domingo, 17 de maio de 2015

Diaba Ruiva - Capítulo 15

Neal olhava para Rachel na sala de casa e não dizia nada. Logo que chegaram viram Mozz se organizando para sair, com pressa. Se estivesse bem, Rachel lhe perguntaria qual a urgência e se precisava de algo. Mas ela não estava bem. Foi ele a dar atenção às crianças, já cansadas e prontas para dormir. Depois de dar a mamadeira morna à Helen, Neal retornou para a sala e encontrou a esposa na mesma posição, com a xícara de chá deixada por ele intocada à sua frente.

            - Vai me dizer por que encontrar com a mãe de Melissa te deixou assim? – Ele tentou conversar.
            - Eu diria se tivesse certeza. Mas... eu não sei, Neal.
            - Está nervosa demais. Não pode ser sem razão.
         - Eu senti algo bom perto delas. Chiara é um encanto de menina. Lembrou-me Helen. E, por um momento, só um momento, eu pensei que pudesse ser daquela família...uma bobagem. Não liga.



            Não é bobagem. É uma possibilidade que também não passou despercebida a Neal. E o olhar da mãe de Melissa para Rachel foi perturbador. A senhora ruiva e bela não parecia ver uma desconhecida. Ela olhava para alguém especial. Como se esperasse há muito tempo por aquele encontro. Neal guardou aquele comentário para si. Não queria criar falsas esperanças em Rachel. Mas fez o que de mais eficaz poderia para resolver a questão. Ligou para Mozz. O amigo parecia bem ocupado ao atender. Mas ele não disse onde estava.

            - Preciso que você intensifique as pesquisas sobre Melissa. A família toda. Principalmente a mãe dela. – Disse ele ao amigo.
            - Por quê?
            - Depois eu explico, mas é importante.
            - Está bem. A ‘família toda’ inclui o Primeiro Ministro? – Ele já sorria com a ideia de hackear uma autoridade inglesa.
            - Inclui. O mais rápido que você puder. Por favor.

            Após desligar, Neal tornou a se aproximar de Rachel. Ela lhe sorria um pouco mais relaxada. Ambos sabiam como Mozzie era bom. Se houvesse alguma lógica em tudo aquilo, ele encontraria uma pista.

            - Será que agora eu consigo levar você para a nossa cama? Esse dia foi longo e eu estou cansado.



            - Você pode me levar pra cama sempre desejar Neal, cansado ou não.
            - Não se anime. É para dormir. – Mas ele ria pegando-a no colo e subindo as escadas que levavam ao quarto do casal.
            - Eu te amo, Neal. Muito. Mais do que eu um dia imaginei ser possível amar alguém. Obrigada por aceitar todas as minhas loucuras e estar ao meu lado nas horas mais difíceis.
            - Eu não tenho alternativa Rachel. Eu te amo demais para fazer qualquer outra coisa.

            Eles foram dormir sem sequer pensar no que impediu Mozz de ajudá-los naquele momento mesmo. Mozz estava longe de dormir, apesar do horário. Estava na casa de Peter. Enquanto o chefe da divisão de Colarinho Branco seguia trabalhando no interrogatório de Thomas Carter. Ele não sabia, mas no final da tarde Elizabeth recebeu uma intimação judicial para comparecer diante do juiz. O caso envolvia os tios de Sofia. Seu pesadelo agora era real. Não adiantava ninguém lhe dizer que jamais conseguiriam lhe tomar a guarda. Se queriam visitas agora, no futuro poderiam lhe tomar sua filha. Pensou em ligar para Peter, mas sabia o que ele lhe diria. Somente Mozzie iria lhe ajudar. Ele atendeu o seu chamado e não veio de mãos vazias.
            Quando recebeu a ligação, Mozz correu para a casa da amiga e, ao chegar, encontrou Ell chorando. Em suas mãos um papel. Ele tremeu ao desconfiar do que se tratava.

            - Nós fomos intimados a comparecer numa audiência junto dos tios de Sophia. Eles querem a guarda dela.
            - Balela! Não conseguirão!
            - E não vou entregá-la! Eu sumo com minhas filhas! Levo as duas para longe!

