As horas seguintes foram de muita
agonia na casa dos Burke. Peter estava preocupado por terem perdido qualquer
contato com Rachel. Até ela ligar novamente o computador, ficariam totalmente
no escuro. Neal estava angustiado por não saber como ela e George estavam. O
menino era muito novinho para ficar fugindo assim. Seja lá onde for que ela
estava, já devia ser madrugada. Mozzie e Elizabeth estavam mais calmos e
tentavam ajudar como podiam.
Rachel decidiu ir para Atenas,
inicialmente. Não sabia exatamente como chegaria lá, mas numa capital
movimentada, seria necessário um disfarce. Ainda bem que fora precavida e já
tinha documentos falsos. Era só escolher.
Chegar a Atenas foi relativamente
fácil. A questão era o que faria agora. Poderia pedir ajuda para alguém e fugir
para qualquer país. Mas...era isso o que desejava? Instalou-se num hotel pouco
chamativo e ficou na janela observando a cidade enquanto George dormia.
Ele passou a viagem tranquilo,
inocente. Não sabia que sua vida estava mudando novamente. Que o sonho de
crescer naquela linda praia tinha desmoronado. Recomeçar mais uma vez. E outra
mais adiante. E novamente. Dizia a si mesma que existiam milhares de praias.
Podia fugir para qualquer uma e criá-lo lá. Mas até quando?
Olhando o bebê dormir, Rachel pensou
que estava fazendo com ele o mesmo que John lhe fez. O amava, mas estava
obrigando a viver uma vida que não precisava. Ele tinha que ter um lar, uma
família. Ir para a escola, ter uma rotina normal para aprender e se tornar um homem.
Não viver fugindo eternamente. Mas o que poderia fazer se nunca poderia deixar
de fugir? A decisão que tomou foi muito difícil. Mas quando ligou o computador,
mesmo com os olhos vermelhos pelo choro, sabia bem o que faria. Primeiro
falaria com a mãe para confirmar uma informação. Depois daria a George toda a
felicidade que ele merecia, mesmo que isso representasse seu maior pesadelo.
Nicolle não entendeu nada quando a viu
nervosa.
Neal, Peter e Elizabeth sabiam o que
havia ocorrido na noite anterior, mas não imaginavam o que ela estava
planejando. Os três olhavam apreensivos o monitor, instalado na casa dos Burke,
naquele domingo pela manhã.
- Eu tive que fugir mãe...aquele
policial desgraçado me obrigou a isso. Se fosse possível, exterminaria-os do
mundo!
- Calma! O que houve?
- Não vou entrar em detalhes...mas
eu fugi. Mais uma vez! E eu não aguento mais isso. Eu não quero que ele cresça
assim. – Ela limpou as lágrimas. – Eu decidi uma coisa mãe.
- O que?
- Eu não vou ficar mais com ele...eu
só vou fazer mal a ele.
- Não! Não filha! Não pode
simplesmente abandoná-lo por aí! Não! – Nicolle estava perdida em suas emoções.
- É claro que não! Que monstro você
acha que eu sou?!?!? Eu não vou entregá-lo a qualquer um. Vou entregá-lo a
alguém que pode criá-lo bem, alguém da minha total confiança, que vai
transformá-lo num homem maravilhoso. Mas vou garantir que você tenha contato
com ele. Não se preocupe.
Quando Neal entendeu o que ela faria
sentiu uma dor no peito. Entendia seu desespero. Mas magoava o fato dela não
cogitar lhe entregar seu filho. Não confiava nele para isso. Até já imaginava
de quem ela estava falando.
- Como não me preocupar? Isso é só o
que eu faço! – Nicolle gritou.
- Eu não tenho saída, mãe. Não posso
ficar arriscando-o assim. – Ela engoliu o choro e se forçou a ir adiante. –
Agora me diz uma coisa...sabe como está o casamento do Henry? Falou com ele
recentemente?
