segunda-feira, 9 de março de 2015

Diaba Ruiva - Passado Revelado: Cap 12


           
            Confusão. Dormência no corpo. Olhos nebulosos. Mente confusa. Neal precisou de esforço para lembrar-se do que tinha acontecido. Estar amarrado e amordaçado num lugar escuro facilitou a tarefa. Estava no arquivo do FBI guardando documentos quando um grande estrondo foi ouvido. Quando pensou em reagir e ir descobrir o que se passava, sentiu seus músculos se contraírem. Foi ao chão instantaneamente, sem forças para gritar ou tentar escapar. De relance pode ver seu algoz, vestindo roupas claras e uma máscara no rosto. Impossível reconhecê-lo.

            - Que é você?
            - Calado!

            Não houve alternativa à obedecer. Ele apagou enquanto sentia seu corpo sendo arrastado. Quanto tempo se passou? Onde estava? Quem? Por quê? Eram dúvidas demais. E, a mais importante delas, quando viriam soltá-lo? Afinal, seus braços já estavam bem doloridos por ficar amarrado naquela incômoda posição.



            O barulho do metal rangendo o alertou para a chegada de mais alguém. Passos lentos. Alguém o observava à distância. Ele percebia, sentia, mas não conseguia ver nada na escuridão. A sensação de vulnerabilidade fazia seu coração disparar. Há anos não se sentia tão solitário e em perigo. Somente uma certeza o tranquilizava: se estava vivo, era porque tinha alguma serventia ao seu sequestrador. Restava saber qual.
            Quanto de uma única vez as luzes se acenderam, Neal percebeu estar preso dentro de uma imensa cela gradeada. Cercado por barras de ferro, nem adiantava tentar soltar os braços. Não tinha chance alguma de escapar. Passou então a ouvir passos mais firmes e ágeis contra o chão de cimento. Até que um homem alto, forte e grisalho postou-se à sua frente, numa distância segura da grade. Aquele rosto era conhecido.  Thomas Carter.



            - Deu trabalho te colocar aí, Neal. Espero que você faça valer o meu esforço.

Neal teve de dar algum crédito ao inglês. Entrar no FBI é algo para gente ousada, ou louca. Ainda assim, não era um demente ali na sua frente. Thomas Carter era tudo menos louco. Provavelmente antecipou os passos do FBI ou, ainda pior, guiou as investigações como bem preferiu.

- Vou deixar você falar, Neal. Mas sem gritos, por favor. James...tire a mordaça de Neal. Ele irá de comportar.

Neal sequer tinha visto o outro homem.  Também pudera, ele não tinha importância nenhuma mesmo. Estava ali para obedecer. Não passava de um empregado de Thomas. Calmamente o homem ainda jovem abriu a cela, guardou a chave no bolso e aproximou-se de sua cadeira antes de puxar o pano que lhe cobria a boca. Neal mexeu o maxilar enquanto pensava se tinha alguma chance de derrubar James. Não tinha...a menos que lhe soltassem os pulsos e isso não parecia nos planos.

- Finalmente frente a frente, Carter. Cheguei a pensar que você fosse um fantasma. – Neal provocou-o enquanto via o comparsa voltar a sair de sua cela calmamente. – Mas eu preferiria se você tivesse usado de maior diplomacia. Podia ter me convidado para uma taça de vinho, não precisava invadir o FBI.
- Sempre espirituoso, Sr. Caffrey. Mas, com todo o respeito, se fosse convidar alguém para beber vinho, seria a sua mulher. Mas eu acho que logo terei o prazer de encontrá-la. Ela virá até mim.
- Tenha a certeza disso. Ela vai te caçar. – Era uma constatação que poderia ser encarada ameaça.
- E sei. E estarei esperando.
- O que você quer?
- Calma Neal. Nós teremos muito tempo para conversar. – Calmamente Carter acendeu um cigarro e sentou-se à frente da cela. – James, vá conferir se Zacker já está longe de NY. E procure-o para pagar a grana. Mantenha-o de boca fechada. Eu vou bater um papo com o Neal.


