Peter estava realmente preocupado
com seu amigo. Era óbvio que Neal estava escondendo algo. Continuava competente
como sempre na resolução dos crimes, porém, estava mais desatento e aparentava
não dormir bem. Vivia cansado. Também não engrenou nenhum namoro firme depois
de Rachel.
Rachel...a criminosa que fugiu
grávida, deixou Neal nesse desespero e o FBI não conseguiu sequer uma pista
real da onde estava. Um dia ainda a veria mofar atrás das grades. E, caso o filho
tenha nascido e realmente fosse de Neal, o amigo poderia ficar com a criança e
seguir com a vida. E esquecer daquela mulher, trancafiada em uma prisão
federal.
Ele tinha pedido uma folga nessa
sexta-feira e pensando que Neal realmente precisava de um descanso, concedeu. Só
iriam se ver na segunda. Aproveitou para marcar um jantar especial com Ell. O
que Peter não imaginava era a razão para ele pedir esse descanso.
Hoje
a noite Rachel iria a clínica e Neal pretendia encontrá-la. O plano era
reverter o sinal da tornozeleira como já tinham feito em outra oportunidade.
Mas o modelo que usava agora parecia ser realmente difícil de corromper. Não
conseguiam. Neal estava decidido a ir com ela mesmo. Depois poderiam tentar
falsificar o relatório de Peter recebia quanto aos lugares que ele ia. O
problema mais imediato era o alarme que indicaria a ele que havia ultrapassado
o raio dos 3km que lhe eram permitidos. O jeito foi trocar a bateria do celular
de Peter por uma mais fraca....ele a carregaria, mas ela morreria enquanto
estivesse no restaurante com Elizabeth e ele não receberia o alerta.
Tudo pronto. Quando a bateria
morreu, Neal rumou para a cidade de Guttenberg. Para poder continuar ouvindo
Rachel, Mozzie fez com que o receptor da escuta no colar também transmitisse
para o celular de Neal. Com os fones ele acompanhava tudo o que se passava com
ela e saberia quando saísse de casa para ir na clínica. Mozzie ficou no
apartamento em NY, para ajudar no caso de algum imprevisto. Essa noite seria
agitada.
Mas por enquanto estava tudo muito
calmo. Rachel dormia no quarto enquanto a mãe esperava Richard. Com mais de
nove meses de gestação, ambas estavam ansiosas pelo parto e a chegada do
pequeno bebê a que Rachel se negava a dar um nome. Havia todo um enxoval azul
preparado.
Quando Rachel acordou e olhou pela
janela viu que já era noite. Olhou para o relógio ao lado da cama: 20h25min.
Estranho. Já era para Richard ter chegado e Nicolle ter vindo acordá-la. Eles
insistiram tanto por um último exame.
- Vamos levantar bebê? – Sua barriga
estava tão grande e até mais baixa. Logo teria que se afastar dele. – Vamos
procurar a vovó.
Depois de se vestir e sair do quarto
Rachel ouviu uma conversa na sala. Richard e Nicolle falavam baixo, eram quase
sussurros. Mas o tom era duro. Eles estava brigando...mas por que?
Neal não conseguia ouvir o que se
passava, mas percebeu a respiração de Rachel ficar mais apreensiva, angustiada.
Ela estava ouvindo coisas de que não gostava. E ele se preocupava com a forma
como seu coração ficou acelerado. O que poderia estar acontecendo?
Richard chegou na casa de Nicolle
preocupado. Não gostava do rumo que Rachel deu à gravidez. Achava que já era
hora dessa moça que conhecia desde bebê pensar em dar a luz no hospital. Era o
mais seguro. Porém ela mantinha planos estranhos. Queria voltar a perseguir o
diamante, coisa que seu pai também tentou e só conseguiu morrer fanático por
uma pedra que não lhe trouxe nada de bom. E Rachel iria repetir a história do
pai, achando que tinha esse compromisso com ele. Uma dívida de lealdade com a
família que só fez mentir para ela.
- Ela merece saber a verdade! –
Disse à Nicolle.
- Não agora. Não é hora para isso.
Ela vai ser mãe. Precisa de paz.
- Paz alicerçada por mentiras? Ela
tem o direito! Essa garota só vai viver a própria vida quando saber de toda a
verdade.
- Não! – Nicolle foi categórica.
- A vida dela é uma mentira
completa! John só fez mal a ela! – Isso ele gritou tão alto que até Neal ouviu
do carro onde estava, e Mozzie em NY.
- Não acorde ela!