            Ela realmente estava disposta a sequestrar as filhas. E apesar de Mozz não acreditar na possibilidade de tirarem a guarda do casal, só aquela intimação já era um abuso. E ele tinha alternativa. Mozz chegou carregando algumas coisas. A noite seria longa.

            - Para um treinamento especial que só eu poderei lhe dar.
            - Treinamento de que, exatamente? – Ela perguntou.
            - Minha especialidade. Como fugir e se esconder. Já trouxe as novas identidades de vocês. O passaporte não está pronto, mas em dois dias eu entrego...

            Sim, havia também documentos para Peter. Mas Elizabeth sabia muito bem que seu marido não servia para criminoso e fugitivo. Se sumisse com suas filhas, estaria sozinha. E ele tentaria encontrá-las. Mesmo assim, dedicou-se à aula de Mozz. Era lições muito precisas.

            - Primeiro: jamais esconda-se em um lugar ao qual a polícia possa vinculá-la. Nunca! Sempre em lugares aleatórios. Por tanto a casa dos seus pais e amigos está descartada. Isso inclui, é claro, a residência dos Caffrey. Também não ficará com Sara nem June. Fui claro?
            - Sim. Mas o que você me sugere?
            - Eu aproveitaria esse momento difícil para conhecer outro país. Cultura nunca é demais e Sofia e Valentina teriam uma grande experiência passeando pela Inglaterra.
            - Muito frio. – Ell respondeu.
            - Lisboa?
            - Acho que não.
            - Hong Kong?
            - Muito longe! – Essa foi completamente descartada.
            - Buenos Aires?
            - Meu espanhol não é dos melhores. – Foi a melhor desculpa que encontrou.

            Nesse momento Mozz já sabia qual a razão. Elizabeth não desejava fugir. Ela não sabia bem como lidar com isso. E, principalmente, não conseguia se imaginar longe de Peter. Aquele teria de ser o plano B.

            - Está bem, Elizabeth. – Disse um tanto decepcionado. – Essa vida desbravadora não é para todos mesmo. Guarde bem esses documentos. Eles serão sua última alternativa. Provavelmente encontraremos outra saída. Mas se não...você terá de usá-los.
            - Obrigada, Mozz!
            - Não me agradeça ainda. – Mas ele se sentia orgulhoso. – Desde a noite em que me colocou a par do caso eu estive fazendo pesquisas com uma grande amiga.
            - Eu a conheço?
            - Não. Anne é muito discreta e prefere o mundo virtual ao real. Mas é muito eficiente! Juntos descobrimos coisas bem incessantes a respeito de Patrícia e Talles Harris.
            - Ótimo! Conte! Tudo pode ser útil para derrubarmos eles.
            - Ainda não. Antes, chame seu marido. Ele será útil nesse caso!



            O chefe do FBI desistiu do interrogatório de Carter e seguiu para casa mais cedo. Não foi sem razão. Um telefonema desesperado de Elizabeth o impediu de se concentrar. Peter ordenou então que Diana levasse o preso e deixasse todos os outros trâmites para depois.
            Quando chegou ao lar e encontrou com Mozzie, Peter não gostou nada. Era sinal de encrenca. Mas devido ao estado de Elizabeth, ele devia ter uma boa razão. Sua preocupação só fez aumentar quanto soube da intimação. Aquilo estava indo longe demais.
            - Patrícia e Talles Harris tiveram suas vidas devastadas por mim nas últimas horas. – Informou Mozzie. – Eles têm fixas aparentemente limpas. Mas não contavam com o fato de vocês terem um especialista.
            - Vá direto ao ponto, por favor, Mozz. – Peter pediu. A apreensão em seu coração de pai era tão grande que ele decidiu dar ouvidos ao criminoso amigo da família.
            - Esse casal não era um casal até um ano atrás!
            - O quê? – Ell surpreendeu-se.
            - Exatamente. Tales não passa de um trambiqueiro. Coisa pouca. Nunca deu um golpe grande na vida. Bom...pelo menos um que tenha dado certo. É daqueles que envergonham a nossa classe. Não serve nem para bater carteiras. Vivia das migalhas que Ricardo, esse sim um criminoso experiente, lhe dava. Nunca foi próximo do irmão. Não herdou o talento que o irmão sempre teve para o crime.

