sábado, 14 de fevereiro de 2015

Diaba Ruiva: Passado Revelado - Capítulo 10


Pronta para ir embora do hospital com Helen nos braços, Rachel ainda recebia algumas visitas. Algumas esperadas e gratas, uma completamente surpreendente. A maternidade do hospital esteve movimentada.

- Como seu advogado, Rachel, devo informá-la de que a juíza Clare Parker está aí na porta e deseja conversar com você. Ela solicitou esse encontro antes de lhe dar o parecer.
- O que sabemos dela? – Rachel perguntou. Informação era sempre uma vantagem.
- Pouco. É honesta, casada e mãe de três filhos. E tem quase trinta anos de carreira. Não será fácil enganá-la e convencê-la de que está regenerada.
- Mas agora? Aqui? – Neal surpreendeu-se.
- Sim.
- Vocês dois saiam. – Rachel orientou-os depois de beijar levemente os lábios do marido. – Deixem eu me arrumar primeiro. – Preparem a mala de Helen. No que depender de mim, Clare deixará esse hospital exaltando minha recuperação.

Enquanto se arrumava, Rachel fazia uma lista mental de coisas a fazer e esconder. Não podia perder o foco em seus objetivos. Ela e Neal arriscaram sua paz para retornar ao EUA. Ela passou o fim da sua gravidez encarcerada, sem ter Neal e George. Agora era sua chance. Precisava lançar mão de todo deu poder de convencimento para, no final, alcançar seus objetivos. E eles eram claros: livrar-se das algemas, descobrir os segredos do próprio passado, ajudar Neal a encontrar a própria família e, finalmente, por as mãos em seu diamante. É claro que nada disso estaria na versão para Clare Parker.
Quando entrou, Parker encontrou uma mulher propositalmente pálida. Para que passar maquiagem quando fragilidade era exatamente do que precisava transparecer? Seus olhos muito azuis eram destacados pelos cabelos vermelhos e brilhantes. Por fim, o sorriso doce coroava a encenação.



- Bom dia, excelentíssima. É um prazer conhecê-la.

Nas décadas de trabalho junto a bandidos Clare tinha conhecido muitos elementos ligados ao crime. Alguns eram apenas inconsequentes, outros, maus na essência. Mas poucos tinham as características perigosas e atraentes que agora observava em Rachel Turner. meses tinha sobre sua mesa aquela decisão. E não estava apenas protelando, como alguns poderiam pensar. Estivera estudando a mulher à sua frente. Ela tinha beleza, inteligência e controle emocional assustadores. Seu caso era estranho, surpreendente e até perturbador. A assassina cruel deveria passar a vida atrás das grades. A mãe dedicada merecia o convívio familiar. Seria simples se aquelas duas não fossem, na realidade, apenas uma. Clare provavelmente adiaria aquela decisão por mais algum tempo, mas foi impedida por uma pressão política. Ao que parecia, gente grande queria Rachel na rua. Então, antes de tomar sua decisão, veio conversar com a condenada.

- Vamos direto ao ponto, Rachel. – Ela era realmente sedutora e convincente. Precisava ver atrás daquela falsa verde e descobrir se havia alguma sinceridade em Rachel. – Eu sei que você quer deixar a cadeia. E sei que muitos a desejam livre. Minha dúvida é se você consegue viver em sociedade respeitando a vida e as gregas sociais. O que tem a me dizer?

Rachel não esperava uma abordagem tão direta e franca. Desejou conhecer melhor essa juíza e, principalmente, saber o quanto ela lhe conhecia. Seu instinto dizia para manter o alerta no máximo.