Foram longas horas. A noite chegou, passaram a madrugada e amanheceram trabalhando. Rachel sentia-se angustiada e elétrica. Corria pelo FBI sem parar, buscando por informações e instigando a equipe a trabalhar com mais agilidade. Ela e Peter haviam conferido as câmeras de vigilância de todo o prédio e das ruas que o cercavam. Thomas Carter contou com a ajuda de dois comparsas.



- Carter organizou duas explosões para acontecerem em sequência no FBI. Uma na porta de entrada e outra na recepção. A primeira bomba foi deixada próxima dos guichês de identificação por um homem que ainda tentamos identificar. Ele estava bem vestido e colocou uma pasta executiva ao lado de balcão e saiu fingindo atender ao celular. Tentou evitar as câmeras, sinal que conhecia bem nossa segurança. Segundos depois da primeira explosão, quando as pessoas correram para a porta fugindo da fumaça, um artefato escondido junto de um arbusto causou o segundo estrondo. Esse foi deixado por outro homem, usando boné e escondendo o rosto. – Peter explicou à equipe quase num só fôlego.
- Isso tudo com o Carter já lá dentro? – Henrique perguntou.
- É o mais provável. Não encontramos registros dele entrando. – Rachel intrometeu-se tomando a palavra para si. – Carter derrubou Neal com a arma de choque e arrastou-o até um dos elevadores. Lá conseguiu apoio de nosso homem de boné. Quando as atenções estavam todas voltadas às explosões, saíram pela porta lateral e foram resgatados pelo executivo que esperava num caro. Temos imagens do carro até ele sair da região central e entrar no túnel. Depois disso devem ter se separado.
- Vamos tentar identificar os cúmplices então. – Diana afirmou.
- É. Henrique, você sempre foi bom em reconhecer rostos.Por favor, dedique-se a isso.
- É claro, Rachel.
- Ótimo! Enquanto vocês adiantam isso, eu vou dar um pulo em casa para ver meus filhos. Em duas horas estou de volta.


Ninguém acreditou em Rachel. Ela muito provavelmente iria até sua casa ver os filhos e amamentar a pequena Helen, mas não era só isso. Deixar o FBI mesmo que apenas por poucas horas não combinava com Rachel. Ainda mais num momento como aquele e no estado nervoso em que ela se encontrava. Peter reconhecia em Rachel um desespero controlado. Ela era fria e extremamente ativa. Quanto mais difícil a situação, maior a objetividade de suas ações.

- Ela vai aprontar alguma. – Peter disse à Diana. Era uma constatação apenas. Nada podiam fazer. Suas atenções estavam focadas em encontrar Neal.

Rachel foi direto para sua casa. Lá estavam reunidos June e Mozz. Eles também estavam agindo para encontrar Neal. Porém, com menos regras que o FBI. Depois de brincar com George e pedir que ele fosse assistir a um de seus desenhos, Rachel pegou Helen do berço e deu-lhe o peito. A menina mamava ágil enquanto olhava atentamente a mãe. Pareciam conversar em silêncio.

- Não precisa me olhar assim, bebê. Mamãe sabe que seu pai faz falta. Logo ele estará aqui. Neal não é louco o bastante para nos abandonar.

Helen continuava encarando-a. Não entendia o que se passava, mas percebia o clima ruim. E, principalmente, sentia a falta dos afagos do pai. Se Neal estivesse ali, seria ele a colocá-la para arrotar e embalá-la após a refeição até que dormisse. Na falta de Neal, ela aceitou os braços da mãe até seus olhos tornarem-se pesados e o sono fechá-los. Assim que a filha dormiu, Rachel olhou para os amigos e iniciou o outro assunto a trazê-la ali.

- E então? Conseguiram o que eu pedi?
- Sim, é claro. – Mozz confirmou. - Está na mochila ao lado da porta. Mas...é bom você tomar cuidado Rachel. Peter não vai concordar com seus métodos.



