segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Cap 8 - Diaba Ruiva: Passado Revelado




Sem muitas informações de como sua esposa estava, Neal aguardava junto de Mozz na recepção da clínica. Dizia a si mesmo que era um plano, uma farsa tão bem bolada que até mesmo a médica tinha acreditado nos gritos de Rachel. Mentia para si mesmo desejando não crer na possibilidade de algum mal ocorrer com as mulheres da sua vida.

- É impressionante! Pequena Helen já coopera com nossos planos ativamente! Ela nem nasceu e já sei que será brilhante no nosso mundo. É claro! Sendo filha e Nea...
- Chega, Mozz!Helen não está cooperando com nada! Helen não está bem!
- Ela quis nos ajudar! – Mozz insistiu. Mas depois, entendendo o desespero do amigo, tentou tranquilizá-lo. – Se a minha opinião servir para algo...tenha fé. Sua filha está ótima...e já está inscrita na ‘academia do Tio Mozz para criminosos principiantes’.

Peter e Elizabeth deixaram Valentina e Sofia com os avós maternos e correram ao hospital. Nervosa, Ell não conseguia sequer pensar na dor que uma complicação como aquela poderia trazer ao casal de amigos. Se sua Valentina tivesse qualquer problema, eles entrariam em desespero.

- Neal! – Peter chamou logo após avistá-lo. – Podemos ajudar em alguma coisa?
- Oi. Na verdade não. A equipe médica não autorizou a ninguém entrar. Então eu estou aqui, sem poder fazer nada.
- Qual o diagnóstico? – Ell perguntou.
- Descolamento da placenta. Mas ainda averiguam a gravidade. – Ele passou as mãos pelos cabelos já emaranhados. – Se não estabilizar, farão uma cesárea de emergência.

Mozz, Peter e Elizabeth sabiam o quanto aquela situação trazia a Neal lembranças ruins. Ele já tinha passado por tudo isso e, no caso de Lis, a cesárea de emergência não teve final feliz. Por traz daquela frágil tentativa de manter o controle, Neal estava com medo de perder mais uma filha.
Porém, todos estavam enganados. Não era uma tentativa de manter uma falsa frieza. A dor por Lis o tornara mais frio. Nada poderia machucar mais. E algo lhe dava a fé necessária para acreditar na sobrevivência de Helen. Àquela tragédia passada também lhe tornara mais forte e decidido a tomar a frente das próprias decisões. Dessa vez, não autorizaria a cesárea sem a certeza da sobrevivência da filha. Dentro da mãe ela estava protegida. E Rachel estava bem, estava consciente, segundo a médica.

- Drª Laura! – Gritou ao ver a medicar surgir nas imensas portas da emergência obstétrica. – Posso ver minha mulher?
- Daqui a alguns minutos. Primeiro vamos conversar. Venha comigo.

Nervoso, Neal não estava disposto a ouvir nada antes de deixar clara sua posição.

- Não será feito parto sem a autorização de minha esposa. Não cometerei esse erro novamente. Minha filha...
- Acalme-se, Neal. Sua esposa está acordada e já ameaçou minha equipe de coisas bem desagradáveis caso alguém aproxime um bisturi de seu ventre antes de Helen nos dar sinais de que deseja vir ao mundo.
- Ótimo! Como Rachel e Helen estão?
- Sua filha está bem e Rachel aparenta perceber isso, então também mantém a calma. Está acordada e estamos monitorando.
- Isso significa que está tudo bem? Normal? Ele sai do hospital quando?
            - Nada disso, Neal. Entenda, normalmente, se a gestante estiver perto da data prevista para o parto e é constatado deslocamento de placenta, é feita cesárea mesmo que o descolamento pequeno para garantir a tranquilidade no momento do nascimento.  É essa a minha indicação para vocês. Já disse para Rachel e ela negou. Com muita ênfase, devo dizer. Mas você é o pai e o marido. Se você autorizar...
            - Não...eu não irei contrariá-la, Drª. É ela quem carrega Helen. E se Rachel sente que ficar com ela mais algum tempo é o melhor, será assim. Posso vê-la agora?
            - Você sabe que a visitação, mesmo em casos de internação hospitalar, é negada para presos considerados perigosos...
            - Eu preciso vê-la...eu vou vê-la...
            - Acalme-se! – Drª Laura gritou. – Sua entrada foi negada pelo juiz, mas eu intercedi, afirmando que sua presença poderia ser importante para manter a paciente calma e assim garantir a vida da criança. Eu consegui uma visita de alguns minutos. Não me peça mais.

            Ele não pediu. Apenas agradeceu Laura e acompanhou-a até o quarto. No caminho foi gravando cada passo, cada curva do caminho. Iria entrar ali muitas vezes durante a internação de Rachel. Ninguém o impediria disso. Enquanto caminhava, seu coração estava com elas, apreensivo, precisando vê-las e ter a certeza de que estava tudo bem. Mas sua cabeça já trabalha num plano que garantisse seu contato nos próximos dias. Discretamente, pegou o celular e mandou uma mensagem para Mozz. [Vá para casa e estude a planta desse prédio. Travessuras à vista.]
            Foi revistado ao passar pelos guardas e logo ao entrar viu nela um sorriso sereno. Neal respirou aliviado. Era um sorriso calmo, seguro e sincero. Rachel estava realmente bem. Estava consciente de que as coisas se complicaram, mas sentia Helen se movimentar em seu ventre. Helen estava bem. E ficaria lá, protegida, até a hora do parto. Até estar pronta para enfrentar a vida fora do útero.

