domingo, 13 de março de 2016

Ariella - Capítulo 2


Aos 18 anos Ariella olhava para a sua vida e pensava que algo lhe faltava. Apesar da falta que a mãe lhe fazia, não era falta de amor maternal que lhe dava aquela sensação de vazio. Nem de pai. Apesar de tudo Afonso sempre lhe deu o que necessitava. Mesmo que não fossem muitos beijos e afagos, jamais se importou de ela ter escolhido viver sozinha ou estudar Artes Plásticas. A mantinha e sustentava sem reclamar e raramente lhe negava alto. Afonso é um bom pai. Ou o único tipo que ela conhecia.
            Também não eram ambições a lhe faltar. Sabia bem o que desejava da vida. E lutava por isso. Seria uma artista e por isso optou por estudar arte. Apesar de já desenhar e pintar com qualidade, estando no primeiro semestre da graduação, era de se esperar que não conseguisse sustentar-se. Ainda mais no padrão de vida no qual foi habituada. Por isso, fazia uso do dinheiro do pai sem constrangimentos. Chegaria o dia em que ele não mais precisaria lhe dar recursos. Até lá, aproveitaria tudo o que ele oferecia.
            O que lhe faltava era um amor. Não um romance qualquer, daqueles que podia encontrar em cada corredor da faculdade. Não alguém só interessado em uma noite. De homens interessados nesse tipo de relação Buenos Aires estava cheia e nenhum deles agradou Ariella. Ainda assim, nada a impedia de se divertir enquanto esse homem diferente estava por vir. Ela então se arrumou e aceitou o convite das amigas para ir dançar.



            Solta na pista, atraiu olhares e desejos. Alguns lhe interessaram, outros nem tanto. A verdade é que não estava com vontade de terminar a noite com nenhum deles. Por isso retornou à mesa do bar quando, já tarde da madrugada, quando alguns amigos já haviam ido para casa, e continuou a beber. De todo o grupo que veio à boate naquela noite, apenas ela e Dulce continuavam por ali. Todos os outros foram embora, sozinhos ou acompanhados. Naquele momento Dulce ainda dançava animadamente enquanto Ariella bebia e observava o salão se esvaziar aos poucos.

            - Vem dançar! – Dulce a chamou.
            - Não, não. Prefiro ficar aqui. Essa noite já terminou pra mim.
            - Está bem...só mais uma música e vamos embora.

Ariella sabia bem que aquela não seria a última música de Dulce. Nem o seu último copo de bebida. Mas seguiu ali, satisfeita em beber enquanto a amiga se divertia. Em certo momento Ariella percebeu ser observada. Estava estranhando o olhar que esteve à noite toda sobre ela. Não que este fosse desagradável, pelo contrário! Percebeu há bastante tempo quem lhe observava e o homem era fantástico. Agradou-a, como agradaria a qualquer uma. Tinha altura e os ombros largos, seus cabelos eram negros e a pele bronzeada. E não parava de lhe olhar! Sua natural desenvoltura com o sexo oposto não funcionou e ela não teve coragem para ir conversar com ele. A única forma era disfarçar fingindo que nem mesmo havia percebido e torcer para que ele viesse até ela. Conseguiu.



- Não está cansada de ficar sentada aí, vendo suas amigas dançarem? – Ele lhe disse numa voz que evidenciava um sotaque de fora da Argentina, apesar do espanhol claro.
- E quem lhe disse que eu não dancei?
            - Meus olhos! Não os tirei de você a noite toda e vi você aqui quase o tempo todo. – Aquela falsa modéstia não enganou Diego. Vestida para expor cada atributo do corpo, Ariella não poderia estar se oferecendo mais. Aquele charme não o iria enganar. – Mas isto acabou agora!
Dali em diante a noite se fez interessante para Ariella. Diego mostrou-se um homem maravilhoso, atencioso, charmoso, bonito e com muitas outras características interessantes. Deus havia sido generoso com ele. Deu-lhe tudo. Ariella só pode reclamar de uma coisa: estava na hora de ir embora.