- Tarde demais mãe. – A voz de
Rachel era preocupantemente controlada. Seus olhos eram frios. – O que tem para
eu saber, Richard? O que meu pai fez de tão grave para você acusá-lo assim?
Diz! AGORA!
- Não é isso filha. Você entendeu
mal. – Nicolle daria a vida para nunca mais ter de tocar naquele assunto.
- AGORA! – Ela atirou um vaso contra
a parede. – Eu não estou brincando. Falem!
- Não filha...é tudo uma
bobagem...e...
- Basta Nicolle. – Richard
sentenciou. – Ela tem que saber. Abra o jogo para sua filha.
- Está bem. – Nicolle chorava desesperadamente.
– Eu teria dado a minha vida para que você nunca soubesse. Fique calma, por
favor.
- FALE. – Rachel nunca tinha sido
dura assim com a própria mãe.
Nicolle respirou fundo e voltou
quase 30 anos no passado para contar a história que mudou a trajetória de todos.
- Ser a esposa de um agente federal
cobra sua conta Rachel. Eu amava seu pai. Mas...eu sentia falta de uma família
normal. Eu queria filhos. Ele não. Era perigoso. Nós nos mudávamos muito e ele
achava que o melhor era seguirmos apenas os dois. John não queria a
vulnerabilidade que uma criança traria. Até que...eu engravidei. Por minha
conta. Ele ia aceitar. E eu estava certa. A raiva dele passou rápido. Ele
estava curtindo a chegada do bebê.
- Eu não estou vendo nada de
horripilante nessa história. Continue e não tente me enrolar! – Rachel gritou.
- Quando nós estávamos indo para um
novo endereço, na Alemanha, nosso carro foi interceptado. Nós nunca
identificamos exatamente o que houve. Se era uma retaliação ou simplesmente um
atentado contra John planejado por algum criminoso que a MI5 prendeu...mas o
resultado foi que eu levei um tiro. Eu perdi aquele bebê, Rachel, eu o perdi...era
um menino.
- E depois engravidou de mim...e aí?
Continua. Eu ainda não entendi.
- Não. – Aquilo tudo era tão
sofrido. – Eu não engravidei de você porque eu não pude mais engravidar depois.
A informação chocou a todos. Rachel
em especial, é claro, mas também atingiu Neal. Ele entendia o que era não saber
nada sobre seu passado. A sensação de ver sua história desmoronar era terrível.
- Vocês me adotaram...é isso? Não
são meus pais de verdade? – Era duro, mas ela era capaz de aceitar isso. Rachel
ainda estava confusa. – Porque nunca me falaram?
- Não foi bem uma adoção normal. –
Agora vinha parte mais difícil. – Depois de perder o bebê nosso casamento
entrou em crise. Foi culpa minha. Eu fiquei depressiva. Alguns meses depois nós
começamos a pensar em adotar um bebê legalmente. Queríamos um menino...pra
colocar no lugar do nosso. Mas o processo é lento e...
- E o que? – Rachel disse sentindo
um arrepio na espinha.
- Em uma noite nós estávamos numa
estrada, na Suíça, em Estocolmo, era madrugada e eu dizia pro seu pai procurar
um hotel para nós descansarmos, mas ele quis seguir viagem. Então, na
madrugada, nós vimos de longe uma explosão. Eu não queria me aproximar. Achei
que podia ser perigoso. Mas ele foi ver o que era. Se tratava de um carro que
tinha se acidentado. Estava tudo queimado quando chegamos lá. Não tinha nada
Rachel, nada. Nós só íamos chamar os bombeiros e sumir dalí. Mas aí nós ouvimos
um choro...o seu choro. Você foi arremessada pela janela do carro antes da
explosão e só por isso sobreviveu. Era um anjinho ruivo e de olhos azuis.
-
Era como se Deus estivesse me devolvendo o bebê que ele me roubou. Me dando um
presente. O presente mais lindo que eu podia me dar. Então eu saí de lá com
você nos braços. E convenci John a fingir que você era nossa. Ele pediu pra
Richard ajudar a legalizar você como nossa. Ele te examinou e disse que você
não tinha mais de três meses.
- Então nós inventamos uma data de
nascimento e eu forjei um registro no hospital onde eu atuava na época.
Oficialmente, Nicolle deu entrada no hospital no dia 3 de março de 1988 e deu a
luz uma menina. Assim seus pais te registraram como filha natural. – Richard
afirmou confirmando a história de Nicolle.
Neal estava ansioso para ouvir
Rachel e entender como ela recebia tudo aquilo. Até Mozzie estava em choque
lembrando da própria história de abandono e um lar de adoção. Mas Rachel não
emitia som algum. Só ouvia.