            - Nós estamos bem. – Disse abrindo os braços para recebê-lo. – Helen vai nascer na hora em que desejar. Não vamos apressar nada. Ela nos dirá a hora certa, nenhum minuto antes.
            - Deixarei vocês a sós. – Laura afirmou da porta. – Você tem 10 minutos, Neal. Tente não exaltá-la muito.
            - Eu me assustei tanto quando a doutora me disse que tudo era realidade...cheguei a pensar se tratar de um castigo de Deus. Por nós brincarmos com um assunto tão importante quanto a vida de vocês.
            - Calma, amor. Se Deus está bravo com a gente, não será em Helen que nos castigará. Ela está bem. Eu sinto. – Rachel riu largamente. – Eu acho que a nossa menina decidiu ser nova-iorquina!

Escolha de Helen ou não, fato era a impossibilidade de uma fuga naquela situação. Rachel amargaria algum tempo internada e Helen nasceria ali mesmo. Só o que incomodava Rachel era a possibilidade de ficar incomunicável naquele período, sem receber visitas.
- Não quero te deixar aqui. – Ele disse. – Quero te levar pra casa e eu mesmo cuidar de vocês.
- Eu também queria ser cuidada por você. Mas não é possível, Neal. Então...então vai, cuida do George e continua no FBI lutando para me aceitarem por lá novamente.
- Da onde vem toda essa serenidade? Você não é assim.
- Minha filha nascerá com a mãe em liberdade. Ela está esperando o nosso acordo ser autorizado. Chame de ‘sexto-sentido’.

Somente uma premonição mesmo. Porque de concreto nada havia naquele sentido. Nenhuma indicação de que o júri daria a Rachel a possibilidade de cumprir pena em regime de trabalho no FBI.

- Meus dois filhos estão bem e você está com a gente...então tudo irá se acertar. – Ela ainda disse enquanto lhe acarinhava a mão. - Vai tranquilo e sonha conosco essa noite. Eu e Helen vamos sonhar com nossos rapazes também. Dê um beijo em George por mim.

Naquela noite Neal e Mozzie planejaram as melhores formas de entrar no hospital sem serem vistos. Analisaram as alternativas desde a tubulação até a possibilidade dos guardas aceitarem suborno. Tudo foi observado.

- Verifique os horários de troca de turno daqueles guardas. – Ele pediu a Mozz.
- São dois em cada turno, Neal. Não vai conseguir distraí-los e entrar lá assim.
- Teremos de achar um jeito. A Drª Laura estipulou como data limite para o parto três semanas a frente. Se Rachel não entrar em trabalho de parto, farão a cesárea. Não posso ficar esse tempo todo sem vê-la.

Mozz passou o dia seguinte inteiro procurando alternativas enquanto Neal trabalhou no FBI. Estavam todos um pouco nervosos por lá. Muitos casos se acumularam e por Diana tratar-se da agente da maior confiança, Peter deixava a maior parte dos sob sua responsabilidade quando ele não estava no FBI. Hoje ele estava lá, porém, trancado em sua sala e incomunicável.

- Sabe o que há?
- Não sei, Neal. – Diana respondeu. – Mas deve ser grave. Não sai daquele telefone e pediu para não ser incomodado

 Peter passou o dia equilibrando-se, principalmente, entre dois casos. Um era o de Lorenzo Beltracci. Nesse, pouco podia fazer até o falsário lhes dar uma pisca de como e quando iria ‘limpar’ seu apartamento. Mas isso não impedia Stone de cobrar resultados. Ao que parecia o chefe de Sara, proprietário da seguradora, tinha bons contatos no governo e vinha pressionando para a resolução daquele caso. Quando fosse preso, Lorenzo renderia bastante à empresa graças as peças roubadas que tinha guardadas.

- É simples de entender, Stone. Eu não tenho mandado para invadir o apartamento, então Lorenzo precisa retirar as peças de lá. Para isso, nós o fizemos crer que será roubado. Logo ele tentará algo. E vamos pegá-lo. – Ter de explicar isso era chatíssimo e Peter estava sem paciência.
- Não pode ter nenhum erro, Burke! Se Lorenzo Beltracci tirar essas peças sem que sua equipe faça a intercepção, a responsabilidade será sua.
- Sim, sim...só que é fácil falar! Eu faço o melhor possível! – Peter explodiu. – Se devolvessem minha equipe completa, facilitaria!
- A Rachel voltará quando o juiz permitir. E isso ocorrerá apenas quando tivermos um caso onde ela seja imprescindível. Aliás, pelo que me disseram, ela está hospitalizada e com uma barriga imensa. Não nos é útil no momento. Ela vai parir e depois, se houver possibilidade, eu a reintegre a equipe. Enquanto isso, seja eficiente, Burke!
- Eu e minha equipe somos!

O outro assunto pelo qual Stone ligou era mais estranho e, na opinião de Peter, pouco podiam fazer para auxiliar a Interpol. Alguns atentados, até o momento sem razão aparente, movimentaram a Europa. Na Itália uma bomba na estação de trem mais movimentada matou 11 pessoas, além de destruir o monumento turístico lá abrigado. Nenhum grupo extremista assumiu a autoria. Três semanas depois, outra bomba caseira, similar, foi deixada em uma antiga catedral, histórica, em Berlim, na Alemanha. Não houve vítimas fatais, mas a perda histórica foi grande. Somente quando o terceiro atentado ocorreu, há dois dias, na Áustria, a ligação entre os três atos criminosos foi feita. Esse último deixou dois mortos e também destruiu um local tombado como patrimônio cultural.

