entrava no quarto em que ficava. Não, Valentina era o último dos motivos a levá-lo de volta para Milão.



            Emily trabalhou com o afinco que pode o dia todo. Acompanhou de perto o almoço em um restaurante e depois correu para o outro e comandou o jantar. Quando as panelas encontraram descanso, ela enfim, também se sentou para dar algum repouso ao corpo. Mas ainda havia um assunto pendente. Nathan Johnson, seu amigo e sócio tinha algumas coisas para lhe dizer. Misterioso como sempre, ele não estava interessado em dizer uma vírgula além do necessário.



            - Porque está indo embora? Achei que estava se adaptando ao Brasil. – Ela tentou com todo o tato.
            - Eu nunca tive planos de ficar. Era um período para a sua adaptação aos dois restaurantes e nós desejávamos ajustar o cardápio, testar alguns pratos e eu achei que precisava dar o meu estilo ao lugar. Mas o Brasil não é o meu lugar.
            - Está mentindo para mim.
            - Emily! Assim você me ofende! – Nathan afastou-se. Não estava habituado a ser contrariado.
            - Pode ser. Mas prefiro ofendê-lo com a verdade. Você gostou do Brasil e pensou em ficar aqui. Não só de SP, mas também do Ri Grande do Sul.
            - É claro, a vinícola de seu marido é maravilhosa. Mas aqui não é o meu lugar. E essa é toda a verdade. – Ele insistiu.

            Emily não mais insistiu. Viu que por agora não saberia de mais nada. Mas seu instinto fez alguns pelos se arrepiarem em sua nuca. Havia algo ali, naquele olhar mais triste e mais decidido do que se lembrava. Nathan estava fugindo. Quando o acusou de mentir, ele não ficou bravo como no passado aconteceria, ficou muito envergonhado. Emily pegou as chaves de seu carro e foi para casa com a certeza que mais cedo ou mais tarde saberia o que aconteceu.




            Quando enfim chegaram à vinícola na sexta-feira, Emily teve essa sensação reforçada. Parecia que o clima era outro. Havia sim muita felicidade pelas bodas dos avos, assim como Giovanna e Leonel passaram horas acarinhando os cinco netos. Mas havia algo de diferente.
            E quando Milena surgiu na sala e discretamente cumprimentou a todos, Emily desconfiou que ela teria as respostas de que precisava. Ainda assim, não quis pressioná-la, afinal, no sábado, Ângela e Francesco queriam toda a família em seu almoço de 60 anos de casados. Desejavam e mereciam que houvesse paz na família.
            Ainda na sexta-feira pela manhã Jonas se divertiu caminhando pela vinícola com os convidados. Marta não quis ir, preferiu ficar junto de Emily. Mas Laura e Henrique acompanharam Jéssica e fizeram a alegria daquela filha enternecida por tê-los conquistado novamente.

            - É tão bom tê-los aqui. – Disse beijando o pai e recebendo o afago de volta.

            Já no sábado, quando Jéssica cozinhava junto da mãe e da sogra, Lorenzo chegou. As matriarcas o viram se aproximar enquanto Jéssica seguia de cabeça baixa, cortando as batatas da salada. Só quando Lorenzo a abraçou por trás e ela beijou-o com toda a naturalidade é que ficou clara às mais velhas que ele esteve longe de surpreender a esposa.

            - Sei muito bem quando você está chegando. Conheço seus passos, seu cheiro. Conheço meu homem. – Ela lhe disse. – Foi bem de viagem?
            - Sim. E aqui? Onde estão as crianças?
            - Com os bisavós, Emily e Jonas à sombra das árvores. Quer uma taça de vinho?
            - Eu nunca recuso. – Lorenzo respondeu.

            Giovanna não se cansava de ver quanto seu filho agora era feliz. Aquela moça, antes vista com maus olhos pela família, o tinha feito reviver.  Lorenzo transformou-se num homem mais sorridente, leve e disposto a viver além do trabalho.

            - Largue essa faca e vá curtir o seu marido, Jéssica. Eu termino as saladas. – Giovanna disse à nora.