- Aí você foi crescendo conosco. Era
o bebê mais lindo que podia existir. Você salvou nosso casamento. Salvou a minha
vida.
- Todos se encantavam por você. E
ninguém nunca desconfiou que não era nossa. Nós te amávamos tanto que decidimos
desistir de adotar um menino. Você seria nossa única filha. John sempre achou
seus olhos fortes. Um dia me disse que você era a filha dele e que você
continuaria com os planos dele.
- Ele viu que eu servia para o que
ele queria. – Rachel finalmente falou.
- Não! – Nicolle negou. – Ele sempre
te amou. Até demais. Era louco por você. Nunca duvide disso.
- Quando você foi se tornando uma
mocinha...aí sim ele começou a imaginar que você poderia seguir com seus
planos. Aí eu errei. Eu devia tê-lo freado.
- Você errou desde o início! Eu...eu
não existo! Rachel Turner é uma invenção. Eu sou uma farsa desde que eu nasci.
– Ela pensou por um momento. – O que sabem sobre as pessoas que estavam no
carro? Eu sei que vocês tentaram descobrir algo. Papai...John não ia ficar sem
investigar.
- Saiu pouca coisa nos jornais. Não
sabemos. Rachel...ninguém questionou que havia um bebê ali.
- Ninguém reclamou por
mim...impossível! Mesmo que fosse meus pais no carro...eu devia ter tios, avós.
Como ninguém procurou por mim?
- Eu não sei. Eu só sei que você é a
minha filha! MINHA!
- Por isso você não aceitava que eu
fizesse um aborto. Porque você quis muito um filho. – Agora ela entendia. – Eu
vou pro meu quarto. Quero ficar sozinha. Não vai ter exame algum, Richard. Pode
ir embora.
Mas o médico não foi. Ficou ali
consolando Nicolle.
Neal estava em choque com tudo o que
ouviu. E sua ida a cidade parecia frustrada porque ela não iria a clínica.
Mesmo assim resolveu continuar o trajeto. Ao menos estaria mais perto dela.
- Tem que voltar logo, Neal. –
Mozzie o alertou. – Logo Peter pode terminar o jantar e resolver checar sua
tornozeleira.
- Peter que vá pro inferno. Ela está
precisando de mim. – O supervisor era a última de suas preocupações.
Peter também não pensava em Neal
naquele momento. O jantar que era para ser romântico, entre um casal apaixonado
e casado há tantos anos, tornou-se um problema quando uma terceira pessoa
chegou ao restaurante. Lucy. A loira chegou ao lugar vestida em um traje preto,
fatal. Quando os viu sentados à mesa se aproximou e veio lhes fazer companhia
sem ser convidada. Ell ficou incomodada, mas foi educada o bastante para não
reclamar.
- Bom...eu vou ao banheiro enquanto
vocês coversam. – Disse.
Peter teve vontade de dizer para ela
não sair. Que não queria ficar sozinho com Lucy. Parecia que previa a confusão
que iria ocorrer. No início ela até se portou bem, não se aproximou e até
perguntou por Neal. Mas depois deu o bote.
- Sabe Peter, eu estou achando o
Neal muito chato. Muito mesmo. – Ela se inclino na mesa,
aproximando-se...demais. – Eu acho você muito mais interessante.
Em uma tragédia anunciada, quando
Lucy o beijou, Elizabeth apareceu e o escândalo começou. As duas brigaram em
pleno restaurante. E, quando ele tentou interferir, Ell lhe atirou um cálice de
vinho no rosto.
- Na nossa casa! Você a levou pra
dentro da nossa casa! – Ela lhe disse no carro quando finalmente conseguiu
despachar Lucy e levar Ell pra casa.
- Não foi o que pareceu...eu queria
que ela fisgasse o Neal.
- Só que ela quis fisgar você! – Ela
estava realmente nervosa.
- Eu não a quero. Amo você. – Eles
já estavam em casa e ela subiu as escadas na frente.
- Não ouse entrar nesse quarto essa
noite! – Ela gritou batendo a porta.
O jeito foi ficar na sala e ir
revisar as coisas do trabalho enquanto Elizabeth se acalmava. Estranhou quando
percebeu o celular sem bateria.
- Eu já carreguei.
Conectou-o a tomada e assim que pode
ligou o aparelho. A primeira coisa que fez foi conferir se havia chamadas de
emergência. Nada de importante. Havia sim uma mensagem de texto automática:
Neal tinha saído do perímetro permitido. Inferno! Mas dalí não tinha como saber
se ele havia retornado já. Só solicitando um relatório e já era tarde. Mais
fácil ir até o apartamento.
