sábado, 28 de fevereiro de 2015

Vidas Ocultas - Capítulo 18


            A ideia de Elizabeth deixar o escritório sem gritos nem discussões só era menos improvável de ele lhe revelar a verdade. Miguel podia até reconhecer intimamente seu erro em mentir para Liz, mas contar a verdade agora não traria benefício algum. Então foi ao bar e serviu uma generosa dose da bebida mais forte que avistou. Elizabeth acompanhou cada um de seus passos com olhar ansioso e irritado.

            - Eu não me intrometo nas suas investigações, Liz. Fique fora dos meus problemas de trabalho.
            - Não! Ouviu bem? Não fico fora porra nenhuma! Ouvi claramente quando disse ‘exigindo mais dinheiro’. Isso é chantagem!
            - Vai recitar o código penal e o tempo de detenção, investigadora?
            - Pela última vez, Miguel: o que está acontecendo?

            Miguel só tinha uma alternativa para por fim naquela conversa. Magoar Liz e fazê-la, com raiva, esquecer o assunto.

            - Não é da sua conta! Eu não me casei para ter a sombra de uma policial na minha cola. Vai pro quarto, pra piscina, vai tomar um banho...qualquer coisa, mas sai do meu escritório. Agora. E me deixa resolver os meus problemas. – Ele disse aos gritos enquanto servia mais uma dose de whisky.

            A vontade de Elizabeth era arrancar aquele copo das mãos do marido e esfregar aquela aliança em sua face até lembrá-lo de que eram marido e mulher. E esse tipo de parceria incluía mais coisas do que apenas transar e velejar em águas límpidas. Podia gritar no mesmo tom dele até fazê-lo por pra fora o que escondia. A sogra impediu qualquer coisa.

            - Quero lembrá-los que isso é um lar. Vocês acabam de voltar da lua de mel, por favor! Se não respeitam ao casamento, ao menos ofereçam paz para essa velha repousar! Gritos nesse lar, não!
            -Desculpe, madre. Elizabeth vai descansar da viagem enquanto eu resolvo uns assuntos. – Os dois travaram uma batalha quando seus olhares se cruzaram. – Vai Liz, por favor. Eu não quero brigar.

            Ela também não. O que não a faria esquecer o assunto. Sem dizer nem uma palavra para a sogra nem ao marido, Elizabeth deixou o escritório e retornou ao seu quarto. Só quando trancou a porta às suas costas seu coração começou a diminuir de ritmo. Era duro constatar a mentira de Miguel. Era algo grave e nada tinha a ver com trabalho. Era pessoal. Se fosse na BTez ele já teria dividido com ela.
            Deitar-se ou aproveitar a piscina? Miguel deveria estar mesmo muito perturbado para acreditar naquelas possibilidades. Já que a rotina tratou de por fim ao clima de recém casados, iria mostrar ao marido o tipo de esposa independente que seria. Trocou de roupa rapidamente e procurou pelas chaves do seu carro, estacionado ali desde antes do casamento.


            Quando Miguel deixou o escritório o relógio marcava 19h55min. Sua mãe e Juliana já deveriam estar colocando a mesa do jantar então resolveu procurar por Liz. Ela deveria, e tinha motivo, para estar magoada com ele. Não era assim que pretendia começar sua vida de casados.

            - Se vai atrás de sua esposa, nem perca seu tempo. Ela saiu. E sequer manifestou interesse em se integrar à rotina da casa, saber qual seria o jantar, nada! – Rúbia gritou quando o viu subindo a escadaria. – Devo colocar o prato dela na mesa?

            Miguel sentiu a raiva lhe consumir os pensamentos. Raiva de Elizabeth, Rúbia e dele mesmo. A mãe por fazer de tudo para piorar o que já estava ruim. Da teimosia de sua esposa e de si mesmo por ter se enredado em tantas mentiras que agora não conseguia sair sem magoar alguém. E, o pior de tudo, ela estava sozinha por aí, arriscando-se a um perigo que desconhecia porque seu marido preferiu não informá-la de que estava sendo chantageado.

