domingo, 13 de setembro de 2015

Alguém Para Amar - Capítulo 23



            Emily bem que tentou mentir, fingir que esperar seu bebê seria como qualquer gravidez. Muitas compras, alguns desconfortos e muitas alegrias. Tinha tudo isso. Mas também consultas muito mais desagradáveis do que as de acompanhamento de seu bebê. Ele, ou ela, estava se desenvolvendo muito bem. Era o que vinha junto dessa felicidade que já passava a incomodá-la. Seu pré-natal não era composto de uma consulta mensal e alguns exames, como era de se esperar. Eram idas quinzenais ao consultório de Leonor e exames quase que semanais, fossem contabilizadas as dosagens hormonais e as aferições por imagem. Se fossem para ver seu bebê, ótimo, estaria feliz. Eram para acompanhar o desenvolvimento da doença.

            - Eu quero falar do bebê, Leonor. – Disse ela na consulta que marcava o fim do terceiro mês de gestação. – Quero saber se ele está bem.
            - Nós estamos falando dele, Emily. Para o seu filho estar bem, a mamãe dele precisa estar.

            A conversar com a médica foi a mais dura até então. Leonor se impôs e lembrou-os que aquele sonho somente se concretizaria se ambos colaborassem. Jonas ouviu tudo com atenção, Emily também, mas, após anos lidando com a doença, ela já não tinha tanta paciência. Queria dar atenção apenas ao bebê, aproveitar aquele momento mágico em que carregava uma vida no ventre.

            - Você disse que vai tudo bem com o bebê. Depois eu vou me preocupar com o resto. – Ela disse à médica e amiga. – Já podemos fazer a ultra? Quero ouvir o coração dele logo.
            - Não. – Jonas interferiu. – Fale, Leonor. Se o bebê está bem, qual o problema? – Jonas estava apreensivo. Vida estava acomodada em seu colo, naquele dia ela também passou por consulta com seu médico. E o pediatra foi só elogios. Sua única preocupação era com Emily.
            - Nós já vamos ouvir o coração do bebê de vocês. Antes, porém, precisamos conversar. Em alguns casos, a gravidez "cura" endometriose, pois durante a gravidez o tecido endometrial sofre uma diminuição devido à falta de estrogênio na corrente sanguínea. Infelizmente, esse não foi o seu.
            - É claro que não. – Emily já estava exausta de lutar aquela batalha.
            - Os exames mostraram que a endometriose continua crescendo, alcançando trompas, ovários e a parte baixa do útero. Nós poderíamos fazer uma cirurgia, mas o risco é alto, para mãe e o bebê. – Leonor falou e viu Jonas e Emily empalidecer.
            - Não farei nada que coloque meu filho em risco. – Emily disse.
            - Quais são as alternativas? – Jonas foi objetivo, apesar do pavor que sentia.
            - Esperar até que seja possível fazer uma cesárea, que pode ocorrer prematuramente. E logo após iniciar o procedimento da histerectomia porque o seu aparelho reprodutor estará muito comprometido.

            A ameaça estava clara e Jonas sentia o peso daquela escolha. Emily certa, é claro. Colocar o bebê em risco não era uma alternativa. Mas não operar significava aceitar o agravamento da doença. E, como resultado, precisar de um procedimento muito mais grave depois.

            - Vamos lidar com um problema de cada vez. – Decretou Emily. – Eu me sinto bem, minhas dores estão controladas. Quero curtir a chegada de meu bebê agora. Vamos à ultra? Por favor.

            Leonor e Jonas trocaram um olhar preocupado. Emily teria de aceitar a histerectomia. E logo. Ela seria obrigada a fazer a cirurgia logo após o parto, que dificilmente, poderia alcançar os nove meses. Seria dele o papel de, aos poucos, aceitar a ideia e abrir mão de uma parte de seu corpo para viver saudável ao lado dos filhos.



            As notícias ruins foram deixadas de lado para um dos momentos mais gostosos da gravidez. Ver e ouvir o bebê. Com 14 semanas completas, puderam ver o formato da cabeça, as mãozinhas formadas, o contorno do rosto e a linha da coluna. E os olhos bem treinados de Leonor conseguiram perceber ainda mais.

