domingo, 9 de novembro de 2014

Diaba Ruiva: Passado Revelado - Capítulo 5




Apenas três dias haviam se passado desde a prisão de Rachel e Neal já estava arrependido de ter aceito a proposta de Peter. Se fosse apenas ficar distante dela, já seria difícil. Mas, além disso, ainda havia a dificuldade de ficar em prisão domiciliar e tentar minimizar o mau humor de George por estar em outra cidade e longe da mãe. Ell, June e Mozz vinham ajudando como podiam.
Para completar a lista de dificuldades, Mozzie, no papel de advogado de Rachel, foi avisado de que ela e outra detenta haviam tido um desentendimento. Nada sério, segundo a direção do presídio informou. Mesmo assim, conhecendo o gênio difícil da esposa, Neal se preocupou. Tudo de que não precisava era preocupar-se com a possibilidade dela se envolver em alguma briga na cadeia. As visitas seriam apenas no final de semana, se conseguisse sair do apartamento então agradeceu quando Rachel lhe telefonou a cobrar do presídio.

            - Que bom ouvir a sua voz. – Ela disse tentando controlar o tremor da voz.
            - Assim que me derem a tornozeleira eu irei aí te ver. Está precisando de alguma coisa?
            - Além das suas mãos em mim? Do George? Acho que só de uma chapinha pra alisar os cabelos. Mas isso não vão deixar você me trazer. Como está meu filho?
            - Sentindo sua falta. E como está minha filha?
            - Achando esse lugar muito monótono. Tenho certeza de que ela sente sua falta também.
            - Logo isso será passado – Ele precisava mudar de assunto. – Fiquei sabendo da sua briga. Não arranje encrenca, Rachel. Pensa na Helen! Aí tem gente barra pesada!
            - Só precisava impor respeito. Também sei ser barra pesada! Que gente exagerada. Eu e K já estamos bem amiguinhas. Eu finjo que a respeito e ela faz de conta que não me teme. Eu durmo com um olho aberto, Neal. Não se preocupe com Helen. Eu a colocarei no mundo com saúde. Tenho de desligar. A guarda está me olhando de cara feia.
            - Repousa, por favor.
            - Como se eu tivesse muitas atividades...claro Neal. Colocarei minhas pernas pra cima, fecharei os olhos e fingirei que estou numa das minhas sessões de massagem. – Eu tom de voz ficou mais triste. – Até logo Neal. Se cuida.


            A única alternativa de Neal era passar o tempo trabalhando nos casos que Peter lhe pediu para analisar. O chefe havia lhe dado uma lista de processos para ler e sugerir estratégias de ação para resolverem os crimes. Tudo muito tranquilo, tudo muito comum...a não ser pelo fato de um dos casos, o que Peter tinha mais interesse em sua ajuda, ser diretamente ligado à Sara. Não que houvesse alguma chance deles voltarem. Nenhuma. Não havia vontade de nenhum deles. Sara estava feliz ao lado de Henrique. Mesmo assim era constrangedor. E quando Rachel soubesse disso, provavelmente não gostaria nada.  Em especial por um detalhe: se ele estava restrito ao apartamento, Sara resolveu lhe fazer uma visita no meio da tarde, sem Henrique, que estava na sede do FBI.

            - Oi Neal! – Ela disse entrando no apartamento do alto de saltos gigantescos e vestida da forma mais elegante possível. Era a mesma Sara Ellis de sempre. – Você me conhece, Neal. Não tenho paciência para a enrolação do FBI. Preciso resolver esse caso e você pode ajudar então...
            - Então você não quis esperar eu receber autorização para sair da prisão domiciliar.
            - Exato! E consegui com Henrique que minha entrada aqui fosse permitida.
            - Seu namorado sabe que...
            - Sabe! E sabe que isso é história velha. Nós estamos muito bem juntos, Neal. Não há porque ter ciúme. Qualquer pessoa sensata sabe que não precisa criar caso com isso.
            - É. Tem razão. – Só que Rachel não se enquadrava na categoria ‘pessoa sensata’. – Já que está aqui, o que eu posso ajudar? Eu já olhei o caso, mas enquanto não sair daqui fica difícil ajudar...e o Mozzie está envolvido com outras coisas então não pode ajudar.
            - Eu sei. Mas há coisas que o arquivo do caso não dizem...e eu vim te dizer. – Ela sentou-se na mesa da cozinha. Eu aceito uma taça de vinho antes de começar.



