domingo, 26 de julho de 2015

Alguém Para Amar - Capítulo 16



            Enquanto Emily se arrumava junto das mulheres da família, Jonas já estava pronto, escondendo-se do sol em um dos alojamentos de turistas que ficava próximo da tenda em que ocorreria o casamento. A calma dos dias anteriores já o havia abandonado. Lá no fundo tinha medo que Emily se deixasse levar por suas angústias e desistisse de se casar.



            - Acalme-se. Jéssica ligou informando que a noiva está pronta e em alguns minutos estará aqui lhe dizendo sim. – Lorenzo lhe disse.
            - Quando você se casar eu me lembrarei de te provocar também.
            - Se um dia isso acontecer novamente, estarei feliz demais para me preocupar com provocações.

            Diante do aviso do irmão Jonas saiu, cumprimentou o idoso padre e se postou no altar à espera da noiva. Viu quando Milena e a mãe chegaram e se sentaram em seus lugares. Também observou Jéssica se colocar junto de Lorenzo. Avistou Marta, sentada e observando-o emocionada. Ela foi a última convidada a chegar e seria a primeira a deixar o RS. Ainda naquela tarde ela retornaria ao abrigo. Não queria deixar as crianças sem sua proteção. Ainda mais agora, com uma recém nascida.

            - Cuide bem de minha filha. – Ela disse a Jonas ao cumprimentá-lo.
            - Sempre. E você, cuide bem da minha. – Foi a resposta de Jonas.




            Emily caminhou até Jonas lentamente, de braço dado com seu fiel amigo Márcio. Na falta do pai ou do irmão, o amigo e funcionário se ofereceu para guiá-la até o altar. Jonas observava-a e só tinha olhos para ela. Sabia que estava nervosa, mas não transparecia. Seus passos eram firmes como os de uma rainha, o olhar tinha como destino o seu. Belíssima em um vestido branco, discreto e moderno, seus cabelos louros estavam soltos. Não poderia ser uma noiva mais simples e elegante. Ela surgiu exatamente como ele imaginou. Emily Fruett em alguns instantes seria uma Vicentin. E Jonas não conseguia estar mais satisfeito com isso. Um aperto de mão com Márcio e ela lhe foi entregue. Com ambos diante do Padre, com as mãos dadas, a cerimônia teve início.
            O sermão do Padre foi breve, falou sobre a vida. Não a menina que ambos esperavam levar para casa muito em breve, mas o tempo a que todos temos na terra. Tempo que devemos aproveitar para ser feliz.

            - O tempo passa. E lá no fim todos queremos olhar para trás e ver uma trilha de felicidade. – Lembrou o religioso.

            Quando chegou o momento das juras Jonas e Emily ficaram de frente, ainda segurando as mãos um do outro. Havia paz no coração de cada um deles. Tinham um passado juntos, se conheciam intimamente e, agora, teriam um futuro. E ele seria lindo, ambos acreditavam.



            - Eu aceito me casar com você, para estarmos juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida. – Eles disseram juntos, num único som, que garantiu o que todos já haviam percebido. Jonas e Emily complementavam-se, desejavam o mesmo da vida e estavam prontos para trilhar aquele caminho.

            O beijo dos noivos foi rápido. Não desejavam desagradar ao Padre e tinham tempo para carinhos mais afoitos depois. Seguiram para os cumprimentos. Beijos e abraços, votos de felicidade e muita euforia. De vovó Ângela veio o voto mais afoito. E também o que mais cedo Emily gostaria de atender.

            - Pegue meu neto de jeito nessa noite de núpcias e faça meu bisnetinho. – Orientou a idosa, avó de Jonas. Todos riram, mas poucos imaginaram o quanto Emily torcia para que aquele desejo se realizasse.
            - Eu vou tentar vovó, eu vou tentar.