Peter correu para o apartamento de
Neal com o pressentimento de que sua noite ainda podia ficar pior. O
pressentimento virou certeza quando Mozzie abriu a porta e ficou sem voz. Sobre
a mesa uma bugiganga com caixa de som e duas garrafas de vinho vazias. Somente
uma taça. Neal não estava. Passou direto por ele, andou pelo apartamento e não
demorou para ver a ultrassonografia sobre a cama de Neal e as fotos de Rachel
grávida na cozinha. Neal tinha contato com ela e o enganou esse tempo todo.
- Não é o que está pensando. –
Mozzie disse colocando a mão no bolso para pegar o celular. Precisa avisar Neal
que o engravatado estava ali. – Ele não sabe onde ela está.
- Não! Esse celular fica comigo! –
Peter pegou o aparelho. - Sem armações Mozzie.
- Isso é roubo! – Mozzie gritou.
- Quer dar queixa? – Peter
respondeu. – Onde Neal está?
- Procurando por Rachel...mas ele
não sabe onde ela está. – Era uma parte da verdade.
Peter estava tentando entender o que
se passava. De alguma forma Neal manteve contato com Rachel, ou não teria fotos
dela. A assassina deve tê-lo ludibriado para que a ajudasse a fugir. Mas como
assim ele a procurava? Não sairia sem uma ideia da onde ir.
Ele não precisou perguntar, porque a
voz de Rachel foi ouvida pelo receptor.
- Eu vou embora. Não tentem me
segurar. – Ela pegou as chaves do carro de Richard. – Estou roubando seu carro,
Doutor. Espero que não dê queixa.
Ela tinha subido para o quarto ainda
em choque. Depois que pensou, percebeu que não podia mais ficar ali. Não queria
olhar para eles! Todos mentiram. Era tudo uma grande mentira. Ela era uma farsa
desde os 3 meses de idade. Rachel Turner era uma invenção de seus pais.
Pegou sua mochila, colocou uma muda
de roupa, dinheiro, os cartões de banco, celular e computador. Depois pegou
algumas coisas do enxoval do bebê. E abriu a gaveta para pegar arma.
- Larga essa arma Rachel! Você não
pode sair assim. Esse bebê pode nascer a qualquer momento! Pense no seu filho!
– Nicolle se desesperava
- Eu penso nele! É só nele que eu
vou pensar agora. – Ela chorava. – O meu filho é a única coisa de verdade que
eu tenho na vida. A única família que eu tenho. Eu não vou deixar ninguém me
tomar ele.
- Não diz isso! Volta aqui, filha! –
A mãe implorava.
- Adeus, Nicolle. – Ela disse antes
de sair e correr para o carro de Richard que assistiu a cena calado e em
pânico.
Enquanto isso, em NY Peter estava em
choque. Como eles podiam ouvir isso? E porque ela estava surtando daquela
forma? Sem muito mais o que esconder, Mozzie abriu o jogo.
- Ela usa um colar com escuta...um
presente que fiz Neal lhe dar. Nós ouvimos ela, mas não sabemos onde está. A
ultrassonografia ela enviou. A foto foi Henry que lhe deu. Esse sim, vocês
precisavam ter investigado melhor! Agora Neal está indo para a cidade que
achamos que ela está, mas ele não tem o endereço exato e ela...não está tomando
as atitudes que nós imaginamos. Ela...descobriu que não é filha dos pais que a
criaram. Ela surtou! É isso...acho que é um bom resumo dos últimos meses. –
Para Mozzie foi como um desabafo.
Completamente zonzo depois daquela
noite infernal, Peter ligou para Daiana.
- Desculpe te acordar.
- Tudo bem, chefe. O que houve?
- Muita coisa para eu explicar
agora. Mas preciso que você vá o mais rápido possível ao escritório e fique
acompanhado a localização de Neal em tempo real. E me atualizando. Chame Jones
para ajudar. Podemos precisar de apoio.
Enquanto esperava Diana lhes dar as
coordenadas, Peter tirou o chip do celular de Mozzie. A comunicação entre ele e
Neal estava cortada. Depois lhe colocou contra a parede.
- Seja lá o que for que essa
psicopata tenha em mente, nós vamos impedir o Neal de fazer uma bobagem. Vamos
seguir o rastro da tornozeleira de dele. – Ele apontou para o receptor. - Tem
como levar essa coisa no carro? Para continuarmos ouvindo?
Mozzie pensou...tinha, é claro. Era
só fazer o mesmo que fez no telefone de Neal e eles teriam o sinal do receptor
pelo fone de ouvido. Mas isso tiraria a última vantagem que Neal tinha de
Peter.