            Com uma garrafa de vinho, duas taças e o notebook de Sara sobre a mesa, Neal foi apresentado a Lorenzo Beltracci. Empresário da área da construção civil, Beltracci tinha gosto pela arte e recentemente adquiriu um quadro chamado ‘Landscape with Horses.

            A bela pintura abstrata de corres vívidas vale um preço considerável. Motivo pelo qual a seguradora na qual Sara trabalhava foi acionada. Lorenzo Beltracci queria fazer o seguro da obra de arte pela qual pagou uma alta quantia.




            - Mas quando nosso especialista analisou, constatou que não passava de uma falsificação. De alta qualidade, mas ainda assim uma falsificação. Beltracci teve um prejuízo grande. E mesmo que não recupere o dinheiro, deseja, por honra, encontrar o falsário.
            - Esse Lorenzo Beltracci tem outros quadros segurados com vocês?
            - Não.
            - E não pode ser uma armadilha do próprio? Justo na primeira peça sofre um golpe desses? É estranho isso, Sara. – Neal estava habituado a desconfiar de tamanhas coincidências. E não seria a primeira vez que um ricaço tenta essa artimanha.
            - Nós temos o seguro de uma Ferrari e de um iate dele, além do edifício comercial que lançaram há alguns meses. Ele é um ‘novo rico’, Neal. Não conhece arte...mas quis se exibir ao comprar o quadro. Como não fizemos o seguro, o crime não o fez ganhar absolutamente nada. Não entendo porque nos enganaria. Mas vou investigar o Sr. Beltracci.
            - Faça isso...algo não encaixa nessa história. – E ele tinha a sensação que Sara também sabia disso. – Mas nada do que me disse até agora não estava nos arquivos. Tem mais, Sara. Porque veio aqui?
            - É...tem. – Ela estava constrangida. - Eu não passei para o FBI por motivos...óbvios. Ocorre que eu e Beltracci, há bastante tempo, tivemos um breve relacionamento. E foi por isso que há uns dois anos ele procurou a Sterling-Bosch Seguradora para garantir a segurança de alguns bens.
            - Mas você trabalha com seguro de recuperação, não com seguros tradicionais.
            - Exato! Ele não sabia disso. E eu o indiquei para o setor da Sterling-Bosch que poderia atendê-lo. Depois eu fui pra Inglaterra e...bom...agora ele me procurou por isso. A questão, Neal, é que eu não coloquei esses detalhes no relatório que passei ao Peter porque não quero criar um problema com Henrique. Já basta ele ter ciúme de você. Mas...se for útil no caso...quero que saiba que temos essa aproximação com Lorenzo.
            - Com o senhor Sr. Beltracci., você quis dizer. – Neal brincou rindo. – Investigue-o, Sara...posso estar enganado mas acho que eu não sou mais o único criminoso na sua lista de namorados. Enquanto isso...eu vou acionar meus contatos para ver se alguém ouviu falar desse original. Sabemos onde está a cópia, eu quero saber do verdadeiro.
            - Ótimo, Neal!
            - E, Sara, tem mais uma coisa. Eu quero analisar o quadro. Confio mais nos meus olhos que nos do seu especialista. - Ele se dirigiu à porta. Era hora de se despedir. – Se não se importa...meu filho chega logo.
            - Claro Neal. Até logo, quando puder ir ao FBI.

            Cinco dias de muita apreensão ainda se passaram até que Neal recebesse autorização para deixar o apartamento. Para tanto, foi obrigado a depor enfrente à juíza. E mentir descaradamente. Nada que já não tivesse feito antes na vida.

            - Porque deseja retornar ao FBI, Sr. Caffrey? – Perguntou a magistrada.
            - Eu fui muito feliz lá. Desejo retornar para fazer um bom trabalho. – Isso era verdade.
            - Esse é o único motivo?
            - Sim, excelentíssima. O único. – Dessa vez, a resposta estava longe de ser verdadeira.
            - Seu crime é de pouca relevância. Você não cometeu nenhum roubo ou falsificação, como em outras oportunidades. Mas acompanhou sua esposa em uma fuga. Ela sim com condenação por assassinatos múltiplos. E agora negociou um acordo após entregá-la às autoridades. O senhor ainda mantém relacionamento com essa moça, conforme me passaram?