            Na opinião de Peter, criminosos estavam longe de possuir algum talento, mas, diante da necessidade atual, preferiu se calar e deixar Mozz concluir o raciocínio.

            - Patrícia, no entanto, é mestra num golpe bem antigo. Desde muito jovem usa da sedução para conseguir o que deseja. É dissimulada e aparenta ser o que não é. Já teve outros companheiros. Mas nunca casou...foram parceiros de crime. Eu apostaria que Tales é só isso também. Ela viu que ele, como tio de uma menina rica poderia ser sua mina de ouro.
            - Patrícia o manipula. – Peter concluiu.
            - Exatamente. – Mozzie respondeu. - E o fez crer que Sofia é a sua chance de herdar o que era seu por direito, afinal Ricardo era seu irmão. Temos de ter muito cuidado com ela. Mas eu já estou preparando um relatório para a juíza responsável. Nós compareceremos munidos de argumentos até essa reunião.
            - Nós? – Peter surpreendeu-se.
            - Eu sou advogado de vocês no caso, lembram? Agora vão dormir porque está muito tarde. Boa noite.

            A decisão estava tomada. O que não os impediu de dormir mal. Naquela noite, todos eles tiveram o sono tumultuado. Peter e Ell apreensivos com Sofia. Rachel pensando em sua família. Neal preocupado com ela. Diana enviou um comunicado afirmando que a continuação do interrogatório de Thomas Carter ocorreria a partir das 11hs. Rachel decidiu ficar em casa junto dos filhos durante a manhã de folga. Neal saiu sem dizer para onde iria. Rachel sequer desconfiou, mas ele ia tentar ajudá-la.
            Neal era um homem de paz. Mesmo quando vivia do crime, jamais machucava alguém. Tiros e até mesmo socos não faziam parte de seu repertório atual. O sorriso e fala doce abriam caminho e ele normalmente vencia pela conquista e não pela violência. Seus crimes eram de inteligência. Isso porém, não se aplicava quando eram os seus amigos que estavam em perigo. Muito menos a família. E já estava cansado daquele jogo imposto pelo embaixador inglês e sua advogada. Logo cede ele foi até a sede da embaixada e, certificando-se de que Melissa ainda não havia chegado, pediu para falar com Nohan.

            - Neal! É uma surpresa e uma alegria recebê-lo. Aceita uma bebida? – Bem arrumado, ele combinava perfeitamente com o escritório espaçoso e ricamente decorado. Mas havia algo de muito falso em cada palavra pronunciada por Nohan.
            - Não. Mas aceito que você seja franco comigo. A-G-O-R-A! Cansei desse jogo, Nohan.
            - Eu não sei do que você está falando, Neal. Não há jogo algum.



            A paciência de Neal já tinha se encerrado e não demorou muito para ele atravessar a sala, imprensar Nohan contra a parede e pegá-lo pelo colarinho. Em nada lembrava o homem de fala tranquila.

            - O que você e Melissa desejam de minha mulher? Fala! Ou eu não respondo por mim!
            - Me solte, Neal. Eu não tenho as respostas que você deseja! E nós dois sabemos que você não irá me ferir!
            - A não? – Foi a breve resposta de Neal antes de acertar o queixo de Nohan com o punho. O embaixador perdeu o equilíbrio e foi para o chão, perdendo a elegância que sempre o acompanhava.

            Neal poderia ter se aproveitado da queda para bater um pouco mais. Vontade não lhe faltava. Mas não era esse o seu objetivo ao vir ali. Precisava que Nohan abrisse o jogo. Então esperou que o inglês se erguesse do chão e imóvel o assistiu se recompor. Ele não parecia planejar falar nada.

            - Eu e Rachel conhecemos ontem a noite a mãe e a filha de Melissa. – Neal disse na intenção de ver a expressão de Nohan mudar.

            Decepcionou-se porque o embaixador não demonstrou além de indiferença. Pela sua expressão poderia nem mesmo saber que Melissa tinha uma filha.