            - Infierno! No te metas, madre! – Gritou para Rúbia antes de pegar o celular e ligar para Liz. Tranquilizou-se quando ela atendeu. - Dónde está?
            - Não é da sua conta! – Elizabeth lhe repetiu a frase dita por ele horas antes. – Não se intrometa nos meus assuntos. Comigo é assim, Miguel. Na mesma moeda, sempre. Acostume-se! E fale português comigo! Não tem razão nenhuma para ficar estressadinho.
            - Virá dormir em casa, não é? – Por um instante, temeu que Elizabeth tivesse ido extravasar sua raiva procurando algum outro homem, na rua, como tantas vezes fez.
            - Até onde sei, é aí a minha cama! Eu volto logo.
            - Tenha cuidado...por favor. Eu esperarei para jantar com você.
            - Não precisa. Já comi. Até depois, Miguel.
            - Até...Liz...
            - O que é? – Ela ainda estava com raiva.
            - Eu te amo. Muito. Cada dia mais.
            - Eu também Miguel. – Era difícil resistir ao charme dele. - Mesmo você sendo insuportável às vezes. Até logo.

            Elizabeth estava sentada na sala de estar de Rebecca, já tinham jantado, conversado e relaxado como só velhas colegas de farda poderiam fazer. As duas tinham anos de parceria no Polícia Federal e de amizade pessoal. Rebecca não sabia dos detalhes mais sórdidos da vida de Elizabeth, mas a conhecia bem o bastante para sentir a disputa emocional vivida pela amiga naquele momento.



            - Amor e raiva estão brigando dentro desse coração, Liza. Sossega! Esse homem te ama. O resto são problemas naturais da vida em dupla. – Casada há 8 anos, Rebecca tinha experiência no assunto. – Todo o casamento tem dificuldades.
            - Eu sei...imaginava na verdade. Só não esperava já brigar com Miguel no nosso primeiro dia em casa. E descobrir que ele está mentindo. – Liza já havia contado para a sua amiga o que aconteceu. – Não aceito isso, Becca.
            - Ok então. O que você sabe? Miguel e esse advogado chamado Louis estavam tendo uma conversa suspeita. Alguém está chantageando seu marido. E ele mandou esse ‘braço direito’ resolver o problema.
            - Eu não gosto desse homem! Louis e Miguel são amigos...ele cuida de assuntos pessoais, familiares e sigilosos.
            - Isso significa que é de total confiança dos Benitez. – Para Rebecca, isso deveria contar ao favor do advogado. Talvez Liz só não quisesse assumir o que realmente a afligia. – Liza, se esse Louis faz algo de errado, o mais provável é que seja com o conhecimento e aprovação de Miguel. Você tem medo dele estar envolvido com algo ilegal, gente barra pesada ou...
            - Não! – Liz a cortou. – Eu tenho certeza da honestidade de meu marido. Se tivesse alguma dúvida, mesmo que pequena, jamais teria me casado com Miguel.
            - Então qual o problema?
           
            Depois de tantas voltas, finalmente chegara a hora de Elizabeth dizer à Rebecca o que a trouxe à casa da amiga numa tarde de domingo, véspera de se reencontrarem no trabalho. Não veio ali à toa ou apenas para desabafar.

