sábado, 15 de agosto de 2015

Vida Roubada - Cap 2



            O que deveria responder? O que podia falar para Miguel? Nada lhe vinha à mente. Ao menos nada capaz de por fim aquele sentimento de perda. Estavam velando o corpo de um amigo que seria enterrado após uma morte violenta. Ela e Miguel sofriam ainda a morte de um casamento, mesmo o sentimento estando vivo. Muito vivo dentro deles. Tanto quando o fruto dele. O qual ela faria de tudo para Miguel não ficar sabendo por enquanto.
            - Não adianta me ignorar, Liz. Eu sou seu marido. E eu te amo. – Ele disse em tom baixo, sem fazer alarde aos demais participantes da reunião.
            - Não estamos no lugar adequado, Miguel. Nem no momento certo.
            - Você não me atende, então não me deixou alternativa.
            - Não é por me esquivar de você, é por não desejar te ver. Nunca mais, Miguel. – Era difícil dizer aquelas palavras. – Eu quero o divórcio.
            - Eu não darei. De forma alguma. Pode lutar o quanto for na justiça. Eu orientarei aos meus advogados que coloquem todos os empecilhos possíveis para atrasar o processo até você abrir os olhos e ver que te amo.



            Era difícil resistir. Como sempre, Miguel sabia o que dizer e quando dizer. Só que dessa vez seu talento único para enganá-la não iria funcionar. Em meio a tantas inseguranças, a única coisa da qual não tinha dúvidas era que não poderia passar a vida ao lado de um homem no qual não confiava.
            - Então fique com a certidão de casamento. Se um papel te vale tanto. Mas mantenha distância de mim.
            Miguel ficou chocado com a frieza de Elizabeth. E, mesmo assim, não acreditava nos sentimentos que ela tentava transmitir. Sua Liz não era assim. E ela estava sofrendo, muito. Teimosa e orgulhosa, ela sentia a necessidade de excluí-lo de sua vida como um castigo pela traição.
            - Eu sei o que você leu no meu celular. E sei que errei. Não tenho como voltar no que aconteceu. Alejandra está grávida e eu não posso fazer nada para evitar esse sofrimento em você.
            - O que deseja que eu diga? Parabéns papai? Eu não preciso ouvir nada disso, Miguel! Agora seja homem e vá cuidar do seu filho com Alejandra! Sua mãe deve estar felicíssima. Terá um neto de Alejandra e...e vocês terão uma nova chance.
            - Não! Isso não existe! Alejandra não é nada. Eu não a quero.
            - Não foi o que suas atitudes demonstraram.

            Não adiantava discutir naquele momento e, respeitando o local onde estavam, Miguel resolveu não insistir mais. Tentava, talvez pela primeira vez em toda sua vida, manter a calma frente a um problema daquele porte. Tinha dois avisos concretos para dar a Elizabeth.

            - Você é minha mulher e vai continuar sendo. Goste ou não, Liz. Por isso o banco está emitindo e enviando para o seu endereço cópias dos cartões de crédito e da nossa conta. Tudo continua ativo e assim seguirá. Por ordem minha.
            - Eu não tocarei em nenhum centavo seu. – Ela afirmou em desafio.
            - É uma escolha sua, mas os recursos são seus e estarão, sempre, à sua disposição. Além disso, eu pessoalmente e a BTez, estamos dispostos a ajudar no que precisar nas buscas de Beatriz. Sei o quanto lhe dói ficar longe de sua irmã e imagino o quão aflita se encontra por causa desse desaparecimento.
            - A investigação não está nas minhas mãos. E sim com a polícia civil. – Elizabeth respondeu.
            - Minta para quem for trouxa de acreditar, Elizabeth. Você irá atrás de Bia e vai caçar quem ousou machucá-la. Eu conheço você e sei do amor que tem por ela.
            - O que está me oferecendo, Miguel?
            - Recursos, caso a Polícia Federal os negue a você. – Miguel foi direto e agora sabia que Liz o tinha ouvido. – Cuide-se e conte comigo. Apesar de você não atender as minhas ligações, eu sempre estarei disponível.

