domingo, 12 de julho de 2015

Alguém Para Amar - Capítulo 14


            Quando chegou ao canteiro da obra Jonas já se deparou com muita gente. Além da polícia e do conselho tutelar, curiosos cercavam o terreno. Muitos filmavam a cena. Logo aquilo estaria na televisão. O bebê, a construtora e ele estariam nos jornais do dia seguinte.

            - Maravilha. Era tudo o que eu precisava. – Ele exclamou ao entrar.

            Antes de sequer ver a criança, teve de ir falar com o policial. Para eles era apenas mais um caso. Tudo ficou registrado. Uma menina de 2,520Kg e menos de 10hs de vida. Ainda estava com o cordão umbilical.

            - Boa noite. Sou Jonas Vicentin, um dos proprietários da construtora que se responsabiliza pela obra. – Apresentou-se ao policial.
            - Boa noite. Eu sou o policial Ramires. Nós estamos apenas fazendo o registro. Não trará nenhum problema à empresa.

            Da forma como o policial Ramires falava, parecia que aquela era a sua preocupação. Longe disso. O que o trouxe ali fora a indignação. Não entendia como era possível desfazer-se de um ser humano como se não passasse de um móvel usado.

            -O mais provável, devido a altura do muro, é que a mãe tenha atirando-a. E o cobertor no qual estava enrolada amorteceu a queda.
            - Está viva? – O sentimento era um misto de raiva, aflição e esperança.
            - Sim, surpreendentemente.
            - O que será feito dela?
            - Será encaminhada ao hospital e depois o conselho tutelar a levará para um dos abrigos do governo. Tentaremos encontrar a mãe e responsabilizá-la pelo crime de abandono de incapaz.
            - Eu posso ver a menina?
            - Sim, está na ambulância.



            Era tão pequena que parecia que os policiais fardados do atendimento de primeiros socorros tinham de se esforçar para pegá-la com delicadeza. Difícil crer que fora jogada pelo muro, mais ainda que alguém foi capaz de fazer isso. Porque não deixou na frente de um hospital então? Ou de um orfanato. Emily estava certa. A vida é muito injusta.

            - Está tudo bem com ela? – Perguntou, ansioso.
            - Parece que sim, senhor. Ela vai pro hospital para o pediatra avaliar, mas está tudo certo sim. É forte a pequenina.

            Jonas teria voltado para casa e ficado à espera de Emily. Mas surpreendeu-se ao vê-la chegar no canteiro de obra, desviando dos buracos com seus saltos altos nada indicados ao local. Ela atraía olhares dos curiosos e também dos policiais. Todos percebiam que estava nervosa. Emily correu como pode até Jonas e abraçou-o com entusiasmo.

            - O que faz aqui? Eu já ia embora...
            - Lorenzo me disse que encontraram uma criança e eu vim. Não brigue comigo. Tive de ligar para a insuportável da Juliana para ver onde era a obra.
            - Emily...a menina está bem. Não se preocupe. Vamos embora. Ela será bem cuidada.
            - Posso vê-la, pegá-la?
            - Acho melhor não... – Mas não concluiu a frase ao vê-la já invadindo a ambulância. Emily não tinha freio quando decidia uma coisa.



            E nunca a tinha visto mais decidida. A recém nascida foi acalentada, embalada nos braços de alguém que sonhava ter um bebê para chamar de seu. Aquela cena emocionou Jonas tanto quanto o assustou. Tinha medo de Emily se apegar demais naquela menina. Não era a filha deles. E não poderia servir de ‘treino’ para Emily. Merecia uma mãe de verdade, não alguém que sofria com um drama tão pessoal como era o caso da sua noiva. Mas a cena era linda. Isso não pode negar.