            - Eu sei o quanto tem sujeira no meio empresarial. É só olhar os jornais. Empresas e governo envolvidos em esquemas de corrupção são tradição nesse país há décadas. E eu não tenho a ingenuidade e pensar que a BTez está isenta disso. Mas Miguel veem tentando conduzir sua empresa longe de falcatruas, tenho certeza. – Ela parou por um momento para tomar ar antes de continuar. - Conscientemente, Miguel é um homem íntegro e cumpridor de seus deveres. Porém, ele também é dono de uma personalidade explosiva e perigosa. Miguel faz coisas sem pensar, age por impulso e por isso estou preocupada. Ele pode estar se enredando em problemas que eu sequer imagino e usando dos serviços de Louis, bem intencionado ou não, para livrar-se de quem o está chantageando.
            - E como te ajudo a resolver isso? – Rebecca riu ao encarar o olhar da amiga. – Nós duas sabemos que você não veio aqui só para alugar meus ouvidos. Diz logo Liz.
            - Amanhã eu finalmente recebo meu distintivo de volta e reassumo meu posto e meus casos. Mas o Tom está pressionado a manter olhos bem atentos no meu trabalho. Eu não posso deixar nenhum erro para trás com meu histórico recente. Por isso quero te pedir ajuda. Quero que investigue discretamente Louis, os processos em que atua e as pessoas com quem anda metido. Quero uma pista do que meu marido anda lhe pedindo para fazer.
            - Vai investigar seu próprio marido, Liz?
            - Ele não me deixou escolha.
            - Está bem, farei isso.



            Já de pijama e com o computador em seu colo, Beatriz aproveitava o momento livre para estudar sua próxima pauta. Era uma grande oportunidade como jornalista. Estava de folga naquele domingo, passou o dia com Will e a filha, mas por vezes seu pensamento voltou-se ao trabalho. Culpa de seu editor que, na véspera, lhe propôs uma matéria grande.

            - Quer a sua matéria de capa? – Perguntou ele, sorrindo enquanto mexia em seus arquivos de computador. – Pois a sua chance é agora. Dessa vez não estou te dando nenhum assalto de esquina nem crime passional pra cobrir. É uma grande reportagem investigativa. Topa?
            - Claro! – Teria de ser louca para dizer não. – Mas o que é?
            - Era com essa animação que eu contava. Mas vá com calma, sim? É tema para ir comendo pela beiradas, com cuidado. Prostituição infantil e tráfico sexual de menores. É barra pesada, Bia.
            - Ual....mas espera...a minha irmã investigou isso faz um tempo. Você não acha que eu...É só por causa disso que me passou a matéria?
            - Não. Também é porque você é boa jornalista, dedicada ao jornal e teimosa o bastante para cavar nessa história até encontrar coisas bem legais. Mas o fato de ter contatos na polícia federal ajudou bastante. Mas se quiser que eu passe pra outro repórter...
            - Não! Nem pensar! Essa pauta é minha e ninguém tasca!
            - Ótimo. Então aproveite sua folga de amanhã e estude o tema.

            Era o que Beatriz fazia há horas. E cada vez mais se sentia enojada do que via na tela de seu computador. Eram muitos casos e a maioria sequer chegava ao conhecimento da polícia. Mulheres, homens e crianças levadas para a exploração sexual. Sem querer, seus pensamentos se voltaram à Patrícia. Se era horripilante apenas ler a respeito, sequer conseguia imaginar vivenciar aquele inferno de abusos físicos e psicológicos.

            - Matheus tem razão em valorizar e cuidar dela. Paty é uma garota de fibra para ter sobrevivido a tudo isso.

            Aquele seria um trabalho longo. Teria de encontrar famílias que tiveram seus filhos levados, algum sobrevivente e precisaria tentar infiltrar-se numa das quadrilhas. Só assim poderia ver de perto como eles escolhiam as vítimas e planejavam os lugares para onde levá-las. Mas como chegar nessas quadrilhas? Poderia descobrir outros meios, mas Elizabeth era o meio mais fácil e rápido.


  
            - Oi Liz, pode falar? – Ela não resistiu e ligou para irmã naquele momento mesmo.
            - Pode. Estou estacionando meu carro em casa.
            - Nossa! Você e Miguel mal chegaram e já estão na rua?
            - É...quase isso. – Não tinha razão para preocupar Bia com seus problemas conjugais. - Mas fale porque ligou, Bia.
            - Queria alguns contatos seus de quadrilhas que traficam pessoas para exploração sexual. Me passa?

            Elizabeth não esperava por mais isso.