            Aquilo ficou na cabeça de Elizabeth. Miguel podia lhe oferecer recursos, ilícitos, é verdade. Ela não podia interferir na investigação. E precisava se afastar dele antes que sua gravidez ficasse evidente ou de nada valeria se afastar. Miguel exigiria manter contato com ela alegando que tinha direito de paternidade. E ela precisava afastá-lo, antes que seu coração falasse mais alto e voltasse para os braços do marido.
            E sequer pode pensar nisso naquele momento porque precisava resolver outra questão grave. Eva, sua sobrinha e afilhada, tão pequena, estava agora sem a mãe. Rafael, seu pai que apenas recentemente passou a dividir com Bia a guarda da filha, estava muito assustado com o que aconteceu. Em especial porque a polícia o chamou. Ele era um dos suspeitos. Então, ao menos inicialmente, ele também não era uma alternativa para ficar com a menina. Ela estava cuidando da afilhada, mas, com tudo o que tinha para fazer, pediu que Matheus e Patrícia assumissem temporariamente a tarefa de ficar com a menina.



            - É claro que nós ficamos com ela, Liza. – Matt disse. – Mas não tem mais nada que possamos fazer? Não dá para deixar a investigação na mão da Polícia Civil. Não quando nós temos outras informações.
            - Eu sei, Matt. E vou verificar o que é melhor fazer. Paty, eu vou precisar muito de você.
            - Eu...já imaginava.
            - Você os conhece. Sabe seu modo de agir. Já esteve lá. Você será os meus olhos lá dentro, Paty. – Ela olhou para Matt. – Eu sei o quanto você tenta protegê-la desse mundo. Mas é pela Bia.
            - Eu sei. Vou encontrar um meio de protegê-la, mesmo enquanto pegamos essa gente e resgatamos Bia. Ela é a minha irmã mais caçula também.
            - Obrigada! Eva está com uma babá na minha casa. Peguem-na, por favor. Ela precisa do carinho de alguém conhecido.

            Bia precisava e muito da irmã. Contava com Liza para tirá-la daquele lugar horrível no qual foi jogada. Horas sozinha, sem ver ninguém, sem ouvir nada, sem ter o que comer ou beber. Por um breve momento teve o pensamento de que a haviam deixado lá só para esperar a morte chegar.



            O choro compulsivo não aliviou em nada seu sofrimento. E ela deixou-o de lado percebendo que só a força e a inteligência a ajudariam a sair dali. Ficou firme e esperou. Estavam testando-a e ela mostraria o quão forte poderia ser. Não importa quanto lhe custasse, quão baixo tivesse que descer ou o tanto de humilhações fosse obrigada a suportar, sairia com vida dali.
            Quando uma porta se abriu a claridade ofuscou seus olhos. Ela piscou repetidas vezes tentando ver qualquer coisa. Um homem apareceu e ela apertou o maxilar decidida a não demonstrar o pânico que a afligia.

            - Acordada, ótimo! Você é forte para remédios. A dose que te deram era para mantê-la apagada por mais tempo. Na verdade, em algumas podia até ser fatal. Sabe como é, são doses medidas pelo peso e, às vezes, a gente se engana.
            - Quem é você? – Ele tentava lhe assustar. Se estava ali, era porque a desejavam com vida.
            - Regra número 1: calada. Você fala quando eu mando. Chame-me de Gregory. E sempre me obedeça. Será melhor para você.



            Ele falava sorrindo, como se fosse natural mantê-la dopada por horas e impor regras. Para ele era mesmo. Gregory nasceu e cresceu no Brasil. Ainda falava português quase sem nenhum sotaque, mesmo após muito tempo vivendo na Rússia. Isso tinha suas vantagens, afinal, muitas das prostitutas também tinham esse país de origem. Falar português era útil. Elas entendiam suas ordens. E logo percebiam que obedecer era a melhor escolha. Sem alternativa, Beatriz manteve-se calada.

            - Tire a roupa. – Disse acendendo as luzes do lugar. – Não me ouviu? Tire a roupa.
            - Por quê? – Ela não resistiu a esse novo questionamento e sentiu a face esquerda arder quando ele lhe esbofeteou. Quando sentiu que ele continuaria, gritou. – AH! Pare!
            - Não me questione, Beatriz. Você vale pouco demais aqui para se arriscar assim. Ou eu deixo você morrer de forme aqui, jogo seu corpo em qualquer vala e no minuto seguinte trago outra garota para o seu lugar. Entendeu?
            - Si...sim.
            - Ótimo! – Repugnante, ele voltou a sorrir e a gesticular com os braços enquanto acendia um cigarro naquele lugar abafado. – Agora faça o que mandei. Você está bem fora do padrão de mulheres que recebo normalmente. Quero ver se você tem potencial para o nosso negócio. Tire tudo, agora!