- Eu convivi muito bem em sociedade quando trabalhei no FBI, não sou um monstro. Foi Joseph Harabo quem acabou com tudo quando matou minha filha e me jogou no inferno novamente.
- Sim, você passou por uma situação traumática.
- Não. Eu fui ao inferno e uma parte de mim ficou lá no dia em que, com a ajuda de uma barra de ferro, Harabo arrancou Lis dos meus braços. – Àquela conversa tinha o objetivo de convencer Clare, mas o sentimento era verdadeiro. Nunca se esqueceria daquela dor. – Minha filha está enterrada aqui. Assim que eu sair da cadeia, se sair, é o túmulo dela o primeiro lugar aonde irei.
- Imagino que George e agora a pequena Helen amenizem toda essa dor.
- A senhora fez sua lição de casa. – Aquela mulher a conhecia em detalhes. – Sim, amenizam. Mas não apagam. Eu tenho marido e filhos maravilhosos, pelos quais eu vou viver, se sair daqui.
- Caso meu parecer seja favorável e você retorne ao FBI, tenho a sua palavra de que será fiel as leis desse país e não tentará usar seu trabalho em benefício próprio? Incluindo aí a busca pela pedra preciosa que a trouxe aqui pela primeira vez.
- Não tenha dúvidas, Excelência. – A mentira foi dita olho no olho. Sem titubear. – Eu amo minha família demais para arriscar perdê-los por algo tão dispensável quanto uma pedra preciosa. – Isso era verdade. Pelo diamante ela e Neal não arriscariam nada. Mas pelas informações de seus passados sim. E, em último caso, sempre podiam fugir. Importante era deixar a prisão.

Clare deixou a sala sem dizer sua decisão. Ainda iria pensar. Rachel Turner lhe mentiu descaradamente. A não ser por um momento, quando falou na família. Ela iria pensar em sua sentença. Seria aquela única faceta boa o bastante para lhe colocar na rua. Talvez, porque ela era a prova de que Rachel era capaz de amar, de se regenerar. E, por tanto, merecia uma nova chance.

Depois da visita oficial, ainda um tanto nervosa com aquele interrogatório, Rachel contou para Mozz e Neal os detalhes de tudo e depois recebeu seus amigos. E mais alguém que não estava nessa categoria e, mesmo assim, era bem vinda. Era bom para distraí-la da reunião que decidia sua vida naquele momento, em algum tribunal do país.

- Como você se sente? – Diana perguntou.
- No meio de um furacão. Quero uma resposta logo, mas tenho medo da decepção. Meu pavor é alguém vir aqui, arrancá-la dos meus braços e me devolver ao presídio.
- Não vai acontecer. – Neal lhe garantiu.
- Não mesmo! – Ell afirmou. – Tenho certeza de que nesse momento Peter está lutando para ter você de volta na equipe. Ele pode até tentar negar, mas sente sua falta!

Henrique também apareceu por lá. Arrastando Sara, um tanto constrangida com aquela visita. Vestida, maquiada e penteada à perfeição, a agente de seguros parecia saída de uma revista de moda francesa. E a felicidade era visível em seu olhar.

- A prisão de Lorenzo Beltracci trouxe uma gorda comissão para a conta bancária dela. É essa a fonte desse brilho no olhar de Sara. – Henrique afirmou.

Havia um fundo de verdade naquilo. Mas não de todo. A cada dia ela estava mais feliz e mais apaixonada por Henrique. De pouquinho em pouquinho ele a tinha conquistado e deixá-lo parecia improvável. Neal Caffrey era passado em sua vida. E, por isso, ela agora conseguia conviver com Rachel.

- Ela é uma bonequinha, Rachel. Linda mesmo. Parabéns. – Sara  tinha os olhos brilhantes de felicidade.
- Quem sabe, um dia, a gente tem a nossa bonequinha. – Henrique lhe provocou.
- Um dia. Um dia bem distante.

Horas se passaram. Um tempo difícil e cheio de inseguranças para aquela família singular. Estavam felizes. Mas os guardas na porta os lembravam que tudo podia se esvair em breve.



Seu estado de espírito não melhorou quanto um desconhecido entrou após uma delicada batida na porta. A expressão de Neal a fez adivinhar o nome do visitante.

- O senhor deve ser Nohan. É um prazer conhecê-lo. – Sua voz era fria na medida certa.
- O prazer é todo meu, Rachel. – De forma galante e provocadora ele se aproximou e tomou-lhe a mão, depositando um elegante beijo. – Finalmente poder conhecê-la me agrada muito. Parabéns pela linda criança em seus braços. Se herdar da mãe a beleza e a coragem dignas de uma rainha, terá um futuro brilhante.