- Por que quer saber?
- Sabe ou não sabe?
- Ele me liga seguidamente pra saber
de você. E...bem parece que se separaram mesmo. Ela não aceitou que ele tenha
ido me ajudar quando você sumiu. Fez um escândalo.
- Tá bom. – Era perfeito. – Vou sair
mãe. Preciso fazer uma coisa. E lembre-se nenhuma palavra com Neal Caffrey
sobre isso. Ele não é o que parece.
Assim que desligou, ainda na frente
do computador, ela pegou o celular e colocou um novo chip. Discou o número de
Henry. Ele atendeu, mas puxou outro assunto logo de início.
Pelo monitor em NY eles não
conseguiam ouvir o que Henry dizia e não entenderam o que falaram no início.
- Oi, sou eu. – Ele sempre
reconhecia sua voz.
- Oi! Nossa que bom te ouvir.
- É, eu sei. Também sinto sua falta.
- Vi que aquela conta bancária teve
muita movimentação. Porque colocou tanto dinheiro numa conta minha tão antiga?
- Coloquei. Ponto. Deixa lá quieto.
– Ela estava em dúvida se falaria ou não. Mas sabia que não tinha alternativa.
– Quero te pedir uma coisa. Mas não quero que me responda sem pensar. É muito
importante.
- Diz. – Em anos de amizade ele
nunca a sentiu desesperada assim. – Você sabe que conta comigo. Sempre.
- Não é qualquer coisa o que eu vou
te pedir. É muito sério. É a coisa mais importante que eu posso te pedir na
vida.
- Você está me assustando, Rachel. –
Era a mais pura verdade.
- Já pedi pra não dizer meu nome!
- Dane-se! Você não está bem. – Lhe
doía ouvi-la assim. – Sabe que eu te ajudarei em qualquer coisa.
Ela começou a chorar novamente.
Chorar com o desespero que nunca havia experimentado. Os ombros tremiam. As
lágrimas escorriam pelo rosto e pingavam na blusa.
- Rachel! O que é? Diga!
Até mesmo Peter emocionou-se vendo
aquilo. Ela realmente estava sofrendo. Mas ele encarava aquele sofrimento como
o resultado de tudo o que ela fez de errado na vida. Neal só sentia que as
circunstâncias os tenham levado a tanto sofrimento. Tudo podia ter sido tão
diferente.
- Você está separado de Molly,
certo?
- Sim. Mas porque me pergunta isso?
Vai aceitar meu pedido de casamento de 10 anos atrás?
- Não...eu seria presa no altar. –
Ela não riu da piada. As lágrimas ainda escorriam. – Eu vou te pedir uma coisa
que vai impedir qualquer chance de voltar com Molly. Qualquer! Por isso eu vou
entender se você disser não. - Talvez no fundo ela torcesse para ele dizer não.
- Henry...eu quero...quero...quero entregar meu filho para você criar. Quero
que você cuide dele.
Um silêncio imperou. Ninguém,
inclusive Neal, Peter e Ell, parecia respirar. Em solidariedade, Elizabeth
tocou o ombro de Neal e lhe trouxe uma bebida quando viu uma lágrima escorrer
por seus olhos.
- Tente entendê-la. Ela está
desesperada. – Disse.
Neal não respondeu. Qualquer palavra
que fosse dizer ficou presa no nó que se formou em sua garganta.
Passado o choque, Henry respondeu.
- Eu fico honrado que você confie
seu filho a mim, Rachel. Mas nós dois sabemos que você não aguentará ficar
longe dele. Isso vai acabar com você.
- Eu estou pensando nele, só nele.
Vai doer ficar longe de George, já está doendo, desde agora, mas eu vou
suportar. Se for aceitar, preciso que prepare um berço para recebê-lo e coisas
de bebê...eu fugi sem nada quase.
- Eu prepararei um quarto. – Claro
que ele faria o que ela pedia.
- Obrigada! Eu...ficarei uns dias
com vocês pra deixar ele se acostumar com você e...não ser traumático pra ele.
Ele não sabe o que é ficar longe de mim...e eu não quero que ele sofra. Eu
também terei que fazer com que largue o peito e aceite o leite em pó...é tanta
coisa pra pensar. E então...você falará que adotou esse bebê. Teremos que
conseguir documentos falsos. Eu cuido disso. Não se preocupe.
- Quando? – Henry também estava
emocionado. Desejou muito um filho. Mas não as custas do sofrimento de sua
melhor amiga.
- Logo. Assim que eu conseguir sair
daqui sem ser pega pela polícia. Depois eu fugirei novamente...e ele vai poder
conviver com você, com mamãe e...quando a poeira baixar eu posso ir te visitar,
daqui há alguns anos, e ver ele. Eu prometo que nunca vou interferir.
- Rachel...calma, ouça o que você está
dizendo. Você está surtando. Você tem que se acalmar. Com a cabeça fria você
ficará melhor. Durma um pouco.
- Não. Dormir não vai resolver os
meus problemas, Henry. – Ela engoliu o choro novamente. – Logo nós estaremos
aí.
Ela desligou o computador deixando-os
no escuro quanto aos detalhes de seu plano. Só sabiam que em breve levaria o
filho para NY.
Enquanto Neal ainda vivia a letargia
típica das fortes emoções, Peter caminhava ferozmente pela sua sala de estar
pensando no esquema para prender Rachel. Assim que chegassem no escritório, na
segunda-feira, iria mandar uma equipe seguir Henry e outra cercar a casa.
Quando Rachel se aproximasse, seria presa imediatamente. Cuidaria para que
fosse feito um exame de paternidade na criança e Neal teria a certeza se o
menino era seu. Com isso, poderia solicitar a guarda legalmente. Fim da
história.
De repente olhou para sua cozinha e
notou que ele continuava sentado à mesa, imóvel, os ombros caídos. Ell o
observava de cabeça baixa também. Ela sofria vendo-o naquele estado.
- Está acabando, Neal. Esse pesadelo
acaba assim que Rachel se aproximar da casa de Henry Roussel.
- Não era pra terminar assim. – Ele
estava deprimido.
- Ela vai trazer o menino. Você o
terá. Ela será presa. O pesadelo acaba. – Lhe parecia simples.
- Acaba? Acaba pra quem, Peter? Pra
você, né? Você arquiva o caso dela num depósito e acaba com o seu pesadelo. E o
meu? O que eu vou dizer para o meu filho quando ele crescer sem a mãe? O que?
Quando ele chamar por ela? Quando ele precisar dela?
Peter conhecia bem aquele olhar que
via em Neal. Olhar de quem está prestes a fazer uma bobagem. Tinha que abrir os
olhos dele.
- Nem pense, Neal, em ajudá-la a
escapar. Não cogite isso! Ela vai ser presa e vai cumprir uma pena perpétua por
diversos assassinatos. Ela matou um agente do FBI. Rachel vai pagar pelo que
fez. E seu filho vai precisar do pai. Eu espero que você pense nele antes de
fazer qualquer bobagem que te mande pra cadeia novamente.
- Você não tem sentimentos! – Neal o
acusou. Elizabeth não interferiu em nada. Deixou-os discutir até se acertarem.
- Tenho! Eu tenho. Quem não tem é
essa assassina. Não esqueça que foi para o amigo que ela resolveu entregar o
filho. Se dependesse dela, você nunca colocaria os olhos no garoto então pense antes
de destruir a sua vida por ela! Pense bem!
Tudo que ele dizia era verdade, Neal
racionalmente sabia, mas emocionalmente negava-se a ver isso.
- Vamos fazer um acordo Neal. –
Peter disse por ter certeza que ele poderia tentar algo para ela não ser presa.