            De forma geral, as mulheres de origem russa têm a pele e olhos claros. Mesmo as morenas, têm cabelos muito finos e delicados. São altas, magras e longilíneas. Belas, sem dúvida. Mas as latinas, com suas curvas e pele bronzeada, eram sucesso garantido por lá. Principalmente se bem jovens.
            Aquela boate era o que chamavam de ‘classe A’. Atendiam homens poderosos, dispostos a pagar bem por algumas horas de prazer com a mulher que lhe agradasse. Geralmente, gostavam de peles muito jovens, meninas, adolescentes. Apreciavam a sensação, falsa na maior parte dos casos, de que ela ainda era inocente e pouco sabia do que estava fazendo. Desde que iniciou nesse trabalho, Gregory já havia visto muitas garotas de 15 anos serem disputadas. Dois, três ou mais homens queriam ser seus primeiros clientes. Se tinham uma boa atuação com eles, poderiam até tornar-se suas exclusivas. Mas a maior parte voltava para rua diariamente, até perder a beleza e o encanto da juventude e se transformar em mais uma prostituta que a boate oferecia.
            No caso de Beatriz, nem mesmo essa benesse a auxiliava. Segundo Gabriela, Beatriz tinha 29 anos. Muito. Praticamente fim de carreira. Na visão de Gabriela não faria diferença porque não eram os lucros que lhe importavam naquele caso. E sim mantê-la ali, distante do Brasil e a sua mercê. Para Gregory não era bem assim. E ele pretendia fazer dinheiro da passagem de Beatriz pela boate. Ela precisava pagar a estadia, de uma forma ou de outra.
            Sem alternativa, Beatriz despiu-se na frente de Gregory. Ele viu uma mulher normal. E muito bonita. Nem gorda nem muito magra, um corpo bem formado, com curvas capazes de mexer com a libido de um homem. E também de algumas mulheres. Coxas grossas, quadril redondo, cintura marcada e seios fartos. Tudo coroado por um rosto harmônico e longos cabelos castanhos, clareados por luzes. Sim, ela servia para o que precisavam.
            - Bonita. Gostosa. Acho que você tem alguma chance de sobreviver no nosso mundo. – Ele se aproximou e começou a tocá-la. Estava às suas costas e Beatriz mordeu o lábio inferior para reprimir o ódio. Ele percebeu seus músculos enrijecendo. - É só me ouvir e aprender a controlar o seu gênio. Muitos vão te tocar das formas mais íntimas que pode imaginar. E você terá de fazer mais do que permitir. Vai por um sorriso nessa cara e fingir que gosta. Meus clientes gostam da ilusão de que estão te dando prazer. Independente do que você estiver sentindo, é isso o que irá demonstrar. Entendeu?
            - Sim. – O que mais ela poderia responder ali, sozinha com ele e sem chance alguma de se defender.
            - Ótimo. Então sorria. Agora. Vamos fazer um breve treinamento.
            Seus toques foram ficando cada vez menos leves. Apertando sua carne. Podia sentir o hálito quente em sua nuca e o tecido áspero da camisa tocando suas costas. Num movimento rápido Gregory jogou seus cabelos para frente e enquanto arranhava seu pescoço com os dentes, apertava-lhe os seios fortemente. Desejava machucá-la.
            - Ai! – Ela reclamou.
            - Quieta. Isso não é nada perto do que eles farão. Alguns dos clientes têm gostos bem peculiares e você aprenderá rapidamente que eu não aceito reclamações. Tem de satisfazê-los em tudo. – Ele sussurrou em seu ouvido. E nesse tom conseguia ser ainda mais ameaçador. Uma de suas mãos desceu e agora estava dentro dela que, seca, era obrigada a aceitar sua invasão íntima. – Algumas jovenzinhas se fingem de inocentes e até conseguem enganá-los. Não é o seu caso. De você eles cobrarão eficiência. Faça-os gozar rapidamente e lhes arranque dinheiro. Só assim se sairá bem por aqui. Eu realmente gostei de você Beatriz. Acho que se dará bem, com algum esforço.
            - Gregory! Acho que já posso me encarregar dela. – Foram interrompidos por uma negra alta e bela que entrou sem se anunciar.