            Vendo que Jéssica não aceitaria, Lorenzo soltou-lhe o avental e fez sair da cozinha.

            - Com licença. Vou roubar minha prenda um pouquinho. – Disse já levando-a para a sala. Queria mesmo é chegar no quarto. – Vem tomar um banho comigo?



            Ficar sob o chuveiro não estava nos planos de Jéssica, Ainda assim ela foi para o quarto com ele. Queria conversar, dar-lhe atenção. Afinal, com filhos, momentos assim eram raros. Precisam aproveitar.

            - Como foram seus compromissos? – Ele tinha duas agendas que o impediram de viajar na sexta-feira. Uma lhe importava bem mais.
            - Bem. Aquela empresa contratou a consultoria. – Ele começou, sabendo que aquilo pouco interessava para a esposa. – E depois...sim, eu fui ao médico como você pediu.
            - Claro que pedi. Já estava na hora de fazer um check up.
            - Eu fiz. E está tudo ótimo. Meu médico disse, inclusive, que eu pareço ter rejuvenescido alguns anos. Você acha que eu lhe disse quem é a responsável por isso?
            - Não sei. – Jéssica ria e abria a sua camisa enquanto beijava-lhe o peito. Começava a ser simpática a ideia do banho.
            - Não. Fiquei quieto. Não quero espalhar as maravilhas que você me fez para não atrair concorrência!
            - Bobo! Eu não tenho olhos para mais ninguém. – Definitivamente, estava a caminho do chuveiro com seu marido.

                E então chegara a hora do almoço. Vovô e vovó emocionados em enfim poder reunir toda a família, em volta da mesa, farta em sabor e em sentimentos. Ali estavam filhos, netos, bisnetos, maridos, esposas e amigos da família que tornavam a mesa quase infinita. E a felicidade dos idosos também. Vovó Ângela era ladeada pelo marido à esquerda e por Clara à direita. Ela tinha exigido que a bisneta mais velha ficasse junto dela. Clara sorria ao ganhar afagos da vovó e se deliciava num imenso copo de suco de uva. Os outros netos estavam protegidos do sol sob uma tenda bem ao lado.

            - Vocês já terminaram de comer? – Ana perguntou. – Eu errei a mão no molho? Foi isso? A carne ficou crua?
            - Nada disso! Tudo está perfeito, Ana. Fique descansada! – Giovanna acalmou a antiga cozinheira da casa.
            - Ainda bem. Afinal, tenho uma chefe de cozinha internacional na casa. Não posso fazer feio!

            Todos riram, como era tradição numa mesa italiana. Alguns falavam, outros gritavam e, no fim, todos se entendiam. Mas havia uma voz que não era ouvida. Milena manteve-se calada durante todo o almoço. Nada disse para não atrapalhar o momento feliz da sua família. Ela não estava no mesmo clima. Se bem que, infeliz também não era o seu sentimento. Essa fase ela já havia superado. Agora era apenas a surpresa pelo novo rumo que sua vida tomou.
            Triste mesmo esteve há quase um mês quando sua venda caiu e enfim teve de reconhecer que o já dito por alguns era verdade e o homem que por alguns meses lhe pareceu uma possibilidade de futuro, nem mesmo um presente lhe oferecia.
            Desde que viu Nathan Johnson, interessou-se por ele. Por mais discreta que tenha sido sua postura na noite em que o conheceu na casa de seu irmão, ainda assim, desejou-o. E só percebeu que o sentimento era recíproco quando Nathan foi ao Rio Grande do Sul algumas semanas depois. Tudo foi muito rápido e, ao mostrar-lhe os parreirais e os setores da vinícola, Nathan a beijou. Naquele primeiro dia um relacionamento começou, um estranho relacionamento. Naquela mesma noite dormiram juntos, na cabana ocupada por ele naquele final de semana. E depois disso foram muitas outras noites. Ele veio em várias oportunidades ao sul. Ela foi a São Paulo outras tantas.
            Tudo, porém, nunca envolveu outras pessoas. Eram sempre encontros muito discretos. Nathan jamais quis sair em público ao seu lado e nunca aceitou abrirem o relacionamento à família. Pediu-lhe segredo absoluto. E aquilo, com o passar dos meses, irritou Milena. Alguns poderiam chamá-la de antiquada por nunca ter se interessado em investigar a vida de Nathan. Simplesmente não sentia necessidade. Acreditou no que ele lhe dizia. E achava até mesmo charmoso o fato dele ser filho de uma italiana com um americano, de alguma forma, nele aquela combinação parecia fazer sentido. Ela não estava pronta para o que Nathan tinha a lhe dizer e ele o fez da forma mais fria possível em sua última vinda a Bento Gonçalves. Definitivamente a última, porque ele avisou que colocar os pés lá novamente estava fora dos planos.