            - Vocês a estão chamando como? – Emily perguntou à enfermeira e policiais que a observavam embalar a menina. – Que nome deram para essa bonequinha?
            - Nenhum, ainda. – A enfermeira respondeu. – Nesses casos, Vitória costuma ser a escolha.
            - Não! Muito óbvio. Ela merece algo diferente, só seu – Emily acariciou o rosto da menina e ela parecia quase sorrir, satisfeita. – Vamos te chamar de Vida. O que acha? Vida! Sim, é isso! Vida!
            - Vida? Isso não é nome. – O policial respondeu.
            - Agora é! Não ligue Vida. Você tem um nome especial, apenas isso. – Ela percebeu que a menina mexia os lábios insistentemente. – Ela está com fome. Onde tem mamadeira?
            - Aqui não tem. Ela precisa ir para o hospital.
            - E o que estão esperando?!?! Vida não pode ficar com fome!

            Quando, finalmente, a ambulância seguiu rumo ao hospital, Jonas ainda olhava surpreso para Emily. Ela tomou as rédeas da situação como se isso lhe fosse natural. E era. Emily é o tipo de pessoa que age enquanto os outros ainda pensam. Quando eles caminharam em direção ao seu carro, não teve dúvidas do destino.
            - Gostou do nome? – Ela lhe perguntou.
            - Sim, combina. Se tem algo inegável, é seu desejo de viver.
            - Você não achou esses paramédicos muito lentos? Imagine que não perceberam que Vida tinha fome. – Ela lhe disse já sentada no banco do carona.
            - Eles só precisavam de uma comandante. Encontraram.
            - Bobo! – Emily lhe deu um beijo rápido.
            - Você abandonou o restaurante sem chefe de cozinha? Logo a minha Emily, empresária essencial ao negócio todos os dias! – Jonas provocou-a.
            - Não seja implicante, Jonas. Eu deixei minha nova chefe no comando. Decidi promover uma das cozinheiras a chefe. E por isso convidei Jéssica para ser minha mais nova auxiliar de cozinha. Espero que não se importe.
            - Nem um pouco. E se isso representar que minha futura esposa passe mais tempo em casa, sou capaz de agradecer pessoalmente a Jéssica.
            - Ótimo. Agora dirija mais rápido. Quero chegar junto com a ambulância ao hospital e ter certeza que a enfermeira está atendendo bem Vida. – Jonas achou melhor não contrariar. – Me empreste seu celular. Saí correndo do restaurante e não peguei o meu.

            Sim, ele imaginou sua reação ao saber que um bebê havia sido deixado justamente numa obra dele. Parecia uma provocação divina. Enquanto eles lutavam, alguém descartava um filho como se não tivesse valor algum. Também estava mexido com a situação. Não era apenas Emily a se comover e se envolver emocionalmente com a menina. Vida. Agora ela tinha nome. Escolhido por sua noiva. Estava óbvio que o envolvimento delas não ia parar ali. Jonas lhe entregou o aparelho. Isso não significava que sua preocupação havia passado.

            - Para quem vai ligar? Emily, é tarde. As pessoas estão dormindo.
            - Ela tem o sono leve. Não se preocupe.

            Como Jonas já desconfiava, Emily telefonou para Marta. E contou rapidamente o caso de Vida. A conversa teve partes bem objetivas como o que poderiam fazer para ajudar a menina. E, também, temas comuns. Emily contou que menina sorria. Mesmo com apenas algumas horas de vida. Algo que Marta pareceu ignorar. Importante mesmo era saber que ela estava bem e seria amparada. Com a ajuda da mãe adotiva Emily fez uma lista de tudo o que Vida precisaria nas próximas horas. Pretendia comprar cada item. E ainda fez um pedido especial a Marta.

            - Ela será enviada para um abrigo. Quero que você requisite a permanência dela aí no Lar de Amparo. Pode fazer isso por mim?
            - Posso, é claro. Mas Emily...você sabe que recém nascidos pouco ficam em abrigos. Logo alguém irá adotá-la. E em casos assim, que ganham a mídia, é comum surgirem muitos candidatos. Se a quer, você e Jonas terão que lutar por ela. E logo. Além disso, vocês ainda não são casados e isso ainda pesa na decisão dos juízes mais tradicionais.