            Ela usava um vestido longo e justo. O tecido marcava suas pernas compridas, grossas e bem torneadas. O decote era muito profundo e mostrava seios médios e firmes. Seus cabelos alisados eram muito bem cuidados, assim como a pele. E sua voz disfarçava a raiva que brilhava nos olhos. Gregory deve ter percebido que a cena a desagradou porque tirou os dedos de dentro de Beatriz e se recompôs como se nada de anormal tivesse ocorrido ali.

            - Claro, meu amor. – Ele respondeu sorrindo. Gregory aproximou-se da negra e beijou-a. Beatriz ficou perguntando-se como ela conseguia aceitar o beijo dele após ter visto-o tocando outra mulher. – Que acha dela?
            - É apenas mais uma. Tem o que eles gostam. – A negra respondeu ao analisar a novata. Aproximou-se e apertou a bunda dela. – Bem cuidada. Pele tratada. Pode render alguma coisa. Temos alguns que gostam desse perfil.
            - Foi o que eu pensei também. – Gregory concordou.
            - Se ela souber mexer esses quadris pode render algum dinheiro. – Por iniciativa dela, trocaram mais um beijo e logo depois se afastaram. – Como se chama?
            - Beatriz.
            - Não se te darei um nome de guerra. Gosto de Beatriz. É, será Beatriz mesmo. Venha comigo. Vou te ensinar algumas coisas sobre como sobreviver aqui. É ficar atenta. Eu não gosto de me repetir e, com uma ordem minha, é fim da linha para você.
            - E como eu devo chamá-la?
            - Samantha. Mas não chame. Espere eu chamá-la.

            Nua como estava, Beatriz seguiu Samantha pelos corredores escuros daquele lugar imenso. O falatório feminino vendo de duas portas mais adiante, com guardas na porta, fez Bia acreditar que conheceria as outras garotas. Mas Samantha seguiu na direção contrária. Entraram numa porta larga, dupla e, lá dentro encontraram o ambiente mais claro que ela viu ali, até aquele momento. Lá estavam três macas normais e uma ginecológica.

            - Nós cuidamos aqui das garotas. Depilação e outras coisinhas. Tenho certeza que você me entende. – Samantha disse.
            - O que vai fazer comigo? – Aquele lugar, uma espécie de enfermaria clandestina, a fazia sentir calafrios.
            - Pouco, se comparado com a outras. Abra a boca. – Quando Bia demorou, Samantha irritou-se. – Você tem de aprender a obedecer sem pensar. Abra a boca.

            Quando Beatriz obedeceu, Samantha olhou seus dentes e pareceu satisfeita com o que viu ela estava fazendo uma análise completa de seu corpo. E com isso conseguia humilhá-la tanto quanto os abusos de Gregory. Olhava-a como um pedaço de carne onde procurava alguma parte estragada. Algo que baixasse o valor de compra.

            - Você é bem cuidada, garota. Apesar da idade tem a pele, cabelo e dentes melhores que a maioria que chega aqui. E está depilada. Lisinha. Do jeito que eles gostam. A maioria, pelo menos. Faz com cera?
            - Sim.
            - Ótimo. Se já está acostumada não vai fazer um escândalo quando for usar essa maca aqui. – Enquanto falava Samantha preparava uma seringa e Beatriz perguntava-se o que ela faria com aquilo. – Relaxa o braço. Vai ser só uma picadinha.
            - Para que é isso?
            - Você é curiosa demais. É um anticoncepcional. O que você esperava? Ir ao médico regularmente? – Ela aplicou o remédio e Beatriz aceitou. Àquela altura nada mais a surpreendia. – Boa menina. Não iria querer se deitar naquela outra maca ali. Os procedimentos feitos nela costumam ser bem mais desagradáveis que uma sessão de depilação.