            Logo todos os convidados estavam servindo-se de um almoço que misturava pratos típicos do sul com o refino dos temperos que Emily tanto gostava. O resultado foi uma grande reunião de amigos, regada a vinho de ótima qualidade, pratos deliciosos e música tradicional. Jonas não parava de sorrir tendo Emily em seus braços.
            Eles passaram de mesa em mesa, agradecendo a presença naquele dia que tornava-se o mais feliz de suas vidas. Para ser perfeito, faltou apenas a presença de Vida junto deles. Infelizmente as leis não permitiam que nenhuma criança naquela situação saísse do abrigo.

            - Logo ela estará com vocês. – Marta disse enquanto acariciava o rosto de sua filha. – E eu também me sentirei avó de Vida.
            - Claro, porque é minha mãe. – Uma lágrima solitária rolou pela face de Emily.

            Antes de se sentarem para comer, os noivos ainda saíram pela vinícola para uma sessão de fotos. Tudo ali representava lindos cenários, da adega onde os vinhos ficavam armazenados aos campos de vinhedos. As câmeras puderam captar muitos beijos e afagos, pouco comparado com o amor que havia entre eles.



            Foi só depois que todos haviam encerrado o almoço e saboreavam as sobremesas que Emily chamou a todas as mulheres para pegar o buque. Algumas correram para tentar pegar as flores.  Outras, como Milena, sequer se animaram.

            - Isso é para quem tem namorado, pelo menos. – Disse a irmã do noivo.

            Jéssica também não quis participar da brincadeira. Estava feliz com Lorenzo exatamente daquele jeito. Sem cobranças, nem planos. Só aproveitando o que a vida lhes deu. Lorenzo, aliás, naquele momento, servia mais doce para Clara. Ela estava muito feliz ali. Tinha tios, avós, bisavós e logo ganharia uma prima. Apesar de ter apenas quatro anos, Clara entendia as conversas que ouvia. E ficou curiosa para saber quem era Vida. Jéssica lhe explicou que o irmão de Lorenzo e Emily iriam adotar uma bebê, chamada de Vida.

            - Será filha deles. Mas não sairá da barriga dela.
            - E pode isso? – Clara estranhou. Sabia que os bebês saíam da barriga das mamães.
            - Pode. Emily escolheu ser mamãe dela e Jonas escolheu ser seu papai. Porque a amam.

            Elas não falaram mais a respeito disso. O que não significava que Clara tenha deixado o assunto de lado. Agora, tendo o ‘tio Lorenzo’ ao lado, lhe deixando provar todos os doces que tinha vontade, Clara pensava que se pais e mães podia escolher uma filha, ela também podia escolher um pai.




            - Tio Lorenzo...você gosta de mim né? Minha mãe sempre diz para eu ser bem comportada e eu sou, não sou?
            - Você é, Clara. E eu gostaria de você mesmo que não fosse tão comportada assim. – Lorenzo respondeu achando graça de Chiara.
            - Gosta muito, muito, muito? – Perguntou ela com o rosto sujo com mais uma colherada cheia demais com um doce de chocolate.
            - Muito, muito, muito. Mais do que você imagina.
            - Então escolhe ser meu papai. Eu quero ser a sua filha. Eu prometo que vou me comportar bem como sua filha.

            Lorenzo olhou para Clara emocionado. Ela era uma criança carente de atenção. Por mais que Jéssica se esforçasse, não conseguia suprir a falta do pai. Pegou-a no colo e, mesmo não podendo confirmar aquilo, lhe disse o que ela precisava ouvir.

            - Vou te contar um segredo Chiara. Mas não pode contar pra ninguém, nem mesmo pra mamãe.
            - Tá bem!
            - Eu quero ser o seu papai sim. Um dia você será a minha filhinha. Mas a mamãe ainda não sabe disso. Então fica sendo um segredo nosso, está bem. Enquanto isso, eu sou o ‘tio Lorenzo’, que está aqui para te ajudar sempre que precisar. Está bem assim?
            - Sim. Mas tios também podem colocar a gente pra dormir ou é só os papais?
            - Os tios também podem.
            - Então está bem assim sim. – Ela lhe deu um beijo estalado na bochecha e lambuzou-o de chocolate. Lorenzo não poderia estar mais feliz.