            Quando soube do imprevisto que levou Jonas a deixar o restaurante sem se despedir dela, Emily agiu por impulso. Também não sabia muito o que fazia ao pegar a menina no colo. E ao ligar para Marta obedecia muito mais seu coração do que a razão.
            Ficar com Vida, torná-la sua, seria uma decisão muito importante. A qual ela não podia tomar sozinha. Não agora quando estava noiva de Jonas e tentando engravidar do bebê dele. Jonas, ao contrário dela, vinha de uma família tradicional. Tinha pais e avós ansiosos por um neto. Um neto de sangue. Mesmo assim, nada a impedia de ficar com Vida e seguir com seu tratamento.

            - Eu ainda não sei, Marta. Por enquanto vamos nos preocupar em manter Vida segura – Respondeu sabendo que Jonas estava atento às suas reações e não tinha ouvido o conselho de Marta.

            Depois de desligar, já no hospital à espera de notícias sobre Vida, Emily trouxe o assunto de volta. Perguntou delicadamente o que seu noivo acharia caso ela resolvesse manifestar o desejo de ficar com Vida. Teve dele uma resposta sensata e calculada. Bem diferente de como ela se sentia naquele momento.

            - Eu não quero que você coloque Vida no lugar do nosso filho, Emily. Ela não irá suprir essa falta.
            - Não é isso! Eu não estou desistindo do nosso bebê. É só uma possibilidade. Apenas isso.



            - Será mesmo? – Ele lhe acariciou o rosto. – Eu não estou lhe negando isso. Mas quero que pense melhor. Assim, no calor da situação, você pode agir por impulso e se arrepender depois. E Vida precisa de alguém que a ama e proteja para sempre.

            O medo de Jonas era que, no futuro, quando tivessem um filho natural, Emily não visse da mesma forma a ideia de ter uma filha adotiva. Para ela, no entanto, aquele questionamento soava como se ele não aceitasse a ideia de ser o pai da filha de outro homem. Emily se calou. Mas a ideia de ficar com Vida seguiu dentro dela.
            Rafael e Melissa também foram ao hospital e conheceram Vida. Com um filho de cinco anos, eles já sentiam falta de um bebê em casa e, ao conhecerem Vida, cogitaram a ideia. Mas tinham o receio de que, caso fosse divulgada a adoção, a família sanguínea voltasse a se aproximar interessada em dinheiro. Afinal, quem atirou a menina pelo muro saberia onde procurá-los.

            - Acho que esse tipo de adoção é feita em sigilo. Provavelmente a mãe nunca saberá com quem a menina ficou. – Rafael disse à esposa. – Você gostaria de tê-la?
            - Porque não?! Somos casados há bastante tempo, nosso filho já está crescido, temos como criá-la. A justiça não hesitaria em nos dar a guarda!
            - É, vamos pensar nisso. – Ele concordou.

            O relógio marcava 4hs da madrugada quando Emily e Jonas chegaram em casa. Eles dormiram abraçados, mas cada um ainda guardava suas próprias preocupações. Mesmo que sobre as mesmas questões. Vida dominava os pensamentos de ambos. Nenhum dos dois acordou cedo na manhã seguinte. Ele já tinha cancelado os compromissos. Ela iria chegar mais tarde ao restaurante. Já eram quase 10hs quando tomaram café e se surpreenderam com um aviso do porteiro. Os pais de Jonas estavam subindo.

            - Mãe! Pai! Que surpresa! – Jonas recepcionou-os enquanto Emily se trocava. – Que fazem aqui?
            - Ora! Quando meus dois filhos resolver sair pelo mundo, tenho todo o direito de ir atrás. Não seriam algumas filas de aeroportos a me impedir. – Giovanna afirmou. – Onde está minha futura nora?