            - Sim. Somos casados. Temos um filho de quase três anos e uma filha a caminho. Ela aceitou entregar-se à polícia. E quanto aos assassinatos, ela não é mais...
            - Nós não estamos aqui para falar da sua esposa, Sr. Caffrey. Me interessa é saber se o senhor me garante que não tentará facilitar uma fuga dela se eu permitir que volte a ser um consultor da divisão de Colarinho Branco do FBI, sob responsabilidade do agente Peter Burke.
            - Nunca me passou pela cabeça facilitar a fuga de minha esposa do presídio. – Não poderia haver mentira mais deslavada. O plano estava armado. – Além disso, eu tenho esperança dela sair como consultora e atuar no FBI como fazia antes.
            - O senhor está sonhando alto demais, Sr. Caffrey. Diferentemente de você, Rachel Turner é uma assassina. Recebeu uma oportunidade e jogou-a fora. Se a decisão vier para a minha mesa, eu julgarei negando sua saída do presídio. Ela é instável demais para conviver em sociedade.
            - Ainda bem que o caso pode ir para outra mesa, então. – Foi a resposta simples de Neal. Estava tranquilo. Rachel sairia por bem ou por mal. – Já que o meu caso é diferente, entendo que receberei a permissão. Estou certo?
- Sim. A partir de amanhã você usará tornozeleira, por três anos e seis meses. Não nos decepcione outra vez. Se cumprir sem falhas sua pena, torna a ganhar a liberdade.

Rachel recebeu com alegria a notícia trazida por Mozz.  Há uma semana presa, a tristeza e a solidão começavam a se intensificar. As visitas de Mozz, Henry, Henrique e sua mãe amenizavam a situação. Assim como ter Helen sempre junto de si também era um alento. Mas sentia a falta de Neal. Agora poderia ao menos receber a visita do marido.

- Ele também quer vê-la. Hoje começa no FBI novamente e no final de semana virá lhe ver. – Mozz lhe disse. – George faz desenhos seus todos os dias. Cada vez a desenha com cabelo mais longo e mais vermelho. Ele ama você, Rachel. Talvez devesse permitir que Neal o trouxesse para te ver. Ele sequer perceberá que está em um presídio.
- Não! Não me verá aqui. Jamais. – Ela estava decidida apesar da saudade. – Diga a Neal que eu proíbo meu filho de chegar perto desse lugar.
- Está bem, está bem. Como está a pequena Helen?
- A cada dia mais pesada...e eu mais inchada. Mas está bem sim. – Não valia a pena queixar-se e dizer que vinha sentindo dores cada vez mais fortes nas costas. - Hoje terei uma consulta médica. Queria tanto que fosse o Richard a cuidar de nós.
- Não é possível, infelizmente. Todas as presas são atendidas por médicos do estado. Um obstetra que normalmente atende detentas virá examiná-la. Eles não querem deixá-la sair em hipótese alguma.
- É...o tempo de férias não apagou meu histórico, Mozz. – Era o fim da visita. - Diga para Neal que eu amo ele. E cuide bem de George, Mozz.

Reassumindo seu como consultor no FBI, Neal iniciou o dia sendo recebido por todos. Estava novamente de volta a rotina de casa e trabalho supervisionado por Peter. E, para começar o dia, já precisava ter uma conversa séria com o amigo. Não gostou nada do tom da juíza ao lhe falar das chances de Rachel. Seria possível que não havia chance alguma? Se fosse assim, melhor fugir logo. E se a situação era tão grave e definitiva como Peter pode ludibriá-los com um acordo?



            - Eu não enganei vocês, Neal. Nunca disse que seria fácil! Não é um acordo simples como o seu. – O chefe da Colarinho Branco disse.
            - Eu sei. Mas a juíza falou de uma forma como se fosse impossível. Você realmente acredita que temos chance? Foi por essa chance que nós viemos, Peter!
            - E existe uma chance.
            - UMA? Uma única chance?
            - Sim! Uma chance, Neal. E nós vamos nos agarrar a ela e trazer a Rachel de volta. Legalmente. Não se desespere e não faça nenhuma bobagem. Entendeu?