            Quando Clara foi correr junto de outras crianças o baile do casamento já estava animado. O relógio já marcava quase 16hs. Leonel e Giovanna prepararam tudo para que a comemoração entrasse a noite. Emily e Jonas dançavam colados, sem parecer ver mais ninguém, Lorenzo resolveu fazer o mesmo com Jéssica. Naquele momento um grupo tocava músicas antigas da cultura gaúcha, alguns convidados riam da letra que enaltecia às terras do sul, outros tentavam acompanhar com passos de dança.

            - Eu não sei dançar essas músicas. – Jéssica avisou ao namorado.
            - Eu sei, não se preocupe. Nem com a dança nem com nada. Só sorria. – Era muito tentador para ela seguir aquele conselho.


“Quem quiser saber quem sou
Olha para o céu azul
E grita junto comigo
Viva o Rio Grande do Sul

...

Oh, meu Rio Grande
De encantos mil
Disposto a tudo pelo Brasil
Querência amada dos parreirais
Da uva vem o vinho
Do povo vem o carinho
Bondade nunca é demais

...

Deus é gaúcho
De espora e mango
Foi maragato ou foi chimango
Querência amada
Meu céu de anil
Este Rio Grande gigante
Mais uma estrela brilhante
Na bandeira do Brasil”

            Jéssica dançou como pode, colada a Lorenzo, sentindo seu calor durante todo o fim de tarde na Serra gaúcha. Era bom sentir aqueles braços envoltos de sua cintura, em especial depois da noite de amor vivida na véspera. O desejo foi crescendo e ela quis repetir tudo aquilo.



            - Afirmar que ‘Deus é gaúcho’ não é um pouco exagerado, não? – Jéssica provocou-o quando finalmente deixaram a pista de dança. Lorenzo sorriu e ela se perdeu naquele riso feliz e relaxado. Beijou-o, surpreendendo-o em tomar a iniciativa.
            - Nós não somos um povo reconhecido por sua modéstia, Jéssica. Somos orgulhosos. Para o gaúcho, tudo que é daqui é mais belo, mais forte e mais saboroso. Por isso dizemos que Deus é gaúcho, por ele ter sido muito generoso com nossa terra.
            - E você concorda com a música? Mesmo quando ela fala da beleza da mulher gaúcha?
            - Concordo. São belas. Mas eu me apaixonei por uma paulista, por isso melhor eu me calar nesse momento.
            - É, das mulheres não posso falar. Mas quanto aos homens, eu e Emily podemos atestar que são muito especiais.

            Lorenzo pressupôs que aquela falta de timidez toda fosse efeito do vinho. E resolveu aproveitar. Sabendo que seus pais olhariam Clara, levou Jéssica para conhecer a casa da família. Passou pela sala, cozinha, biblioteca e chegou ao seu antigo quarto. Jéssica pensou que fossem passar a noite ali, naquela cama, mas logo depois viu o olhar de Lorenzo perder a leveza de minutos atrás. Ele entrou naquele cômodo porque desejava lhe mostrar o antigo quarto, mas aquele lugar lhe dava tristeza.

            - Você não gosta de estar aqui. – Ela concluiu. A decoração era muito antiga e ela quase conseguia imaginá-lo naquela cama com Alice.
            - Não. Nós vamos dormir numa das cabanas turísticas ou voltar para minha casa na cidade. Esse lugar não me faz bem.
            - Você ainda a ama?
            - Não! Por favor, Jéssica. Não crie fantasias. Alice está morta e ela se tornou passado na minha vida há tempo suficiente para não nos atrapalhar. Ela é apenas uma lembrança triste. É difícil imaginar que Alice perdeu a vida tão jovem. Isso não tem nenhuma ligação conosco. Meu futuro é você. Então vamos esquecer o passado. Vou pedir que mamãe se desfaça de tudo que há aqui, monte outro quarto para nós, em outro cômodo e com ligação com um quarto para Clara.