- A aposta da polícia internacional está num fanático conhecedor de arte. Os três atentados ocorreram os locais bonitos, que abrigavam obras de arte assinadas por mestres da pintura e escultura. – Explicou Stone.
- É um caso desafiador. – Do tipo que Peter mais gostava. – Mas a Interpol tem especialista em arte. Porque a minha equipe tem de se envolver? Estamos cheios de trabalho.
- Ainda é um absoluto segredo, Peter. Absoluto. Nós recebemos um aviso da Interpol de que o próximo ataque seria nos EUA.
- Alguma ideia de onde? O número de lugares com obras de arte é imenso.
- O seu trabalho será descobrir. Sua melhor chance é descobrir como esse louco escolhe seus alvos. Se descobrir porque ele escolheu aqueles lugares na Itália, Alemanha e Áustria, poderemos antecipar qual será o alvo americano.

A questão era séria e Peter não podia contar à sua equipe do que se tratava. Mas precisava deles. Então chamou seus colegas de trabalho e lhes disse o que pode.

- Eu sei que estão estranhando o meu comportamento e querem uma explicação. Não posso dar, infelizmente. Ainda assim, vou pedir o empenho máximo de vocês. Nas próximas semanas as coisas serão difíceis por aqui. Além dos casos aos quais todos estamos nos dedicando, precisaremos colocar toda nossa atenção na prisão de Lorenzo e numa operação sigilosa  a qual vou explicar apenas o mínimo que vocês precisam saber.

- Porque o segredo? – Henrique questionou.
- Porque é um assunto internacional.
- MI5? – Qualquer envolvimento com a polícia internacional poderia facilitar ou complicar a vida de Rachel. Neal imaginava se essa investigação sigilosa poderia envolver algum crime do passado dela.
- Não, Interpol. – Erguendo-se e andando pela sala de reuniões começou a falar. – Por enquanto, preciso que vocês pesquisem e mapeiem os lugares que abrigam obras de arte. Comecem pelos artistas de maior renome. E podem intensificar nas obras com origem no século XVII.
- Expostas em Nova Iorque? – Diana perguntou.
- Todo o país.
- Mas são milhares...milhões, talvez, de parques, museus e prédios com obras de arte. – Henrique disse. Levará muito tempo.
- Comecem o quanto antes então. – Encarando olhares preocupados Peter deu os últimos avisos. – Até finalizarmos o caso de Lorenzo, Diana comanda essa operação. Depois eu assumo. Porém, todos teremos de acumular os dois com 100% de dedicação. Dessa vez, eu não posso relegar nada para agentes menos experientes. Vocês são os melhores com quem posso contar. Posso contar com vocês?
- Claro chefe! – Eles responderam em coro.
- Ótimo. Então vão para casa, descansem e amanhã cedo venham animados e preparados para trabalhar em dobro. Essa noite a vigilância do Lorenzo fica comigo, Henrique assume amanhã às 7hs.

Sozinho na sala de vigilância, Peter mantinha os olhos no computador, fazendo ele mesmo uma parte da pesquisa pedida aos comandados. E tentando imaginar qual a ligação naqueles atentados. Nada lhe vinha à mente. Enquanto isso, parte de seu cérebro seguia atento às escutas para acompanhar caso o apartamento de Lorenzo tivesse algum movimento no meio da madrugada. Escutas essas, ilegais. Caso realmente prendessem Lorenzo, teriam de fazer parecer que estavam seguindo-o porque não havia autorização para entrar no apartamento, deixar escutas ou grampear telefones.

- Ser 100% certinho nem sempre é possível. – Isso era, certamente, a influência de Neal em sua vida.

Mas nem só do trabalho sua mente se ocupou durante aquela noite. Pensou em Ell, Sofia e Valentina em casa e ele ali, trabalhando. Sem conseguir resistir, mandou uma mensagem de texto para Ell e, ao saber que ela visualizou o texto, soube que estava acordada e lhe telefonou.


            - Devo presumir que Valentina está agitada?
            - Não, querido. Dormiu até há pouco. Mas acordou aos berros de fome. Está grudada no meu peito.
            - Que bom...eu queria estar aí, Ell.
            - Eu sei. Como está o trabalho?
            - Difícil...não param de surgir complicações. Mas tudo irá se resolver. Boa noite, querida. Nos vemos amanhã cedo.
            - Até logo, meu amor.

           
            Na manhã seguinte, Neal, crente de que era a melhor saída, colocou o Dr. Caffrey para trabalhar. De jaleco branco, crachá falso e óculos, Neal entrou no hospital disfarçado de ginecologista e obstetra. Isso lhe dava acesso à ala de obstetrícia. O mais difícil foi passar pelos guardas na porta. Mozz resolveu isso com um truque bem antigo. Algumas gotinhas de remédio no suco gentilmente trazido da copa e, de repente, ambos tiveram que correr até ao banheiro. Quando Rachel acordou, ele estava lá, observando-a.

            - Neal! Você...e os guardas e...
            - Eu disse que viria. Posso beijar minha mulher?
            - Ela está ansiosa por isso.

