domingo, 5 de julho de 2015

Alguém Para Amar - Capítulo 13


            Jonas preparou o chá e colocou nele algumas gotinhas de um calmante. Caso soubesse, Emily não gostaria nada. Mas não conseguia vê-la naquele desespero. Em todos esses anos de relacionamento sempre viu Emily como uma mulher controlada, segura de seus desejos e das escolhas que fez na vida. Ela é uma mulher firme. E agora havia desabado. Ele não sabia como lidar com aquilo.
            Tinha, no entanto, uma certeza. O seu próprio sofrimento precisava ser suportado e escondido. Naquele raro momento de fraqueza Emily necessitava de alguém forte ao seu lado. Alguém capaz de lhe dar a estrutura necessária para manter-se de pé. Não era uma tarefa fácil. Não quando ele tinha passado as últimas noites abraçado à cintura de Emily, imaginando a criança que, sonhava, já estar ali.

            - Está aqui seu chá Emily. – Disse ao entrar no quarto e vê-la encolhida na cama, ainda chorando. – Como estão suas cólicas? Quer colocar a bolsa de água quente?
            - Não. Está suportável ainda. – Na frente dele ela tentava se recompor.
            - Ótimo. – Jonas puxou-a para seus braços. – Sabe que esse não é o fim da história, não sabe? É apenas uma parte triste. Nós vamos tentar de novo. Quantas vezes forem necessárias. Não importa quanto isso custe, financeira nem emocionalmente, no final teremos nosso filho. E isso fará valer todo o sofrimento.
            - Eu sei. Não vou desistir. Mas dói.
            - Acredite, também está doendo aqui. Mas nós vamos superar.
            - Porque a vida é tão injusta? Tá cheio de mulher grávida por acidente. Meninas que não sabem o que desejam da vida. Não têm nem como alimentar os filhos. Enquanto nós tentamos e não conseguimos. Por quê?
            - Eu não sei, Emily. Mas nós seremos teimosos o suficiente para lutar contra isso. Até conseguirmos.

            O calmante fez efeito e Emily acabou adormecendo nos braços dele. Após a longa noite de descanso, acordou mais tranquila. As cólicas voltaram a incomodar, mas ela negou-se a se entregar à dor. Tomou seus remédios e se preparou para o dia de trabalho. Para desespero de Jonas, arrumou-se e maquiou-se elegantemente, fincando pronta para trabalhar logo cedo.



            - É com trabalho que a gente supera os problemas. Sinto que sou produtiva, faço algo de bom.
            - Você também faz coisas muito boas aqui comigo. – Jonas respondeu. Mas, no fundo, ficava feliz em vê-la forte e decidida novamente. Aquela era a sua Emily. – Está bem. Não tentarei te impedir.



            - Ótimo. Até porque eu vi sua agenda e ela está cheia de reuniões. Nós dois não nascemos para ficarmos parados, Jonas. Eu vou para o restaurante, você vender seus vinhos. Mas deixe as garrafas mais maravilhosas para mim, ok?
            - O melhor de mim está sempre reservado pra você, Emily. – Jonas surpreendeu-a com a declaração que ia muito além dos vinhos.
            - Nossa! Gostei disso. Eu te amo.
            - Ótimo. Então cuide-se. Ficará até muito tarde hoje por lá?
            - Não. Sairei cedo. Mas porque tenho um compromisso ao qual você não pode me acompanhar.
            - Posso saber qual? – Jonas não gostou nada daquilo.
            - Vou na costureira escolher meu vestido de noiva. E dá azar o noivo ver. – Ela sorria falando.
            - Então eu ficarei longe dele.

            Jonas foi para o escritório sorrindo. Passou por Juliana que o encarou como se ele fosse um estranho invadindo o escritório. Talvez fosse mesmo. Estava mudando a cada dia. E isso era ótimo. Porque jamais se sentiu tão feliz. Claro que estava triste por saber que Emily ainda não havia concebido. Mas vê-la sorrindo e falando no casamento fez seu estado de espírito melhorar muito. Se Emily já conseguia sorrir, ele também estava bem. Foi apenas um adiamento. Nada mais.
            Seu dia passou rápido. Ele visitou três compradores dos vinhos Vicentin, fechou dois contratos e abriu caminho para outros. Eram pequenos clientes, mas prósperos.  A tarde foi mais dura. O mercado da construção civil já viu dias melhores. E duas obras com as quais a empresa contava foram adiadas. Sabendo que isso era uma fase da qual o setor iria se recuperar, assinou a indicação para a JRJ participar de um nova licitação. E deu o dia por encerrado. Ao andar por um corredor, viu Jéssica passar de cabeça baixa carregando sua bandeja. Chamou-a na sua sala.

            - Algum problema, Senhor? – Ela perguntou ainda olhando para o chão.
            - Não, Jéssica. Sente-se, por favor. E me olhe nos olhos. – Só quando ela fez o que lhe foi pedido seguiu falando. – Serei direto. Meu irmão e você se aproximaram muito. E eu não consigo entender a razão. Mas eu sei que isso foi um desejo dele.
            - Sim, o Senhor Lorenzo me...ajudou bastante nos últimos dias. Mas eu não pedi nada.
            - Eu sei, não a estou culpando. Sei o quanto meu irmão é persistente quando deseja algo. Só quero que você tenha atenção ao se envolver com ele. Pode ser muito tentador ficar com um homem que pode lhe dar uma vida tranquila e...
            - Eu não sou assim. – Jéssica respondeu. – Não quero ser sustentada pelo seu irmão.
            - Fico feliz em ouvir isso, Jéssica. – Ficou mesmo. A força com que ela se defendeu lhe pareceu sincera. Foi a primeira vez que ouviu a voz de Jéssica se elevar a além de um sussurro. Ela estava falando a verdade. – Pode voltar ao trabalho Jéssica. Juliana está analisando as possibilidades de melhorar as condições dos funcionários terceirizados.
            - Obrigada, Sr. Jonas. Com sua licença. – Ela saiu com a mesma postura envergonhada de sempre.

            Jonas deixou a empresa com os ombros mais leves após falar com Jéssica. Talvez aquela menina fosse realmente quem seu irmão precisava para ser feliz. Começava a concordar com ele. Jéssica era especial. Feliz com essa conclusão chegou a pensar em ir ao restaurante fazer uma surpresa à noiva, mas lembrou-se que ela, àquela hora, provava o vestido de noiva. Resolveu então cuidar dela de outro modo. Ligou para Leonor.

            - Algum problema, Jonas? – A médica e amiga de Emily estranhou a ligação.
            - Sim. Emily não lhe telefonou hoje?
            - Não. O que houve?
            - O procedimento não deu certo. Ela se sentiu mal quando a menstruação desceu. Eu gostaria de ir conversar com você.
            - Estou consultório. Venha sempre que precisar.

            Ele foi. Não era apenas a decepção pela não gravidez. Ele se preocupava com o reflexo disso no tratamento de Emily. E logo que explicou a situação, Leonor não apenas concordou com seus temores como se disse indignada por Emily não ter lhe telefonado.

            - Sua noiva é muito teimosa, Jonas. Às vezes ela não se ajuda. – A médica, naquele momento, falava mais como amiga. – Ela está sofrendo. E, se a conheço bem, está esperando a dor diminuir para então ‘juntar os cacos’ e vir aqui, começar tudo do zero. E nós podemos seguir com o tratamento. É o que faremos a menos que vocês decidam desistir.
            - Isso não vai acontecer.
            - Fico feliz em ouvir isso, Jonas.
            - A menos, é claro, que a gravidez se transforme em risco para Emily. É somente isso que me faria impedi-la de engravidar. Há algum indicativo disso? – Essa foi a dúvida que o trouxe ali.
            - Digamos que a parte masculina num processo de concepção é bem mais simples que a feminina. Nós temos os seus espermatozóides congelados, eles se manterão inalterados para serem utilizados quando desejarmos. Daqui a alguns anos, se esse for o seu desejo. Não é o caso do corpo de Emily. Ela tem óvulos saudáveis, porém, o útero e as trompas estão deteriorados pela endometriose. O passar do tempo é um complicador para Emily. Podem surgir complicações.
            - Nós temos um prazo então?
            - Não é algo exato, Jonas. Nada no corpo humano é. Mas o fato é que o tempo é um problema. Emily fez uma raspagem para melhorar suas chances, com o tempo o efeito dela se extinguirá. E devido aos hormônios do próprio tratamento, isso pode se acelerar. Vamos acompanhar a evolução do caso, observar como o corpo de Emily responde ao tratamento. E só faremos novas tentativas de inseminação enquanto tivermos certeza de que a gestação  não será arriscada para ela.
            - É, isso mesmo. Eu quero um filho, mas não à custa da saúde de Emily. Se for necessário fazer aquele procedimento... – Ele não gostava nem de dizer o nome.
            - A histerectomia. Sim, será a nossa última alternativa.
            - É, última.

            Emily nunca ficou sabendo daquela conversa de sua médica com Jonas. E foi melhor assim. Nunca concordaria em voltar a ter a histerectomia como alternativa. Mesmo que última. Ia tentar até o final. Mesmo que voltasse a sentir fortes cólicas, como aconteceu naquele mês. Ela percebeu que ele ignorou compromissos profissionais, deixando de ir à construtora, para ficar junto dela. Sua dedicação encantou-a ainda mais. E agora já não conseguia disfarçar para Jonas quando não sentia prazer em seus braços.
            Quatro dias depois, quando sua menstruação já havia cessado, mas ainda sentia desconforto, ele a tinha brindado com uma noite romântica. Ela passou aquela semana sem beber nenhum gole de vinho devido aos fortes analgésicos e ele abriu a garrafa de seu favorito, como que para deixar os dias sofridos para trás.

            - Eu te amo cada dia mais. – Ela sussurrou em seu ouvido.
            - Ótimo. Esse é o meu objetivo mesmo.

            Mas quando transaram, a ardência que tomava conta do seu colo do útero impediu-a de se concentrar naquele homem. Ela tentou fingir que estava perfeitamente bem. Não conseguiu enganá-lo. A penetração foi muito dolorosa. E quando Jonas percebeu e parou, saindo de dentro dela, perceberam as marcas de um pequeno sangramento nos lençóis.

            - Porque não me disse que não estava bem, Emily? Não pode me esconder esse tipo de coisa.
            - Me desculpe, Jonas...eu não achei que...que não conseguiria.
            - Que não conseguiria o que? Enganar-me? – Ele estava realmente magoado.
            - Que não conseguiria fazer amor com meu noivo. É um pouco constrangedor, não acha? Nós vamos nos casar em algumas semanas e eu não consigo satisfazer você! Já não consigo te dar um filho! Agora também não pude aceitar que me toque! É insuportável isso!
            - Nós não vamos mudar um milímetro dos nossos planos por isso, Emily. Eu fui apressado. Não devia ter feito nada tão cedo. Essa semana você ainda sentia fortes cólicas.
            - Você não devia ter esse tipo de preocupação! Muitas mulheres têm relações enquanto estão menstruadas.
            - Mas a minha mulher é especial. Então não se preocupe com isso.
            - Especial não. Defeituosa! É isso que você quis dizer.
            - Não, não é mesmo. Disse exatamente o que quis dizer. E pare de se menosprezar. Você não é assim, Emily! Vou lhe dar um analgésico, você vai relaxar e melhorar. E, quando estiver realmente bem, eu vou te mostrar que você me satisfaz, completamente. Como nenhuma outra seria capaz. Nunca duvide disso, Emily. Nunca.

            Emily realmente repousou. E só quando isso aconteceu Jonas entrou no banheiro e ligou o chuveiro. Tinha os músculos do corpo enrijecidos. Por mais que fosse firme diante de Emily, era uma situação difícil. Amava Emily e desejava-a. Ficar junto dela e não poder tocá-la era realmente difícil. Após o banho ele voltou para o quarto e puxou-a para seus braços. Se não podia amá-la fisicamente, ao menos a manteria junto dele, absorvendo aquele calor e perfume que só dela conseguia absorver.
            O afastamento realmente doía em um homem apaixonado. Não só o físico. Ficar sem ouvir a voz da mulher que ama estava sendo difícil para Lorenzo. Ele estava decidido a não pressionar Jéssica e por isso se afastou garantindo a ela que se precisasse de qualquer coisa ele estaria ali para ajudá-la. Mas não recebeu nenhum contato e estava com o coração doendo de saudade. Em tão pouco tempo, Jéssica e Clara já faziam parte de sua vida. E, sem elas, tudo parecia vazio demais.
            Ele deixou o orgulho de lado e voltou até a casa delas. Bateu palmas, chamou e ela não atendeu. Insistiu ao ver uma janela aberta. Porque ela o estava evitando? Estava decidido a não desistir e seguiu chamando-a. Foi Clara a aparecer na janela.