            - A vida particular de Melissa não me diz respeito, Sr° Caffrey. Agora, se veio aqui apenas para me agredir, por favor, saia da minha sala antes que eu seja obrigado a chamar a polícia. O seu histórico policial não permite brincar com a lei.
            - Qual a sua Nohan...você não me engana mais.
            - Eu não avisarei mais uma vez, Neal. – Ele pegou o telefone. – Sei o quanto de tristeza isso trará para a bela Rachel e não gostaria de incomodá-la, mas se não ir embora nesse instante você será preso por agressão! E eu mesmo cuidarei para que Rachel seja amparada nesse momento difícil.

            Neal até pensou em esmurrá-lo mais uma vez. Mas viu que desestabilizá-lo era exatamente o que ele desejava. Não. Ciúme era a última coisa da qual necessitava. Sua mulher não cogitaria sair com Nohan. E ele estava usando o desejo como  cortina de fumaça para evitar que visse algo maior.

            - Minha mulher não o quer. Nunca quis. Além disso, Thomas Carter está preso. Você não tem nada mais para fazer no FBI.
            - Isso não é você quem decide, Neal.
            - Fique longe de nós Nohan! Rachel levou muito tempo para viver em paz. Se você, Melissa ou qualquer outra pessoa aproximar-se dela para desestabilizá-la novamente vão ter de se ver comigo.

            Neal saiu da embaixada inglesa irritado. Apesar do soco, Nohan estava muito mais calmo que ele. O inglês já esperava pela visita de Neal. Logo cedo Melissa lhe telefonou alertando para o que havia ocorrido. Ele só não esperava encontrar Neal tão fora de si.

            - Bom sinal. Ele irá gostar da sua reação, Neal. Ele vai adorar saber disso. – Falou pegando o telefone para comunicar o ocorrido.

            Às 11hs Neal, Peter, Rachel e Diana se juntaram na sala de interrogatório do FBI e ouviram Thomas Carter falar por diversas horas. Ele não tinha muitas opções para destino. Se fosse americano provavelmente receberia pena de morte. Mas era inglês e seria deportado assim que as duas nações encerrassem as investigações. Já na Inglaterra, seria julgado. Caso a promotoria trabalhasse bem, teria um presídio como lar até o fim da vida. Caso os advogados optassem por um laudo de insanidade mental, a prisão seria transferida para um manicômio. Rachel sabia o que era estar do outro lado e, mesmo assim, não sentia nada, nem mesmo um pouquinho de pena.

            - Porque me observa, Ruiva? – Ele lhe perguntou em determinado momento.
            - Nada de especial. – Rachel respondeu. – Só saboreando a deliciosa sensação de vê-lo acabado. Apenas isso.
            - Não precisa ser assim, com toda essa mágoa, Rachel. Eu e você temos várias coisas em comum.
            - Chega disso! – Peter interferiu.
            - Não, Peter. Deixe-o falar. Quais são as nossas semelhanças, Carter?
            - A principal delas? – Ele a olhava diretamente nos olhos, não fugia nem se permitia ser deixado de lado. – Nenhum de nós desiste do que quer. Nem deixamos de matar se for necessário.
            - Está enganado. Eu não sou como você. – Rachel respondeu.
            - É sim. Exatamente como eu. Veja agora...eu fui preso ao tentar roubar um diamante...você também. Um diamante me trouxe aos EUA e eu cheguei a tê-lo em mãos. Já você nunca chegou perto.
            - Você não sabe nada desse diamante. Não sabe nada da nossa vida! – Neal, cada vez mais irritado naquele dia, respondeu à frente de Rachel.
            - Será mesmo, Neal? Posso saber mais do que vocês.

            Vendo aquele interrogatório transformar-se em discussão, Peter fez um intervalo, dispensou Neal e Rachel para irem para casa e ficou apenas com Diana tentando arrancar mais informações de Carter. No fim da tarde ele seria entregue a polícia inglesa.