            - Já posso lhes dizer o sexo. Querem saber?
            - Sim! – Responderam juntos, ansiosos.
            - Um menino. E está perfeito. Bem gordinho, eu diria. – Leonor respondeu.
            - Olha Vida, é um irmão. Você ganhou um irmão! – As lágrimas escorriam pelo rosto de Emily. – Um menino com os olhos do papai.

            Quando enfim puderam ouvir o coração do filho bater, puderam sentir sua força, sua vontade de viver. Ele ainda era muito pequenino, mas já fazia parte da família. Era importante para eles. Sentiam sua presença. O esperaram tanto e agora finalmente ele era uma realidade. Doença alguma tiraria deles aquela felicidade. Ao sair da clinica Jonas beijou a esposa e lhe garantiu a única coisa que podia oferecer.



            - Eu estarei ao seu lado o tempo todo. – Lhe disse.
            - Nosso menino nascerá bem. Eu sinto isso. Eu sei que vou conseguir.
            - Emily, Emily...você fala com uma certeza que torna impossível duvidar.
            - Então não duvide! Eu demorei muito pra conquistar a minha família. Não vou desistir dela agora.

            Saber que esperava um menino trouxe novo motivo para Emily sair às compras. Muitas roupinhas e brinquedos já seriam comprados. E o quarto já estavam sendo preparado. Tudo sob o olhar atento de Jonas. Ele não gostava que ela fizesse compras sozinha porque ela não percebia as horas passando. Parava apenas quando sentia a fome ficar insuportável. Algo que ocorria cada vez com mais frequência.
            No meio da manhã quando estava no restaurante sentiu que precisava de um lanche. E a tarde novamente, mesmo tendo feito um farto almoço, ela tornava a comer. Normalmente eram alimentos saudáveis. Mas naquela tarde ela precisou de um hambúrguer, daqueles comuns e gordurosos, servidos em lanchonetes acompanhados de batata frita e refrigerante. O tipo de comida que médica alguma orienta.

            - Mas nós estamos com desejo né bebê? E vamos comer!

            Emily só acalmou seu estômago na praça de alimentação do shopping mais próximo. A comida em sua bandeja estava muito apetitosa e foi devorada em minutos. Ao olhar para o relógio, Emily viu ser 15hs, muito cedo para voltar ao restaurante e muito tarde ir para casa. Quando pensava em ligar para Jonas e convidá-lo a vir até o shopping, teve o desprazer de ver Juliana, a sócia desagradável de seu marido, aproximar-se de sua mesa.

            - Emily! Que estranho ver uma chefe de cozinha aqui! Comendo...isso! – A ruiva disse numa simpatia fingida.
            - Sabe como é...grávidas têm desejos estranhos.
            - Sim, sim. Jonas comentou conosco que você anda esfomeada como nunca. Cuidado hem...
            - Cuidado? Com o que exatamente?
            - Bom...você não é mais tão jovem. Recuperar o corpo na sua idade não será fácil. Já dá para notar um volume...e ainda é tão recente a gestação.



            Emily ainda tinha dúvidas se devia ignorar Juliana, responder com elegância ou dar-lhe o troco merecido. Sempre fora magra, desde a infância o peso sempre foi a última das suas preocupações. E se havia ou não volume extra em sua cintura, era algo que não interessava para uma mulher que nem sua amiga era. Aliás, tudo o que Juliana mais desejava era que Jonas desistisse do casamento e seguisse sozinho, acessível para suas investidas. Triste e vergonhoso era o fato dela não perceber que não seriam quilos a mais a destruir aquele relacionamento, maduro demais para isso. A fala de Juliana não passava de uma provocação com o objetivo de deixá-la insegura. Fracassou, segurança é algo que nunca lhe faltou.

            - Nossa, Juliana! Veja minha cara de preocupação! É tanta que eu resolvi pedir um sorvete de sobremesa.
            - Desculpe, eu não quis ofender.
            - Não conseguiria mesmo. – Emily respondeu com um sorriso tão falso quanto o da outra. – Agora, se me permite, vou terminar meu lanche. Depois tenho hora no salão de beleza.
            - Vai hidratar os cabelos?
            - Não! Eles já estão lindos. Vou fazer as unhas. – Ela estendeu a mão mostrando o esmalte vermelho. – Sabe como é...a gente nunca sabe quando vai precisar de garras afiadas.
            - É claro...até uma próxima, Emily. – Ela disse já saindo.
            - Espere Juliana! – Quando a ruiva se virou ela tornou a falar. – Não se preocupe tanto com o peso. Dos outros, principalmente. Comida engorda, é verdade. Mas veneno mata. E isso é bem mais grave.

            Depois desse embate, Emily ligou para Jonas. Fazer queixa da sócia insuportável do marido era algo impensável. Comentou apenas que haviam se encontrado no shopping, nada mais.

            - E o que você faz sozinha no shopping? Não exagere!
            - Não estou caminhando muito. Vim comer. Estava com desejo de hambúrguer. Você não se importa, não é?
            - Não. – Ele riu. A vida alimentar de Emily andava bem agitada ultimamente. – Coma uma batata frita por mim. Ligou porque estava com saudade?
            - Também. Atrapalhei alguma coisa?
            - Uma reunião chata. Obrigada! – Ele sorria no corredor da construtora. – Vai chegar cedo hoje? Meu filho não gosta de ficar sacolejando na sua barriga enquanto a mamãe cozinha. E Vida fica inquieta até você chegar.
            - Mentira sua! Meus filhos não são mal comportados. O pai deles é o ansioso da família.
            - Culpado! Eu confesso. Mas não gosto de ficar sem você em casa. Chegue cedo, por favor.
            - Chegarei. Pensei em chamarmos Lorenzo, Jéssica e Clara para jantar lá em casa. O que acha?
            - Só se pedirmos algo. Você não vai cozinhar. – Disso ele não abriria mão.
            - É sexta-feira, eu pensei em uma seleção de queijos e vinhos. Aqueles pães temperados que você faz...ai...já estou salivando. E acabei de lanchar! Faz por favor!
            - Está bem...meu filho não nega a descendência italiana. Gosta de uma mesa farta. Fale com Jéssica, eu ligo para Lorenzo e preparo tudo. Quero a minha esposa às 19hs em casa. Está combinado?
            - Sim. Mas só porque você é o marido mais amado do mundo. Te amo!
            - Também te amo. Até mais tarde, Emily. Agora eu vou voltar para a reunião chata.




            Quando Emily chegou em casa o relógio da sala deletava seus 35 minutos de atraso. Não tinha importância. Jonas já contava com isso e Lorenzo e Jéssica chegariam só depois das 8hs. Se Emily tivesse algo para preparar, é provável que tivesse de correr, ao entrar no apartamento encontrou a mesa posta, cheia de delícias que atiçaram seu paladar. Uma seleção de queijos e salames, pães e outras delícias. Na cozinha Jonas batia à mão uma basta que ela não sabia a receita, mas tinha um cheiro delicioso.

            - Está sentindo o alecrim?
            - Sim. E estou sentindo que me casei com o homem certo. – Emily o beijou. – Que mesa linda! Onde conseguiu esses pães maravilhosos! E esses queijos? No supermercado não tem aquele queijo ali! Isso é um pão recheado?
            - Sim, é. Já que você queria uma janta especial, resolvi passar numa loja especial! É maravilhoso! Trouxe um suco para você e Clara. Essa pasta é a base de berinjela. Aposto que você nunca sentiu esse sabor! A receita é da vovó.
            - Meu Deus! Além de tudo ele cozinha assim! Eu tirei o bilhete premiado! – Ela correu para ir se arrumar. – Mas você não tinha compromissos na construtora? Como teve tempo para isso tudo?
            - Passei minha agenda para Juliana. – Ele respondeu simplesmente.
            - Que ótimo! Ela não deve ter nada para fazer numa sexta-feira mesmo! – Emily não poderia estar mais feliz.

           
            Quando os amigos chegaram, Emily estava sentada no sofá da sala, oferecendo a mamadeira de Vida. Não que a menina, prestes a completar cinco meses estivesse interessada em mamar e dormir. Clara quis pegá-la, mas logo distraiu-se com o smartphone de Lorenzo.

            - Ela vai deixar seu telefone cair daqui a pouco. – Jéssica avisou ao namorado.
            - Não será um grande desastre. – Ele respondeu. – Deixe-a brincar.



            Enquanto Lorenzo e Jonas beliscavam os queijos, Jéssica ajudou Emily a fazer Vida dormir. A menininha parecia mais interessada em participar da festa, mas rendeu-se ao sono e foi para o seu berço descansar. Lorenzo ainda se espantava com a forma como o irmão tratava Emily. Não que ele estranhasse ou pensasse que agiria diferente, ao contrário. Só que aquela atitude era nova para Jonas.