            Alguns segundos era pouco e o beijo se estendeu por longos minutos. Rachel vestia a camisola hospitalar e tinha os cachos avermelhados presos num coque. A vontade dele era desfazer o penteado e bagunçar os fios até deixá-los revoltos como mais gostava.

            - Me ajuda a chegar ao banheiro? A cama é alta. – Enquanto caminhava devagar com o apoio do marido Rachel continuou sanando a curiosidade. – Como passou pelos guardar?
            - Digamos que eles também foram ao banheiro.
            - E como vai sair daqui depois?
            - Direi que sou médico, mostrarei esse crachá e direi que vim examiná-la.

            Eles não tinham muito tempo. Se demorasse muito, a desculpa de ser o plantonista seria descoberta e ficaria impossibilidade de repetir o golpe. Aproveitaram o tempo namorando e curtindo os movimentos de Helen na barriga. Ela era bem ativa logo pela manhã. Não havia passado nem quinze minutos quando Neal avisou-a de que teria de ir embora.

            - Já...mas eu volto logo. Me dá mais um beijo antes de eu ir?

            O beijo era para ser rápido...mas não tanto. Afastaram-se assustados ao ouvirem a maçaneta da porta ranger. Alguém estava entrando. Poderia ser o guarda que no retornou resolveu checar a presa, a drª Laura ou...uma completa surpresa. E foi.
            O guarda entrou sim...mas apenas para acompanhar o visitante: Peter Burke. O chefe primeiro o observou com o rosto avermelhado. Neal sabia que estava encrencado. A dúvida era se Peter iria manter aquele assunto em particular ou delatá-lo para os policiais.

           


            - Ei, Ei! Nós não vimos você entrar aqui! – Um dos uniformizados disse.
            - Sou médico e estou fazendo o meu trabalho. Se vocês não estavam cumprindo sua função, não é problema meu. Eu já...já vou indo. Tenho pacientes aguardando. Se me dão licença....
            - Espere, Dr.! Eu o acompanho! Outro dia venho conversar com você, Rachel! – Peter disse ainda bufando de ódio. – Vamos conversar a respeito do estado da paciente!
            - É claro...eu estou à disposição. – Neal respondeu agradecendo Peter por manter seu disfarce.
           
            Quando deixaram o hospital, Peter disse a Neal tudo o que se esperada de um policial honesto e sem margem para armações como aquela. Peter jamais permitiria um esquema como aquele. Motivo pelo qual Neal nunca o avisava desse tipo de ação, mesmo quando elas ajudam o departamento a resolver os casos. Por quase 20 minutos Neal ouviu calado Peter expor todos os seus argumentos sobre como era arriscado invadir um hospital passando-se por médico. No fim, ele disse apenas uma frase ao chefe.

            - Se fosse Elizabeth você iria deixá-la no hospital sem tentar vê-la?

            Peter foi para casa dormir sem falar mais nada para Neal. Ele não compreenderia suas razões mesmo e estava cansado demais após a noite em claro. Só tinha passado no hospital porque desejava ver Rachel e conversar um pouco com ela. Mesmo com suas divergências, sempre reconheceu nela uma grande agente e, por sua experiência internacional, podia ser muito útil na busca ao terrorista.

            Neal foi para o FBI e sob o comando de Diana começou sua pesquisa aos pontos que abrigavam coleções de arte nos EUA. Sem detalhes do que buscar, ficava muito difícil. Peter tinha esses detalhes e não dividiu com a equipe. Isso deixou a todos chateados. Sentiam que estavam trabalhando em vão ou, ao menos, totalmente no escuro.

            - Sejamos francos: é impossível! Mesmo que trabalhássemos exclusivamente nisso durante o mês todo não teríamos o relatório de 100% das áreas com obras de arte no país. – Henrique disse tirando os olhos de um calhamaço de papéis.
            - Precisamos de mais detalhes! Peter sempre confiou em sua equipe e nos confiou os assuntos. – Neal concordou com o colega.
            - Não olhem pra mim, colegas. – Diana falou. - Eu também não faço ideia do porque recebemos essa tarefa. Mas sei que é muito importante então: continuem a pesquisa. Eu vou checar a localização de Lorenzo. Ele passou a manhã quieto demais.

Assim passaram-se três dias. Lorenzo perigosamente silencioso, Peter misterioso, Diana estressada, o restante da equipe desconfiada e Neal muito irritado. Não era só o caso ou a certeza de que, com as informações completas, poderia ser mais útil. Seu problema pessoal incomodava bem mais. Desde que Peter o pegou no hospital, ele não viu nem falou com Rachel. E isso o estava enervando. Era hora de colocar outro plano em prática.
Para isso, ele e Mozz ensaiaram bastante. Estava proibido de chegar perto do hospital. E até a Dr. Laura lhe pediu para evitar lhe causar problemas ou estressar Rachel com visitas furtivas. Mozz então lhe disse que se pessoalmente era impossível, a tecnologia iria ajudá-los.

- O Sinal de Wi-fi do hospital é ótimo! – Ainda lhe garantiu o amigo.
- Quer que eu peça para Laura entregar um celular para Rachel? Ela vai se negar. Não quer que eu invente mais nada de arriscado.

- Você tem a esse amigo aqui para resolver isso, Neal.

O plano de Mozz estava armado. Com uma rápida conversa com Laura, Neal descobriu que em dois dias Rachel faria uma ultrassonografia. Nesse dia, Mozz cruzaria com ela na área onde são feitos os exames de imagem.