– Eu te dou minha palavra de que a prisão será feita sem violência e garantindo
a segurança do seu filho. Meus agentes estarão usando armas sem munição. E você
me dá sua palavra que não vai fazer nada para ajudá-la. Agora, Neal, preciso te
avisar, se você fizer alguma tentativa idiota de fugir com ela, eu serei
rigoroso e você também será preso. Pense no seu filho.
Na semana que se seguiu, Henry
cumpriu o que combinou com Rachel e preparou um quarto para o bebê. Não sabia
como, mas ainda tentaria tirar essa ideia da cabeça dela. Mas fez o que ela
pediu e comprou o berço, roupinhas e brinquedos para George. Pediu para sua
empregada, que trabalhava ali há muitos anos, que arrumasse tudo. Queria tudo
perfeito para esperar Rachel.
Henry só não esperava que Maya, sua
empregada, fosse tão leal a Molly.
- Sim...patroa. Ele vai trazer uma
criança pra cá. – Ela ligou para Molly para contar.
- Que criança? - Será que ele adotou? Ou teve um filho com
outra?
- Ele disse que é de uma amiga...mas
eu acho que não é só visita porque montou um quarto completo. Tudo perfeito
esperando ela. Eu acho que é o filho daquela mulher... – Com os anos de
convívio, Maya já tinha ouvido falar muito de Rachel naquela casa.
- Só pode ser! Nem fugitiva da
polícia ela me deixa em paz! – O ciúme falava mais forte. – O filho pode até
ser dele! Mas ela me paga por destruir meu casamento! Me paga! Eu preciso de um
favor, Maya.
- O que, patroa?
- Assim que souber que ela está
chegando, me avise.
- Sim, claro.
Neal não tinha coragem de descumprir
o acordo que fez com Peter. Mas tinha que tentar alguma coisa. Não ia se
conformar em vê-la sendo presa. Se ela fugisse, mas Peter não tivesse como
desconfiar de sua participação, tudo ficaria bem. Ele ficaria com o filho e
ela...ela seria livre em algum lugar do mundo. Longe deles.
- É simples. - Mozzie disse. Mas
Neal sabia que nenhuma ideia vinda dele era simples. – Peter deu sua palavra
que não haverá armas. E não vão chegar perto enquanto o bebê estiver em cena.
- Continue. – Neal disse.
- Eu vou ficar por perto da casa até
ela aparecer. Quando Peter souber que ela chegou vai te avisar e você vai
passar para mim. Eu vou me esconder por lá. Dentro da casa ou por perto. Eles
não têm grande segurança.
- O problema não é você entrar, é
tirar ela de lá. A casa estará cercada. – Teria que ser um plano muito eficaz.
– Peter vai invadir a casa.
- Então teremos que interceptar o
carro. – Nem Mozzie sabia direito o que fazia.
- Com meu filho dentro?
- E se avisássemos Henry. Uma
mensagem de texto de um número desconhecido.
- Peter desconfiaria na hora. -
Estavam sem saída.
- Só se...
- O que? – Neal perguntou implorando
mentalmente que a ideia fosse boa.
- A prisão será tranquila, sem
violência...da parte deles pelo menos. Rachel não vai desistir sem lutar. E
eles não estarão armados...ela tem chance, é boa. Tão boa quanto você. E...se
depois da prisão, no camburão...quando estiver a caminho do presídio Rachel
conseguir escapar? Ela já fez antes sozinha. Peter não tem porque acreditar que
não faria novamente. Podemos dar uma ajudinha...não será difícil. Vamos enrolar
o FBI mais uma vez.
Rachel entrou nos EUA quase da mesma
forma como saiu. Dessa vez usaram um avião de carga e pousaram em uma pista
clandestina. De lá, seguiu de carro até Nova York e, numa praça Henry estava
esperando. No carro dele ela iria até a casa onde seu filho iria crescer.