            Peter tinha toda a razão em estar preocupado com as atitudes de Neal. Em sua cabeça, preocupações e planos se misturavam. Não deixaria barato caso o acordo não acontecesse.

            - Stone virá aqui hoje lhe dar boas vindas, Neal. – O chefão do FBI raramente aparecia. – Você sabe como ele sempre teve simpatia por ela. Sei que vai apoiar a volta de Rachel. Vamos falar com ele. Agora vá ajudar Diana nos casos dela e mostre trabalho Neal. Mostre ao FBI como os consultores fazem a diferença.
            - Está bem.

           
            Sem nenhuma vontade Rachel caminhou no meio daquela tarde em direção ao consultório médico localizado dentro do presídio. Era um ambulatório onde normalmente pequenos problemas se saúde eram avaliados e, em casos como o dela, servia para consultas de pré-natal. Apesar de ser uma péssima forma de gerar uma vida, Rachel estava longe de ser a primeira grávida presa. Gestantes davam a luz em presídios diariamente em todo o mundo. E nos EUA a vida delas costumava não ser facilitada em nada. A lei americana é rígida sem se importar com a condição especial de uma gestante.
As regras, em se tratando de um exame íntimo, fizeram com que uma guarda permanecesse no consultório. Depois de lhe soltar as algemas a policial colocou-se mais afastada e apenas observou.

            - Como se sente, Rachel? – O homem de cerca de 40 anos, grisalho e gorducho lhe disse assim que entrou. Em seu crachá o nome Ian Groff. Não lhe disse boa tarde nem fez qualquer tentativa de ser simpático. Ele simplesmente cumpria uma obrigação.
         




- Eu vinha bem, acompanhando o desenvolvimento da minha filha. Até os últimos exames ela esteve sempre bem....e agora eu comecei a sentir... – Ela iria lhe falar das dores, mas viu-o lendo sua pasta com histórico médico e franzindo a testa.
            - Tire a roupa e deite na maca. Vou te examinar. – Cortou-a ainda com a cabeça baixa, lendo o arquivo.

            Sem querer arranjar confusão apesar de muito descontente, Rachel fez o que lhe foi pedido e dirigiu-se até a parte de trás de um biombo para tirar a roupa e deitar na maca ginecológica. Estava constrangida com aquilo. Não o conhecia, não tinham trocado nem três frases. Era muito desagradável, humilhante. E só piorou quando ele também passou a parte reservada do consultório ainda com sua pasta em mãos e uma expressão apavorada no rosto.

            - Você teve um filho há três anos e há dois sofreu um aborto violento, com trauma no útero. Foi feita uma cesariana de emergência e a criança nasceu morta. Ficaram sequelas. – Afirmou sem nenhuma delicadeza, como se ela não soubesse de tudo aquilo.
            - Sim...mas tive acompanhamento médico para engravidar novamente e... – Ela começou a explicar cada vez mais desgostosa com o homem.
            - Certamente não de um médico minimamente responsável. Com seu histórico, não deveria engravidar mais. – Disse ele enquanto vestia luvas e preparava-se para tocá-la. – O mais correto seria terem feito, para sua segurança e tranquilidade, um processo de ligamento de trompas para não haver risco de nova gestação. Já vamos preparar esse procedimento para logo após o parto, se tudo correr bem até lá. Você já terá dois filhos e é perfeitamente aceitável que...
            - SAIAAAA! – Rachel gritou. – NÃO ME TOQUE!
           
            A guarda aproximou-se, mas no fundo, como mulher, entendia porque Rachel agia assim. Nenhuma grávida gostaria de ouvir aquilo tudo. Até a mais calma das mulheres se revoltaria quando, esperando um bebê, o médico lhe dizia que deveria ter sido esterilizada. E Rachel estava longe de ser uma mulher calma

            - NÃO ME TOQUE SEU AÇOUGUEIRO! NÃO TOQUE NA MINHA FILHA!
            - Eu não lhe fiz nada. Só vou examiná-la!
            - Não vai me tocar. Saiaaa!
            - É melhor vestir-se, Rachel. – A policial disse. – Acalme-se. Você não precisa ser examinada se não deseja.
            - Não há outro médico. Se eu não examiná-la, ficará sem atendimento. E eu colocarei esse seu ataque sem sentido no meu relatório! – O médico insistiu enquanto já a via vestir o uniforme.
            - Eu e minha filha ficaremos bem. Você não chegará perto de nós.