            - Só assim para Emily aproveitar um jantar. Qualquer outro cardápio ela estaria cozinhando. – Jonas explicou enquanto cortava alguns queijos.
            - Você fala como se fosse um grande castigo. Emily parece adorar.
            - Adora, mas tem indicação médica para repousar. E já cozinha no restaurante. Posso mimá-la em casa, não posso?
            - Pode. E deve. Eu estaria fazendo o mesmo se Jéssica estivesse grávida.
            - O que, a julgar pela forma como vocês se olham, é questão de tempo. Estranho é você ainda não tê-la pedido oficialmente em casamento.
            - Pedidos especiais merecem momentos especiais. Chegará essa hora. E agora que ela já relaxou novamente eu quero levá-la para passear. Aliás, você e Emily ficarão aí final de semana que vem?
            - Sim, acho que sim. Você vai para Bento Gonçalves?
            - Não, tenho um jantar de negócios em Curitiba na sexta à noite e pensei em ficar no final se semana...se Jéssica fosse junto. Eu sei que vocês têm um bebê e outro a caminho, mas agradeceria se ...
            - Vai ser um prazer ficar com Clara. Sossegue Lorenzo, sua enteada é um amor. Nós a adoramos.
            - Minha filha, Jonas. Clara é minha filha. – Lorenzo corrigiu delicadamente. – Agora que Bruno é passado, vou adotá-la legalmente. Clara é tão minha filha quanto qualquer bebê que um dia Jéssica for me dar.

            As mulheres voltaram, Clara seguiu vendo seus desenhos no telefone do pai e a conversa ficou só entre os adultos, mas o assunto ainda eram as crianças. Jonas acariciava a barriga de Emily sem perceber e sempre que a esposa se afastava para pegar algo, ele a seguia com o olhar. Não passou despercebido de Jéssica a forma como Lorenzo observava aquelas demonstrações de afeto com o bebê que estava por chegar. Ela só não soube dizer se era estranhamento ou tristeza o sentimento que via nos olhos de Lorenzo.
            Emily tinha muita curiosidade sobre a maternidade e Jéssica, apesar da idade, acumulava experiência. Por isso Emily lhe fazia perguntas da gestação. Só que muitas vezes Jéssica não sabia respondê-las. A experiência da qual se lembrava não era em quase nada parecida com a de Emily. E ela não gostava de se lembrar. Nesses momentos Jéssica perguntava-se como sua gravidez teria sido se tivesse um homem lhe oferecendo aquele tipo de atenção.

            - Pela fome que venho sentindo, não serei dessas grávidas ‘slim’, muito menos ‘fitness’. – Ela disse fazendo carinho na barriguinha que já se formava. – Estou mais para o tradicional. Grávida redonda, daquelas enormes. Você engordou muito, Jéssica? Teve enjoos? Eu enjoo pela manhã, mas parece que depois eu como em dobro no período da tarde!



            - Eu... bom... – Jéssica ficou constrangida. Emily não sabia de toda a sua vida, por isso perguntava. – Eu tive muito enjôo sim. Só no segundo e terceiro mês, mas era horrível. Eu emagreci muito naquele período. Depois eu ganhei algum peso. Mas foi mais recuperar o que havia perdido.
            - Clara nasceu saudável, é o que conta. – Jonas comentou, percebendo a expressão triste nos olhos do irmão. A vida de Jéssica como mãe solteira incomodava Lorenzo e Jonas entendia as razões.
            - O parto foi normal? – Emily perguntou. – Minha médica disse que terei de fazer cesárea.
            - Sim, normal.
            - Você não tinha medo da dor? – Empolgada e ansiosa, Emily não percebia o desconforto que o assunto gerava.
            - Tinha...eu tinha medo de tudo. Mas no SUS dificilmente é feita cesárea desnecessária, só por desejo da mãe. E eu não tive nenhuma dificuldade. Eu tinha uma consulta de rotina, a última do pré-natal, e a doutora constatou que eu estava com a barriga baixa, Clara estava encaixada para nascer e eu estava começando a ter dilatação.
            - Mas não sentia as dores? – Emily surpreendeu-se.
            - Não. Eu já estava em trabalho de parto e não sabia. Aí essa médica se preocupou por eu não ter um acompanhante e me deixou em observação na emergência. Disse que eu podia ter o bebê a qualquer momento. Por volta das 13hs horas eu senti as primeiras dores e às 15hs Clara já estava em meus braços. Não tive nenhuma complicação. Na manhã seguinte eu tive alta.
            - É uma história e tanto. – Jonas foi o único a comentar. Emily estava surpresa. Lorenzo apertando as mãos para conter a raiva.
            - Para falar a verdade, é um tempo que eu não gosto de lembrar. Parece horrível dizer em vós alta, mas...a verdade...é que...é que enquanto eu gerei Clara em nenhum momento fui realmente feliz. É óbvio que isso nada tem a ver com a gravidez do filho de vocês, é diferente. – Ela estava emocionada. Lembrou de momentos difíceis, dolorosos. Se não saísse dali e daquele assunto começaria a chorar. – Desculpem...eu vou ao banheiro.

            Quando Jéssica se levantou um profundo silêncio pairou sobre a mesa. Lorenzo notou que enquanto falava Jéssica por vezes olhou para Clara, adormecida no sofá àquela altura da noite. Ela se envergonhava daquilo, de não ter dado à filha carinho e atenção desde aquele primeiro momento. Estava muito ocupada lutando para sobreviver. Ela se envergonhava de não ter boas lembranças da gravidez.

            - Desculpe, Lorenzo. Eu não quis levantar um assunto ruim. Não imaginei que esse era um período ruim da vida dela. – Emily desculpou-se.
            - Tudo bem, Emily. Você não tinha como saber. Deveria ser uma parte linda da vida de qualquer mulher. Jéssica não teve essa segurança que Jonas lhe dá. Aquele rapaz, você pode ver o tipo de gente, não cuidou dela.
            - Sim...eu...me desculpe. Eu vou me conter daqui pra frente. Não quis magoá-la nem irritá-lo.
            - Minha irritação não é com você, Emily. É com ele! Jéssica deixou o hospital com 19 anos, sozinha e sem saber o que fazer com um bebê recém-nascido. Talvez isso explique ela não demonstrar vontade alguma de ser mãe novamente.     

            Logo Lorenzo levou Clara e Jéssica para o apartamento, a pequena saiu em seus braços. A tristeza de Jéssica refletia em Lorenzo na forma de raiva. Durante o trajeto de 25 minutos eles não falaram. Jéssica fechou os olhos e tentou pensar em outras coisas, uma tarefa impossível. Lorenzo disse que ele mesmo colocaria Clara na cama.
            Ele demorou para entrar no quarto do casal e quando o fez esperava encontrar Jéssica já de pijama e debaixo das cobertas naquela noite fria. Talvez até mesmo adormecida. Mas não. Ela estava de calcinha e sutiã, com a blusa pendendo por sobre os ombros como se tivesse desistido de tirá-la. Sentada no colchão Jéssica parecia uma criança perdida em sonhos.



            - Jéssica...Jéssica... – Lorenzo chamou ao entrar no quarto. – Amor. O que passa por essa cabeça?
            - Nada. Eu...
            - Shiiii – Ele interrompeu-a com um beijo. – Não mente pra mim. Primeiro porque não gosto. Segundo porque não precisa. E terceiro porque não consegue me enganar. Eu vejo quando a minha menina não está bem.
           
            Jéssica sorriu. Foi bom ouvi-lo chamá-la de ‘minha menina’. Era assim que se sentia, uma menina apaixonada cujo corpo desmanchava-se nas mãos do homem que amava.

            - Desculpa. Não queria mentir. Fiquei pensando na minha gravidez, nos meus pais, na viajem pra São Paulo e nos primeiros dias de Clara.
            - E no pai de Clara? – Lorenzo perguntou.

            Por mais seguro e maduro que fosse, ou, talvez, justamente por essa maturidade, algumas dúvidas surgiam. Algo fez Jéssica se interessar por Bruno um dia. Ela o amou, mesmo que por pouco tempo. E é possível que ela tivesse algumas boas lembranças com ele. Mesmo que apenas sexuais. Por mais que tenha negado para o garoto, uma de suas preocupações tinha atingido o alvo. “Até quando ela vai se satisfazer com um velho que nem você? Tá na cara que você não dá conta do fogo daquela mulher toda gostosinha”. Se na vida ser mais velho lhe ajudava a compreendê-la e agir com serenidade, na cama era motivo de insegurança.

            - Até hoje cedo você dizia ser o pai dela? Mudou de ideia? – Jéssica tinha as próprias inseguranças para lidar.
            - Não, nunca vou mudar. Mas...as vezes me pergunto como será no futuro. Você é tão jovem Jéssica, tão linda...é uma flor rara. Pode encontrar alguém da sua idade. Ver Bruno me fez perceber a nosso diferença.
            - Você é muito melhor que ele. Essa é a diferença.
            - E muito mais velho. – Lorenzo não gostava de externar o que ia falar. Mas era necessário. – Vocês se amavam. Desejavam, pelo menos. Ele te satisfazia. E eu? Por quanto tempo conseguirei isso?
            - Você bebeu demais, Lorenzo. Só pode. Não tem chance de Bruno voltar para a minha vida, não quero.
            - Mas na cama...
            - Mas na cama eu fui saber o que é ser amada de verdade nos seus braços! O que é se sentir completa por estar nos braços de alguém. Perder o fôlego e ainda assim querer mais, precisar de mais. Eu sinto a falta das suas mãos em mim, do seu cheiro e até do seu olhar. Não é só paixão. Tem mais do que tesão. Tem algo que faz eu me sentir linda, a mulher mais maravilhosa, a mais amada.
            - Jéssica...
            - O que te deu hoje? Porque duvida do que sinto? Eu te amo. E sou feliz com você. Na cama e fora dela. E não imagino mais a minha vida sem você ao meu lado. Se me conhece tão bem, sabe que eu não poderia mais sincera do que estou sendo. – Ela se calou e ficou observando-o. – Não vai falar nada?

            Não. Não tinha muito o que falar depois de uma declaração daquela intensidade. Ainda mais vindo de alguém de falas delicadas e gestos modestos. Nesses meses juntos, era a primeira vez que Jéssica gritava seu amor. Gritos que calaram fundo no peito de Lorenzo. Ergueu-a nos braços e terminou o trabalho que ela deixou pela metade. A blusa foi para o chão rapidamente. O sutiã seguiu o mesmo caminho rápido e certeiro. A calcinha não. Ela foi retirada lentamente, guiada por beijos lentos que iam incendiando-a aos poucos. Eles começaram no ventre plano e macio e seguiram centímetro por centímetro de suas coxas. Até chegar aos pés, a calcinha ser descartada e ele começar o caminho de volta, no mesmo ritmo deliciosamente provocante.

            - Eu não duvido do que você sente. – Disse ao alcançar-lhe a face novamente. – Porque eu também sinto tudo isso. Eu já não sei ficar sem você menina!



            - Não fica então. Eu sou sua. Cada dia mais sua. E se eu fico triste às vezes não tem nada a ver com você ou com desejar outra pessoa. São passagens tristes do passado. Você só trouxe felicidade e segurança pra mim.
            - Eu vou fazer você esquecer todas as passagens tristes. E colocar lembranças boas no lugar. Confia em mim.
            - Eu confio. – Ele já vinha fazendo isso desde o dia em que entrou em sua vida. – Me beija. Quero você, agora.






            Jéssica devolveu a carícia oferecida por ele. Para isso, deixou-o deitado de costas e acariciou seu peito. Passou mãos e lábios nos pelos que cobriam pele e musculatura do peito rijo. Era um corpo enrijecido por anos de cuidado e uma vida saudável. A pele trazia marcas da vida, sinais da passagem do tempo que o completavam. Sua barba é grossa e ela sentia arrepios ao arranhar-se nela. Lorenzo é lindo. Não lindo para a sua idade. Lindo, sem nenhum mas a acrescentar. E aos olhos e ao toque dela, a data de nascimento não fazia diferença alguma.

            - Eu te quero – Jéssica disse beijando-o na linha da garganta e do maxilar, sobre a barba serrada, fazendo-o suspirar com o carinho.



            As mãos de Lorenzo que estavam provocando-lhe os seios, agora desceram acariciando a curva da cintura e alcançaram o quadril. Um delas ficou ali oferecendo segurança, a outra passou a lhe acariciar intimamente. Com os dedos foi excitando-a, garantindo que estivesse mais do que pronta para recebê-lo. Ela deveria precisar daquilo, sentir como se tê-lo dentro de si garantisse sua sobrevivência. E se a unidade de seu corpo não lhe mandasse mensagem suficiente, o grito de Jéssica resolveu.

