domingo, 13 de janeiro de 2013

Regras Quebradas, Limites Ultrapassados - Capítulo 12: Uma escolha



            Mais um dia de trabalho na editora. Tudo estava agitado com a preparação do evento dos próximos lançamentos. Raff era um dos autores envolvidos. Seu livro, um suspense dramático, era fantástico e as apostas eram de grandes vendas.
            Enquanto isso, no setor de publicações infantis, no qual Ana vinha atuando mais, uma jovem autora lhe enviara um projeto de livro folclórico para crianças na faixa dos 12 anos. As ilustrações eram fantásticas. Mas o projeto ainda estava em fase de preparação e o livro não seria lançado ainda. Ir a esse evento era completamente desnecessário para Anastásia.

            - Eu não tenho razão para comparecer. – Disse à sua insistente secretária.
            - Mas o Senhor Grey exige a presença de todos os editores. – Repetiu Nike. – A sua então...é a que ele mais deve desejar.

            Todos na editora sabiam que era ex mulher do patrão. Apesar de raramente ouvir algum comentário, sempre seria uma questão difícil.

            - A não ser que você vá explicar para ele a sua falta no evento. Quer que eu faça a ligação? – Nike achava que o patrão ainda nutria algum sentimento especial por Ana.
            - NÃO! Eu vou. – A regra número um era que como ex mulher de Christian ela jamais teria nenhuma facilidade maior que os colegas. Se ele exige todos no evento, seria obrigada a comparecer.
            - Ótimo! – Disse Nike. – Acho melhor comprar um vestido.
            - Vou de preto básico!

            Com essas palavras Ana voltou a se concentrar no trabalho. Não queria pensar em Grey.

            Mas ele pensava muito nela. Tanto que resolveu por fim em seu contrato com Jéssica.

            - Mas senhor! Eu não estou sendo obediente? Não lhe satisfaço? – Ela falou de joelhos e cabeça baixa.

Era uma visão triste.
            - Não é isso, Jéssica.  Acabou, simplesmente. Você encontrará outro Dom melhor, alguém que queira que você o satisfaça com sua submissão. Eu não a quero mais.
            - O que posso fazer para o senhor me desejar?
            - Nada Jéssica. Não discuta comigo. – Ele pegou uma caixa que continha uma belíssima pulseira de esmeraldas. – É um presente para você. Quero que seja feliz.

            Ela saiu do apartamento com lágrimas nos olhos e ainda implorando que ele reconsiderasse. Não! Não queria Jéssica nem nenhuma outra. Nos últimos anos, sempre que enjoava de uma submissa, procurava por outra ou seguia alguma indicação de Elena quanto a mulher certa para ele dominar naquele momento. Dessa vez não. Queria ter Anastásia de volta ou ficar sozinho.



            - Pronto meu bebê! – Ela disse pronta para sair. – Você vai ficar bem com a babá?
            - Vou mamãe. Você tá bonita! – Teddy disse.

            Ele já estava de banho tomado e na cama pronto para dormir. A babá iria ficar na casa até ela voltar, mas, ainda assim, Ana estava com o coração na mão. A criaturinha mais importante da sua vida estava ali.

            - Boa noite, pequenino. – Disse e caminhou para a porta.
            - Mamãe? – Ele chamou.
            - Sim.
            - O papai vai tá lá também?
            - Sim, Teddy, ele é o dono da empresa onde a mamãe trabalha. Então sim, ele estará lá.
            - Eu quero que você entregue uma coisa pra ele e pergunte se ele vem me ver no final de semana. – Teddy saiu da cama e pegou um papel dobrado.
            Os traços infantis mostravam uma família completa. Com direito a um cachorro de estimação. Como poderia dizer ao seu menino que ele nunca teria aquilo? Que seu pai não desejava ser seu pai e ela não amava o homem queria assumir aquela posição.

            - Você sabe que o papai é ocupado, filho. Nós podemos sair com o Raff.
            - Mas eu quero sair com o papai.
            - Você não gosta de sair com o Raff e o Gabby? – Ana perguntou.
            - Gosto...mas eu gosto mais do meu papai.

            Eu também filho...eu também...

            - A mamãe vai entregar seu desenho. Ele vai achar lindo, tenho certeza. E darei seu recado. Agora durma.

