segunda-feira, 15 de junho de 2015

Diaba Ruiva - Passado Revelado: Capítulo 17 - Parte I


            Rachel tentava não ser dominada pelos sentimentos, mas era difícil. Como manter o foco de seus pensamentos nos tiros que ouvia vindos do corredor quando acabara de ver seu pai. Era ele naquelas imagens. John com a aparência muito mais desgastada de quanto Harabo o ‘matou’. Ele tinha sobrevivido. Nada mais faria sentido. E, se isso for verdade, ela havia passado anos da sua vida sofrendo por ele em vão e seguindo na busca do que ele lhe pediu, em respeito ao desejo de um morto, que na verdade que estava bem vivo.

            - Rachel! Estamos em serviço! O seu diamante acaba de se tornar um caso do FBI. – Disse Peter sacando sua arma e abrindo a porta.

            Confusa, praticamente em choque, e empurrada por Peter, Rachel saiu da sala e misturaram-se a outras pessoas que deixaram seus afazeres assustadas com o barulho. Enquanto agia, Peter tentava imaginar o que ocorria ali. Para ele, quem estava naquela sala não esperava pela chegada do FBI. Deve ter sido alertado por alguém da portaria e conseguiu escapar antes deles entrarem. Saiu pela escada de emergência da janela, entrou em outra sala e saiu disparando pelo corredor. E naquele antigo prédio, pouco poderiam contar com as câmeras de segurança.

            - Temos de pegá-lo. – Rachel afirmou, saindo de seu torpor e caçando o atirador que poderia ser seu pai.

            Peter pediu reforços, mas era obvio que eles não chegariam a tempo. Viriam apenas fazer o rescaldo. Caberia a ele e Rachel garantir que civis não se ferissem e capturar o fugitivo. Tarefa difícil. Ele podia ter entrado em qualquer sala. Ou já estar descendo pelas escadas de serviço. Eles tinham de armar uma estratégia.



            - Vamos pela escada. – Sua única chance era arriscar. – Ele sabia que os tiros iriam nos avisar de sua presença aqui. E contava com a confusão das pessoas para nos atrasarem. Vamos descer.

            De arma em punho, desceram as escadas e por dois momentos conseguiram ouvir os passos de mais alguém seguindo apressadamente em direção ao térreo. Só podia ser ele. Ou eles. Nada garantiria de ser apenas um homem. A escada levava até um estreito corredor com a porta de saída. Era preciso chave. E agora ela estava aberta para a rua.

            - Ele teve ajuda. Sabia que entrava e saía a hora em que desejava. Só não contava com a nossa presença aqui. – Rachel disse já corria para a rua.
            - Cuidado! – Peter também correu.
            E ele estava correto em pedir por cuidado. Ambos foram recebidos a tiros. E tudo o que puderam ver foi o carro esportivo de cor preta saindo em disparada enquanto, do banco traseiro, um homem, um homem mascarado atirava contra eles. Peter sentiu o ombro arder enquanto Rachel percebeu quando a bala raspou em seu quadril. Ele não quis matar, ou teria conseguido. Era apenas um aviso. E quando a equipe de apoio chegou serviu apenas para acompanhá-los à emergência médica e acalmar os ânimos.



            Não conseguiram tranquilizar Elizabeth. Ela chorava e tremia, sem aceitar que ninguém pudesse lhe dar informações de seu marido. Foi Neal, também nervoso, a levá-la até o hospital. Já na emergência ela ainda chorava. E tinha razão para isso. Ela há pouco lutava para manter a filha, Sofia, junto da família. Agora via Peter levar um tiro. Neal poderia tê-la acalmado, caso também não estivesse lutando contra o próprio nervosismo. Mas ele estava bem mais controlado. Sentia que sua mulher estava viva. Não seria uma bala a afastá-los.
            Ele tinha razão. Enquanto a médica aplicava o curativo em seu quadril, Rachel tentava fazer seu telefone funcionar, mas ele estava sem sinal. Precisava falar com Neal e o médico responsável pelo atendimento de emergência não entendeu seu nervosismo.

            - Seu marido está na recepção e poderá vê-lo assim que estiver recuperada. – Ele disse.
            - Quem precisará de recuperação será você se não me deixar vê-lo agora! – Rachel respondeu com um tom de voz bem menos amigável.

            Quando finalmente Peter e Rachel foram liberados e recebidos por Ell e Neal, os ferimentos pouco importantes não ganharam muita atenção. Os dois machucados estavam mais interessados em pegar o atirador. Isso não impediu Elizabeth e Neal de respirarem aliviados. Às vezes, amar quem estava em perigo era pior do que estar na pele dele.