            - Tioooo! Mamãe o tio Lorenzo tá ali no portão. Espera tio! Não vai embora. – Gritou ela pouco antes de sair correndo.
            - Eu não vou embora, Chiara. Pode apostar que eu não vou! – Essa certeza ele tinha.

            Jéssica não pareceu tão animada ao vê-lo. Tinha nos olhos muita tristeza, até alguma mágoa. Ela realmente não parecia feliz e vê-lo e isso o deixou decepcionado. Tudo o que desejava era ficar junto dela. E ajudá-la a ter uma vida melhor, mais tranquila junto de Chiara e dele.

            - Jéssica...senti sua falta. Queria te ver como você está. - Ela não lhe dizia nada. – Tudo bem, Jéssica?
            - Não, Lorenzo. Não está bem. E eu prefiro que você se afaste de nós.
            - Mas...porque? – Tinha de ter um razão ela estar tão fria. – Eu só quero te fazer bem.
            - Querer não é o bastante. Eu fui demitida, Lorenzo. Primeiro seu irmão veio falar comigo e disse que estava preocupado. Depois fui chamada no escritório da empresa que me contratou e me despediriam. Não falaram a razão, mas eu sei que foi por me envolver com você!
            - Não! Isso não é verdade!
            - É sim. E eles estão certos. Não é certo uma servente sair com o irmão do patrão. E agora eu estou sem emprego.



            Ela realmente estava magoada. E Lorenzo entendia por que. Até mesmo ele, caso ficasse sem uma ocupação estaria chateado. Imagine ela, que dependia do emprego para cuidar da filha. Ele pensou em lhe garantir que lhe daria tudo, que não precisava se preocupar. Mas desistiu quando prestou atenção em seu olhar. Ela não queria ser sustentada. Precisava trabalhar. E não merecia ser dispensada. Não fez nada de errado.

            - Fique tranquila, Jéssica. Eu vou resolver isso. – Garantiu-lhe.
            - Não tem solução, Lorenzo. Eu vou começar a procurar emprego. É a única saída.

            Ao menos ela já lhe olhava nos olhos e parecia mais decidida do que desanimada. Talvez conseguisse convencê-la de que poderiam ficar juntos. Emprego seria um problema para resolver, mas nada que não pudessem superar.

            - Eu não tive culpa disso. – Ele se aproximou e pegou seu rosto com ambas as mãos. – Só quero seu bem. Nunca faria nada para te prejudicar. Jamais.
            - Eu sei. É só que não adianta brigar com a realidade. Eu não sirvo pra você, somos muito diferentes.
            - Não, não somos. Eu vou resolver o problema. Só quero saber se você gosta da minha companhia, se gosta de ficar perto de mim. – Estavam muito próximos, os rostos colados – Junto de mim.
            - É impossível não gostar. – Ela fugia do seu olhar. – Eu senti sua falta. Queria que estivesse aqui.

            - Ótimo. Eu tenho de ir agora, mas eu volto. – Ele se afastou.
            - Tio! Não vai embora! – Clara gritou. Parecia ter visto o beijo, mas não ligou muito. – Brinca comigo.
            - Não posso pequena. Mas não fique triste Chiara. Na próxima vez que vier vou levá-la para passear num parque. Você escolhe. Qualquer um.

            Não podia ficar. Por mais que desejasse, não podia ficar. Lorenzo acelerou seu carro até a JRJ Construtora. Ficou feliz ao saber que Jonas estava em sua sala. Poderia esclarecer aquele assunto com ele. Não aceitaria que seu irmão se intrometesse em sua vida e prejudicasse Jéssica.

            - Por quê? Sem enrolação, Jonas! Por quê? - Disse assim que entrou no escritório.



            - Bom dia para você também, Lorenzo. – Jonas estava mal humorado depois da noite difícil junto de Emily. Seu irmão ali, com cara de poucos amigos, não melhorou em nada seu humor. – O que foi, Lorenzo?
            - Não se faça de desentendido!
            - Para isso eu tenho de entender. O que aconteceu?
            - Aconteceu que você chamou Jéssica para lhe cobrar explicações e, não satisfeito, ainda ordenou a demissão dela. Não acha que eu já sou crescido o bastante para se envolver nos meus relacionamentos?
            - Eu não sei de demissão alguma! Jéssica é funcionária de uma terceirizada! Eu não decido a demissão deles. E se conversei com Jéssica foi por me preocupar com você. – Ele explicou. – E gostei dela, se quer saber.
            - É muita coincidência demitirem ela agora. Jonas, é uma menina que precisa trabalhar. E o fato de estarmos juntos não atrapalhava em nada em seu trabalho. Porque demiti-la?
            - Eu não sei nada de demissão! Droga! Parece que não me conhece! Mas é meio obvio que, se realmente quiser ficar com ela, não pode concordar que ela siga servindo café.
            - Não é você quem decide isso! – Lorenzo disse e saiu do escritório do irmão.

            Jonas não foi atrás dele. Conhecia Lorenzo o bastante para saber que nenhuma explicação resolveria o problema. Precisava descobrir o que tinha acontecido. E resolver o problema antes de qualquer nova conversa com Lorenzo.

            - Valquíria, por favor, peça que Juliana venha na minha sala imediatamente. – Pediu à secretária e ficou esperando pela sócia.



            Quando Juliana chegou, Jonas sabia que não tinha o direito de cobrá-la de nada. Ela era proprietária junto com ele e Rafael. Mesmo assim, ele merecia saber como as coisas andavam. Ainda mais em um assunto que ele lhe tinha confiado.

            - Juliana, eu lhe pedi para rever o contrato com a terceirizada. E agora descubro que a funcionária que originou isso foi demitida. Pode me explicar qual a ligação desses dois fatos?
            - Bom, Jonas, eu fiz o que você pediu. Marquei uma reunião com o diretor da empresa e verifiquei alguns itens do contrato. Nos próximos meses entrarão em vigor alguns benefícios trabalhistas para eles. Aumento de salário não, mas o vale refeição será ampliado e o horário de trabalho flexibilizado.
            - E porque Jéssica foi demitida?
            - Eu não podia esconder a razão da reunião do diretor, Jonas. Comuniquei-o do fato que originou o problema. E ele achou por bem afastá-la. Logo estará em outra empresa. Não se preocupe. – Juliana respondeu.
            - Problema? Eu não sabia que era um problema, Juliana. Até onde sei, sempre primamos pelas boas condições de trabalho. E oferecer vale refeição não é tão difícil assim.
            - Representa custo num momento em que estamos em queda nos negócios. Não foi fácil negociar esse acordo com eles.
            - Pois devia ter me informado! Ela é importante para meu irmão.
            - Sinto muito, Jonas. Eu vou ver o que posso fazer. Talvez ela possa se adequar em algum cargo do nosso RH. Se tiver o mínimo de estudo, podemos colocá-la na recepção ou algo assim. – Ela não queria se indispor com Jonas.
            - Faça isso. – Jonas a dispensou logo depois. Deixando claro que sua atitude o desagradou.

            Emily ficou sabendo da briga e do que deu origem a ela durante o almoço. Jonas veio ficar com ela e depois de alguma insistência, ficou sabendo que ele e Lorenzo estavam brigados por conta da demissão de Jéssica.

            - Nunca gostei dessa Juliana mesmo. Tipo de ‘filhinha do papai’ que faz o que deseja sem pensar nas consequências.  – Disse ao noivo.
            - É, foi um erro grave. Mas será resolvido. Ela será recontratada.
            - Acho que eu tenho uma ideia melhor. – Emily disse, sorrindo, como uma criança que descobre um brinquedo novo. – Deixe comigo!

            O plano foi simples. Ela telefonou para Lorenzo e pediu que ele viesse ao restaurante no fim da tarde, antes do movimento de jantar se acentuasse. E trouxesse Jéssica. No início ele recusou. Mas ela lhe garantiu que sua intenção era a melhor.
            Imaginou que não foi fácil para Lorenzo convencer Jéssica a lhe acompanhar. Quando a hora marcada chegou, ela entrou no restaurante, estava de mãos datas com a pequena clara, olhando a tudo, encantada. Provavelmente nunca havia entrado num lugar tão bem decorado. Emily viu boas chances de acerto com Jéssica. Talvez ela só precisasse mesmo de uma oportunidade.