            - Estou aqui, Giovanna. – Emily disse voltando para a sala. – É um prazer revê-la.
            - Fiquei surpresa ao saber que estavam em casa! Achei que estariam trabalhando a essa hora. Mas é ótimo vê-los. Temos duas semanas até o casamento! Precisamos decidir os últimos detalhes. Tudo certo com o vestido, Emily?
            - Tudo perfeito. E também com os convidados que irão a Bento Gonçalves. Não precisa se preocupar.
            - Ótimo. Preciso que você confira se o cardápio é de seu gosto. E também temos de decidir o recheio do bolo! O Padre confirmou o horário de fim da manhã para a cerimônia. E eu contratei a decoradora. Muitas flores serão usadas na decoração. – Giovanna estava encantada em poder fazer o casamento de seu segundo filho. Mas percebeu o olhar cansado do casal. – O que há crianças? Se eu e Leonel viemos em má hora podemos...
            - Não, mãe. Claro que não. É que nós tivemos uma noite diferente.

            Jonas poderia ter contado aos pais o que aconteceu, mas o noticiário da TV resolveu esse problema. Imagens de sua construtora, de Vida chorando nos braços da equipe médica e de Emily deixando o local junto dele passaram enquanto o apresentador contava que uma menina já batizada de ‘Vida’ havia sido encontrada após abandono logo após o parto.

            - Você a encontrou? – O pai de Jonas perguntou.
            - Não. O chefe da obra. Mas eu fui lá como responsável pelo local.

            Eles fizeram alguns planos rápidos para o dia. Mesmo podendo ficar naquele apartamento ou no de Lorenzo, Giovanna e Leonel preferiram um hotel. Como sempre fazia quando ia a São Paulo, Giovanna avisou que gostaria de fazer algumas compras. Emily e Jonas não puderam acompanhar o casal, mas eles combinaram de jantar no restaurante da nora naquela noite.



            Lorenzo foi encontrar os pais no meio da tarde. Era uma das vantagens de trabalhar numa empresa própria. Ele evitou entrar em detalhes sobre seu relacionamento com Jéssica. Não por vergonha dela, mas porque ainda era algo muito recente. Queria dar a ela tempo de se acostumar com ele antes de ter de encarar a família. Mas seus pais viram nele mais do que a habitual destreza profissional. Lorenzo estava estranhamente feliz.

            - Trate de nos contar o que, ou quem, colocou esse brilho que vejo em seus olhos. – Giovanna exigiu. – Posso estar velha, mas não sou cega. Alguém conquistou você. Entrou nesse coração. Conte para essa mãe inquieta.
            - O meu coração está ótimo, mãe. Aquiete o seu. – Foi só o que Lorenzo disse.
            - Mas...porque? Prometo que seja quem for terá o meu apoio!
            - Pare Giovanna! – Leonel falou. – Até parece que aos 44 anos Lorenzo liga para o meu e o seu apoio! Lorenzo é homem feito. Na hora que quiser nos apresentará quem está deixando-o com esse sorriso bobo nos lábios.
            Buscando distrair os pais, Lorenzo perguntou se eles não gostariam de conhecer Vida, a menina salva por Emily e Jonas. Giovanna não precisou de mais nenhum incentivo. Eles foram ao hospital e puderam ver a menina.

            - Acho que Emily escolheu muito bem o nome dela. Vida é linda. Veja Leonel! Me lembra Milena quando a pegamos pela primeira vez. Veja! É uma princesinha.
            - Sim. Ela é um encanto mesmo. – Lorenzo respondeu no lugar do pai que, calado como sempre, sorria para a bebê.

           
            Quando todos se reuniram naquela noite, algo nunca visto ocorreu. Emily não entrou na cozinha. Sentou-se junto de Jonas e saboreou o jantar. Todos sorriam e conversavam amigavelmente. Mas havia em Lorenzo certa ansiedade.