            Ana pegou suas chaves, a bolsa de festa e saiu.           Antes de entrar no táxi olhou para os dois lados na rua onde ficava seu apartamento. Sentiu um arrepio na espinha. Tinha a sensação de estar sendo observada. Bobagem! A rua estava deserta.
Entrou no táxi que a aguardava e tremeu sabendo que teria de passar algumas horas no mesmo ambiente que Grey e Raff.
            Escolheu um vestido preto e discreto na frente, porém aberto nas costas. Por mais simples que desejasse ir, tinha um cargo importante numa editora que pertencia a um dos mais importantes empresários do EUA. E esse, coincidentemente, era seu ex marido. Certamente a imprensa conseguiria fotos e não faltaria colunista social para comentar que Grey cometeu um erro ao ter se envolvido com uma mulher tão sem sal quanto ela. Podia ser verdade, mas não era agradável ler no jornal. Então fez um esforço e tentou ficar o mais bela possível.
Além disso, sabia que iria encontrar muitas colegas arrumadíssimas. Seu estado civil era sempre motivo de curiosidade. Graças ao ex, claro! Além disso, mulher é fogo! Sempre querem competir para ver quem é a mais bonita, mais elegante, com a joia mais valiosa, o vestido da melhor grife. Melhor nem se envolver.

            Assim que chegou procurou por Grey no salão, mas, ao que parece, ele não tinha chegado. Logo foi abordada por três colegas da editora. Uma estava grávida e queria que Ana a ensinasse como passar pela gravidez e manter as formas do corpo.

            - Seu menino está com quantos anos, Ana? – Perguntou a ruiva.
            - Fez quatro há poucos dias. – O que certamente ela sabia.
            - Foi mãe tão novinha. Isso é bom para conseguir manter o corpinho em dia. Já para a carreira...bomm mas isso não foi problema para você. Mulher de patrão não tem esses medos.
            - Ex mulher, Rachel, ex! – Ela tentou sair, mas elas não permitiram.
            - Tem de contar o segredo para ficar magrinha e sem peitos caídos. – Uma editora loira e alta afirmou.
            - Já faz bastante tempo, voltar ao corpo anterior é o mais normal. Só precisa ter paciência e evitar comer muita bobagem.
            - E o peito? – A mulher insistiu.
            - Teddy não pode mamar no meu peito porque tem uma alergia ao leite. Então não sei se meus seios teriam mudado muito. Talvez. Faz parte da maternidade.
            - Que ótimo!! – A ruiva gritou. – Acho que vou usar essa desculpa também. Se não fez falta ao Teddy, não fará ao meu filho.
            - OOO não. Eu queria que ele mamasse. Para compensar a falta do leite materno, tínhamos de dar uma outra bebida láctea. A única que ele aceitava. Até hoje controlamos para ele não comer nada que tenha o leite.
            - Bom Ana, mas com a pensão que você certamente ganha, é claro que não tem muitas preocupações. Teddy pode ter quantas babás você desejar e o seu corpinho passar pelos mais modernos tratamentos estéticos. – A loira disse.
            - Não é bem assim Lisa e eu... – Foi interrompida por uma voz rouca que conhecia muito bem.
            - Poderia, certamente, se Anastásia aceitasse a pensão que lhe ofereço. Mas ela fica apenas com uma pequena parte. Além disso, ela é bonita naturalmente. Não precisa de tantos tratamentos estéticos. – Grey se juntou a elas. – Boa noite senhoras. Vocês são?
            - Rachel e Lisa, editoras. – A ruiva apressou-se em dizer.
            - A simmm...eu lembro de ter lido os nomes nos relatórios. Rachel trabalha com livros femininos e Lisa com as publicações técnicas. Espero que tenham ideias para melhorar os números das suas publicações. Eles não estão bons. E é sempre mais útil do que discutir a pensão que dou ao meu filho.
            - Claro, senhor. Nós vamos pensar. Agora...nós vamos circular pela festa. Com licença. – A ruiva saiu puxando a loira.

            Por alguns segundos Grey e Ana apenas trocaram olhares. O clima entre eles nunca esteve mais pesado. Ambos sabiam que havia uma corrente de energia, se tocassem um o corpo do outro, desencadeavam um incêndio.

            - O..o..brigada. Elas são muito curiosas quanto a nossa vida. – Disse Ana.
            - Eu percebi que elas são é invejosas. É compreensível. Você é muito mais bonita que elas.
            - Sempre o mesmo galanteador, Grey. Você ouviu tudo?
            - Quase. Pedi para Taylor avisar assim que você passar pela porta. Não quero perder um minuto da sua companhia...principalmente enquanto o meio-homem não chega.
            - É estranho ele não estar aqui ainda. – Muito estranho.

            Ana lembrou do recado de Teddy e tirou o papel da bolsa. Queria ver a reação de Christian ao desenho e ao pedido do filho.

            - Teddy te mandou isso e quer saber se você irá vê-lo amanhã ou no domingo. Ele quer jogar futebol com você.

            Quando Grey viu o desenho ficou comovido. Era o sonho de qualquer criança por uma família perfeita. Pai, mãe, filho, um cachorrinho e um gramado verde para brincar. A casa com imenso gramado verde ele tinha. Faltava formarem a família e comprarem um cachorro.