- Peter que vá pro inferno! Regras idiotas não irão me impedir de encontrar meu marido.
- Acalme-se Rachel. – June pediu.

Ela caminhou até a porta, abriu a mochila e conferiu o conteúdo. Mozzie conseguiu mais do que esperava. Estava muito bem equipada para vencer Thomas Carter. Não precisaria das regras nem do apoio do FBI. Ainda entregou para eles um pendrive com tudo o que tinham até o momento. June e Mozz fariam uma investigação paralela. Os comparsas de Carter poderiam não aparecer nos registros do FBI, mas, certamente, seriam pegos pelo radar de Mozz. E June tinha ótimos contatos no mundo do crime.

- Esse de boné...volte o vídeo uns instantes. – June pediu quando assistiam. – Veja, ele puxa a perna esquerda levemente ao andar.
- Ótimo! É um detalhe a mais para identificá-lo. – Rachel comemorou. – Fale com seus amigos, Mozz. Aposto num bandidinho pequeno, sem grandes pretensões. Alguém a quem Thomas pudesse comandar sem dificuldades.
- Farei isso, Rachel.

Foram surpreendidos pela companhia tocando. Quem viria lhes fazer uma visita naquele momento? Mozzie solucionou a questão verificando pelo celular as imagens da câmera de segurança que instalou mais cedo no portão de entrada.

- Instalou uma câmera sem nos dizer nada? – Rachel ficou surpresa.
- A precaução evita o desespero, minha amiga. Pode me agradecer quando quiser...mas é melhor eu e June irmos lá para dentro ver desenhos com George enquanto você atente ao querido Nohan. Ele parece impaciente à sua porta.
- O que Nohan quer agora?!?!
- Provavelmente, aproveitar-se da ausência de Neal para cortejá-la mais um pouco.

Rachel surpreendeu-se a ver Nohan vestido de forma informal. De calça jeans e jaqueta de couro ele, nem de longe, parecia um embaixador. Tratava-se de um belo homem, sem dúvida. Mas aquele visual lhe dava outra informação, bem mais importante. Se não teve tempo de trocar-se, Nohan tinha algo de muito importante à falar.



- Pensei que não fosse abrir a porta.
- Desculpe, estava com meus filhos no segundo andar. Entre Nohan. – Ela fechou a porta às suas costas e esperou que ele falasse a que veio. – Desculpe não oferecer café nem ser muito cordial, mas preciso voltar logo ao FBI. Por isso, seja breve, sim?
- Objetiva como sempre, Rachel. Isso é uma das coisas que me agrada em você.

Naquele momento, todas as incertezas guardadas nos últimos meses explodiam dentro de Rachel contra Nohan. Passava inclusive a desconfiar dele. E se fosse um aliado de Thomas? Ou um inimigo de Neal? Aquele homem precisava mostrar a que veio logo. Porque até agora era uma completa incógnita.

- Não me leve a mal, Nohan, mas hoje, sendo bem objetiva, não estou com saco para os seus mistérios, xaradinhas nem, muito menos, para esse papinho furado de que eu te encanto ou agrado. O meu marido está desaparecido e eu não tenho tempo para os seus joguinhos. Fui direta o bastante?
- Clara como a água. E eu não esperava menos dedicação e desespero de sua parte. Sei o quão desesperadamente ama Neal Caffrey, por isso estive no FBI e me informei do que conseguiram até o momento e me prontifiquei a ajudar.
- Ótimo. E agora me diga como pretende o embaixador nos ajudar. Quem sabe talvez pedindo ajuda para a filhinha do primeiro ministro? – Rachel viu Nohan titubear por apenas dois segundos. Ele era bom em não revelar emoções. – Não gosto de ser enganada, Nohan.
- Melissa gosta de ser discreta quanto a sua linhagem familiar. Tenho certeza de que pode entender o por que. Além disso, de quem ela é filha não faz diferença em seu trabalho como advogada. – Lentamente Nohan aproximou-se de Rachel. – Nós não queremos o seu mal. E para lhe provar isso, pedi ajuda a contatos muito mais relevantes que Melissa, nesse caso. A MI5 tem um arquivo de criminosos tão completo quanto o do FBI.
- Sim, eu sei. Estou nele. – Havia humor por trás da ácida resposta.
- É, está. E James Sulivam também. – Ele lhe ofereceu um arquivo e Rachel prontamente abriu. – O homem vestido de executivo que participou do sequestro. Aí tem a ficha completa. Inclusive a informação de que também é inglês e já cumpriu pena por sequestro.
- Como conseguiu isso? Já passou para Peter?
- Contatos, Rachel. Tudo na vida são contatos. Peter ainda não sabe de nada, mas solicitou uma varredura nos arquivos deles, então em algumas horas terá a informação. Quis que você a tivesse em ‘primeira mão’.