            Depois de apenas largar a seringa com a agulha no lixo Samantha abriu um armário e retirou algumas peças de roupa. Tudo era justo, curto e brilhante. A não ser por uma única peça, um sobretudo preto.
            - Para você chegar nos lugares quando algum cliente chamá-la. Eles gostam de vagabunda entre quatro paredes. Elas jamais devem envergonhá-los.
            - Eu não vou ficar só aqui?
            - Não, eu espero. São as saídas que rendem mais dinheiro. – Samantha respondeu. – Agora me escute bem, porque não gosto de me repetir. Normalmente eu teria mais tempo para te treinar. Não será assim, essa noite mesmo você subirá para o salão.
            - É aqui em cima?
            - Sim. O alojamento fica no subsolo da boate. E hoje a noite você estará lá, sorrindo e dançando para atrair clientes. O que te desejar, e estiver disposto a pagar, leva. Pode ser aqui mesmo. Há quartos no segundo andar. Se eles gostarem muito de você, te levam para passar a noite em algum hotel. E nem pense em tentar escapar! Aqui tem muitas brasileiras e sul americanos, na rua você não entenderia uma palavra. Além disso, terá guardas esperando por você.
            - Eu já entendi isso.
            - Ótimo. Então trate de obedecer. Leve suas coisas. Vou deixá-la no alojamento. Aconselho que descanse e se arrume bem. Será uma noite interessante.

            Quando Samantha abriu a porta Beatriz viu um lugar bem organizado, apesar da quantidade de garotas. Algumas estava deitadas, outras conversavam sentadas em roda no chão. Algumas arrumavam as unhas ou escovavam os cabelos. Apenas uma pequena tela na parte alta da parede tornava possível a circulação de ar.

            - Atenção! – Samantha disse ao entrar. – Essa é Beatriz, ela começa hoje. Cuidem bem dela. Natacha, é sua conterrânea. Apresente as garotas.



            Natacha, Beatriz logo percebeu, é uma mulher falante e hiperativa. Não fosse a expressão assustada, poderia parecer feliz. Sua constituição é delicada. Seios pequenos, cintura muito fina. Pernas delicadas. Ela parecia não mais do que 22 ou 23 anos. Mas sua pele parecia envelhecida. A carteira de cigarro em sua mão direita podia ser responsável por isso. Seus cabelos crespos tinham um tom de castanho quase avermelhado. Se fosse bem cuidada, sem dúvida seria uma bela mulher.

            - Beatriz. Não digo bem vinda porque não é o caso. Sou Natacha. Você é do Brasil então. De onde?
            - São Paulo. E você?
            - Pernambuco. Mas faz tanto tempo que nem me lembro direito. – Ela deu mais uma dragada no cigarro. - A bruxa negra quer que eu te apresente o pessoal. Então aí vai: A loirinha ali é Verônica. É mexicana, não aceitou as coisas muito bem. Por isso a cara de poucos amigos. Naomi é aquela de olhos puxados. Não estranhe se não ouvir a voz dela. Ela não se manifesta muito. E a loura lá no fundo, de cabelão ondulado, é Maya. Ela é australiana mau humorada. É só ignorar. Lá no fundo estão Carla, é brasileira também, Lya é a ruiva, ela nasceu Colômbia. E aquela negra alta é Bianca, também brasileira.
            - Gostam de brasileiras. – Beatriz disse.
            - Gostam de qualquer uma que for burra o bastante pra eles conseguirem capturar. – Natacha disse, amarga. – Mas há muitas brasileiras sim. Por isso todos entendem português. Gregory e a bruxa também são de lá.
            - Ela é mulher dele?
            - É a puta dele. Saiu daqui, fazia o mesmo que nós. Seduziu o imbecil e virou exclusiva dele. Fez o idiota casar com ela e agora posa de rainha. Mas no fundo morre de medo dele se interessar por outra e ela deixar a realeza. Fique longe dela. O melhor é que ela te esqueça. Quando implica com alguém ela manda Gregory se livrar da menina. E ele a obedece. É muito macho pra bater em nós, mas é pau mandado dela. – Só então Natacha olhou bem para Beatriz. – Você não fazia programas antes né? Não parece de rua.
            - Não. Nunca fiz isso.
            - Coitada. Deita naquela cama ali. Ta vaga. E tenta dormir. Sua noite será exaustiva.

            Beatriz só conseguiu seguir uma parte do conselho. Deitou na cama e tentou descansar. Mas dormir foi impossível. Estava desesperada demais.

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