            - Nós acabamos por tornar nossos encontros mais frequente e mais definitivos do que eu planejava. Compromisso não me interessa, Milena. – Disse, direto, como costumava ser. – Não pretendo vir te ver mais. Sua família acabará desconfiando e...eu já não tenho mais como usar o vinho como desculpa.
            - Por que precisaríamos de desculpa? Somos livres!
            - Não, bella ragazza, eu não sou livre. Eu sou casado. E estou indo embora do Brasil. Não pretendo mais voltar, não ao sul, pelo menos.

            Nathan não precisou que ela o expulsasse da vinícola. Foi embora pela própria vontade. Mas ela o teria mandado embora caso ele não o fizesse. Ela manteve-se firme na frente da família e dos funcionários da vinícola. A sós, no seu quarto, chorou muito. Passou semanas tentando entender o que levou Nathan, sendo casado, a procurá-la tantas vezes. E agora a ir embora sem nem mesmo dar uma chance a ela como mulher. Provavelmente, tudo o que queria era um passatempo para sua temporada no Brasil. E, naquele momento, já ria na Itália, ao lado da esposa. Milena decidiu que o esqueceria e seguiria sua vida, sem Nathan, como sempre foi.
            Mas a vida já havia mudado. E para melhor. Antes sentia-se sozinha, mesmo tendo os Vicentin lhe acolhendo ainda menina e a amando-a como filha. Às vezes, ainda assim, sentia a falta de ter alguém do seu sangue por perto. Agora nunca mais seria assim. E ao saber disso ela só sentiu felicidade. Sua alegria parecia tão grande que o fato de Nathan não estar ali tornou-se um fato menor.
            - Milena! Milena! – Leonel chamou a filha. – O que você tem? Parece com o pensamento tão distante. Algum problema?
            - Não, papai. Eu acho que não é um problema, é algo maravilhoso. E já está na hora de todos vocês saberem.




            Milena olhou no rosto de cada um ali presente e só então começou a falar. Estava segura. Se ofendesse alguém, não se importaria. Já havia completado 33 anos, era formada em turismo e independente financeiramente. E, principalmente, era amada por aquelas pessoas. Eles podiam até estranhar a notícia, mas não a abandonariam.

            - Quero dizer a vocês que estou muito feliz, mais feliz do que já estive algum dia. – Ela continuou.
            - Isso é ótimo. Mas qual o motivo? – Jonas interrogou a irmã.
            - Porque Clara, Vida, Cecília, Vicente e Bernardo ganharão uma prima ou primo. Vovó e vovô, vocês serão bisavós mais uma vez. Espero que se sintam tão felizes quanto eu mesma pela notícia.

            Eles se sentiram. Abraçaram a mais discreta dos netos, sempre mais dedicada ao estudo que ao coração, agora teria um bebê. Vovó Ângela chorou e acariciou a barriga de Milena.

            - Obrigada, foi o mais lindo dos presentes que eu e vovô poderíamos receber. Mais um bisnetinho! – Ela disse sentindo as lágrimas correrem.

            Felizes todos estavam. A felicidade de Milena era tão grande que a fazia brilhar e transmitia seu calor a todos. Ainda assim, havia uma dúvida no ar e fora Lorenzo a externá-la. Uma criança tinha pai e mãe, dentro de um casamento, não assim, do nada e com a mãe dando a notícia sozinha.