Rachel não sabia mais o que pensar. Estava dividida. E não gostava daquela sensação de pisar em areia movediça.

- Porque, Nohan? Quando irá me dizer o porquê das suas atitudes?
- Quando for necessário, querida Rachel. Nem um minuto antes. Por enquanto você precisa apenas entender que não sou seu inimigo. Nem inimigo do Neal.
- Então o que você é?!
- Um protetor. É assim que deve me ver. Alguém com quem você pode contar. E, principalmente, alguém que não segue a cartilha do FBI nem da MI5. Lembre-se disso quando precisar de alguma ajuda...digamos fora das regras. – Ele levantou-se e caminhou para a porta. – Boa sorte nas buscas de Neal.

            A visita de Nohan deu mais trabalho para Mozzie. Agora ele tinha características de um dos homens e nome e informações concretas do outro. Com a garantia de que seus filhos estariam bem e eles seguiriam as buscas, ela retornou ao FBI. Como Nohan antecipou, pouco tempo depois a MI5 forneceu informações de James Sulivan.

            - Ele deve ser o homem de confiança de Carter. Eu apostaria que ele esteve presente nos outros golpes. E isso sugere que o outro homem é daqui e descartável. Thomas Carter está acostumado a fazer roubos e explodir lugares, para isso não precisa de mais gente, mas, para um sequestro, chamou um terceiro. É esse quem precisamos encontrar, quem deixará os rastros. Sulivan sabe demais. Não trairá Carter.
            - Sim, concordo. – Não passou despercebido de Peter o fato de Rachel ter organizado aquele raciocínio rápido demais. Ela estava atuando em duas frentes.

            Mais uma hora se passou e tudo o que conseguiram foi uma imagem do possível terceiro procurado. Um homem no mesmo perfil e mancando da perna esquerda abandonou o carro perto na região do cais. Poderia ter pego uma lancha e fugido ou estar escondido em alguma das docas.

            - Eu vou lá conferir.
            - Não Rachel. Deixe Diana ir. Você está muito ligada ao...
            - Eu não perguntei, Peter. Só avisei que estou indo.
            - Está bem. – Não adiantaria dizer não. Ela sumiria e os deixaria no escuro. – Vou pedir que aumentem o raio da sua tornozeleira. Assim poderá agir na busca. Mas quero sempre saber da sua localização. Leve Henrique com você. Vão no meu carro.
            - Não precisa. Eles podem vir comigo. – Nohan entrou dizendo.
            - Você não é um federal, Nohan. Fique longe disso. Não é seguro. – Peter interferiu.
            - Tenho imunidade diplomática, Peter. Posso interferir no caso sem a sua autorização.   




            Naquele momento Neal já sabia dos planos de Thomas Carter. E não conseguia acreditar no que ouviu. Estavam certos sobre seu modo de agir. Roubava e explodia. Não chegava a ser um sádico. Não havia prazer na morte de inocentes. As vidas deles simplesmente não faziam diferença.

            - Se estão ali naquela hora é porque seu destino quis assim. – Explicou.

            Carter costumava pegar três ou quatro peças antes da destruição. Após a explosão, os lugares e as obras lá expostas ganhavam as páginas de jornal e isso garantia a inflação dos preços quando ele jogava no mercado sua mercadoria. Tudo ocorreu muito bem. A polícia procurava por um maníaco, terrorista ou fanático religioso. Não por um ladrão. E sempre seguiam os rastros errados.

- Até contatarem o agente Peter Burke e dois bandidos disfarçados de consultores. Engraçado como cabeça de bandido pensa diferente. Você e a ruiva desvendaram o golpe e eu comecei a ficar sabendo que andavam fazendo perguntas sobre mim. O nosso mundo tem olhos e ouvidos atentos, Neal. Você encontrou meus rastros, mas deixou os seus.
- E você resolve me sequestrar? O que ganha com isso?
- Sabe o que dividi um criminoso de um amador, Neal? É saber a hora de parar. O meu golpe perfeito foi descoberto. Eu vou parar. Mas se você foi o culpado, acho justo que me garanta uma aposentadoria tranquila.

O plano no Thomas consistia em fazer uso do talento de Neal para falsificar arte. Neal faria cópias idênticas de algumas das obras destruídas por ele nos atentados. E elas seriam vendidas a peso de ouro no mercado negro, como se fossem as originais. Ele mostrou para Neal as fotos de oito peças em pedra esculpida.



            - Levará muito tempo para fazer tudo isso.
            - Quanto antes você começar, antes termina. James trará o material e soltará você aí na cela para poder produzir. Ele já deve estar retornando.

            Algo não encaixava naquela história. Carter não estava dizendo a verdade.
            - E o que acontece quando eu contar ao FBI das peças que falsifiquei?
            - Neal, sempre muito sagaz. Ainda não decidi. Os meus compradores sabem que levam peças roubadas e as guardam muito bem. Não vão chamar a polícia, por tanto, o FBI não saberá onde as peças estão. Agora...se você não se comportar eu posso resolver de uma maneira menos simpática. – Ele disse mostrando a arma na cintura.

            Neal tentava pensar numa alternativa de fuga. E apenas uma lhe parecia viável: ganhar tempo até Peter e Rachel descobrirem sua localização. Não tinha saída a não ser produzir as falsificações.

            - Está aqui todo o material, chefe. – James entrou puxando um carrinho com as pedras brutas e ferramentas de lapidação.
            - Ótimo, James. Coloque tudo dentro da cela e solte Neal. – Ele observou o comparsa cumprir a ordem antes de voltar a falar. – E Zacker? Pagou e despachou?
            - Não...vou me encontrar com ele hoje a noite e pago. Ele está nervoso. Viu nos jornais que o FBI está investigando e ficou apavorado. Fugiu para as docas.
            - Cale a boca dele logo.
           
            Rachel, Nohan e Henrique foram até o porto e circularam procurando pistas. Tinham apenas fotos ruins de um homem misterioso. Pouco. Por isso, Rachel alegrou-se quando recebeu a mensagem de Mozzie.

[Zacker Hans, chamado de Zac. É conhecido por bater carteiras e ir se esconder nos estaleiros]

            - Estamos no lugar certo. – Disse aos parceiros. Naquele momento só podia confiar neles. Procuramos por Zac Hans.
            - Ótimo. Vou avisar Peter. Ele pode nos auxiliar buscando por fotos do criminoso. E mandará reforços pra cá.
            - Faça isso, Henrique.

            Preferiram não se separar. Caminharam pela área cheia de barcos e lanchas discretamente, observando os pedestres. Procuravam por alguém nervoso, escondendo-se, caminhando nas sombras. E não viram ninguém com o perfil certo. Rachel começou a ficar nervosa. O relógio marcava 16hs e o tic-tac do relógio parecia ser acompanhado pelas batidas do seu coração. Por sugestão de Nohan, entraram num bar. As pessoas costumavam ser mais falantes quando embaladas pelo álcool. E garçons geralmente conheciam a todos do lugar.