A caso quisesse, Diego poderia ter terminado aquela noite levando Ariella direto para o hotel no qual estava hospedado. Saber disso o deixava satisfeito, convicto de que seu plano seria completado sem maiores dificuldades. E teria sido exatamente aquele o fim da noite, caso seus planos não fossem muito maiores. Por mais linda, simpática e desenvolta que a princesinha fosse, não podia se deixar levar e arriscar tudo o que tinha planejado.
A noite havia sido produtiva. Ariella era muito desenvolta e desinibida e isso nenhum relatório dos investigadores dizia. Ele ficou observando-a por longo tempo antes de se aproximar. Enquanto isso tentou descobrir quem era de verdade aquela mulher. A maneira como requebrava os quadris mexeu com sua libido e, tinha certeza, com a de muitos outros homens na pista de dança. Não soube se gostava ou não disso. Apesar de ter apenas 18 anos, Ariella mostrava-se uma mulher sensual e dona dos seus desejos. Definitivamente, teria de ter mais cuidado do que imaginou à princípio. Caso se envolvesse com alguém naquele momento, Ariella não mais seria facilmente seduzida. E ele não tinha tempo para cortejá-la por muito tempo. Teria de ser objetivo.
O plano era mimá-la e fazê-la se apaixonar perdidamente. E precisava ser rápido. O casamento viria naturalmente. Tudo indicava que era Ariella é uma mulher impulsiva e sem responsabilidades na vida. Após viver um conto de fadas a vida toda, ela não teria motivos para desconfiar quando um príncipe encantado batesse em sua porta. A única coisa que ainda o deixava com dúvidas era como fazer para que ela mantivesse segredo do relacionamento. Ao que percebeu, Ariella não era muito apegada ao pai e mantinha com ele uma relação muito distante. Ainda assim, não tinha certeza de que ela não lhe confidenciaria estar apaixonada. E se oferecesse detalhes como seu nome e país de origem, Afonso poderia vincular uma coisa à outra e descobrir quem era em tempo de afastá-los. Iria encontrar uma forma de enlouquecê-la rapidamente e mantê-la calada. O namoro prometia ser muito mais produtivo e prazeroso do que pensava.

Naquela madrugada Ariella chegou ao seu apartamento com o pensamento muito longe. Parecia impossível, mas nos minutos finais de uma noite chatíssima de balada conhecer alguém como Diego. Sua amiga disse também nunca tê-lo visto. Dulce, aliás, ficou tão empolgada quanto ela.



- Você dará uma chance a ele. Sim ou claro?
- Sim, claro e com certeza. – Com um olhar que Dulce conhecia muito bem aquele olhar em Ariella. A amiga estava encantada.
- Ainda não estou convencida. Quero atitudes, minha amiga. Liga pra ele. Agora! E marca um encontro com ele. Um gato daquele não fica sozinho muito tempo. E está muito afim de você. Ele não tirou os olhos de você a noite toda!

Aquela frase fez bem ao ego de Ariella. Como qualquer mulher, ela gostava de se sentir desejada. E não tinha ninguém desde que seu ex namorado decidiu trocá-la por uma colega de faculdade. Não que tenha ligado muito. Ainda assim, saber que despertou a atenção e o desejo de alguém como Diego lhe fez sorrir.
Quando enfim conseguiu dormir, teve um sono agitado a ansioso. Não sonhou, mas também não descansou como seu corpo precisava. E acordou já agitada, ansiando por saber se Diego Bueno havia lhe telefonado ou mandado mensagem. Nada. Fez então uma breve busca nas redes sociais para encontrar os seus perfis e confirmar se as poucas informações que ele lhe passou eram verdadeiras. Pouco pode ver. Ele deixava suas postagens restritas a visualizações de amigos. Mas soube que seu gato misterioso era sim espanhol e vivia em Madri. Ele havia lhe dado seu telefone. Mas ligar assim, no início da manhã, poderia soar interesse demais e ela preferiu esperar que ele tomasse a iniciativa.

- Se realmente estiver interessado, ele correrá atrás. – Decidiu-se.


Enquanto isso, tratou de tomar banho e fazer algumas tarefas da faculdade. Naquela tarde teria de participar de uma aula aberta de técnicas de pintura. Não tinha tempo para perder sonhando acordada com espanhóis charmosas e de olhos de gato. Mas bem que adoraria perder algumas horas de seu dia junto dele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário