domingo, 3 de novembro de 2013

A MENTIRA - Capítulo 26: O casamento parte I




Foi um anúncio no jornal que alertou Ana. Alice e José iriam se casar naquele dia. Ela, Jacob e Kate tomavam café da manhã quando percebeu que não podia mais adiar. Teria de ir até a igreja e parar a cerimônia. Não se sentia pronta pra isso, segura pra isso...mas teria de ir.
- Ele não é responsabilidade sua, Ana. José está casado com ela porque quer. – Jacob interferiu.
- Não. Está sendo enganado.
- Você não tem que encontrar essa mulher que te fez tanto mal, Ana. Pode ligar para ele. Contar tudo. E deixar que decida.
- Não!!!! Eu vou humilhá-la. Eu vou contar para todos.
- Você quer justiça ou deseja apenas vingança? Todos os seus problemas começaram justamente por uma vingança.
- Os dois. Eu tenho direito de atirar tudo isso na cara dela! Alice não vai pagar barato pelo que fez a mim e ao Grey. Não vai.

Kate ouvia a amiga em completo silêncio. Já há alguns dias percebeu que Anastásia não falava do marido com ódio. Referia-se a ele com carinho, como se aceitasse que ele era mais uma vítima de Alice. Ela era muito teimosa. Não ia voltar para ele facilmente. Mas voltaria. Eles se amavam. Torcia para que ela conseguisse encontrar alguém para amar também. Seria bom ter um companheiro e um pai para sua filha. Um pai que realmente a amasse.
Ficar em São Paulo ainda era perturbador. Depois de tanto anos fugindo de um companheiro abusivo, estar ali onde podia ser reconhecida a qualquer momento era muito temeroso. Ana já tinha  lhe dito que pretendia solicitar ao tio sua herança e que, juntas abririam um negócio. Ela e sua filha estariam protegidas.
            - Bom...se vocês irão a um casamento, senhoras, me permitam sugerir uma visita a butique do hotel. Precisam estar vestidas a rigor.
            - Eu não preciso ir, Jacob.
            - É claro que irá, Kate. Quero as duas belíssimas nesse casamento. Até porque tenho a impressão que a imagem de Alice não sairá muito bonita. Vocês irão compensar isso.

            Christian e James chegaram a São Paulo passavas das 14hs. Estavam cansados e Grey ainda precisa ir na casa dos tios de Ana e explicar que simplesmente não sabia onde sua mulher estava. Ficaram hospedados no seu apartamento, que há tantos meses não o recebia. Lembrou que Ana nem mesmo sabia que ele tinha aquele apartamento. Era algo que só sua família sabia. Família...fazia meses que não telefonava para eles. Nunca mais conversou com sua mãe e não respondia os e-mails de Elliott. O porteiro pareceu até se assustar ao vê-lo, mas cumprimentou-o de forma educada.
O que Christian não viu foi que assim que o estranho proprietário da cobertura sumiu no elevador, o porteiro pegou o telefone.
            - Oi seu Elliott...o seu irmão apareceu. Subiu com um outro homem.
            - Obrigada. Eu vou procurar ele então.

            Christian ia saindo de casa quando Elliott apareceu em sua porta. Droga! Não podia ter hora pior.

            - Pretendia fugir por quanto tempo mais?
            - Não estou fugindo de nada. Sempre souberam onde eu estava. Não foram me visitar porque não desejavam. A fazenda de Emmett era pouco para vocês?

O olhar do irmão alertou Grey de que havia passado do limite.

            - Você não amou Emmett mais do que eu, mamãe, papai ou Mia, Cris. Você só não aceitou sua morte e está fazendo sua família perder mais um ente querido. A mamãe está chorando por Emmett e por você.
            - Eu vou vê-la. – Elliott o conhecia muito bem. – Eu não queria que fosse assim...mas eu não consegui deixar a morte dele ser esquecida. E eu me casei e...
            - Eu sei exatamente porque você se casou, Chris. E temi que matasse essa moça naquele fim de mundo.
            - Não! Eu nunca pensei em matá-la.
            - Eu acompanhei pela imprensa o acidente que ela sofreu e fiquei com muita raiva de você.
            - Foi um acidente!
            - Onde ela está?
Como ele poderia responder isso? O jeito foi a verdade. Contou ao irmão tudo, em detalhes. E o viu arregalar os olhos em algumas passagens. Não se orgulhava do que tinha feito.
            - Então a verdadeira culpada se casa hoje e você não faz ideia de onde possa estar sua mulher?
            - Exatamente. E eu estava saindo para ir na casa do meu sogro. E contar para ele tudo. Não tenho alternativa.