- Vamos dizer que eu sofri uma queda e preciso fazer uma tomografia computadorizada.
- Depois que estiver lá dentro, me livro dos enfermeiros e entrego a encomenda.

Neal realmente não poderia ter um amigo mais perfeito. Mozz adorava esses planos malucos. George o Teddy foram juntos pela manhã bem cedo para a escolinha. Diana, ao passar de carro, perguntou se Neal queria uma carona, mas ele negou afirmando que Mozz sofreu uma queda e ia levar o amigo ao pronto socorro.

- Eu o levo! – Ela prontificou-se.
- Não! Quer dizer...não precisa! – Era só que faltava. – Ele nem quer ir...eu vou tentar convencê-lo.
- Está bem. Qualquer coisa me avise.



Neal levou Mozz até o hospital e, aos gritos, o paciente anunciou que poderia estar morrendo e precisava fazer uma tomografia na cabeça. Dizia ter caído da escada, ser um milagre estar vivo e precisar de atendimento médico especializado.

- Acalme-se, senhor. O médico irá avaliar se necessita da tomografia.
- Claro que necessito! Minha vida depende disso! Vamos, mechasse! Se eu morrer a culpa será sua!

Neal chamou a recepcionista num canto e tentou convencê-la com seu charme.

- O meu amigo é um tanto paranoico, provavelmente não tem nada grave. Mas só vai se tranquilizar quando fizer a tomografia...então é bom levá-lo, com urgência, ao setor de exames de imagem. Tudo bem?
- Esse é um exame bem caro, senhor.
- Não se preocupe, dinheiro não é problema...apesar da aparência simples, meu amigo é milionário.

Agora cheio de mimos e cuidados, Mozz foi levado exatamente onde desejava. No colo carregava uma pequena nécessaire contendo celular e carregador. Quando avistou Rachel, fingiu uma súbita dor e gritou o mais alto que pode. Atraiu a todos os olhares, inclusive o que desejava: de Rachel.

- Sr.? O que sente? É uma tontura? Dor?
- Não!
- Então porque gritou?
- Sede! Vá buscar água pra mim...quero com gás, uma rodela de limão e duas pedras e meia de gelo. Preste a atenção, são duas pedra e meia, nem mais nem menos. Ande! Vá buscar! Ou quer que eu grite mais?!
- Não, não...eu já vou.

Sob o olhar atento de Rachel, Mozz largou a encomenda sob um banco próximo dela. Depois manobrou sua cadeira de rodas e passou ao seu lado.

- Guarde em lugar seguro...depois pode me agradecer. – Sussurrou na passada.

A partir daquele momento, Neal e Rachel trocaram mensagens constantes. Ela escondia o aparelho sob a cama ao qualquer sinal de movimento do outro lado da porta e pegava-o quando tinha certeza da segurança.

[ como estão meus garotos ?]
                               [ótimos. George foi para escola sorridente.]
[ J fico feliz. Amo vocês]
                               [Helen não deu nenhum sinal ainda? Dr. Laura disse que em 20 dias fará a cesárea. Pela segurança de vocês duas.]
[Ela me disse.
Mas nossa menina está bem,
está saudável. E ainda satisfeita
em ficar junto de mim.]
                            [Nisso eu invejo Helen.]
[Bobo! )

- Neal! Quando puder sair do celular e vir trabalhar, o FBI agradece. – Peter o chamou para uma reunião

             [tenho de sair. Volto depois. Bjs e te amo]

Havia um motivo concreto para Peter estar chamando Neal. Os agentes de campo a vigiar Lorenzo haviam alertado para a chegada de dois caminhões estacionados na frente do prédio há duas horas. Até o momento, porém, as escutas não acusaram visitantes.

- Será que ele desconfiou e por isso está bloqueando o som? Pode ter nos descoberto. – Neal cogitava. Se fosse ele a ter aquele acervo escondido em casa, após receber agentes do FBI, revisaria cada possível local para uma escuta.
- Parece que não. Ele foi mais esperto do que pensamos! – Peter gritou.
- O que foi?
- Eu explico, Neal. – Sara disse. – Enquanto nós monitorávamos a saída do prédio e os sons na casa, Lorenzo alugou outro apartamento no mesmo prédio, três andares abaixo da sua cobertura. No nome de um laranja qualquer. E transferiu tudo, provavelmente.
- Então, se tiver uma batida lá, ele não é preso porque as peças não estão num imóvel dele. – Esperto, Neal pensava.
- Exato! Mas porque os caminhões? – Diana perguntou.
- Ele vai tirar as peças de lá. Só pode ser isso. – Sara falou. – Temos de pegá-lo nesse momento e recuperar tudo.
- Não temos nada contra Lorenzo, Sara. Nada. – Peter lembrou.
- A menos que...- Neal começou a entender o plano de Lorenzo. O homem era dos bons. – Os caminhões não vieram levar nada. Trouxeram mais mercadoria. Lorenzo está usando esse novo apartamento como estoque. Deve ter uma fortuna lá. Mande alguém seguir o caminhão, Peter. Provavelmente nos levará ao ‘ateliê’ do artista que faz as cópias deixadas por Lorenzo aos roubar os originais. Meu palpite é que Lorenzo visita o lugar para conferir as falsificações. Na próxima vez em que for lá, pegamos os dois.