            - E nós nos veremos livres de Thomas Carter, Nohan e Melissa. – Diana concluiu.
            - Minha alegria não poderia ser maior, Diana. – Ele disse, mas ela via que faltava algo na voz do chefe.
            - Tudo bem, chefe?
            - Sim. Vamos continuar. – Ele não gostava de misturar seus problemas particulares com o trabalho. – Onde está Henrique?
            - Sara avisou que ele teve de fazer uma viagem. Parece que o único irmão sofreu um acidente. Ou algo assim. Eu ia avisar a Rachel...afinal são amigos. Mas ela me pareceu tão agitada que eu nem disse nada.
            - Sim, a Rachel anda estranha. Vamos continuar, Diana. Quero ir para casa logo.

            Rachel e Neal evitaram discutir o que ocorreu no interrogatório de Carter. Nenhum deles acreditava que aquele terrorista tivesse alguma informação sobre o diamante de Rachel ou seu passado. Ele pesquisou sua vida e estava blefando. Também não conversaram sobre Melissa. Até Mozz trazer alguma nova informação, haviam decidido não fazer nada.
            Pegaram as crianças na escola e na creche e foram para casa. Foi uma tarde agradável em família. Helen ganhou todos os mimos possíveis. Brincou no colo da mãe enquanto assistiam Neal e George tentarem se equilibrar sobre um skate. Quando o sol já estava quase se pondo e os dois estavam de banho tomado, Rachel colocou Helen para mamar e, logo depois, dormir. George foi assistir um DVD infantil em seu quarto e logo depois adormeceu também. Seus pais aproveitaram o momento para namorar.
            Um beijo, depois outro...e mais um. Logo estavam atirados no sofá da sala num amasso mais típico dos namorados do que de um casal com duas crianças pequenas. A gravata de Neal frouxa, o cinto aberto, os cabeços de Rachel já com os cachos bagunçados e volumosos, a camisa social que ela usava teve os botões arrancados e as alças da collant que usava por baixo teriam o mesmo destino caso a campainha da porta não tivesse tocado.  



            - Inacreditável! – Neal reclamou. – Se for o Mozz ele vai desistir e voltar depois. Esquece que tocou.
            - Não! O Mozz já teria entrado. Droga! Vá abrir Neal. Eu não estou apresentável. – Tinha as roupas mal arrumadas e o rosto afogueado.


            Quando Neal abriu a porta e trouxe a visita para a sala, Rachel agradeceu não ter corrido como estava e ter despaxado a visitante aos berros, como foi sua vontade. A loura alta e bem arrumada trazia uma pasta nas mãos e, obviamente, não veio tomar um cafezinho.

            - Muito prazer conhecê-los. Me chamo Olívia. – Ela disse estendendo a mão.

            Mal humorada, Rachel já olhou-a de cara feia quando se colou muito colada em Neal. O que aquela loira oferecida desejava? Ela desejava ter se arrumado um pouco mais para competir com os cabelos platinados e escovados da outra.



            - Boa tarde, Olívia! Ou devo dizer boa noite? – Será assim ela entendia que era uma péssima hora? – Posso saber a razão da sua visita?
            - É claro. – Espertamente, Olívia se afastou de Neal. Talvez tenha sentido o olhar de Rachel. – Vim vistoriar o lar de vocês.
            - Veio o que? – Agora o tom de voz de Rachel já era bem mais agudo! – Quem você pensa que é?!?!?
            - Calma, Rachel! – Neal pediu prevendo um grande problema.
            - Eu não penso, Rachel. Eu sou a assistente social destacada pelo governo dos EUA para avaliar de George e Helen Caffrey estão bem cuidados por vocês. Onde eles estão?
            - Eu cuido muito bem dos meus filhos! Não ouse duvidar disso! Você não é ninguém para questionar isso!
            - A juíza é! E com seu histórico pessoal e pena por assassinato, é natural que o governo se preocupe com seus filhos. Vou repetir: onde eles estão?
            - Dormindo em seus quartos após brincar, tomar banho e se alimentar como crianças saudáveis. – Neal respondeu, tentando manter a calma e passando a mão pela cintura de Rachel. Descontrole só pioraria a situação.
            - Nessa hora? É cedo para um menino dormir. Mal anoiteceu! – Olívia acusou.
            - Quem decide a hora em que meu filho dorme sou eu e não você. Saia da minha casa! Agora sua...
            - Acalme-se, senhora! Ou eu terei de lhe dar voz de prisão.
            - E eu terei de deixar a marca da minha mão nessa sua cara horrorosa! – Rachel gritou o mais alto que pode e só não cumpriu a ameaça porque ouviu a voz de George no alto da escada.
            - Não briga com a minha mamãe!