            - Agora! Eu quero mais! Quero tudo de você em mim, dentro de mim.
            - Coloca o preservativo em mim? Tem na minha carteira. – Também já não aguentava mais esperar.
            - Não precisa. Estou tomando pílula há tempo o suficiente. É seguro.

            Era seguro o bastante para ela não engravidar de um filho seu. Foi essa a mensagem de Jéssica. A qual Lorenzo ouviu, compreendeu e aceitou. Mas agora já reconhecia que não gostava daquela decisão. Descartou o pensamento antes que ele estragasse sua noite de paixão. Aquele assunto teria de ficar para depois. Mudou de posição e encaixou-se em Jéssica, sentindo as vantagens de não ter nenhuma barreira entre eles. Ele sentia o calor e a maciez do corpo dela abraçá-lo, recebê-lo da forma mais íntima e calorosa, até absorver a última gota de sua energia e prazer.

            - Você é minha Jéssica. – Lorenzo lhe disse quando recuperou o fôlego e sentiu-a mudar de posição, aconchegando-se em seus braços.

            Dessa vez não precisou se preocupar em desprezar a camisinha antes fazê-la se deitar em seu peito. Reconhecia que era bom não precisar de preservativos. Só também gostaria que ela optasse por não tomar pílula. Ainda assim, jamais iria pressioná-la.



            - Sem camisinha daqui pra frente então? – Foi ele quem puxou o assunto. – A pílula é 100% segura?
            - Uns 99,99%. Ou algo assim, dizem. – Jéssica olhava para ele e tentava ver tranquilidade em não correr riscos. Não via. - Você tem algo a me dizer sobre isso, Lorenzo? Você não gostou de eu tomar pílula?
            - Não é isso. Eu só...
            - Eu vi a forma como você olhava para Jonas acariciando o ventre de Emily. Você quer um filho. E se decepcionou quando soube que ele não virá, ainda.
            - Não, não...eu entendo que você não queira filhos depois de tudo o que passou. Entendo mesmo. Você é uma menina ainda. Tem que construir sua carreira, tem que decidir se quer seguir trabalhando em restaurante ou fazer uma faculdade. Você tem o direito de construir muitas coisas antes de ter outro bebê.
            - E se eu não quiser nada disso, Lorenzo?
            - Não quiser o que? – Isso surpreendeu Lorenzo.
            - Eu não sou como Emily. Não quero ser uma grande empresária ou uma executiva de sucesso. Não preciso. Me satisfaço tendo o bastante para viver. Só isso. Quero trabalhar sim, mas apenas para sustentar a mim e a minha filha, não depender de você. No resto do meu tempo, prefiro curtir você e Clara. Eu não preciso ser rica nem poderosa, preciso ser feliz.
            - Eu estou adorando ouvir isso. E confesso que por um momento me imaginei no lugar de Jonas, vendo o seu ventre estufar com o meu herdeiro. Mas sei esperar. E amo Clara. Ela é a minha filha.
            - Me dê um tempinho para estabilizar a minha vida.
            - Não tenho tanto tempo quanto você, Jéssica. Mas vamos combinar assim. Em cinco anos, no máximo, você gerará o meu filho. E quando esse dia chegar eu prometo que você será a mulher mais bem cuidada do universo. Eu vou gritar para todo mundo ouvir que você gera o meu filho. Eu te amo.
            - Também te amo, Lorenzo. Muito. – Lá no fundo Jéssica pensava que cinco anos era um prazo longo demais. Antes disso ela teria a semente de Lorenzo crescendo dentro de si.


6 comentários:

  1. Que lindo, meninas!! Adorei ler o capítulo no blog!! As fotos dão a ambientação das cenas e a gente visualiza melhor...
    Casais mais perfeitos, gente!! Justamente por serem tão reais!
    Torcendo pelo bebê do Jonas e da Emy, e por um irmãozinho (a) pra Clara!! Rsrs

    Bjs Vivinha

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    1. Amooooo caps ilustrados. "Vejo" os personagens. Ouço-os. Enfim, sou doida kkkk bjokas

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  2. :D um comentário masculino! Isso é coisa rara. Fico feliz que esteja curtindo. abraços

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