            O sol caiu e foi hora de Jonas e Emily se despedirem dos convidados após 10 horas de festa, vinho e muita dança. Emily estava exausta já que negou-se a descer dos saltos altos. Jonas teve de carregá-la. O que não foi nenhum incômodo ao noivo.

            - Seus pés devem estar inchados.
            - Agora você cuida de mim.



            Emily não sabia quais surpresas seu marido havia lhe reservado. Sua noite de núpcias não seria na casa da família, nenhuma das cabanas nem hotéis da cidade. Ele preparou o seu lugar favorito na vinícola, a adega de barris de carvalho onde o vinho ficava envelhecendo. Lá havia um espaço com lareira, mesa de jantar e, desde aquela tarde, uma cama. Que talvez nem fosse utilizada.




            - Eu nunca, jamais imaginava que você pudesse ser tão romântico, Jonas. Imaginei uma suíte de hotel, algumas garrafas de vinho e uma cama macia. Mas não isso.
            - Garanto que a cama é macia e há bem mais que algumas garrafas de vinho, minha esposa. Eu gosto desse lugar. É aqui, desde a minha adolescência, que eu venho para pensar. O cheiro do carvalho e do vinho me faz sentir em casa. Espero realmente que você goste de ter aqui a nossa primeira noite como casados.
            - Estou achando maravilhoso até agora. Para ficar perfeito, só falta você tirar essa roupa e abrir o meu vestido.
            - Sim, mas bem perto da lareira para você não sentir frio.
            - Não tem chance alguma de eu sentir frio, Jonas. Eu estou fervendo de ansiedade. Eu quero você, agora, pela primeira vez como oficialmente sua.
            - E quem sou eu para negar uma ordem da senhora Vicentin?
           
            O vestido, de corte moderno, não tinha uma carreira de botões em pérolas. Ótimo. Foi simples descer o discreto fecho e deixar a cascata branca cair até seus pés revelando um justo corpete rosa claro. Rendas e fitas misturavam-se numa combinação sensual, mas não vulgar. Era uma lingerie romântica e recatada. O busto do corpete deixava seus seios mais altos e fartos. Jonas não resistiu a sentir-lhes o perfume.

            - Fantástica. – Disse salpicando beijos na pele macia e perfumada de seu colo. Ela era tão branca que sua pele era repleta de pequenas sardas.

            Emily sentiu quando as mãos de Jonas correram de sua cintura até o quadril e depois para as coxas. Conhecia aqueles toques muito bem. E, ainda assim, ele conseguiu surpreendê-la e arrepiá-la. Jonas desceu sua calcinha rendada enquanto ainda mantinha o corpete cobrindo a parte superior de seu corpo. Ajoelhou-se e lhe deu o mais íntimo dos beijos.

            - Aaaa Jonas. – Ela gritou e agradeceu por não estarem num hotel com pessoas nos quartos ao lado. Ali ela podia gritar muito sem medo de se expressar.
            - Acalme-se, minha esposa, estou apenas começando.

            Sentindo a parceira tremer, a fez deitar-se à frente da lareira e continuou acarinhando-a. Queria tornar aquela noite inesquecível.



            Quando ele finalmente tirou as próprias roupas e abriu o corpete de Emily, ela já tinha a pele formigando por mais carícias. Precisava daquele homem, completo, sem segredos ou mistérios que ela desconhece-se. Jonas era o seu par perfeito na terra. E ela sentia-se feliz em ser amada por ele ali, perto do fogo e do vinho.

            - Eu te amo. Quero ser sua para sempre. – Lhe disse no auge da paixão.
            - E vai ser. Eternamente amada por mim.

            Jonas perdeu-se naquela mulher sem pensar em mais nada que não fosse sua beleza, sua perfeição e o tanto de felicidade que ela conseguia pôr em sua vida. Emily tornou-o um homem completo. E, naquele momento, ele reforçava todas as juras feitas. Ela seria amada e respeitada.


            - Por todos os dias da nossa vida. – Sussurrou em seu ouvido enquanto amava-a.  

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