- Não. Ficaria instável. – Respondeu.
Peter até desconfiou, mas não tinha
tempo para conseguir outro técnico para confirmar isso. Teria que acreditar em
Mozzie. Assim que Diana transmitiu a localização, eles começaram a perseguição.
- Ele está entrando numa cidade
chamada Guttenberg. Pela velocidade, está de carro. Vai ter que correr muito
pra alcançar ele, chefe.
- É isso que vou fazer. Mantenha-me
atualizado, Diana.
Rachel não sabia muito bem o que
fazia. Dirigia, mas sua cabeça estava no passado. Ela era sueca...como nunca
desconfiou de nada? John, seu pai tão venerado, na verdade não passava de
alguém que estava passando e a salvou de um acidente. Entrou numa estrada
deserta que não fazia ideia de onde iria dar. Quando estava há mais de uma hora
dirigindo, sentiu o bebê mexer na barriga. Ele estava agitado, lembrando-a de
que deveria tentar se acalmar. Mas não conseguia.
- Eu sei bebê. Foi demais tudo isso.
Mas a mamãe vai cuidar de você. Ninguém vai nos separar. Só espere a mamãe
encontrar um lugar seguro para você nascer. Depois...depois nós vamos fugir
juntos. Vai dar certo, você vai ver. Você vai ser muito feliz.
Neal se preocupava ouvindo isso. Ela
parecia confusa demais. Não sabia o que falava. Pra onde pretendia fugir? Ele
ainda a ouviu mexer na mochila enquanto dirigia e pegar o celular.
- Zurik! Sou eu. – Ela disse e Neal
não fez ideia de com quem ela falava. Só rezava para ela em algum momento falar
onde estava. – Aquele plano ainda está de pé?
- oooo Rachel...isso são horas? Sim,
está. Claro! Que horas consegue chegar na pista pra pegar o helicóptero?
Ela ia responder que chagaria o
quanto antes, mas uma dor nas costas lhe tirou o fôlego. A barriga ficou dura
por alguns instantes.
- Eu...aa...não sei. Estou na
estrada, mas vou ter de parar para descansar. – Ela respirou profundamente. –
Tem como deixar tudo pronto e me esperar?
- Sim...eu dou um jeito. Já decidiu
pra onde vai?
- Não...ainda não. Vamos ver. – A
dor diminuiu. – Logo eu entro em contato novamente.
Neal percebia que ela não estava
bem. O tom de sua voz e o tempo da sua respiração lhe diziam que havia algo de
errado. Seu filho estava dando sinais de que iria nascer logo e Rachel não os
estava ouvindo.
Ela seguiu dirigindo. A dor vinha de
tempo em tempo. Estava ficando mais forte. No fundo ela sabia que o bebê ia
nascer, mas não podia ser ali. Estava no meio do nada. Tinha que continuar
dirigindo no mínimo até encontrar um lugar seguro para parar. Se aguentasse até
o dia nascer tudo ficaria melhor. Poderia encontrar a alguém e perguntar onde
estava. Nem sabia mais por onde estava dirigindo.
A estrada era cercada por árvores,
sem casas. Pegou a primeira saída para a esquerda que viu, torcendo para
encontrar um lugar habitável. Quando uma dor mais aguda lhe atravessou o ventre, soltou o volante e
gritou de dor.
Do carro onde estava Neal também
gritou, mas de susto quando ouviu o barulho da batida. Ela tinha se chocado com
alguma coisa. Algum metal.
Rachel estranhou que não tivesse
batido em uma árvore...não, era o portão de entrada de uma casa de campo...um rancho
talvez. Ela não estava em alta velocidade, por isso não se feriu gravemente. O
cinto também ajudou. Mas estava assustada e ficou pior ao perceber que alguém
se aproximava do portão com uma lanterna. Não pode fazer nada a não ser
esperar.
- Olá....você está bem? – A mulher
se aproximou iluminando seu rosto e depois sua barriga. – Meu Deus. Você está
grávida! Eu ouvi o barulho da batida e...fale algo moça.
- Sim...eu estou bem e só que...meu
bebê vai nascer.
As duas ficaram sem silêncio por
algum tempo.
- Eu me chamo Dafine...estou sozinha
aqui. Minha filha e meu marido só chegam amanhã. Nós podemos tentar ligar para
um hospital e pedir uma ambulância. Mas é muito longe daqui.
-AiiiiAaaa não, melhor não chamar
hospital algum. – Ela fez força para se erguer do banco do carro. – Será que
pode me ajudar a ter meu bebê? Por favor. – Ela estava implorando e isso não
era uma coisa muito fácil para Rachel.
A mulher estava assustada com a
situação. A verdade é que não havia escolha. Seria impossível deixar a jovem
abandonada na rua. O bebê nasceria logo.
- Venha...entre. Eu te ajudo.
Apoiada em Dafine, Rachel entrou na
casa simples e confortável, cheia de porta retratos da família. A dona da casa
a colocou num quarto de hóspedes e ficou ao seu lado. Não sabia o que fazer.
- Como é seu nome? - Perguntou.
- Rebecca. – Foi o que Rachel
respondeu por instinto. ‘Era’ Rebecca quando seu bebê foi concebido, seria
Rebecca no momento do nascimento também.
- Bem Rebecca...eu só pari uma
filha...e foi num hospital, com meu marido ao lado segurando minha mão.
- Esse não é um cenário possível pra
mim. – Ela respondeu triste. – Dizem que é só fazer força que o bebê sai.
- É, dizem. – A mulher começou a
abrir-lhe as roupas. – Então vamos testar essa teoria e rezar para que Nossa
Senhora esteja conosco...ela é mãe, não vai nos abandonar nessa hora.
Duas horas passaram e desconsiderando
algumas espaçadas reclamações de dor, Rachel não falou muita coisa. Isso
deixava Neal no escuro, sem saber como o parto estava indo. Quanto tempo
levaria até seu filho nascer. Porque ela não falava nada sobre onde estava? Tentou
ligar para Mozzie para descobrir se não tinha descoberto nada, mas não
conseguiu ligação. Achou muito estranho.
- Você está dilatada. Não vai levar
muito tempo mais. – Dafine lhe disse.
- AAAAA ainda bem. – Rachel
respondeu.
- Acho que você devia caminhar um
pouco e tomar um banho. Eu caminhei pelo quarto quando tive minha filha.
- E ajudou? – Rachel perguntou num
intervalo entre as contrações.
- Acho que sim.
- Então me ajude a levantar. Eu
aceito qualquer coisa pra ver meu filho nascer logo.
Depois da caminhada lenta pelo
quarto apoiada em Dafine e de sentir os músculos relaxarem com jatos de água,
Rachel voltou pra cama e sentiu claramente as contrações aumentarem em tempo e
força. Seu filho estava vindo.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAA – Ela gritava
com força enquanto empurrava.
- Isso. Falta pouco. Está vindo.
Sem nenhuma pista da onde ela estava
e andando em círculos pela cidade, Neal resolveu parar o carro e ficou apenas
ouvindo e rezando para o parto terminar bem. Nada era mais importante que isso.
Seu filho nascer com saúde e ela passar bem pelo parto. Mesmo que ficasse sem
os dois, tinha que saber que estavam bem.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. –
Ela gritou novamente e ele sentiu vontade de gritar junto para aliviar o
próprio sofrimento.
- Ótimo. Está quase. Mais um
empurrão, Rebecca. Seu filho está vindo ao mundo.
-
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. – Mais um empurrão.
E o som que Neal ouviu pelo
transmissor lhe pareceu o mais lindo do mundo.
(N/A: Só ouçam. A imagem n interessa.)
Os dois respiraram aliviados ouvindo
o primeiro choro do filho. Rachel chorava olhando o menino sujinho. Neal
chorava ouvindo-o chorar.
- Pegue, Rebecca. Segure-o.
Parabéns! Você ganhou um lindo menino.
Nos braços dela o bebê logo parou de
chorar...ela continuou com lágrimas caindo.
- Oi meu filho. Eu sou sua mãe. Você
é muito amado. – Ela olhou para a mulher que mal conhecia, mas que a havia
ajudado de uma forma incomparável. – Obrigada. Não tenho como agradecer o que
fez por mim. Ele é lindo, não é?
- É, muito bonito. E logo estará
berrando de fome. Me deixe dar um bainho nele? Você tem alguma roupinha pra ele
usar?
- Sim...minhas coisas ficaram no
carro. Tem uma mochila minha e uma sacola de bebê com as coisinhas dele.
- Eu vou pegar. Ele já tem nome? –
Dafine perguntou. – Não pode chamá-lo de bebê pra sempre.
- Eu estou pensando em algo. –
Rachel respondeu.
Sozinha no quarto, somente com seu
menino nos braços, Rachel sentiu vontade de seguir seu coração quanto ao nome.
Fez sem pensar, falou em voz alta para não poder voltar atrás depois na
decisão. Falou seriamente com o filho.