            - Tudo bem? – Neal perguntou assim que teve a esposa nos braços.
            - Com meu quadril sim. Mas minha cabeça está confusa. É bom ter você aqui.
            Não houve tempo de descanso. Peter convocou a equipe que, pelo adiantado da hora, foi reunida em sua sala de estar. Assim, o segundo piso da casa parecia uma creche, cheia de crianças dormindo enquanto os pais trabalhavam.

            - Agora você vai me contar tudo, Rachel. Nós não levamos esses tiros em vão. – Peter ordenou e viu quando a ruiva e Neal trocaram um olhar de dúvida. – Nem pensem em tentar me enganar.
            - Eu já te contei sobre a busca do diamante. É só isso. – Rachel falou. – Uma pista me levou até aquele prédio. Só isso.
            - Não! Com vocês nunca é só isso. Tem sempre algo mais. Que história é essa do seu pai estar vivo?!!?!?
            - Eu não sei. Harabo o matou numa emboscada. Eu sempre acreditei nisso. Mas...é ele naquelas fotos. É o meu pai.
            - E porque vocês estão procurando essa pedra novamente? Já não arranjaram confusão o suficiente na vida? – Peter não conseguia entender como eles conseguiam se arriscar assim.
            - Ela é minha. Era da família de John...e ele sempre quis que eu a encontrasse.
            - É, mas parece que ele chegou antes na sua pista. E nos recebeu à bala.
            - Não! Meu pai nunca atiraria em mim. Jamais! – Rachel respondeu com lágrimas nos olhos. Ela não viu o olhar de dúvida trocado por Peter e Neal. Eles não tinham essa certeza.



            Eles tinham razão em desconfiar. Naquele momento John já havia retirado sua máscara e observava New York do alto. Sua filha, sua menina, sua Rachel nunca o decepcionava. Ela ia conseguir o diamante. E o traria de volta para as suas mãos. Por isso acompanhou seus passos durante todos esses anos. Ela desapareceu de seu radar por alguns períodos, mas sempre voltava. Rachel não tinha seu sangue, é verdade. Isso, porém, jamais a impediu de se parecer com ele. Tinha brio desde pequena. Coragem. Força. Foco. E dedicação. Tudo estava lá. Pode ver em seus olhos desde muito pequena. Por isso investiu nela. E não se arrependeu.
            Só não pode seguir com seus planos iniciais por culpa de Joseph Harabo. Aquele criminoso era uma antiga inimizade. Tentar caçá-lo foi um erro. Um engano de quando ainda acreditava na MI5 e na justiça dos homens. Pagou caro, quando sua cabeça já era outra. Quando sua filha já era uma adulta, lapidada pela sua criação e treinamento de alto nível, trabalhando ao seu lado na agência de inteligência, Harabo conseguiu pegá-lo. Armou-lhe uma emboscada e por muito pouco não o matou.

            - Há males que vem para o bem. – Foi assim que encarou o problema.

            Conseguiu escapar e logo descobriu que a morte podia ser um grande facilitador. Em especial quando se tinha uma filha para fazer todo o trabalho sujo. Por muitos anos Rachel seguiu seus planos perfeitamente. Ela chorou sua morte e logo depois ergueu-se para vingar-se de seu assino e realizar seu último desejo. No caminho ela se distraiu, é verdade. E passou a aplicar alguns golpes. Envolveu-se em problemas com a Agência, traiu-os e lucrou muito. Não a condenou.

            - Perfeita! – Ele vibrava acompanhando seus avanços à distância.

            Quando suas anotações pessoais trouxeram sua Rachel para NY, ele não teve dúvidas de que estavam perto, muito perto. Nesse ponto ela já era procurada pela polícia internacional e ele considerou arriscado. Mas nem ele esperava que ela fosse descoberta e presa. Só depois entendeu o que a fez se distrair. O amor. Sempre o amor. Sua filha acabou presa e ele decepcionado. Quando Rachel escapou da prisão, ele esperava logo descobrir onde estava e nenhum rastro apareceu. Então voltou sua atenção para uma antiga casa sua e as descobriu por lá. Mas só quando Rachel foi presa muitos meses depois ele entendeu o que a manteve escondida nos EUA. Ela teve um filho.

            - Laços assim atrasam pessoas como nós. – Ele não gostou nada daquilo.