            - Ele quer um cachorro? – Isso era o mais fácil de se resolver.
            - Ele quer um pai. – Ana respondeu. – Eu disse que você é muito ocupado e que nós podíamos sair com Raff e Gabby, mas ele quer você.
            - Você quer parar de tentar colocar esse poste no meu lugar, Anastásia? Até seu filho, com 4 anos de idade, percebe que isso não vai dar certo.
            - Meu filho Grey? Só meu? – Ana pegou o desenho das mãos dele o tornou a guardá-lo na bolsa. – Você não percebe o quanto é injusto comigo? Eu não quero continuar criando Teddy sozinha!

            Ana saiu deixando-o sozinho para pensar no quão difícil aquela situação era. Passaram-se quatro anos e o impasse continuava existindo. Não queria magoar Ana e nem Teddy. Era um menino bom. Mas também não podia assumir uma família só para vê-la desabar quando sua natureza falasse mais alto. Anos de terapia não foram capazes de apagar seus traumas, suas lembranças.
Não era apenas o que sofreu na infância. Era o monstro em que ele se tornou. Era um homem que tinha prazer em ferir as mulheres. Elas gostavam, deliravam de prazer nos seus braços. Mas isso não o tornava menos sádico. Elas gostavam porque deviam ser como ele. Ana não. Ela ainda mantinha a mesma pureza de quando se conheceram. Ana fora a única mulher com quem teve prazer no sexo baunilha. Com ela não sentia falta dos chicotes ou das surras. A linda pele branca de Ana o fazia ter vontade de beijar, cuidar, não de ferir.
Por um tempo Grey, por um tempo. O alerta dado por Elena era verdadeiro. Flynn também tinha dito que ele devia ficar atento para não se deixar levar e fazer algo que Ana não queria. Ela não era adepta do sadomasoquismo e tinha que ter seus desejos respeitados ou ele estaria cometendo um crime. E ele tinha cometido. Havia surrado Ana com um cinto. Uma surra violenta. Deixou-a marcada. Ela não queria, disse não, mandou-o parar. Ele seguiu batendo, ferindo, descarregando nela toda a sua frustração por terem feito um filho. Ela não era culpada sozinha. Ana queria ser mãe, tinha esse direito. Ele não. Então por que não fez uma vasectomia e eliminou todas as suas chances de ser pai?

- Por que eu achei que o tempo com Anastásia seria capaz de me curar. – Sussurrou para si mesmo.

Deveria ter seguido com seu plano inicial e não ter se aproximado de Theodore de forma alguma. Mas começou a vê-lo, seus pais o levavam em sua casa...e...o menino era tão especial que não pode afastar-se. Mia sempre comentava como Ana estava linda e como Teddy a adorava. Só iria atrapalhar a vida deles. Mas, de repente, já estava envolvido. O que fazer agora que Teddy já não era um bebê que aceitava qualquer resto de carinho, mas uma criança que exigia atenção?
Sem saber responder essa questão Christian foi circular mais um pouco pela festa e não avistou Anastásia.
Ela estava no banheiro, retocando a maquiagem borrada pelas lágrimas. Foi assim que Sofia avistou-a. A executiva de meia idade tinha carinho por Ana e apostava que ela seria capaz de colar um sorriso no rosto uma pessoa muito querida dela: Raff.

- Oi Sofia. Não sei onde Raff está, já era pra ter chagado. Nós não nos falamos o dia todo.
A senhora achou estranho isso.

- Ana, não se ofenda com o que vou dizer, mas...você deveria dar uma chance ao Raff.
- É o que eu estou fazendo Sofia. – Com grande esforço.
- Uma chance de verdade. Eu sei que ele  às vezes parece frio, mas, acredite, ele não foi sempre assim. Ana, eu frequentava a casa dele e de Susan, sua falecida esposa. Eles eram namoradinhos de colégio. Começaram a namorar sério aos 16 anos e logo estavam casados e sonhando com o Gabby. Eles eram tão apaixonados, não conseguiam manter as mãos longe um do outro. Viviam aos beijos pela casa.

O quadro que Sofia lhe pintava era muito estranho, muito diferente do Raff que ela conhecia. Hoje ele parecia uma pedra de gelo quanto a relacionamentos amorosos, ainda que com o filho fosse muito carinhoso. Claro! Gabby era a lembrança do grande amor dele. A vida tinha sido cruel com Raff e Susan. Eram um casal perfeito até que realizaram o sonho de ter um bebê.

- Vai ver o problema seja esse, Sofia. Ele ainda ama Susan. Talvez vá amá-la para sempre.
- Mas ele têm de superar isso! Já faz muito tempo e você também precisa de um companheiro. Gabby e Teddy seriam ótimos irmãos.
- É, mas a vida nem sempre é como a gente deseja.

Logo que saiu do banheiro, Ana encontrou Raff. Ele estava irritado.

- Não queriam me deixar entrar! Acredita?! Por algum motivo meu nome sumiu da lista.

Será que isso era obra de Christian?

            - O que vai fazer? Pelo que vi está tudo preparado.
            - Sim, é só eu dizer algumas palavras sobre o livro quando me chamarem no palco, depois que o seu ex discursar.
            - Depois que o dono da empresa discursar, é o que você quer dizer. – Que saco! Todos queriam lembram seu casamento com Grey.
            - Sim, desculpe Ana. É que eu fiquei estressado. Semana que vem eu vou fazer uma viagem. Se você quiser vir comigo. – Ele beijou levemente os lábios de Ana. – Brasil. É trabalho, mas você iria gostar. E podemos passar ao menos um dia no Rio curtindo uma praia.

Será?

            - Eu vou pensar. Tenho que olhar a agenda de folgas da editora. – Respondeu e logo se desvencilhou. – Eu...tenho de falar com a Rachel...já venho.

            Mas na verdade ela queria mesmo era encontrar Grey e descobrir se ele tinha ou não boicotado a entrada de Raff na festa...ou queria só encontrá-lo? Bobagem. Ele era apenas seu patrão! Mas não precisou procurar muito. Logo ouviu sua voz alta e rouca vindo do microfone. Lá estava ele, lindo e com aquela barba curta...aquela que a fazia ficar arrepiada quando tocava a pele do seu pescoço. Lindo. Ele iria falar.
“Boa noite a todos!

Faz tempo que não nos reunimos, eu sei. É que são tantos os eventos que merecem atenção que eu realmente não consigo atender a todos com a dedicação que merecem. Mas eu sei que todos aqui são responsáveis pelo sucesso da editora e agradeço a cada um.
Não é segredo para ninguém o fato de eu ter comprado essa empresa por motivos totalmente sentimentais. Ela seria um presente para alguém que era e continua sendo muito importante pra mim. Ela não aceitou o presente. O que é muito estranho. Mas continua trabalhando com afinco aqui. Eu estou falando da minha ex esposa, mãe de MEU único filho e uma das nossas editoras responsáveis pela escolha dos livros que vão ser publicados. Então, se a Grey Publicações hoje me dá lucro, eu deve um agradecimento especial a Anastásia.
Agora eu chamo ao palco os três autores que terão suas obras publicadas nesse trimestre para nos brindarem com um aperitivo do que narram nessas páginas.

Boa noite a todos”


            Raff passou por Grey sem nem mesmo olhá-lo. O clima entre eles, que já era ruim, agora piorou de vez. Por que Grey fez isso? Perdida em pensamentos Ana sequer ouviu o que Raff disse no palco ou o que os outros dois autores contaram. Estava nervosa. Passou o resto da noite fugindo dos dois. Ambos eram muito assediados e estavam sempre com alguém precisando lhe falar. Foi fácil ir até a cozinha e ficar só, bebendo champanhe em silêncio. Era hora de pedir um táxi e ir embora. Grey arrancou o celular da sua mão enquanto fazia o pedido.

            - Meu carro está no estacionamento, no subsolo do prédio. Te deixo em casa.
            - Não é necessário.

            Ele sorriu torto. Ele corou.
           
            - Está com medo do que nós dois sentimos sempre que dividimos um elevador?

            Sim. Como ele sabia?

            - Não. Não diga bobagens, Christian. Já não chega o que falou no palco?
            - Eu não disse nenhuma mentira. Até me contive. Poderia ter dito o quanto te amo.
            - Es...estaria mentindo.
            - Não, não estaria. Eu ainda te amo Anastásia, mesmo após todos esses anos eu te amo. E vou continuar amando. – Dizendo isso ele se afastou e estendeu a mão. – Vamos? Eu vou te levar.

            O que uma mulher deve fazer nesse momento? O homem que você ama te faz uma declaração dessas. Ana não resistiu e pegou sua mão. Precisava dar a si mesma a chance de ser feliz.

            Foi de mãos dadas que Raff os encontrou indo em direção ao elevador.

            - Vejo que fez sua escolha, Ana. – Foi o que ele disse simplesmente.

            Não teve vontade de correr e negar o que ele disse. Era verdade. Havia feito uma escolha. Talvez nunca ficasse com Christian, mas Raff não era o seu homem. Não combinavam e, principalmente, não se amavam.

            Ana entrou no elevador com Christian e foi só as portas se fecharem para a energia do lugar aumentasse. Malditos elevadores!


UM GOSTINHO DO PRÓXIMO CAP:




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