segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Mentira - Capítulo 38: Quando a morte é o menor dos castigos





            Quando Ana acordou estava dentro de uma ambulância. Exagero de Christian com sua segurança. Não havia nada de errado com ela. O desmaio era fruto do choque de ser sua prima ser atingida por um tiro bem à sua frente. Não era assim que espera terminar aquele dia.

            - Me tirem daqui! – Gritou. – Onde está meu marido?

            Christian havia sido chamado pela polícia. A administração do shopping havia tentado impedir, mas quando duas integrantes de uma importante família estavam envolvidos numa tentativa de assassinato, imprensa e polícia logo apareciam. Agora estavam servindo de manchete em todos os canais de televisão e sendo chamados para depor.

            - Seu marido já vem, Senhora Grey. Ele pediu que não lhe deixasse sair sozinha.
            - Onde ele foi? – Estava irritada sem entender o que se passou. – Minha..prima...o que fizeram com Alice?
            - A outra moça foi levada as pressas ao hospital. Ao contrário da senhora, que já está liberada, o caso dela é muito grave.

            Christian chegou logo depois e quis levar Ana para casa. Teimosamente ela não aceitou. Por pior que fosse a relação de Alice com a família, certamente José e seus tios teriam de ser informados do que se passou e seguiriam ao hospital. Ela tinham de estar com eles.

            - São a minha família, Grey! Não posso abandoná-los.

As horas que se seguiram passaram lentamente. O hospital estava cercado de repórteres e a polícia dizia ainda não ter conseguido pegar o atirador, mas que estavam seguindo uma pista importante. Alice passava por uma complicada cirurgia para retirada da bala, alojada próxima a terceira vértebra da coluna. As perspectivas não eram boas.
            O clima no hospital era terrível. Nenhum amigo veio saber do estado de saúde de Alice e, para a família, estar ali era pouco mais que uma obrigação. Depois de tudo, a sensação de todos era que Alice havia procurado aquela bala.
            Quando todos estavam reunidos, Grey  resolveu contar-lhes o que viu. Já havia passado a informação para a polícia, mas Ana e a família ainda não sabiam. Seria um choque. Mas ele teve de falar.

            - Anastásia era o alvo. – Ele foi direto. – Eu vi o atirador. A distância, mas vi. Ele atirou em Ana. Alice foi atingida por engano.

            Ele teve o cuidado de usar a palavra engano também com o investigador. Isso, porque não queria que, de forma alguma, Ana fosse envolvida no crime. Ela não imaginava que estava salvando a própria vida ao sacudir Alice a sua frente.

            - Como assim? Quem desejaria matar Ana? – José se apavorou frente a ideia que fosse Ana sendo operada naquele momento.

            Ana e Christian trocaram um olhar.

            - Só uma pessoa seria capaz, José. – Seus tios empalideceram sabendo a grave acusação que seria feita. – Alice. Só Alice.
            - Mas foi ela quem levou o tiro! – Ray gritou. – Ela não iria tão baixo!
            - Eu não sei com, Tio. Mas...ela tinha o motivo para isso.

            Sem saída, Ana contou aos tios o que vinha fazendo com Alice nas últimas semanas. Contou do amante que a prima tinha, das provas que conseguiu e da chantagem. Ray e Melissa não gostaram se saber que vinham sendo enganados, mas compreenderam a sobrinha.

            - Você queria que ela desse o divórcio a José? – Melissa concluiu.
            - Sim. Queria. – Ana agora entendia o risco que havia corrido. – Eu a ameacei. E disse que se não me obedecesse, eu liberaria as fotos, a humilharia e faria com que terminasse divorciada e sem um centavo do nosso dinheiro. Deixei-a acuada.
            - E ela armou um plano para te matar! – Grey tremia só de pensar. 

            Todos ali sabiam que não poderiam esconder nada da polícia. O atirador ainda estava a solta e podia tentar algo. Só não foram diretamente ao investigador porque a cirurgia de Alice teve fim. As notícias que o médico trouxe não eram animadoras.

            - Ela vai viver. Infelizmente, não posso lhe dizer que não restarão sequelas.
            - O que quer dizer com sequelas. – José perguntou.
            - Ainda não posso lhe confirmar nada. Mas a coluna foi atingida. É melhor aguardar. Ela será levada ao quarto para se recuperar. Aos poucos saberemos o quanto seus movimentos foram atingidos e esperaremos para dar qualquer notícia a ela. Nesses casos a paciente precisa ser tratada com muita delicadeza...não são coisas fáceis de se ouvir.

Semanas depois...

            A polícia havia chegado até Jasper. Alguém denunciou a placa do carro e, junto com a história que Ana contou ao investigados sobre o amante de Alice e as fotos, não foi difícil encontrá-lo. Ele ainda estava com a arma e completamente apavorado com as notícias que via na televisão.

            Não demorou muito para confessar a autoria do tiro que acertou sua amante. Agora, ele estava preso por tentativa de assassinato. Jasper e Alice ainda teriam que se encontrar para uma acareação. Só não o fizeram ainda porque ela tinha problemas maiores com o que lidar.

            Alice continuava internada no hospital. Não deu nem daria mais nenhum passo na vida. Os médicos haviam diagnosticado seu quadro como paraplegia total e irreversível. Alice não sentia nada abaixo da linha do pescoço. Não era capaz de se erguer da cama e dependia das enfermeiras para tudo. As poucas visitas que recebeu ela expulsou aos gritos.

            Uma psicóloga tentou atendê-la, mas ela deixou claro que não desejava falar com ninguém. A profissional orientou que não a informassem que o caso era irreversível. Alice achava que seus movimentos voltariam com o tempo. Ela não queria que ninguém a tocasse ou a visse naquela situação. Impossível. Todas as manhãs uma enfermeira vinha cuidar dela. A única que aturava seus gritos. Uma senhorinha que a olhava com pena. Não sabia tudo que já havia feito.

            - Sorria, você está viva. – Lhe disse a doce enfermeira.


            Alice ouviu a enfermeira e sorriu. Seguros em seus pensamentos estavam seus planos. Quando voltasse a andar poderia terminar o que planejou. Aquele tiro ainda encontraria Anastásia.

            Alice sorria sem saber que jamais poderia concluir seus planos porque jamais conseguiria andar novamente.

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