            - Você viu o Zac? – Perguntou sorrindo ao jovem negro, alto e simpático que veio atendê-los. – Preciso trocar uma ideia com ele.
            - Não dona, vi ele não. – Havia certo temor em seus olhos. – Vão beber o que?
            - Traz três cervejas. – Precisava insistir. – Mas será mesmo Zac não aparecerá? Tenho...negócios com ele. Você me entende, não é? Ele vai me entregar uma mercadoria.
            - Ele tá por aí...mas nunca diz quando vai aparecer.
            - Por aí onde, exatamente? – Nohan interferiu. – Vamos...ninguém saberá que você nos disse e a gente vai embora logo deixando uma boa gorjeta. Fale!
            - Ta bem, ta bem...ele sempre se esconde dentro de um veleiro ancorado no último box ao norte, o Santa Vitória. É grande e bonito. Vocês verão de longe. Ele deve estar lá.

            O trio seguiu para o norte caminhando mais devagar do que gostariam. Era melhor não demonstrar estar em uma caçada. Rachel sorria para disfarçar. No íntimo estava atenta. Observava todos os que passavam. Um deles poderia ser Zacker.

            - Lá está o Santa Vitória. Vamos! – Henrique disse.
            - Não. – Rachel olhou mais à direita, observando o homem caminhando lentamente enquanto puxava uma das pernas. – Porque lá está o nosso homem. Fiquem aqui e alertem ao Peter. Eu vou lá. Quando entrarmos no veleiro, nos sigam.

            Rachel tirou da mochila uma arma e prendeu na cintura. Também pegou algo enrolado num lenço branco e colocou num dos bolsos da jaqueta. Henrique e Nohan estranharam, mas não questionaram. Ela deveria saber o que estava fazendo. Depois caminhando como se estivesse passeando. Soltou os cabelos e deixou os fios brilharem ao sol. Forçou os lábios a se abrirem num sorriso.

            - Oi? Você, bonitão? Qual seu nome? – Disse aproximando-se.
            - Conheço você, ruiva?
            - Não. Se conhecesse, eu saberia seu nome. Mas está conhecendo hoje. Muito prazer. Me chamo Rebecca. E você?



            - Pode me chamar de Zack. Muito prazer, Rebecca. Está aqui a passeio?
            - É...marquei com um amigo de ir velejar. E ele me deu cano.
            - Que chato. Você gosta de velejar? – Ele tinha um ar quase inocente. Realmente não se tratava de um bandido com capacidades maiores do que bater carteira de velhinhas.
            - É, gosto. Mas nunca estive em um desses barcos lindos. Por isso me aproximei de você. Achei que um rapaz tão simpático poderia me deixar entrar num barco desses.
            - E porque acha que eu tenho um barco desses, Rebecca?
            - Não tem? Aaaa que pena...está bem então. Vou embora. Tchau Zack.
            - Não! Calma! Tenho sim....o Santa Vitória. Você pode visitar

            Assim que se viu no barco, Rachel caminhou até a área fechada. Precisava de privacidade para colocar seus planos em prática. Zacher ia falar, por bem ou por mal. E, se precisasse usar da força, preferia não ter plateia. Também precisava tirá-lo da área externa para permitir a aproximação de Henrique e Nohan.

            - Sabe, Zack, não era só conhecer o barco o meu objetivo. – Ela disse aos sussurros, usando da sedução.
            - Não? E o que mais desejava, Rebecca? Posso satisfazer outros dos seus desejos nessa tarde. – Ele veio abraçando-a.
            - Pode? Quais desejos?
            - Todos. Posso te comer gostoso por toda a tarde.
            - Não prometa o que não pode cumprir, Zack. – A frase parecia engraçada. Ainda mais quando ela passava as mãos pelo cabelo dele e o distraía. Parecendo seduzi-lo, fez a ambos girarem até Zack ficar de frente para um espelho.
            - Você é tão cheirosa, Rebecca.