- Você não vai conhecer seu pai, não
vai ter o sobrenome dele, acho justo que tenha algo dele. – Daria ao filho o
segundo nome de Neal. – Você vai se chamar George. Gostou? Você tem cara de
George.
Depois de dar banho, vestir George e
também lhe ajudar a se banhar, Dafine lhe incentivou a dar o peito ao bebê. Alguns
diziam que a primeira mamada podia ser difícil. Não foi. Foi natural.
- Bom...agora que ele está se
alimentando acho que precisamos cuidar de você. – A mulher disse. – Como se
sente? Com fome?
- Bem. Sim, um pouco.
- Eu vou fazer algo para... - Ela olhou o relógio. Marcava 6h40 da manhã. –
Para o café da manhã. Depois vou vestir uma das cintas de minha filha no seu
abdome. Vai ajudá-la a recuperar seu corpo. E agora que já é dia poderá ir ao
hospital. Eu te levo no meu carro já que não sabemos como o seu está.
- Não! Não posso ir ao hospital.
- Porque não?
- É melhor você não saber. Por
favor...só me ajude a sair daqui. Ainda estou em Guttenberg?
- Não. – Confusa a mulher respondeu.
– Você está na área rural de Weehawen, é relativamente perto, nem duas horas de
caro de Guttenberg.- Quer ir para lá?
- Não. Estou fugindo de lá.
- Não se preocupe. Esse lugar é
afastado. Na cidade chamam de a ‘rua da fonte’, só tem essa casa. Ninguém vem
aqui.
Com isso, Neal tinha um endereço.
Precisava ir até Weehawen e perguntar na cidade pela ‘rua da fonte’.
Rachel sentia que precisava fugir.
Seu instinto lhe dizia que precisava correr ou tirariam seu bebê de seus
braços. Puxou a mochila e arrancou uma folha de sua agenda onde tinha anotado o
endereço do Heliponto onde pegaria o helicóptero em Nova Jersey.
- Por favor...pode nos levar numa
rodoviária onde eu consiga um transporte que me leve pra esse lugar?
Neal não fazia ideia do lugar a que
ela se referia. Só tinha Weehawen como referência.
Dafine olhou para o papel e pensou
antes de responder. Sentia que aquela moça era confusão na certa, mas não
consegui lhe negar nada com aquele bebê nos braços.
- Ok. Arrume-se. Vou lhe fazer um
sanduíche e depois partimos.
Peter dirigiu por muito tempo tendo
um Mozzie irritantemente agitado ao seu lado. Viu o sol nascer recebendo a
informação de que estava há apenas 1 hora de distância de Neal. Isso porque ele
ficou muito tempo parado.
- Será que ele a encontrou?
- Não temos nada que indique isso,
chefe? Agora ele está indo em direção a cidade de Weehawen. Quer que acione a
polícia de lá?
Ele pensou que isso devolveria Neal
para a cadeia.
- Não, Diana. Vamos manter isso
entre nós.
Algum tempo depois, quando Dafine já
havia deixado Rachel e o pequeno George na rodoviária com o bilhete comprado na
mão.
- Não! – Disse quando Rachel tentou sair
no carro. – Espere aqui. Eu compro sua passagem. Não fique caminhando tanto.
Você acabou de parir e esse bebê tem horas de vida.
Ela viu a moça embarcar com o bebê e
voltou para casa lhe desejando sorte. Seja do que fosse que fugia, achava que ela
merecia ser feliz e dar felicidade aquele menino. Algum tempo depois, já de
volta a casa, estava limpando o quarto quando ouviu alguém se aproximar. Era um
rapaz muito bonito. Tinha a expressão cansada.
- A moça que chegou aqui essa
madrugada, nesse carro. – Ele apontou o carro batido que ficou na calçada. –
Preciso que me diga pra onde a levou.
- Não sei do que está falando. – Ela
respondeu.
- Por Deus...me ajude. Eu sou o pai
do bebê que você ajudou a colocar no mundo.
- Como sabe disso?
- Eu sei, ponto. – Ele estava
desesperado. – Preciso encontrá-los.
Dafine não sabia se confiava nele. E
se Rebecca tivesse um bom motivo para estar fugindo dele? Mas e se ele fosse
realmente um pai dedicado? Mandou-o entrar para falar com ele antes de dar a
informação. Lhe deu uma xícara de café. O rapaz parecia estar precisando.
- Como saberei que posso confiar em
você?
- Não sabe...mas preciso saber para
onde ela está indo. Não posso ficar sem eles.