Esses últimos dias ao lado dele passaram
rápido. Ela passou cada segundo se despedindo. O queria sempre bem junto ao
peito. Já era para estar inserindo o leite em pó em sua alimentação, mas não
conseguiu deixar de lhe dar o peito. Não queria perder esse laço ainda. Não
estava pronta para isso.
Abraçou Henry dolorosamente quando o
viu.
- Venha. Vamos pra casa. – Foi só o
que ele disse ao colocá-la no carro. Nenhum dos dois viu que estavam sendo
observados de muito longe.
No FBI Peter recebeu a confirmação
que esperava ansiosamente. Avisou Neal imediatamente.
- Henry encontrou com Rachel. Estão
vindo de carro. – A equipe enfrente a casa estava a postos e ele iria para lá.
– Quer ficar aqui ou estar lá na hora que fechar as algemas?
- Eu vou.
- Ótimo...mas não esqueça o que
combinamos. Quero você o tempo todo na minha linha de visão, Neal.
- Já te dei minha palavra. – Ele
respondeu friamente. - Você me verá o tempo todo.
Henry e Rachel vinham calados dentro
do carro. Estavam apreensivos. Ela trazia George bem acordado nos braços e
olhava para o menino como se quisesse gravar na memória cada traço. Henry
olhava para a amiga e percebia seu sofrimento.
Foram 50 minutos de viagem até
entrar na quadra onde ficava a bela casa. Haviam alguns carros estacionados na
rua, mas isso era normal. O dia estava bonito, as pessoas saíam de casa. Só
quando acionou o controle eletrônico do portão é que percebeu um caro que já
tinha visto passar por eles mais cedo, na estrada. Lembrava daquela placa.
- Rachel, nós fomos seguidos.
- O quê?! Não! Tem certeza? –
Discretamente olhou em volta e viu carros. Não podia ter certeza. O que faria?
Poderia arriscar uma saída pelos fundos? - Entra em casa Henry. Finja que não
notou nada de errado.
Só
que Henry notou mais uma coisa de errado. Molly estava na porta da frente.
Peter e Neal estavam na van
acompanhando tudo. E se surpreenderam quando outro carro chegou antes deles. A
moça, Neal lembrava, era a ex de Henry. O que ela desejava ali? Ela esperou do
lado de fora da casa. Sabia que ele ia chegar.
- Tem algo errado, Peter. Aborta a
operação. – Pediu.
- Nem pensar.
- Ela vai ficar alguns dias. Não
precisa ser hoje.
- Não vou arriscar uma nova fuga.
Hoje Rachel Turner sairá algemada daqui. – Ele estava irredutível.
Logo assistiram Henry chegar. Ela
estava no banco de trás. Os vidros eram escuros e só se via a sombra de uma
mulher. Sabiam que era ela. Logo que dobraram a esquina, outros dois carros
apareceram.
- Não são os meus agentes. – Peter
disse. – Merda!
- O que houve? – Neal não entendia.
- A polícia de Nova York foi
chamada. Alguém fez uma denúncia. – Era a única hipótese possível.
- Dê ordem para não atirarem, Peter!
– Neal gritou.
- Eles não são subordinados a mim.
Ela não é caçada apenas pela divisão de colarinho branco, Neal. Mas não se
preocupe. Ninguém vai atirar com uma criança por perto. – Mas ele falou com
Diana pelo rádio. - Informe o líder dessa equipe policial que nós assumimos
essa prisão e que há uma criança no carro. Não vamos atirar.
- Eles demoraram para entrar...ela
deve ter notado algo. – Neal disse.
Quando Henry dirigiu, tinhas as mãos
tremendo. Foi até a garagem. George percebia o clima pesado e, nervoso, começou
a se agitar.
- Calma filho. – Ela não tinha
calma. – Tem saída pelos fundos?
- Tem. Mas deve ter gente te
esperando por lá.
- É minha melhor chance e eu vou
tentar.