Peter concordou com Neal. Ele conhecia esse tipo de golpe, esse tipo de gente. Poderia estar certo. Então seguiu a sugestão do amigo e fingiu não perceber que logo ele voltou a dar mais atenção ao próprio celular.
Cerca de 50 minutos depois, recebeu o aviso de que o policial responsável havia seguido o caminhão até um antigo depósito localizado num bairro ao noroeste da cidade.

- Fique de olho aí. E tente descobrir quem são os frequentadores e o que é produzido nesse endereço.

Passaram-se sete dias e Lorenzo não deu as caras no depósito. Até mesmo Neal começou a desconfiar da sua brilhante ideia. Ele era bom, mas até os bons se enganavam algumas vezes. O nervosismo do consultor e dos agentes também só fez crescer. De Neal, pela iminência do nascimento de Helen. Os outros pelo estranho comportamento de Peter. A equipe continuava mapeando parques e museus com obras de arte e, raivosamente, seguia sem saber o motivo. E todo aquele trabalho parecia sem sentido. Isso deixava a todos desmotivados e os fazia render menos na tarefa.

Devido a isso, numa atitude rara, Peter desrespeitou sua chefia e abriu o jogo aos comandados. À portas fechadas, contou sobre os atentados e da ameaça de um ataque em solo americano. Todos ficaram chocados com a gravidade daquilo e passaram a se dedicar mais. Neal recebeu uma tarefa diferente dos demais. Deveria estudar as obras de arte destruídas nos atentados anteriores e tentar encontrar a fórmula usada pelo terrorista na escolha dos alvos.

- E não vamos investigar suspeitos? – Diana estranhou.
- A Interpol está cuidando disso.

Pelos próximos dias a equipe dedicou-se ao máximo em suas tarefas e, salvo uma dupla de agentes, o caso de Lorenzo ficou em segundo plano. O medo de um ataque terrorista tocava mais alto. Neal encontrou uma curiosa ligação entre os casos.

- Os três lugares eram privados. As obrar eram restritas a quem podia pagar para vê-las.
- Você acha que pode não se tratar de algum terrorista, mas sim algum tipo de manifestante, revoltado com o fato dos países lucrarem com a arte?
- É só uma ideia...
- Não...você pode estar certo. Vale a pena seguir essa pista. Diana! – Ele gritou do segundo andar. – Direcione as pesquisas para os locais com entrada paga!
Dois dias depois, Peter recebeu as informações tão esperadas. A Interpol tinha um suspeito. Thomas Carter, inglês com forte atuação em movimentos sociais e atuação política. Sempre teve atitudes extremistas e já havia ameaçado invadir prédios públicos, além de condenar o lucro sobre a arte.



- É ele. – Peter queria desacreditar.
- Isso é bom, não, chefe? – Diana não entendeu.
- É...mas o outro aviso da polícia internacional, não. A informação é de que Carter está em território americano. E isso confirma a tese de que irá acontecer um atentado aqui.
- Qual o próximo passo? – Henrique perguntou.
- Contatar a embaixada inglesa e pedir o apoio deles nas buscas a Thomas Carter. Encontrá-lo antes de uma tragédia. Continuem tentando descobrir onde será o alvo. Eu sigo com o restante.

Se a Colarinho Branco já estava fervendo nas últimas semanas, nada os preparou para os dias seguintes. Era como se dois terremotos estremecessem o FBI ao mesmo tempo. Primeiro, Lorenzo recebeu uma misteriosa ligação chamando-o para ‘verificar’ a mercadoria nova. Todos comemoraram...até Stone ligar e avisar ter ocorrido uma importante reviravolta sobre Carter. E tudo isso junto não pesava nos ombros de Neal tanto quando a contagem regressiva para o parto. Em quatro dias vencia o limite estipulado pela médica...e Rachel não aparentava pressa alguma de dar a luz.

- Neal! Concentre-se na ação. – Lembrou Peter ao vê-lo distraído. – Venha comigo. Stone quer você na reunião sobre Carter. Diana e Henrique vão liderar a perseguição a Lorenzo.
- Se antes era segredo, porque me querem lá?
- Não sei. Mas venha comigo. Temos uma reunião do outro lado da cidade.

Nada preparou Neal para as revelações da reunião. Junto de Stone estava o embaixador da Inglaterra nos EUA. Sr. Nohan aparentava ser um homem calmo, de meia idade e elegante. Um homem responsável pelas relações internacionais entre os dois países. E, aparentemente, ele estava disposto a ajudar nas buscas a Thomas e ao encaminhá-lo de volta ao país de origem, oferecer-lhe direito a defesa e tratamento psiquiátrico se assim fosse necessário. Tudo correu tranquilamente na reunião. Até Nohan fazer uma exigência.



- Nós iremos definir o agente responsável pelo caso. Sabemos da sua competência, Agente Burke, e que tudo passará pelo seu crivo, porém desejamos indicar a agente para estar na liderança com você.

Era surpreendente, mas não um problema. Neal, Peter e Stone observavam enquanto Nohan abria uma pasta que tinha em mãos. A surpresa tomou a todos quando viram se tratar de um arquivo. E ele abrigava informações de Rachel.


- O que isso significa? – Neal revoltou-se. – Minha esposa está presa há meses. Não pode lhe ser atribuído nenhum desses atentados e...
- Eu não estou acusando Rachel Turner de nada, Sr. Caffrey...a não ser, talvez, de ter os mais belos olhos azuis já vistos por mim.
- Rachel Caffrey, você quis dizer. – Neal não estava nada satisfeito. – Porque esse arquivo?
- Porque é ela a nossa indicação para agente à frente desse caso.