Ele não economizava elogios e era exageradamente formal, além de provocador. Um alerta se acendeu em Rachel. Por mais lisonjeador que pudesse soar e um alento para quem ainda carregava muitos quilos extras, via claramente uma motivação às sombras e não era desejo. Precisa descobrir o que então levava aquele homem bonito e charmoso a cortejá-la na frente de Neal. E seu marido não estava gostando nada.


- Devo alertá-lo, Sr. Nohan, que o último homem a chamar minha esposa de rainha e beijar-lhe a mão acabou tentando matá-la. Fato que ela revidou quebrando-lhe o nariz a chutes. – Juan Rodrigues, no primeiro caso de Rachel no FBI. – Um final bem triste.
- A minha história com Rachel certamente terá um final melhor. – Sorrindo sem se incomodar com o comentário de Neal, Nohan estendeu uma caixa pra Rachel. Outro presente. – Chocolates, espero que sejam do seu gosto.

Algo em Rachel estava divertindo-se com a cena. Era bom ver os olhos de Neal fervendo de ódio. Tantas vezes ele divertiu-se com seu ciúme. Era bom vê-lo sofrer um pouco. Estava casada, fora do peso e com dois filhos, mas ainda atraía os homens. Isso era um deleite ao ego de qualquer mulher.

- Obrigada Nohan. Pelos chocolates e, também as joias. São presentes muito...generosos.
- São dignos de você. Os bombons são de licor.
- Irei me deliciar...apesar de que preciso de um dieta urgente para recuperar meu peso.
- Bobagem. Está belíssima.

Neal não se agüentava mais. Segurava-se para não criar problemas com o homem que servia se tabua de salvação, mas sua vontade era avançar sobre ele e esmurrá-lo até aprender a respeitar sua mulher. Diana, nada delicada, veio em socorro do amigo.

- Veio aqui apenas para se derreter por Rachel ou por algo de útil?
- Sim, agente...Diana Berrigan...é isso, certo?
- Sim.
- Ótimo. Eu vim por uma razão muito especial...quase tão importante quanto a chegada da pequena Helen ao mundo. Vim trazer à Rachel a grata notícia de que a saiu sua sentença favorável. O FBI está de portas abertas para você!

A emoção tomou conta de todos. Abraços e até algumas lágrimas rolaram. Neal esqueceu da presença de Nohan e comemorou beijando a esposa apaixonadamente. Alguns minutos depois, Peter chegou, também sorrindo. Numa das mãos trazia o mandado assinado pela juíza, na outra, a tornozeleira. Ele só não contava em ver Nohan por lá.

- Parece que cheguei tarde! – Você não está exagerando nas suas funções de embaixador? Afinal há um louco conterrâneo seu por aí explodindo lugares públicos e Rachel parece ser sua única preocupação.
- Engana-se, Peter. Eu me preocupo em pegar Thomas Carter tanto quanto você e confio na agente Rachel Turner para isso.
- Caffrey. Rachel Caffrey, eu já lhe disse. – Neal lembrou.
- É, isso. – O clima entre os dois só piorava.

Sara ria por dentro assistindo aquilo. Era delicioso ver Neal sofrer por ciúme. Ele merecia.

- Que competição de testosterona é essa? – Cochichou para Henrique.
- Não sei...mas o Neal está furioso. E, se ainda conheço Rachel bem, ela vai dar corda a esse Nohan até ele se enforcar. – O agente respondeu. – Vai ser bonito de ver.

- Bom...senhores acho que todos devemos deixar Diaba e Diabinha se prepararem para conhecer seu novo lar. – Mozz acalmou os ânimos. – Eu também me retirarei para abrir a minha casa para vocês.
- Não vão ficar com June? – Peter nem sabia que Mozz tinha uma casa.
- Não. Na casa de Mozzie. – Ele e o amigo mantiveram a história combinada. - George está com Nicolle. Você o pega?
- Sim, no caminho.