- Venha aqui. – Ela o levou até o
quarto onde o parto ocorreu. Na cama ainda havia sangue. – Foi aqui que seu
filho veio ao mundo. Rebecca é uma mulher forte, corajosa.
- Sim, ela é. – Não valia a pena lhe
dizer que aquele não era seu nome.
- É verdade que eu a levei a um
lugar...a rodoviária e quando voltei e vim começar a arrumar o quarto encontrei
isso. Um maço de dinheiro e esse bilhete sobre a cama.
Neal leu e tentou reconhecer a
Rachel que conhecia naquelas palavras. Simplesmente não a via ali. Ela
realmente estava diferente.
- Não sei o que fez a essa moça, mas
ela realmente quer fugir de você.
- Por favor...eu só quero o bem
deles. Eu os amo. Me diga para onde ela está indo.
- Está bem. Nova Jersey. Ela vai
pegar um Helicóptero no Heliponto do centro da cidade.
- Obrigada!
Peter foi informado que Neal ficou
cerca de meia hora parado em uma casa em Weehawen.
- Você está só a meia hora de
distância dele, Peter. Provavelmente vai encontrá-lo antes dele chegar seja lá
onde for que estiver indo.
- Isso! Ótimo Diana! Vamos pegá-lo
antes de encontrar com Rachel. Ela terá uma surpresa!
Quando chegou a Nova Jersey, Rachel
desembarcou do ônibus e foi de táxi até o heliponto. De lá, conforme combinado,
partiu num helicóptero com destino a uma pista no estado do Alabama. De avião
deixaria os EUA.
Neal e Peter chegaram juntos ao
Heliponto. Neal ficou surpreso ao ver Peter, mas essa não era sua prioridade
então o ignorou e correu para a administração do lugar. Peter tinha outras
ideias.
- Pare agora Neal! Ou eu posso te
prender. Tem noção de que você está há semanas de conseguir sua liberdade
definitiva e pode ter jogado tudo fora por essa loucura?
- Loucura? Loucura, Peter? Você tem
noção de que nessa madrugada meu filho nasceu? Tem noção de que Rachel está
fugindo com ele?
- Você não a encontrou? – Mozzie
perguntou.
- É claro que não. Ou eu estaria com
ela a essa hora. Só sei que ela veio aqui e pegou um Helicóptero.
Vendo o amigo e parceiro surtar, Peter
usou de sua influência e distintivo para conseguir a informação que queria. Não
foi fácil. Eles não queriam informar para onde a passageira ruiva, carregando
um bebê, havia voado. Uma ameaça de prisão e fechamento do estabelecimento
resolveu a questão.
- Aeroporto do Alabama? Ótimo. Quero
um Helicóptero nos levando para lá agora! – Ele ordenou.
Mas a influência não adiantou nada.
Pelo fone do celular Neal ouviu quando Rachel fez a troca do helicóptero pelo
avião. E algo ainda pior aconteceu.
- Rachel! Finalmente chegou...e com
um pacote.
- Olá Zurik. É bom saber que está
aqui. Fiquei com medo de me abandonar.
- Jamais, Rachel. Nunca te deixaria
na mão. – Ele olhava para o bebê. – Esse garoto é seu?
- Sim. Chama-se George e não tem nem
24 horas de vida.
- Rachel você está me dizendo que
acaba de parir?!?!?!?! Vamos! Entre nesse avião de uma vez! Eu vou conseguir um
médico pra nos acompanhar e...
- Não Zurik. Eu preciso sair daqui o
quanto antes. Depois a gente vê isso.
- Ok, então. É só embarcar que nós
saímos.
- Ótimo. Só me dê um minuto. – Ela
respondeu com o bebê nos braços.
Rachel subiu as escadas do avião e,
do alto, olhou para a pista. Estava dando adeus ao seu passado, adeus aos EUA e
adeus a Neal. Num ato de liberdade, arrancou do pescoço a última lembrança que
tinha dele. Tirou o colar.
- Adeus Neal Caffrey. – Atirou o
colar na pista e entrou no avião. Logo começam a taxiar e partiram.
Já instalada, ouviu Zurik lhe trazer
informações práticas.
- Nosso plano de voo é para a
Europa. Mas era só para podermos receber a autorização de voo. Podemos fazer
uma escala e depois seguir pra outro lugar. Mudar de aeronave se você preferir.
- Pode ser Europa...Grécia me
agrada.
- Que seja a Grécia então Rachel.
Bom voo, minha amiga.
Quando Neal e Peter chegaram a
pista, só viram o colar no asfalto. Rachel tinha ido embora e tudo o que ele
pode fazer ali foi jurar que ainda encontraria Rachel e seu filho.
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