            Quando ela tornou-se parte do FBI e afastou-se no plano inicial, dando sinais de que havia realmente esquecido do diamante, foi obrigado a deixar suas férias de lado e voltar à ativa. Só que precisava acompanhar a evolução das buscas de Rachel e teve de se aproximar. Todas as suas anotações ficaram com Rachel e Nicole e, depois, a filha descobriu novas pistas. Sem ela, ficaria mais difícil encontrar. Dos três endereços possíveis, um foi revirado e abandonado por Rachel antes dela ser presa. Restaram dois. Um prédio e uma estação de trem. Mas a estação era muito improvável e surgiu uma nova pista para aquele prédio. Ao investigar a sala, descobriu uma importante informação. Nohan Graf comprou a sala. Não era em vão que aquele inglês havia comprado o imóvel. Só podia ser ali.



            Na casa dos Burke, Rachel já havia narrado a mesma história três vezes. Não omitiu nada. E mesmo assim havia um imenso espaço em branco naquela história. Não havia razão para seu pai ter forjado a morte e estar naquele endereço. Agora ela estava sozinha, na varanda, enquanto os outros conversavam e tentavam entender tudo aquilo.

            - Neal, vocês não desconfiaram de nada nos últimos tempos?
            - Como assim?
            - Ora...se John seguia as mesmas pistas da filha, ele deveria estar cercando-a. Talvez há muito tempo. Impossível nada ter sido percebido. Não com o Mozz por perto! Ele é muito desconfiado!
            - Sim! O Mozz! É isso! – Neal gritou!
            - Não, nós não vamos envolve-lo na investigação, Neal. É arriscado. – Peter disse.
            - Ele já está envolvido.
            - Como assim?
            - Nohan e Melissa. Desconfiamos deles e pedimos para Mozz investigar. Vou chamar ele. Precisamos de tudo o que ele descobriu.
            - Desconfia que Nohan e Melissa são aliados de John para agir contra Rachel? – Aquilo tudo era muito confuso.
            - Por enquanto eu não consigo desconfiar de nada nem de ninguém, Peter. Mas sei que há algum mistério envolvendo esses dois e Mozz está trabalhando nisso. O fato é que eles têm alguma ligação com o passado de Rachel e vão ter de se explicar.
            - Você desconfia de algo, Neal. Fale! – Diana afirmou.
            - Eu acho que Nohan e Melissa não têm nada a ver com John, mas sim com os pais biológicos de Rachel.
            - O que? – Todos perguntaram juntos.



            Mas Neal não tinha a resposta. Ninguém tinha. Naquele momento, Rachel chorava tentando entender o que se passava. Eram interrogações demais. E o desafio dela, naquele instante, era colocar as emoções no lugar e pensar como agente. Fazer exatamente o que sabia, o que seu pai lhe ensinou desde muito menina.

            - Vamos lá, chega de choro. Enquanto Mozz não chega, Rachel, eu preciso que você nos conte tudo, desde a sua infância. – Peter orientou-a. – O que você sabe da forma como foi parar na casa de Nicole e John?
            - Está bem. Foram muitas versões. A primeira, que eu ouvia na infância, totalmente mentirosa e veio por terra no dia em que George nasceu. Depois Nicole contou o que sabia. O Dr. Richard confirmou. E até Harabo, antes de morrer, falou do meu passado.
            - Nos conte essa versão então. A que você acredita. – Orientou Peter. Vamos confirmar tudo o que for possível.
            - Eu era um bebê de poucos meses. – Rachel começou a falar. – Segundo Harabo eu fui vendida e estava com meus compradores dentro de um carro. Mas minha mãe disse que nunca soube de nada sobre venda de bebês. Seja como for, não era a minha família quem estava no carro comigo. Eram estranhos. Ouve um acidente, na Suíça. Eu estava no carro e fui atirada bruscamente pela janela. John e Nicole estavam perto e ficaram comigo.
            - Você não acha que eles passarem perto desse acidente é coincidência demais? – Diana perguntou.
            - Sim, mas minha mãe diz isso. E eu acredito nela. – Rachel respondeu.
            - E desde sempre John a treinou e falou no diamante? – Peter seguia quase como num depoimento oficial.
            - Sim. Minhas primeiras lembranças com John são num campo onde íamos para correr juntos. Ele dizia que um corpo precisava de resistência. Que eu precisava me esforçar mais. Sempre mais. Não importava o quão cansada ou machuca eu estivesse. Tinha que me erguer mais rápido. Para não perder. Sempre vencer para lhe dar orgulho.
            - E o diamante?
            - Um dia ele me contou que era uma pedra de antepassados. E que nós, juntos, a buscaríamos. Falou que era um projeto de pai e filha. Desde aquele dia nós falamos muito do diamante. E ele sempre deu detalhes. Agora eu não sei mais de nada, não sei no que acreditar.
            - Harabo pode ter ajudado seu pai a forjar a morte? – Peter tornou a questioná-la.
            - Não! Eles se adiavam! Harabo morreu achando que havia assassinado meu pai. Confirmou a mim que armou um atentado.
            - Mas você nunca viu o corpo de seu pai? Não houve enterro? Velório?
            - Não. – Havia amargura na voz de Rachel. – Meu pai foi chamado numa casa, disseram haver uma denúncia de tráfico. Ele foi checar. Quando chegou, uma bomba explodiu. O fogo destruiu tudo. Havia um corpo carbonizado lá. Era o meu pai. Não tinha porque não ser. O distintivo dele estava no cadáver e a medalha de hora que sempre usava também. Nós choramos a morte dele.
            - E ele está vivo! – Peter gritou. Não tinha nenhuma dúvida disso.