            - Quem é o pai do bebê, Milena? Não me lembro de ter nos contato de um namorado. – Ele disse mais sério do que de costume.
            - Sem pai. É uma produção independente. – Milena respondeu, segura e desafiadora. – Agora, se me dão licença, vou ao meu quarto. Está muito quente aqui. Vou descansar um minutinho.

            Todos na mesa trocaram um olhar assustado. Aquela não parecia a Milena doce e controlada de toda a vida. Emily desconfiava seriamente de quem era o pai daquela criança, mas jurou para si mesma que jamais diria uma palavra. Estava mais preocupada em acalmar os ânimos.       Via em Jonas um nervosismo único. Achou até graça. Jonas agia como se Milena fosse uma criança, posto que obviamente não mais combinava com ela. Jéssica encarava Lorenzo com a mesma indignação. Eles estavam enciumados com a gravidez da irmã. E isso soava muito estranho quando Giovanna e Leonel sorriam felizes.

            - Pai! O senhor não dirá nada? – Jonas perguntou.
            - Dizer o que, meu filho? Milena é dona de seu nariz. Só me resta lhe desejar felicidade.

            Jonas e Lorenzo, no entanto, não foram acalmados por aquele pensamento pacificador. Não aceitavam que a irmã fosse mãe sem que eles soubessem quem a tinha engravidado. Por mais modernos que tenham se tornado, filho é filho, e merece ser criado em família. Os dois saíram correndo atrás da irmã. Emily e Jéssica atrás dos maridos.

            - Jonas Vicentin! Não ouse brigar com ela! Milena não é criança e se quer ser mãe, será! Não seja imaturo! – Emily disse em seu encalço. – Eu mesma teria uma produção independente não fosse você aceitar ser o pai de meu bebê.
            - Exatamente! Aceitei porque criança precisa de pai! E um homem de verdade assume o filho que faz. Esse irresponsável...que eu não sei quem é, vai assumir o filho sim!
            - Lorenzo se acalme! – Jéssica gritou. – Eu sei que não esperava, mas...é seu sobrinho e...
            - E Milena vai ter de me contar quem é o pai! O que é isso? Sai por aí, faz um filho e a família nem saberá de quem é? Não dá!
            - Lorenzo Vicentin! Você não vai gritar com a sua irmã. Eu sei o que é passar por isso. Ela precisa de apoio. Ela precisa de carinho da família. E você vai mostrar o grande homem que é, e ajudará sua irmã!

            Quando enfim chegaram no quarto de Milena viram-na fazendo algo muito diferente de descansar. Ela arrumava uma mala. Eles entraram sem bater e isso foi bom porque enfim pegaram a irmã sem a máscara de perfeição de minutos antes. Não era tristeza, apenas raiva. E nisso os três combinavam.

            - Saiam! Eu já entendi que ficaram irritadinhos. Deixem-me em paz! – Ela gritou.
            - Paz pra que? Para fazer uma mala que você não usará? – Lorenzo perguntou. – Não vai sair daqui, do seu lar. Nem cogite isso.
            - Você não manda em mim, Lorenzo.
            - Está na hora de ser mais madura, Milena. Seu filho precisará.
            - Desculpe se não sou tão perfeita quando os Vicentin de sangue. – Milena respondeu ao irmão mais velho.
            - Não! Nem pense em vir com esse papo! – Jonas então interveio. - Você é nossa irmã. O sangue que vá pro inferno! E eu não aceito que diga outra coisa. Nunca, nem por um instante, você não foi tratada e amada como a uma Vicentin.

            Nisso Milena foi obrigada a concordar. Aqueles irmãos lindos e irritados eram os SEUS irmãos e os tios de seu filho.