Peter foi o mais surpreso. Não que fosse ruim. Poderia ser a deixa para Rachel retornar e ficar na equipe. Mas o momento era impróprio. Seria possível. Ela estava prestes a dar a luz.

- Rachel está hospitalizada. Não é possível. Terá de fazer outra indicação.
- Acho que eu me expressei mal, Sr. Burke. Não é uma indicação. É uma condição. Se Turner não assumir, nós não ajudaremos. Entendeu?
- Pode nos dar um motivo? – Stone indagou. - A equipe é de grandes profissionais. Porque escolher uma condenada, nos EUA e na Europa? Diga-me, Sr. Nohan, o objetivo é ajudar a prender ou manter solto esse maluco?
- Não me ofenda! – Nohan foi duro na fala, mas não ergueu a voz. – Quero Turner porque ela é a melhor, porque tem experiência em casos na Inglaterra e porque confiamos no seu julgamento em momentos difíceis. E, se temos mais motivos, eu não pretendo dividi-los com vocês agora.

Não tinha como fechar aquele acordo assim, sem autorização judicial. Mas por dentro Neal confundia os sentimentos. Estava confiante na saída dela. Talvez Helen realmente nascesse com a mãe em liberdade. Mas não confiava em Nohan. Ele tinha algo de estranho. E aquela obsessão por Rachel podia render um preço alto demais pela liberdade dela.

Sem muito o que poder fazer por esse caso, Neal apenas mandou uma mensagem para Rachel dizendo que surgira uma possibilidade para ela. Pediu para manter a fé. Depois seguiu com Peter para atualizar-se quando a prisão de Lorenzo.

- Estou aqui, chefe. – Diana disse ao atender a ligação. – Lorenzo veio e está lá dentro. Vamos invadir em instantes.
- Não! Espere! Eu e Neal estamos indo. Não é longe. Se eles saírem você intercepta. Se não, nos aguarde. Quero assistir.

Neal não queria. Preferia ir para casa e ficar conversando com Rachel pelo telefone. Mas não pode fazer nada. Instalou-se na van junto aos colegas e esperou Peter dar o sinal. Quando chegou a hora, policiais fardados cercaram o local e anunciaram a operação. Lá estavam Lorenzo, o falsificador das peças, outras duas pessoas e muitas falsificações.

- Lorenzo Beltracci, você está preso por interceptação de peças roubadas, falsificação e arte e tráfico de armas. – Peter adorava essa parte. – E Diana?
- Sim, chefe.
- Faça uma busca no apartamento de Beltracci. E na sua mais recente aquisição imobiliária também. Meu palpite é encontrar um verdadeiro tesouro.

Peter dispensou toda sua equipe logo após um brinde de comemoração na sala de reuniões da Colarinho Branco. Sara, explodindo de felicidade só de imaginar sua comissão por resgatar todas aquelas obras de arte, levou Henrique para comemorar a dois. Diana correu para casa a fim de encontrar o filho, os demais também correram para suas famílias. Esse era o plano de Peter...depois de conversar com Neal.

- Stone me enviou uma mensagem há pouco. É do seu interesse.
- Fala de uma vez então. Vai, Peter! Diz!
- Amanhã pela manhã a juíza dará a sentença, em regime de urgência devido a iminente catástrofe que se aproxima, caso não encontremos Thomas Carter. E Stone aposta numa sentença favorável. É provável que amanhã mesmo Rachel receba uma nova tornozeleira.
- E você está preocupado porque não a quer de volta.
- Não! Não me entenda mal, Neal. Eu estou sentindo a falta de Rachel conosco...mas...ela está prestes a dar a luz. E Eu temo por trazê-la nesse momento.

O telefone de Neal estava tocando. Ele olhou o visor e desistiu de atender quando viu se tratar de Rachel.

- Eu..eu também me preocupo...mas a gente dá um jeito, mantém ela aqui no escritório.

O telefone tocou uma segunda vez e, sob o olhar atento de Peter, Neal recusou a chamada.

- Mesmo assim! Não me agrada!

Quando a conversa foi interrompida pela terceira vez em sequência, os dois homens trocaram um olhar nervoso. Peter explodiu primeiro.

- Atenda logo. E diga para a Rachel respeitar seu horário de trabalho! – Neal arregalou os olhos. – Eu não sou idiota, Neal. Você não larga esse celular Neal.

Diante disso, Neal, bem sorridente, ligou para Rachel. Era bom não ter de esconder. O telefone tocou apenas uma vez e ela atendeu. Normalmente, falavam aos sussurros por medo de alguma enfermeira ouvir. Dessa vez ela estava aos gritos.

- Neal Caffrey! Porque não atendeu!?!?
- Calma! Eu estava no FBI. Eu estou, na verdade. E Peter está te mandando um abraço.
- Que ótimo! Mas agora corra pra cá porque sua filha está nascendo!
- O que? Como assim? Porque não falou antes?
- Eu tentei! Mas você não atendeu ao telefone! – Ela parou para suportar uma contração. – Neal Caffrey! Você tem 20 minutos para estar aqui, segurando minha mão! Ou eu juro que proíbo sua entrada na sala de parto!
- Não! Espere! – Ele tinha de ver a filha nascer. – Helen!!!! Espere o papai, querida.