            - Claro! Eu devo ter um ou outro membro da quadrilha nos meus contatos do Facebook. – Não resistiu a ironia. – Por quê?
            - Pauta do jornal. Não complica, Liz. Eu sei que você tem como me dar uma pista. Eu investigo o resto.
            - Eu não quero você metida nisso. É perigoso.
            - Ótimo! Sinta o que eu passo quando você está investigando isso. E me dê os contatos.
            - Eu sou policial! – Elizabeth gritou.
            - E eu jornalista! E essa é a minha chance de uma reportagem de capa! Se você não puder, vou conseguir por outros meios.
            - Está bem. Amanhã eu volto pra centra de polícia e vejo o que posso conseguir. Infelizmente, seguidamente recebemos denúncia de ação desse tipo de quadrilha. Eu vejo e te passo, mais nada. O andamento das investigações não posso.
            - Isso basta, Liza. Obrigada!

            Beatriz agora investigar criminosos era apenas mais uma preocupação na cabeça de Elizabeth. Ao abrir a porta de casa rezando para não avistar Rúbia, Liz concentrou seus pensamentos em seu casamento e deixou todo o mais para o dia seguinte. Foi direto para o quarto. Estava precisando de um banho. Ela não se surpreendeu em encontrar Miguel sentado na poltrona no quarto, esperando-a.

            - Oi. – Ela disse simplesmente. – Eu vou tomar um banho e depois a gente conversa.
            - Não. A gente conversa e depois toma o banho juntos Eu te peço desculpas. Não queria ter gritado com você mais cedo, no escritório.
            - Já eu não me arrependo de ter gritado ao telefone. Você mereceu, Miguel.
            - É, mereci. Mas eu te amo mais do que qualquer outro homem um dia poderá amar alguém.
            - Ótimo. Também te amo. Mas isso não resolve os nossos problemas.
            - Eu estou tentando Liz.
            - Vai me contar quem está te chantageando?
            - Você entendeu errado...não tem chantagista algum. Foi apen...
            - Não! Chega de mentir, Miguel. Eu aceito que não queira dividir isso comigo. – Iria descobrir por seus meios. – Só não minta. Eu posso lidar com tudo, menos com suas mentiras.
            - Está bem. Deixe isso pra lá.



            Com um beijo Miguel deixou a discussão no passado e superou o assunto. Sabia que Elizabeth não deixaria aquilo terminar assim. Mas estava satisfeito em sentir o seu sabor, sem gritos ou brigas. Ainda com os lábios colados, começou a despi-la. Depois de tantos dias usando apenas biquíni, Liz lhe parecia vestida demais.
            - Vamos pra banheira. Quero ensaboar você todinha.

            Liz sentiu-se feliz em poder deixar os problemas guardados no fundo de um baú até o dia seguinte e deixou-se ser amada e cuidada por mais aquela noite. Seu marido tinha segredos e isso era difícil de suportar, mas ele também era gostoso, delicado, apaixonado e sabia tocá-la como ninguém mais.
            Enquanto a banheira enchia, Miguel tirou-lhe peça por peça das roupas. Com mãos experientes abriu os botões da saia e soltou-lhe o fecho do sutiã. Analisou aquele corpo como se procurasse alguma mudança desde a última vez em que a viu nua, naquela manhã. Mas aquelas poucas 12horas foram longas demais. E eles precisam do corpo um do outro para se refazer, superar os desafios e provar ao parceiro que continuavam ali, disponíveis para amar apesar dos problemas.
            E como amam. Amavam além do que julgavam ser possível. Ainda mais sendo tão diferentes. Com ela nos braços, Miguel desejava alongar os minutos e fazer daquele momento infinito em prazer e felicidade. Colocou a esposa sentada sobre o balcão da pia e, ajoelhado entre suas pernas, provou-a na intimidade, fazendo-a contorcer-se de prazer enquanto ele acarinhava-a com os lábios e a língua.

            - Migueeeelll....aaa.....aaa.....eu acho que vou desistir da banheira.
            - No tan rápido, mi amor.
            - Nessas horas eu gosto quando você fala espanhol.
            - Sí?
            - Sim. É sexy.