Rachel entrou na casa rapidamente.
Sabia que em breve poderiam invadir. Tinha que sair de lá logo. Passaram reto
por Molly que, com expressão fechada os seguiu.
- Essa assassina fugitiva veio
trazer o filho de vocês pra você ver? – A pergunta era pra Henry. Mas ninguém
chegou a responder. – Pois vai sair daqui presa! Eu chamei a polícia. Pra ver
se trancafiada você some da minha vida.
- Molly...você não fez isso. Por
Deus, Molly, esse bebê não é meu. Eu só a estava ajudando. Veja o circo que
você armou.
- Claro que é seu! Sempre a amou,
sempre foi o cachorrinho dela. Você me traiu! E eu me vinguei chamando a
polícia. – Ela estava transtornada.
Quando
George começou a chorar Rachel interveio.
- Sua patricinha mimada e sem sal!
Você não sabe o erro que cometeu! Agradeça que eu não tenho tempo pra te dar a
surra que merece por colocar meu filho nessa situação. – Ela olhou para Henry,
aproximou-se dele, beijou a testa do filho que berrava e o colocou nos braços
do amigo. – Eu tenho que ir.
Ouviram
barulho no portão. Estava sendo arrombado.
- Promete que vai cuidar dele. Que
não vai deixar essa louca encostar nele! – Ela beijou mais o filho. Ele chorava
a plenos pulmões. – Mamãe te ama. – Encarou Henry novamente. - Fica aqui. Não
coloca de forma alguma ele em risco.
“Rachel
Turner entregue-se!” – Ouviram da rua.
Henry sabia que ela não ia parar.
Viu que ela tinha a arma na cintura. Ele apertou mais o bebê no colo. Sabia que
não tinha volta e só desejava que ela saísse viva disso.
- A única saída é pelos fundos. Mas
tem um muro muito alto. Sobe na parte mais baixa do telhado, no lado esquerdo.
Por lá acho que você consegue. – Abraçando o filho dela ele se despediu. – Vai
tranquila. Eu cuido dele. Boa sorte.
Ela correu.
Molly foi atrás.
Da rua Neal também ouviu os tiros e
desistiu do acordo com Peter. Ele havia garantido armas sem munição e estavam
atirando. Não ia ficar ali vendo tudo sem fazer nada. Peter viu ele correr para
fora da van, mas não pode interferir. Estava aos berros ao telefone tentando
fazer a polícia parar e deixar o caso com o FBI. Mas a jurisdição era deles.
Aquela operação saiu do controle e não queria nem imaginar o estado de Nael se
algo ocorresse com o bebê.
Correndo pela entrada da casa, Neal
viu muitos policiais pelo lugar. Ao menos os tiros estavam cessando. Viu Mozzie
indo para os fundos e pensou que ele também teve todos os planos frustrados com
a chegada da polícia de NY. Se Rachel conseguisse escapar, seria por conta
própria. Ao entrar da casa, ouviu um choro no andar de cima. Ele correu e foi
olhando porta por porta até ver seu filho no colo de Henry. Pela primeira vez
via o seu menino assim, na sua frente, de verdade.
Por uma momento ficou ali, olhando,
sem dizer nada. Depois de tantos meses finalmente poderia encostar nele. George
chorava muito, tinha o rostinho vermelho e os olhos banhados em lágrimas. Abriu
os braços.
- Me dê ele! – Pediu para Henry.
Não era o que Rachel queria, mas o
menino estava chorando em desespero e Neal o amava. Henry entregou o menino ao
pai sabendo que era o melhor. E Rachel desejaria o melhor para o filho.
Neal sentiu o peso de George, sentiu
o perfume, tocou a suavidade da pele, olhou nos olhos do filho e o encostou bem
junto ao peito. Nunca tinha tido muito contato com crianças, mas sabia que de
alguma forma seu filho ia reconhecê-lo.
- Calma...não precisa chorar assim.