            - Sejam bem vindos. É um prazer conhecê-la Jéssica. E você também Clara. – Ela apenas sorriu em resposta. – Lorenzo, fico feliz por ter aceito meu convite.
            - Confesso que achei que encontraria Jonas aqui. – Ele afirmou.
            - Ele vem, mais tarde. E espero que todos possamos jantar unidos, como uma família. Mas antes temos que resolver um assunto. Você poderia me dar licença para conversar com Jéssica? – Emily o orientou a se sentar em outra mesa com Clara. Eles seriam bem atendidos enquanto elas conversavam. – Quero saber se você, Jéssica, gostou daqui. O que achou?
            - É lindo. Fantástico.
            - Ótimo. Porque eu tenho uma oferta para lhe fazer. – Anunciou. – Jonas me disse que, erroneamente, você foi demitida do seu emprego.
            - Sim, mas não foi culpa dele. Eu entendo suas razões. – Jéssica respondeu. – Você não precisa se preocupar com isso.
            - É verdade. E Jonas não me pediu nada. Mas ele vive insistindo para que eu trabalhe menos. E estou pensando em seguir seu conselho. Para isso, terei de fazer mudanças no quadro de funcionários. O restaurante tem dois chefes de cozinha, eu e Bruno. Em rodízio, eu e ele coordenamos a cozinha. Eu vou promover uma das cozinheiras ao cardo de chefe e, consequentemente, uma das auxiliares à cozinheira. Assim poderei ficar mais tempo com Jonas. Isso me abre uma vaga de auxiliar de cozinha. Fiquei sabendo que você cozinha um ótimo feijão. Se quiser, a vaga é sua.
            - Quero, é claro que eu quero. – Mas havia um problema. – Não posso deixar Clara sozinha à noite.
            - Não há problema com isso. Ela fica numa creche durante o dia, certo? Você trabalhará durante o dia, com a equipe do almoço. – Emily ofereceu.
            - Eu quero ser sua auxiliar de cozinha então. Não tenho palavras para te agradecer, Emily.
            - Não agradeça, apenas aproveite a oportunidade. Não estou fazendo nenhuma caridade, Jéssica. Estou contratando uma funcionária. Você vai aprender um trabalho e exigirei que se dedique. Se fizer isso, terá chance de ser valorizada e promovida.  – Emily viu Jonas entrar no restaurante e acenou para que ele se junta-se ao irmão. – Agora, porque não deixamos os homens conversar enquanto eu lhe mostro seu futuro local de trabalho?

            Jonas e Lorenzo apertaram às mãos e selaram a paz. Jonas nem mesmo sabia os detalhes do que Emily tinha feito. Só percebeu que ela tinha contratado Jéssica quando ouviu-a chamar a garota para uma visita à empresa. Ele sentiu o peito cheio de orgulho. Enquanto elas saíram conversando, tranquilas, quase como velhas conhecidas, ele e o irmão puderam se falar.

            - Desculpe se eu te ofendi, Jonas. Não tinha o direito de te cobrar nada. Me excedi. E não tenho palavras para agradecer pelo que Emily fez. – Lorenzo disse ao irmão.
            - Não ofendeu. Lutou pelo que acredita. E a construtora cometeu um erro grave. Nós iríamos contratá-la novamente, caso Emily não tivesse feito primeiro.

            Os dois seguiram conversando, beliscando e bebendo. Não conseguiam ficar brigados ou afastados. Lorenzo, pela diferença de idade, foi quase um segundo pai para Jonas. Aconselhou, ensinou e lhe mostrou como agir. Mais tranquilos, falaram da vida na fazenda, da atual safra da uva, dos números da vinícola e da família que deixaram em Bento Gonçalves e lhe fazia tanta falta. Poderiam ter seguido ali por muito tempo. Não fosse o celular de Jonas tocar. Era o engenheiro chefe deu uma importante obra e ele precisou atender. Lorenzo assistiu o irmão ficar pálido no decorrer da conversa. Por mais que não desejasse se intrometer, precisou perguntar qual o problema.

            - Sempre é feita uma vistoria no terreno ao final do dia. – Jonas explicou. – Para verificar se os peões não deixaram nenhum material descoberto ou maquinário no canteiro.
            - E? – O que de tão grave poderiam ter encontrado.
            - E durante a vistoria encontraram uma criança. Alguém abandonou um bebê por lá. Eu preciso ir lá, chamar a polícia e o conselho tutelar. Avise Emily, Lorenzo, por favor. Eu tenho de ir lá.

            Ele saiu e deixou Lorenzo sentado ali, pensando em como era possível alguém abandonar um bebê daquela forma. Não podiam ser chamados de pais. Não quando, não fosse a atenção do chefe da obra, a criança passaria a noite toda ao relento, abandonada.

            

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