Pequena Helen passou as horas tranquila entre cochilos e mamadas. Desde que não deixasse o colo dos pais. Se ia para o berço abria o berreiro com uma voz aguda e forte demais para alguém com um dia de vida. Resultado? Quando não estava mamando, Helen ficava recebendo mimos e embalos no colo de Neal.

- Papai dá colinho para a princesa da família. Não precisa chorar. – Acalentava-a docemente.

Enquanto esteve presa, muitas vezes Neal comentou sobre as casas que estavam analisando para comprar. Mas ela nunca deu muita atenção. Primeiro porque tinha muitas outras preocupações. E também por confiar no bom gosto de Neal. E estava certa. Ele fez um bom trabalho ao escolher o lar daquela família.
Uma família cheia de amigos que agora a recebiam de braços abertos. June, Henry, Ell e as crianças foram recebê-la. Ell preparou um bolo e foi muito bom ver o cartaz dizendo ‘Bem – Vinda’. Rachel sentiu-se amada.

            - George, a mamãe voltou! Abrace ela. – Henry estimulou o menininho que olhava a mãe de maneira encantada.
            - Você vai ficar? Não vai mais embora? – Ele parecia não acreditar.
            - Nunca mais. Mamãe agora vai ficar com você, a Helen e o papai. – Encheu o filho de beijos e cheirou seus cabelos. – Você gostou da casa nova?
            - Sim! É bem legal. Vou mostrar meu quarto pro Daniel.
            - Vai com o George filhão! – Henry incentivou. – É muito bom te ver feliz novamente, Rachel.
            - É o meu recomeço, Henry. – Ela olhou para seus amigos ali, com as próximas crianças. E viu seu marido. A razão por tudo aquilo ter se concretizado. – Eu já disse que te amo?

            O beijo do casal foi o convite para todos se despedirem e darem privacidade ao casal. Eles mereciam algum tem em família para explorarem juntos a nova casa.


O sobrado passava despercebido entre tantos nas ruas de Nova York. Mas era bonito e confortável, além de ter a vantagem de ser localizado a apenas três ruas da casa de Peter, Ell e as meninas. George e Helen teriam crianças com quem brincar.


- O único problema é a privacidade. Teremos de manter nossos segredos bem guardados. Algo me diz que Peter virá aqui seguidamente. – Rachel alertou o marido.
- Eu sei bem como esconder meus segredos de Peter. Gostei daqui. Tem quatro quartos e podemos até ter um cachorro, se desejarmos.
- Também gostei. Obrigada, Neal. Adorei a casa. – Ela riu olhando para o quadro na parede. – Mozz! Isso só pode ser ideia sua!

O Les Noces de Pierrette, quadro responsável por, no passado, levar Neal para a cadeia num golpe promovido por Alex, agora reinava na parede dos Caffrey.



- Sim. Estava num depósito por todo esse tempo. – Seus olhos brilhavam como os de uma criança exibindo uma de suas descobertas. – Agora estará aqui. Deixar algo à vista é a melhor forma das pessoas não verem! Debaixo do nariz dos engravatados! Nunca vão notar.
- Você está certo. – Rachel concordava com Mozz. – Vão pensar se tratar de uma reprodução de Neal.

A campainha tocou e Peter estar à porta não surpreendeu nenhum deles. Morar perto teria mesmo suas dificuldades.

- Dê-me a pequena Helen. Vocês fazem sala ao engravatado. – Mozz retirou-se com a garotinha.
- Mamãe! – George entrou na sala correndo enquanto Neal abria a porta. – Vem ver! Meu quarto tem um escorregador! Vem ver, mãe! Vem ver!
- Não se preocupe comigo, Rachel. – Peter disse assim que entrou. – Vá cuidar de George. Vim apenas fazer uma visita.

Não era apenas isso. Rachel sabia. Mas preferiu curtir seu garotinho. Estava feliz. Era tempo de aproveitar. Queria dar atenção para George, tão carente dela nos últimos meses. Deixou os dois e seguiu com o filho. Depois pressionaria Neal para descobrir o que se passava.



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