            - Está louco para ir na cozinha de Emily, meu irmão! Vá lá. Tenho certeza que ela não se incomodaria. – Jonas, como bom italiano, falava mais do que deveria. – Jéssica começou hoje já, não é Emily?
            - Sim. Ainda estamos regularizando, mas pedi que ela viesse para se ambientar com o lugar. Mas já está indo embora, o horário dela não é o da noite. Por causa da Clara. – Emily respondeu notando que Lorenzo ficou constrangido. – Se quiser ir lá, fique a vontade. Mas não a desconcentre. Ela tem muito a que aprender.
            - Alguém pode explicar quem é Jéssica? – Giovanna pediu. – E quem é Clara?
            - Jonas poderia aprender a ser discreto, mamãe. Mas já que ele falou, eu farei melhor do que isso. Vou buscar Jéssica para conhecê-los. Ela é tímida, por isso tentem não enchê-la de perguntas.



            Mais do que tímida, Jéssica ficou apavorada com a possibilidade de conhecer os pais de Lorenzo. Na noite passada, enquanto Jonas e Emily iam cuidar da bebê abandonada, ele a levou em casa e, ao se despedir, tornou a se declarar para ela.

            - Agora não sou mais o irmão do patrão. – Disse-lhe. – Já pode me dar uma chance de te amar.
            - Mas continuamos em mundos diferentes. Lorenzo...você não vê que eu sou uma auxiliar de cozinha mãe solteira enquanto você é um empresário? Pode ter qualquer mulher.
            - Posso?
            - Sem dúvida nenhuma.
            - Ótimo. Então está na hora da mulher que eu quero aceitar ser minha namorada. E me dar um beijo. – Ele foi aproximando os lábios e tocou-a muito delicadamente. – Não pode me negar. Disse que eu posso ter qualquer mulher. E a que desejo é você.

            Ela o beijou e assim tornou-se oficialmente a namorada de Lorenzo Vicentin. Parecia algo fantasioso demais. Mas ele a deixou na porta de casa jurando que era realidade e que fariam dar certo. Ela só não esperava conhecer os sogros na noite seguinte.

            - Eles vão adorá-la. Não se preocupe.

            Eles foram simpáticos como de costume. Mas não a aceitaram da forma natural como Lorenzo esperava. Por mais agradáveis que tentaram ser, eles não conseguiram disfarçar o estranhamento pelas informações que Jonas e Emily deram enquanto Lorenzo falava com Jéssica na cozinha. A moça é vinte anos mais jovem, tem uma filha e vive praticamente na miséria.

            - O que se passa na cabeça de Lorenzo? – Leonel disse antes do casal retornar.
            - Dêem uma chance à menina. Ela é realmente encantadora. – Jonas disse ao pai e a mãe, que estava estranhamente muda diante dessa surpresa.

            Quando viram Jéssica, eles disfarçaram qualquer sentimento ruim. Ela, sem conhecê-los, sequer notou qualquer estranhamento. Lorenzo sim. Ele viu a mãe ser apenas educada, não carinhosa. E Leonel observar Jéssica como se ela fosse diferente.

            - Boa noite, Jéssica. É um prazer conhecer alguém...importante ao nosso filho. – Foi o que de mais carinhoso Giovanna disse.
           
            Sem querer magoar a namorada Lorenzo lhe fez um carinho leve no rosto e pediu que fosse tirar o uniforme e esperá-lo na porta que logo iria levá-la até em casa. Quando ela fez o que ele pediu com um sorriso doce, ele se voltou à família. Já não tinha o mesmo sorriso de antes.



            - Eu vou encarar o comportamento de vocês como resultado do estranhamento. Unicamente isso. E vou levar Jéssica para casa e na próxima vez que a encontrarem, espero que essa surpresa tenha passado. – Avisou.
            - Meu filho! – Giovanna saiu de seu torpor. – Jamais trataria Jéssica mal. Apenas ela...ela não é como imaginei. É tão jovem para você. Poderia ser sua filha.
            - Mas não é. Jéssica é minha namorada! E tem uma filha linda, chamada Clara. Acostumem com isso. Boa noite para vocês.

            Lorenzo deixou os pais junto com Emily e Jonas. Eles se sentiram culpados. Não desejavam magoar a garota, nem ao próprio filho. E esperavam poder acertar as coisas depois.