            - Desculpa. Eu sei. É só que não é fácil. É a primeira vez que eu terei um parente de sangue...e ele vai sair da minha barriga. Eu estou feliz. Simples assim.
            - A gente está feliz por você, Milena. Claro que estamos. – Jonas afirmou e abraçou a irmã. – Mas eu quero saber quem colocou esse bebê aí e quando ele aparecerá para assumir o filho. É o que um homem decente faria.
            - E, de preferência, pedir a sua mão em casamento! – Lorenzo complementou.
            - Ele não sabe e nunca saberá do bebê. – Milena esperou o choque passar e então falou tudo de uma vez. – Esse bebê é meu. Esqueçam que meu filho tem pai. Eu nunca contarei a ele sobre o bebê e jamais contarei a vocês o nome dele. Foi apenas um homem que passou por minha vida. Só isso.

            Lorenzo e Jonas não concordavam, talvez jamais mudassem de opinião, mas foram obrigados a concordar que seus papéis não estavam em julgar ou castigar a irmã. Ela precisava de apoio. E teria. Assim eram os Vicentin.



            Mais sábios, vovô e vovó não se preocuparam em ir atrás dos netos. Eles iriam se acertar. Conheciam aqueles três tão bem. Eles se amavam. E os irmãos estavam apenas protegendo a caçula da única forma que achavam possível. Seja como fosse, ela estava tranquila vendo seus cinco netos à sombra. Clara, a mais velha, encantada com os bebês. Ângela apertou a mão do marido nas suas. Não poderia se sentir mais plena e satisfeita com as graças vindas dos céus para sua família.

            - Acho que agora você pode parar de pedir crianças, Ângela. Temos muitas. – Vovô Francesco disse.
            - Sim, meu velho. Estão todos encaminhados na vida. Agora sim. Agora eles têm o que realmente é importante. Eles vão envelhecer como nós, rodeados de amor.
            - Sim, minha amada. Há 60 anos eu dizia ao padre que te amo. E eu hoje eu repito: amo você e vou amar enquanto um coração bater no peito desse velho.
            - Eu também te amo, meu velho! – Ângela estava muito emotiva naquele dia. Um dia especial.

            Foi Clara a fazê-los voltar a atenção às crianças. Ela chamou os avós para brincar, coisa que para eles não era fácil. Não com a agilidade que a garotinha esperava. Contar uma história era mais fácil e foi isso que Ângela propôs à Clara. Logo a menina se sentou ao lado dos bebês em seus cestinhos dispostos à frente dos idosos. E vovó começou sua história.

            - Era uma vez uma vovó e um vovô...
            - Igual vocês? – Clara interrompeu.
            - É. Igualzinho nós... essa vovó e esse vovô eram muito tristes porque não tinham bisnetinhos. A vovó toda a noite rezava para os anjinhos do céu lhe mandassem alguns bisnetinhos, mas eles não vinham.
            - E aí? O que aconteceu com os vovôs?? – Clara insistiu.
            - Calma, minha pequena. Vovó contará tudo. Um dia vovó ficou sabendo que papai do céu resolveu lhe dar uma bisnetinha e mandou uma anjinha lá do céu. Mas ainda era pouco! Vovó continuou rezando para o pai do céu lhe dar mais...

            Clara ainda não sabia, mas, um dia, entenderia que ela é um dos anjinhos pelos quais vovó um dia rezou. E nenhum outro presente poderia ser tão importante quanto ter suas crianças para ouvir uma história. A vida seguiu, ela e Francesco envelheceram e a nova geração estava ali, firme e forte como todos os Vicentin. Aqueles parreirais ainda veriam muitas crianças da família correndo e provando de suas uvas e isso bastava para acalentar seu coração.

Ela seguiu contando sua história...



Nota das autoras: Há um pouquinho de tristeza nos nossos corações. Acabou. Foi lindo, mas acabou. E nós agradecemos cada leitura, cada estrelinha e cada comentário. Vocês já devem ter percebido que vem segundo livro né? SIMMMM Milena e Nathan merecem um livro só seu. Só??? Não! Terá muito mais. Preparem-se! 2016 será show para os Vicentin! 
Bjs em cada leitor e leitora. E que venha: Alguém Para Perdoar :) 



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