 Vivo e em ação. Naquele momento, com todos reunidos na casa dos Burke, John aproveitava para checar outra residência, muito próxima dali. Ele revirava a casa de Rachel e Neal a procura do que sua filha tinha descoberto. Não podia mais contar com ela. Agora ela estava próxima de descobrir tudo e não mais serviria para o trabalho. Uma pena. Foi uma ótima aliada. Infelizmente, não estava encontrando nada além de brinquedos e bugigangas. Rachel tinha seus segredos muito bem escondidos.

- Eu te ensinei bem demais, filhinha. – Disse enquanto procurava.

Quando Mozzie chegou, o clima estava muito pesado. Poucas vezes viu a equipe reunida daquela forma. Antes de falar, exigiu saber de tudo. E empalideceu ao entender o que se passava. Rachel podia achar que ele tinha dado pouca atenção aos seus pedidos recentes. Talvez por estar envolvidos em outros problemas. Mas não era isso. Ele pesquisou tudo o que ela pediu. E tinha suas respostas. Mas eram informações perigosas. E as quais ele não entendia completamente. Por isso procurou andar lentamente e desejou cavar mais antes de dividir o que descobriu.



Agora, com as novas informações trazidas por Rachel, tudo ficou claro. E ele entendeu o quão rapidamente tudo poderia mudar. Não estavam mais falando de uma pedra qualquer, nem de um crime qualquer, muito menos de uma criança desaparecida. Rachel não sabia. Mas ela estava prestes a transformar-se num escândalo mundial.

- Você descobriu alguma coisa! Fale, Mozz! – Rachel gritou. – Fale de uma vez!
- Não é sobre John.
- É sobre o que então?
- Neal me pediu pra investigar Melissa e a família dela. É...há algo muito interessante sobre a história do Primeiro Ministro inglês e sua atual esposa.
- O que? Fale logo! – Ninguém estava mais ansioso que Rachel.
- Em 1987 quando David Williams ainda não tinha o mesmo poder, vivia um caso fora do casamento com a mulher que hoje é sua esposa. Ele e Brígida mantinham o relacionamento extra conjugal escondido da mídia e ela engravidou. – Quando todos o olhavam estranhando a história que nada parecia explicar. – Eram gêmeas. Duas meninas. Uma nós sabemos quem é: Melissa. A outra desapareceu. Foi roubada.

Rachel não disse nada. Estava sem voz. Sem ação. Neal expressou seu sentimento.

- Impossível! O cara é um político importante! Isso teria ficado conhecido da mídia. É o Primeiro Ministro Inglês!
- Por isso mesmo. – Mozz argumentou. – Teve poder para abafar o caso. Mas eu tive acesso ao boletim policial. Aparentemente, ele estava sentindo-se mal por não ter assumido as filhas. Tinha acabado de ficar viúvo e casar tão cedo novamente seria ruim para sua carreira. Então, para aliviar a consciência, ele deu a cada uma das bebês um diamante idêntico. Com a orientação que esse deveria estar sempre junto da criança. Quem levou a menina, queria a pedra.
- Você não pode achar que eu...sou filha...não... John não me roubou. Não. - Rachel não queria confirmar aquilo. Era mais crime, mais dor na sua história.
- Tem mais. Espere eu terminar. – Mozz seguiu falando. – Eu não disse que ele te roubou. Mesmo que tenha sido coincidência, depois ele soube de tudo e ficou calado. John descobriu que tinha nas mãos um bebê muito valioso. Mas não tinha a pedra. Ela nunca apareceu.
- Faz sentido! – Peter havia juntado os pontos. – Ele ficou com Rachel e queria a pedra. Ficou obsessivo por isso. Mas Melissa e Nohan não vieram nos ajudar por nada. Se tudo isso for verdade, Rachel, seu pai verdadeiro sabe muito bem onde você está.

Para Rachel nada mais fazia sentido. Mas ela ia se recompor e esclarecer tudo. Colocaria contra a parede todos os envolvidos. Incluindo sua suposta irmã, John e o Primeiro Ministro Inglês.

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