            Quando finalmente chegou em casa após um dia de trabalho longo e tumultuado, Neal estava cansado e estressado. A reunião com Stone serviu mais para deixá-lo mais ansioso. O chefe do FBI confirmou que caso dependesse apenas de sua vontade Rachel não só estaria ali como jamais teria deixado o FBI.

            - Gosto de gente competente, Neal. E sua mulher o é. Assim como você. Mas não depende de mim.
            - Mas você pode colaborar! – Ele insistiu.
            - Sim, posso. E irei. Na hora certa. Vamos esperar surgir o caso certo para requisitá-la. Talvez demore alguns meses mas...
            - Ela não tem alguns meses! Ela está grávida e ...
            - Ela sabia disso e deixou-se prender. – Stone estendeu a mão em cumprimento ao consultor. – Na hora certa Neal, nem antes nem depois. Enquanto isso, bom trabalho.

            Aquilo não ajudou em nada o ânimo de Neal. Porém, teve de tirar forças para trabalhar até as 21h40min, colocando em dia diversos projetos atrasados. Saiu de lá cansado assim como Diana, Peter e Henrique. A diferença é que eles tinham toda a família lhe esperando em casa.
            Quando chegou em casa, o que era ruim ficou pior. Pelo avançado da hora, não esperava mesmo encontrar George acordado. Mas assim que pisou na sala ouviu o silêncio profundo e notou a falta da caixa de brinquedos que sempre ficava ali, percebeu algo de muito errado. Mozz sentado à mesa, no escuro e sem nenhuma taça de vinho por perto também era um forte sinal de problemas.



            - George? – Uma palavra servia como pergunta completa.
            - Levei para passar a noite com June. Temos um problema Neal...mas eu já estou trabalhando para...
            - Rachel?
            - Sim. – Melhor ser direto. – Eu estive no presídio hoje cedo e ela estava bem, preparando-se para uma consulta médica de rotina. Mas ligaram no início da noite e avisaram que houve um problema.
            - Ela passou mal? É a Helen?
            - Não! Ela brigou com o médico...gritou...xingou...e se negou a permitir que a examinasse. Eu ainda não tenho detalhes do que aconteceu. Ela está bem! Teve uma elevação de pressão com a cena toda, mas uma enfermeira acompanhou tudo e as duas estão ótimas.
            - Ela não faria isso por nada! Sabe que precisa de acompanhamento médico. Esse médico fez alguma coisa. – Neal esbravejou pegando as chaves.
            - É provável. Mas eu já estou tomando minhas providências para resol...onde você vai, Neal?
            - Vou a casa do Peter. Ele vai ter de descobrir o que aconteceu lá naquele presídio. Não vou ficar aqui sem saber de nada.

            Após ter colocado Sophia para dormir, os Burke estavam finalmente relaxando enquanto assistiam a um filme quando Neal chegou. No caminho ele tentou encontrar possibilidades para explicar o que aconteceu. E não encontrou. Rachel era nervosa, era explosiva, era geniosa. Mas ela brincaria com os cuidados a Helen. Algo a fez tomar atitudes tão drásticas.
            Peter e Ell surpreenderam-se quando a campanhinha tocou. E bem mais quando viram a expressão perturbada de Neal.

            - Neal...você ganhou a tornozeleira hoje e já saiu do combinado? Era para estar na sua casa a essa hora! Não está de serviço.
            - Dane-se!
            - Como é que é? – Peter ficou perplexo.
            - Calma, amor. Há algo errado. – Ell ficou sentada à mesa enquanto Peter e Neal permaneciam em pé. – Quer uma bebida Neal?