            - Depois eu falarei com ele. – Leonel disse. – É claro que jamais tentaria me intrometer em suas escolhas.
            - Eu também! Ainda mais depois de todos esses anos. A felicidade de meus filhos é tudo o que importa. Mas sou mãe. Quero o melhor e...o tinha imaginado com uma mulher madura. Já tinha até imaginado que não teria netos de Lorenzo. Agora, com essa menina...bom que ele seja feliz.

            Uma coisa atraiu a atenção de Emily diante daquilo tudo. A pobreza de Jéssica e sua juventude mexeram muito mais com Giovanna do que o fato de Jéssica já ser mãe. Ao que parecia, os Vicentin não se importavam em ter netos adotivos. E isso animou seu coração. Mas ela não esperava por mais uma surpresa.
            - Vocês aceitariam a filha de Jéssica como neta? Caso um dia Lorenzo se case com Jéssica, é claro? – Emily perguntou.
            - Mas é claro! Porque não!?!?!? O amor está na criação, na construção dos laços! E não no sangue. – Giovanna disse.
            - Você não contou a ela, Jonas? – Leonel perguntou ao filho.
            - Não, papai. Acho que Emily ainda não conhece tudo da nossa família.
            - O que eu não conheço?
            - Emily, querida, Milena não é nossa filha de sangue. Nós a adotamos ainda bebê quando Giovanna desejou mais um filho e já não podia tê-los. – Leonel explicou. – Ela é nossa filha tanto quanto Jonas e Lorenzo são nossos filhos. Apenas não saiu do ventre de Giovanna. Mas nós a embalamos, ensinamos valores e colocamos o nosso sobrenome.
            - Eu não imaginava. Ela...ela é uma Vicentin. Ela realmente parece de vocês. – Emily estava emocionada.
            - É porque ela é nossa. – Giovanna disse. – Milena é minha filha. É isso que o meu coração diz quando olho pra ela.



           
            Aquela frase ecoou dentro de Emily. Porque ela dizia o mesmo que sentia, mas não externava, por Vida. Ela olhou para Jonas e ele entendeu o que se passava dentro dela. Quando ia falar, porém, Giovanna voltou a se pronunciar. E dessa vez a fala assustou-a, forçando-a a tomar uma atitude.

            - Eu e Leonel estivemos vendo Vida hoje mais cedo. Lorenzo nos levou ao hospital onde ela está. Ela é um encanto. – Disse a mãe de Jonas.
            - Nós também achamos, mãe.
            - Tanto que, agora que vocês estão em São Paulo. E nós ficamos tão sozinhos lá na vinícola...pensamos que uma criança seria muito bem vinda em nossas vidas. E ainda temos força para educar alguém. Vamos requerer a adoção de Vida. – Giovanna disse e viu Emily empalidecer. – Está se sentindo bem, Emily?

            Não. Ela não estava bem. Porque a dor que estava sentindo era muito parecida com a de quando percebeu que não estava grávida. Era como se perdesse a filha. Como se lhe tirassem a filha. Não podia aceitar aquilo. Claro que Giovanna e Leonel poderiam criá-la bem. Mas não era justo. Não podia aceitar. Jonas observou Emily e entendeu que aquela decisão estava tomada. E não mais baseada em uma emoção repentina. Era um amor arraigado, profundo, mesmo que recente.
             
            - Vocês terão de reconsiderar isso, mãe. – Jonas informou aos pais.



            - Porque, filho? – Leonel estranhou.
            - Porque eu e Emily decidimos que Vida será nossa filha. Nós vamos adotá-la.
            - Mas...vocês ainda nem se casaram, vão iniciar uma vida juntos e... – Giovanna estava surpresa com a decisão.
            - Eu sinto que Vida é minha! É nossa! – Emily explicou da única forma que conseguiu. – Ela é nossa desde o momento em que a deixaram lá. Nossa! Nossa Vida!

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