            Todos se voltaram para o menininho. Ele poderia estar chorando pelo que via. Era pequeno e foi tirado do sono por vozes estranhas e altas. Teria razão para estar assustado. Mas não foi o que os três adultos presentes viram. George parecia muito bravo, mas não assustado. Ele exigiu que Olívia não machucasse sua mãe.

            - Olá George. Eu não vim ferir a sua mãe. Vim conhecer você. – Olívia respondeu. Estava claro para ela que George não só era uma criança bem cuidada como também tinha muito apego à mãe.
            - Então não grita mais com a minha mamãe. – Avisou ele.



            - Ninguém mais vai gritar aqui, George. Ninguém. Porque você não leva Olívia para conhecer o seu quarto. Mostra pra ela como você é querido e bem educado.

            Ainda um pouco desconfiado, mas disposto a obedecer o pai, George ofereceu a mão para Olívia e levou-a para conhecer seu quarto. Mostrou tudo. O escorregador, sua mesa de desenho. O skate que há pouco usava com o pai. A bola. Os carrinhos. Seus livros. Seus filmes mais queridos.

            - Qual você mais gosta? – Olívia perguntou.
            - O da Valente. – Ele respondeu lhe mostrando a caixa do filme.



            - Porque esse? E não o Batman ou o Homem Aranha?
            - Eu gosto desses também. Mas a Merida é quase tão linda quanto a minha mamãe.
            - Verdade?
            - É! E ela é corajosa também. Papai diz que a mamãe é a mulher mais fantástica que ele já viu. E ele já viu um monte né. Se ele diz é verdade. – Olívia sorria olhando o menino.
            - E a mamãe e o papai cuidam bem de você e da sua irmã? Você gosta de ficar com eles?
            - Sim. Eu amo eles! E o tio Mozz também!
            - Você tem um tio! Ele é legal?
            - Ele é o mais legal de todos! Mas ele não ta aqui agora.
            - Outro dia eu conheço o tio Mozz então.

            Depois de muito conversar com George e de observar Helen ressonando em seu berço. Enquanto isso, Neal ainda forçava Rachel a beber uma caneca de chá muito doce. Ela ainda fervia em ódio.

            - Ninguém tem o direito de se colocar entre eu e meus filhos. Ninguém! Eu posso ser uma péssima pessoa. Péssima esposa! Mas sou boa mãe! Ninguém me tomará meus filhos.
            - Você está certa. E Olívia vai constatar isso. Relaxe e não brigue. Por favor!
            - Já a chama de Olívia? Estão íntimos?
            - Pare de bobagem. – Ele viu a assistente social descer as escadas da casa. – Tudo certo?
            - Certíssimo. Seu filho é um encanto de menino, Neal. Parece muito com você.

            Rachel segurou-se para não avançar no pescoço dela. Agora além de querer tirar seus filhos ainda se atirava para seu marido. Neal tratou de se despedir e despachar Olívia antes que uma nova briga iniciasse. Seu plano era fechar a porta e acalmar Rachel retomando o que começaram durante a tarde.
            Impossível! Bastou Olívia sair para Mozz chegar. Ele veio conversar sobre o pedido dos amigos e também pedir ajuda no processo de Sofia, mas ao ver a expressão de Rachel, percebeu que não era um bom momento.

            - Qual a razão do clima pesado? – Perguntou.
            - Dá pra acreditar que uma assistente social veio aqui pra julgar se sou boa mãe!?!?! Que vontade socar aquela cara!
            - Não exagera, Rachel!
            - Não venha você defendê-la. Ela está toda derretida por você! O que não me surpreende.
            - Você está irritada. Vai passar. Ela já fez o relatório dela e nunca mais a veremos. – Neal tentava amenizar a situação.
            - Não! – Mozz gritou. – Uma assistente social do nosso lado! É perfeito! Você a verá novamente, Neal! É isso!



            Se ele tivesse visto o olhar de Rachel, certamente teria ficado calado. 

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