quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Mentira - Capítulo 17: Culpa


            Os acontecimentos se precipitaram pela madrugada. James, o médico da cidade, foi chamado para cuidar de Ana, mas logo avisou que ela deveria ser transferida para um hospital com melhores recursos. Ali não poderia fazer muita coisa por ela.
            A ideia inicial era apenas levá-la a cidade mais próxima onde pudesse receber atendimento. Assim que a família de Ana ficou sabendo do que se passava, no entanto, exigiram que ela fosse tratada no melhor hospital de São Paulo. Ray entrou em desespero ao saber que a ‘filha’ por um telefonema de Grey que a ‘filha’ tinha sofrido um grave acidente. Ele tinha a sensação de que havia algo lhe sendo escondido.
            - AQUI! Ouviu bem, Grey! Eu quero Anastásia aqui em São Paulo. O helicóptero irá buscá-la na fazenda para trazê-la até a pista mais próxima. De lá um jatinho a trará. Aqui nós conversaremos.
            - Eu concordo. – Respondeu Christian.
            - Eu não perguntei se concordava. Se não a trouxer, eu mesmo a busco!
            - Senhor eu...entendo que esteja nervoso, mas...estou fazendo o possível e...
            - Está? Será mesmo?! Primeiro Ana telefona aparentando estar infeliz e agora esse acidente. Você no mínimo não cuidou de minha menina como deveria. Nós temos muito o que esclarecer, Grey!
            Com problemas o suficiente com que se preocupar apenas no translado de Ana, Christian deixou de lado a ameaça velada feita por Ray. Sabia que teria graves problemas caso Ana dissesse o que se passou na fazenda, mas, naquele momento, ver a esposa imobilizada em uma maca e, mesmo inconsciente, gemendo de dor, o estava destruindo.
            - James! O que você acha que é? Por que ela aparenta estar sofrendo tanto e não acorda? – A culpa o consumia.
            - Ela não aparenta ter fraturas então eu acho que pode ser alguma hemorragia interna. Ou eu não consegui diagnosticar a fratura...uma das costelas pode estar pressionando um órgão.
            - Não tem nada que a gente possa fazer?
            - Nada...só levá-la o mais rápido possível.
...Horas depois, já em SP.

            Ninguém trazia notícia alguma. Sentia-se isolado no hospital. Por todos os lados familiares e amigos de Ana conversavam, dando apoio uns aos outros. Ele sentia-se sozinho. Ninguém entendia, nem mesmo ele, o que sentia.
            - Eu queria que você sofresse! Eu quero que você pague pelo que fez! Então porque não consigo sentir satisfação?! – A imagem do sofrimento dela durante toda a viagem mais a angústia de não saber o que se passava naquele momento o estava agoniando.
            Quando finalmente ela foi levada para o quarto, o médico do hospital o chamou e a James para ouvir o diagnóstico.
            - Primeiro devo parabenizar ao Dr. James por ter feito o melhor por ela, mesmo sem as melhores condições. A rapidez em transferi-la, salvou-lhe a vida. – Olhou-o seriamente. – Sua esposa chegou muito perto de morrer devido a uma inflamação no fígado. Estamos controlando a situação.
            - Ela não corre mais risco de vida? – Perguntou.
            - Ainda depende de alguma evolução, mas temos perspectivas. Também depende muito da sua vontade de viver. Agora é administrar medicamentos para diminuir seu sofrimento. Ela deve recuperar a consciência em breve. O senhor pode vê-la.
            - Obrigada, Doutor.

            Passou algum tempo apenas observando-a imóvel na cama hospitalar. Não tinha o que fazer a não ser deixá-la se curar e aceitar que os parentes viessem vê-la. Mesmo que ela se queixasse, era o marido e ela não poderia simplesmente expulsá-lo de sua via. De repente ela abriu os olhos aparentando uma fragilidade muito grande.
            - Ana...eu estou aqui. Tente não se mexer. – Tentou agir como se aquele fosse um casamento normal. Mas não era e Ana, mesmo machucada, lembrou-o disso.
            - Você não conseguiu...não me matou. – Disse olhando-o nos olhos. – Sua vontade não se realizou.
            - Eu não tentei te matar! Não sou um assassino!
            - É um mentiroso.
            - Eu podia ter te deixado morrer na fazenda.                              

            - Está muito enganado se pensa que eu vou te agradecer. – Ela se calou tentando recuperar o fôlego. Parecia muito sofrida e cansada. – Vamos Grey...termine o serviço...completa sua vingança imbecil. Mata! Se me sufocasse aqui ninguém ia desconfiar que se casou comigo e me torturou todo esse tempo pra vingar o seu irmãozinho.

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