            Foi exatamente isso que Christian fez. Enfrentou Ray de cabeça baixa e disse que acreditava que Ana era a culpada pela morte de seu irmão, inclusive pelo comprovante do aborto que o tio também tinha conhecimento. Ray ouviu a tudo pálido. Realmente desconfiou da sobrinha. Mas nunca pensou que aquele homem a tinha levado do lar para castigá-la. Jamais teria entregue sua filha de coração para ser maltratada.
            - É verdade, Ray. Eu casei para fazê-la sofrer. E eu cumpri essa promessa em cada um dos dias em que estivemos casados.
            - Você...a maltratou? É isso?
            - Sim. Mas eu a amo.
            - COMO TEM CORAGEM DE DIZER ISSO?!??! SEU DESGRAÇADO!
            - Digo porque é verdade.
            - Na primeira vez que te vi, Grey, eu desconfiei. Achei que você tinha uma delicadeza exagerada. No íntimo você tinha uma brutalidade que me assustou. Mas a Ana vinha tendo umas atitudes estranhas e mudou muito quando se aproximou de você. Ela logo se disse apaixonada, mas eu achava que você era bruto com ela as vez...o acidente...não foi acidente você a agrediu...
            - NÃO! Claro que não! Ela caiu do cavalo. Essa é a verdade.
            - Nós vamos encontrar, Ana. E é bom que você nunca tenha machucado minha sobrinha fisicamente. Ou eu mesmo acerto uma bala em você. Grey, você não é o único a jurar coisas aos mortos. Eu jurei ao meu irmão que protegeria Ana. Não cumpri por culpa sua.
            - Eu acho que ela vai aparecer hoje.
            - Porque?
            - Tenho motivos para pensar que está na cidade e...ela não deixaria de comparecer ao casamento da prima.

            Concordaram de que poderia ser verdade e orientaram aos seguranças de avisar a qualquer aproximação de Ana. Quando Christian saía, Ray o chamou.

            - Grey! Você não me disse como Ana lhe convenceu de que não é a culpada da morte de seu irmão.
Não era algo que ele gostaria de dizer ao velho.
            - Ela descobriu quem era a verdadeira culpada.
            - Eu conheço?
            - Sim. Mas eu prefiro que Ana lhe conte.

            A cerimônia estava marcada para as 20 horas na capela do centro da cidade. Ana estava pronta, linda em um vestido amarelo. Os longos cabelos estavam escovados e soltos caindo pelos ombros. Kate usava um longo azul escuro que a deixou ainda mais curvilínea. Gail desde o início falou que não iria e ficaria em casa com Bianca.
            - Será que Christian estará lá?
            - É possível. – Ana respondeu para a amiga. Estava nervosa.
            - Está nervosa? Por rever ele?
            - Não. Estou nervosa pelo que tenho de fazer. Grey é passado na minha vida.

O trânsito jogou contra Jacob, Ana e Kate. Chegaram na igreja e puderam ouvir a marcha nupcial. José estava no altar e Alice caminhava para ele. Seguranças os barraram.
- Me soltem. Sou da família!
- Vamos avisar o seu tio.

Assim o fizeram e logo Ana se viu em frente de Ray.

- Acredite em mim, Tio. Alice e José não podem casar. Não podem. Mande parar esse casamento.
- Minha filha...sei que seu casamento não deu certo. Seu marido cometeu muitos erros...mas você não pode simplesmente ficar com José. Seria errado com Alice. Aceite que José e Alice se casam hoje.
- Não pode tio! Não permita! Pare esse casamento.
- Não posso! Nossos amigos estão todos nessa igreja. Seria um escândalo.
- Um escândalo é mais importante que a felicidade do seu filho?
- Não, claro que não. Mas eu não posso fazer isso. – Ray levou a mão ao peito e puxou o ar fortemente. – Não faça nenhum escândalo, Ana. Por favor.
Por respeito ao tio e medo pelo frágil coração dele, Ana se calou.
Enquanto ainda conversavam, ouviram as palmas que anunciavam a vitória de Alice. Ela estava casada com José.
- Você vai a festa?
- Vou, tio. Se os seus seguranças me deixarem entrar.
- É claro que pode entrar na nossa casa. Só me prometa que não fará nenhum escândalo na frente dos convidados.
- Prometo.
- Seu marido está te procurando. – Disse Ray.
- Que continue. Não quero falar com ele.

Assim que se despediu do tio, Ana chamou Jacob e Kate para seguirem até a mansão. Quando Alice subisse para tirar o vestido, teria uma surpresa esperando por ela no quarto. Havia prometido não fazer escândalo, mas, às sós, elas iriam acertar as contas.
           

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