            Aproveitando-se de que sua vítima estava de olhos fechados, Rachel tirou o que trazia escondido na jaqueta. Uma seringa. Dentro dela havia uma substância capaz de derrubá-lo em segundos. Somente quando Rachel apertou-o mais nos braços é que ele percebeu haver algo de errado. Quando abriu os olhos, Zack viu pelo reflexo a ruiva apontar-lhe a seringa no pescoço. Podia sentir a agulha lhe pinicar a pele.



            - Não se mexa e só fale quando eu autorizar, Zacker. Faça o que eu mandar e sairá vivo, cometa um único erro e eu cravo essa agulha no seu pescoço e em segundos você sentirá o corpo estremecer e o sangue gelar. O seu coração parará em dois minutos. Entendeu? Responda!
            - Sim.
            - Ótimo. Bom garoto.

            Henrique e Nohan fizeram o combinado e comunicaram a Peter sua evolução antes de seguir até o barco. Quando entraram, viram Zacker imobilizado por Rachel e sendo duramente ameaçado. Não era uma surpresa, mas a seriedade na voz da parceira os fez temer. Se matasse, ela seria responsabilizada.

            - Olha, Zack. Você tem plateia para assistir sua morte...se me irritar. Não se mexa um milímetro. – Sua voz era gelada, ameaçadora. – Vocês dois não se metam. Esse assunto é meu e dou Zack.
            - Não faça nada para se arrepender depois, Rachel. Neal precisa de você.
            - Eu sei. Só farei o essencial. Se colaborar, Zack sai vivo daqui. Entendeu isso, não?
            - Sim. Por favor não me mate. Eu não quero morrer.
            - É? Então me responda com sinceridade e você viverá! Para onde seus comparsas levaram o homem que sequestraram? Você tem três segundos para responder.
            - Não...eu não sei...juro...
            - Um...dois...
            - Espera! – Ele suplicava, tremia, mas tinha medo de tentar se afastar e acabar morrendo.
            - Onde? Fala ou morre! Não tem alternativa.
            - Está bem, está bem...eu não sei onde ele está, mas posso te levar até alguém que sabe. James...vou me encontrar com ele mais tarde num bar chamado Camejo. Fica no centro e é bem movimentado.
            - Isso é verdade? Será que devo deixar você viver?
            - Por favor...não quero morrer...não sabia o que estava fazendo. Juro que não sabia. Só queria a grana.

            Rachel acreditou nele. Estava nervoso demais para mentir com aqueles detalhes e segurança. Hoje a noite James Sulivan estaria no Camejo Bar e a levaria até o cativeiro. Mesmo segura da colaboração de Zacker, não hesitou em cravar a agulha em seu pescoço e injetar o líquido. Os músculos dele relaxaram instantaneamente e Zack desabou no instante seguinte.

            - Rachel! – Henrique assustou-se. – O que você fez?
            - O que injetou nele? – Nohan também foi surpreendido. – Quem lhe deu isso?
            - Contatos Nohan. Eles são tudo na vida, lembra? – Ela gostou de ter conseguido surpreendê-los. Mas depois tornou a colocar sua atenção em Zack. – Eu menti, Zack. Não sou Rebecca, não estou a fim de velejar e isso não é um veneno letal. Você vai dormir por duas horas e quando despertar estará num hospital. Depois será preso porque eu gravei cada palavra da sua confissão. Mas, se por acaso, hoje a noite eu descobrir que você mentiu, eu irei lhe fazer uma visita hospitalar e terminarei nossa conversa. Combinado?
            - Sim, sim...é verdade. Falei a verdade. Eu juro. – Ele tremia e já tinha dificuldade para falar.
            - Ótimo. Bons sonhos. – Ela só voltou a falar quando ele apagou. – Henrique, avise Diana do belo adormecido. Eles devem vir pegá-lo. E depois nos encontrar no bar. Um foi. Faltam dois.

Um comentário:

  1. to doida pra saber qual é essa do tal Noah e essa mulher é uma diaba mesmo kkkkkk

    ResponderExcluir