            - Não! Sem bebida hoje. – Neal respondeu. – Eu preciso ter notícias da Rachel. Algo de errado aconteceu. Na verdade eu precisava vê-la. Mas sei que essa hora é complicado. Então preciso que descubra o que aconteceu, Peter. Agora.
            - Não aconteceu nada, Neal! Isso é paranoia sua. Ela está presa. É o lugar mais seguro onde ela poderia estar.
            - Não, não é. Algo aconteceu hoje a tarde. Mozz foi avisado. Ela brigou com o médico. Fez um escândalo. Algo aconteceu. Que quero saber.
            - Espera Neal. Acalme-se. – Ell sentia que precisa acalmar a ambos. – Mozz soube da discussão de Rachel com o médico, mas não sabe como ela está. É isso? Ela passou mal e chamaram o médico?
            - Não! Era uma consulta de rotina. Para acompanhar a gravidez. Ela está fisicamente bem, segundo avisaram ao Mozz. Mas eu preciso saber o que houve exatamente.
            - É claro...era uma consulta ginecológica...é algo intimo. Talvez Rachel não tenha se sentido a vontade. Pode ser isso. Amanhã eu irei visitá-la e descubro tudo.
            - Não! Você não vai ao presídio, Ell. – Peter disse para desespero de Neal. – Eu vou ligar para o diretor do presídio e nós descobriremos. Acalme-se Neal. Ela está bem. Você mesmo disse.

            Quando, após duas horas, em plena madrugada, Neal, Ell e Peter finalmente souberam o que se passou, Neal tranquilizou-se. Não fora nada fisicamente grave. Rachel discutiu com o médico e não se permitiu ser examinada.

            - O diretor disse que não podem obrigá-la a aceitar o médico. Porém, não há outro ginecologista que atenda lá. – Peter disse ao fim do relato quanto ao telefonema.
            - Mas ela não pode ficar sem atendimento. E Helen? – Elizabeth argumentou.
            - Eu preciso conversar com ela, Peter. Logo. Não vou esperar pelo sábado.
            - Amanhã nós tentamos resolver isso. Aliás, hoje. Já é quase uma da manhã. – A campainha tocou. – Quem pode ser?

            Era Mozz. Trazendo uma pasta com documentos e a solução para o problema.



            - Estou com uma petição pronta para encaminha ao juiz quando o tribunal abrir. Solicitando que minha cliente seja atendida por um médico que conhece seu caso, argumentando seus problemas de saúde anteriores. Anexei o laudo da médica que a atendia na França que explica o caso complicadíssimo para mãe e bebê. Também solicitei que vocês tenham direito a visitas particulares. E apresentarei uma queixa ao médico, é claro.

            Ell, Peter e Neal olharam-se espantados. Ele foi rápido.

            - Antes de você sair correndo porta a fora, Neal, eu disse que estava tomando minhas providências!
            - Obrigada, Mozz. – Os três responderam juntos antes de, finalmente, despedirem-se. Era muito tarde e precisavam dormir.
            - Obrigada, Ell. E desculpe o transtorno aqui. Você também está grávida e precisa de descanso. Já deveria estar dormindo. – Neal desculpou-se com Ell e Peter.
            - Sem problemas, Neal. Querem ficar aqui? – Peter ofereceu.
            - Não!!! Nós precisamos ir. Vamos Neal. – Foi Mozz a adiantar-se.

            Havia algo de estranho em Mozz. E em todas aquelas medidas a favor de Rachel. Elas não eram 100% legais. O que era normal, partindo de Mozz. Assim que saíram pra rua Neal quis esclarecimentos.

            - Rachel não tem um caso ‘complicadíssimo’ para mãe e bebê, Mozz...até o Peter sabe disso. – Lembrou-o.
            - É. Mas a Srª Engravatada não o deixará abrir a boca e o juiz não questionará o laudo assinado pela tão simpática doutora Beatrice.
            - Concordo...porém a nossa médica lá da França não fez esse laudo. Muito menos o assinou.
            - Isso não passa de um detalhe Neal. O laudo eu mesmo escrevi do alto dos conhecimentos médicos que o Google me forneceu. E você irá, digamos assim, facilitar a vida da doutora, assinando por ela. Perfeito! Não acha?
            - Acho, claro. – Por dentro Neal ria. Mas ainda havia uma questão. – Partindo do meu histórico como falsificador, há grandes chances deles confirmarem a autenticidade desse laudo com Beatrice.
            - E ela confirmará o complicadíssimo caso de Rachel. Em um...agradecimento ao belo depósito que eu fiz em sua conta bancária hoje no fim da tarde. E, caso queiram uma segunda opinião, o Dr. Richard assumirá, afinal Rachel não aceitará outro médico. O Estado não vai querer arriscar, afinal o caso é gravíssimo! Pode me agradecer quando estiver mais animado, Neal. Agora vamos pra casa!

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