            Logo estavam imersos na água perfumada e Liz sentia a espuma suave tocar-lhe a pele. Não só a espuma. Tinha também as mãos de Miguel. E ela perguntava-se como algum dia conseguiria resistir ao toque daquele homem. Seu homem. E de ninguém mais. Até mesmo ela assustava-se com esse tipo de pensamento. Nunca fora uma mulher possessiva, ciumenta. Agora era. Talvez fosse porque pela primeira vez tinha alguém para chamar de seu. E não estava disposta a perder.
            Ficou feliz em tomar a iniciativa e deixá-lo de costas na banheira, abraçando-o com as coxas e acariciando o peito esculpido pelos músculos bem torneados e a barriga lindamente torneada. Sabia o quanto Miguel estaca excitado e sentia seu pau duro submerso na água. Acariciava toda sua extensão numa doce tortura enquanto beijava-o nos lábios. Até que encaixou-se nele e permitiu-se senti-lo até o fim dentro dela. Era só assim que se sentia completa. Miguel ali, todo dela, todo dentro dela. Com força, sem delicadeza ou sensibilidade, o fez entrar avançar em seu corpo sem dó até que os dois libertaram-se de qualquer sentimento que não fosse o êxtase sexual. Quando alcançaram o orgasmo estava cansados, à um passo da exaustão. Miguel ainda teve de conseguir forças para levar Elizabeth até a cama antes de abraçá-la sob o lençol e finalmente encontrar o mundo dos sonhos.



            Na manhã seguinte a vida tomou seu rumo natural. Depois de um constrangedor café da manhã em família e um beijo de bom dia na esposa, Miguel seguiu para a BTez. Ficou constrangido ao receber cumprimentos por seu retorno. Alguns diretores mais íntimos fizeram piadas comentando sua aparência feliz, outros disseram que agora era a hora do casamento começar pra valer. Mesmo com o tom de brincadeira, era também necessário retomar a rotina de obrigações, reuniões, balanços financeiros, assinaturas e ordens desagradáveis.
            Começou o dia com uma vídeo conferência com diretores comerciais e administrativos globais. Problemas com embargos na argentina, com sindicatos na Europa e de vendas na Ásia o preocuparam.

            - Castro, se não for resolvido em 48hs, inicie o processo de redução da produção. – Disse ele ao Diretor de Buenos Aires.
            - Isso implicaria demitir funcionários.
            - Eu sei. Mas não podemos produzir carros que não poderão ser vendidos. E a mão de obra é nosso maior poder de barganha com os governantes. Se os fizermos crer que vamos demitir, vão nos oferecer vantagens. É a nossa melhor chance. Apenas 48hs, nenhum minuto a mais. Me envie relatórios.

            Passou todo o dia resolvendo problemas que se acumularam na sua ausência. Porém, olhava com um sorriso para os gráficos e percebia que o pior da crise havia passado. Os lucros começaram a se estabilizar e isso acalmava os acionistas. Eles percebiam que a BTez era uma empresa confiável.

            - Por mais forte que seja a tempestade, vem a bonança depois, meu amigo. – Louis veio lhe ver durante a tarde. – Então, a bela policial não lhe assassinou ontem? O olhar dela brava é poderoso, hem?
            - Não fique prestando a atenção ao olhar da minha mulher, Louis. Posso sentir ciúme. Ela ouviu demais, temos de ter cuidado. Eu tenho de me lembrar que casei com uma mulher inteligente e sagaz. Ouviu apenas uma frase e entendeu boa parte do que se passa. E você? Alguma novidade?
            - Não a que você espera. Ainda não sei quem é o nosso homem. A operadora me garantiu que aquele chip não existe mais. Ele pode ter se desfeito porque desconfia da nossa investigação ou já estava no plano dele. A verdade é que a nossa melhor chance é esperá-lo aparecer novamente.
            - Merda! E a segurança de Liz?
            - Tudo certo. Falei com eles há pouco. São uma equipe de primeira, disfarçados, trocam de veículo para ela não perceber. Só não podem entrar no prédio da polícia. Quando ela sair, serão sua sombra.
            - Ótimo. Tenho medo desse maníaco achar que agora, casados, aquelas fotos já não servem para nos chantagear e tentar sequestrá-la para pedir resgate.
            - Não vai acontecer. Pode ficar tranquilo salvando os milhões dos seus acionistas. A Senhora Benitez está segura e o nosso homem misterioso será pego quando reaparecer.



            O dia de Liz foi um pouco mais complicado. A começar porque agora precisava preocupar-se mais com o que vestir. Não era mais apenas a investigadora Elizabeth Santos. Agora carregava o sobrenome Benitez e isso representava ser fotografada por aí. E isso era extremamente desagradável porque fazia com que alguns colegas de trabalho parassem de tratá-la como uma igual. Ela virou uma estranha.
            A melhor parte era poder retomar suas investigações. Na primeira tarde já pode participar de uma apreensão de drogas trazidas da fronteira com a Bolívia. Sim, era dessa parte de seu trabalho que mais gostava. Ter resultados. Merecer o salário que o governo lhe pagava. Tom chamou-a em sua sala re recitou todas as recomendações possíveis. Ela deveria se manter na linha e não deixar rastros para ninguém até sua sala reclamar.

            - Não quero ninguém pedindo a cabeça da minha mais competente investigadora. Entendeu?
            - Sim, Senhor.
            - Então vá prender alguns bandidos por aí. É bom tê-la de volta Liza.
            - Obrigada. Vamos marcar uma noite dessas...Miguel quer que vá jantar conosco.
            - Eu não perderia por nada. – Ele lembrou-se de mais uma coisa. – Elizabeth, aquele caso das prostitutas...você levou o inquérito para analisar. E aí? Lembre-se que é arriscado porque envolve...
            - ...a empresa de meu marido. Eu sei. Estou analisando vírgula por vírgula. Quando conseguir amarrar as pontas que deixei passar antes, eu te aviso e nós seguiremos juntos, Tom. Prometo. Mas já te adianto, é na Rússia que esse nó irá fazer sentido.
            - Como assim?
            - Deixa eu conseguir provar isso, Tom. Mas confia no que estou te dizendo.
            - Eu confio. Muito. - Depois de anos de convivência era impossível não confiar. – Perguntei por que na semana passada fui chamado num presídio no interior do Estado. Um preso desejava fazer um acordo para redução de pena e disse ter para barganhar informações sobre tráfico de pessoas.
            - E aí? Você foi?
            - Sim. E demorei a acreditar. Pedi que ele comprovasse ter ligação com a quadrilha e ele provou. Deu-me o endereço de onde ocorrem ‘testes’ com garotas para ir ao exterior. Eu estive lá e vi. Todos os elementos, para quem quisesse conferir. Bairro nobre, homens escondendo armas pesadas e jovens, quase crianças, de ambos os sexos, chegando vestindo roupas humildes. Se não for tráfico para o exterior, certamente é prostituição com abuso de menores.
            - E você invadiu?
            - Não. Achei que seria melhor não nos precipitar. Esperei você voltar e quero que analise qual a melhor possibilidade. Esse foi só o teste para o nosso amigo. Vou fechar o acordo e talvez ele nos leve aos líderes da quadrilha.
            - Está bem...não vamos invadir o lugar então para não alertá-los. Mas vamos deixar...assim sem fazer nada? E essas crianças? – Liz estava tendo uma ideia. – Isso podia ser descoberto por algum repórter enxerido e...
            - Beatriz?
            - Porque não? Estouramos o lugar sem eles desconfiarem que temos um informante da quadrilha. Uma bala, dois alvos.
            - Ótimo. Faça isso. Senti sua falta por aqui, Elizabeth. 
           
 NOTA: O grupo Delírios Devaneios e Algo + no Facebook reúne quem gosta dessa história e outras nossas. Tá a fim de participar? Manda o convite pra gente te add. Bjss


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