Neal Caffrey corria rápido, muito rápido. E foi obrigado a colocar esse talento em uso. Não que Rachel fosse realmente expulsá-lo da sala de parto. Ela não seria capaz. Mas aquela ameaça vazia dizia bem o quanto ela o desejava por perto. E Helen precisava dele para vir ao mundo em segurança. Chegou na recepção exatos 24 minutos depois de Rachel desligar e pulou a catraca gritando ao guarda que era por um bom motivo.

- Minha filha está nascendo! Minha filha! Minha Helen!

Quando chegou na ala obstétrica já avistou Laura trajando uma roupa verde, usada nos blocos cirúrgicos. Por um instante sentiu medo.

- Bem vindo, Srº Caffrey. Já íamos começar sem sua presença. Finalmente, sua filha convenceu Rachel de que desejar nascer. Vou começar a cesárea em alguns minutos. Vá se vestir. Uma enfermeira vai acompanhá-lo para junto de sua esposa. Ao chegar, procure tranquilizá-la. Ela está uma pilha.



Tudo ocorreu muito rapidamente. Minutos depois, Rachel o viu entrar na sala esterilizada e colocar-se ao seu lado. Somente nesse instante ela relaxou. Não era medo por si mesma. Precisava de Neal ali para manter os olhos em Helen quando aqueles remédios a derrubassem num sono profundo.

- Você chegou...que bom.
- Eu não abandonaria vocês, meu amor.
- Então? – Laura chamou-lhes a atenção. – Vamos trazer essa garotinha ao mundo?

Neal assistiu a tudo com a mão acariciando o rosto de Rachel. Logo após o busto dela, haviam colocado uma pequena cortina que impedia a ambos de ver a cirurgia em seu ventre. O anestesista a colocou de lado e deu uma injeção nas costas. Logo a médica estava testando sua sensibilidade. Neal sabia ser aquilo o início de tudo. Mais alguns minutos e Helen estaria em seus braços.

- Promete que vai cuidar dela pra sempre? – Rachel sussurrou.
- Nós vamos.
- Eu não importo mais. Eles sim. Aconteça o que acontecer, George e Helen ficarão bem. Me promete?
- Prometo. Agora fique calma e concentre-se. Você tem uma tarefa importante hoje.
- Sim, tenho...a mais importante de todas. – Rachel sorria e chorava ao mesmo tempo.

Alheia a toda a emoção à sua volta, Drª Laura estava concentrada em fazer a incisão necessária para o parto. Camada por camada da pele, trabalhou com o bisturi até poder pegar a bebê pelas perninhas, dar-lhe algumas palmadinhas para ouvir o choro e, delicadamente, chamar o pai para cortar o cordão.
Esse foi o único momento em que Neal tirou os olhos do rosto de Rachel. Acompanhou a tudo junto com ela, vendo apenas o que ela via. Mas ao ouvir o choro seus olhos procuraram pela dona daquela voz forte e aguda, responsável por melodia tão bela. Deu três curtos passos, com as pernas bambas. Um tanto sem saber o que fazia, aceitou a pequena tesoura colocada em suas mãos por uma enfermeira e cortou o cordão no ponto indicado pela médica. Logo viu sua filha, tão pequenina, ser enrolada num pequeno lençol acinzentado e, ainda em prantos, ser colocada em seus braços.

- Calma...sou eu...o papai. A mamãe também está aqui. Ela quer muito te pegar. – As lágrimas banhavam seu rosto. Como era possível ser tão bela? Ele que teve a oportunidade de manusear as mais pelas obras de arte, agora percebia jamais ter visto tamanha beleza. Nada podia ser belo que seus filhos. – Olha a mamãe, filha.

Rachel quase não a viu. Seus olhos estavam embaçados. Mas a sentiu ser colocada em seu colo. Estava ainda suja de sangue e tinha os olhos não completamente abertos. Helen parou de chorar instantaneamente. Ela reconheceu o cheiro da mãe e aconchegou-se como pode.

- Minha pequenina. Seja bem vinda. Mamãe te ama tanto.


A equipe médica precisava seguir com os procedimentos de mãe e bebê. E alguns poucos minutos depois aproximaram-se para retirar o bebê. Rachel estava cada vez mais sonolenta pela anestesia e a própria reação do corpo ao parto. Apesar de estar lutando contra o parto, Rachel precisava dormir.

- Vamos levá-la para dar banho e fazer os primeiros testes enquanto a senhora passa por mais alguns procedimentos. Precisamos pegá-la.
- Não! Não a quero sem nós! – A perda de Lis deixou medos e ensinamentos. – Neal! Me deixa agora! Vai com Helen. Não tire os olhos dela e a proteja. Quando eu acordar, quero vê-la bem.
- Mas amor...você...- Helen estava bem e Rachel ainda passaria pelos pontos. Ele deseja ficar.
- Eu ficarei bem. Vá com Helen. Me promete que quando eu acordar ela estará conosco.
- Claro que prometo. Fique tranquila. Não deixarei nada de errado ocorrer com Helen.

Com essa garantia, Rachel foi lentamente levada ao mundo dos sonhos. Sonhos doces e com o perfume de uma recém nascida.


Um comentário:

  1. Esse Mozzi é forte kkkkk que bom que Helen nasceu e num sei nao esse cara ai é apaixonado pela Rachel

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