Eu sou seu pai. A mamãe não está aqui, mas o papai sim. E eu vou cuidar de
você.
Lentamente o coração dos dois
pareceu começar a pulsar na mesma batida, as respirações vinham juntas, ritmadas.
O choro desesperado aos poucos se transformou em um resmungo magoado.
- Eu sei. Você quer a mamãe. – Ele
beijou os cabelos sedosos do filho. – Papai também quer.
Dalí não ouvia-se mais barulho. Tudo
estava calmo. Henry falou para Neal que Rachel iria tentar uma fuga pelos
fundos, saltando o muro para a rua. Ele sabia que Neal também desejava que ela
escapasse. Dividiam a mesma angústia.
- Vamos ver como está tudo? Não
parece ainda ter movimentação. Ela deve ter conseguido. – Henry perguntou e foi
seguido para os fundos da casa com Neal o acompanhando com o filho nos braços.
Tentando escapar, Rachel teve de
lidar com Molly. Nunca pensou que a garotinha chata com quem Henry casou fosse
lhe causar tantos problemas.
- Você vai sair daqui presa sua
vadia! - Molly gritou indo atrás de Rachel que corria para os fundos da casa.
Ela não sabia subir em telhados, nem
saltar muros, mas estava se arriscando por um ciúme idiota. Não entendia o que
ela estava fazendo. Na verdade, Molly estava completamente fora de si e na
ânsia de dificultar a fuga de Rachel, colocava-se em perigo.
- Eu não vou te deixar fugir! –
Gritou ao alcançar o topo do muro que Rachel estava pronta para saltar.
Ambas viram que do outro lado havia
policiais. Armados. Rachel ergueu as mãos como se fosse se entregar. Apenas
descer do telhado e se entregar. Planejava surpreendê-los quando estivesse no
chão. Tinha uma arma com ela. Poderia fugir.
Mas Molly, descontrolada, atirou-se
sobre ela, forçando-as a cair do outro lado, na rua. Ela não ouviu o barulho. Não
percebeu o que houve. Já no chão, ao levantar, quando viu o sangue, foi que
Rachel entendeu que alguém havia atirado. Molly estava baleada. Rapidamente
pegou a arma que trazia na cintura e apontou para o policial que estava mais
próximo.
Usá-lo como escudo era sua única
chance. Pegou-o pelo pescoço e mandou-o caminhar. Ela o ameaçava com a arma. Os
outros não iam atirar e arriscar a vida do colega. E ela não ia matá-lo...a
menos que aprontasse alguma.
Na casa, do outro lado do muro,
ouviu mais tiros. Ia saindo pela rua, usando o homem como escudo quando sentiu
os músculos travarem. A acertaram pelas costas com a arma de choque.
Pelos fundos da casa, Neal e Henry
não viram nada e com um bebê, tentar saltar um telhado seria inviável. Mas
acharam silencioso demais. Ambos estavam esperançosos de que ela tinha
conseguido. Henry, porém, ainda queria encontrar Molly. Por mais descontrolada
que estivesse, era sua esposa e, mesmo separados, ainda tinha sentimentos por
ela.
Quando deram a volta para acessar a
rua de trás da casa, Peter os viu. Achou bonita a cena de Neal carregando o
bebê. Mas eles iam rápido. Era melhor ter certeza de que eles não aprontariam
nada!
Chegaram praticamente juntos.
E a cena que presenciaram foi
entristecedora. Molly estava no chão, sangrando, com um paramédico atendendo-a.
O primeiro pensamento de Peter foi que Rachel havia atirado nela. Henry sequer
pensou nisso. A amiga não faria isso. Neal nem olhou para Molly. Foi outra cena
no lado mais afastado da rua, mais escondido, que lhe chocou.
Rachel estava caída no chão, sem
nenhuma reação, as mãos já algemadas e um policial desferindo chutes em seu
corpo. Viu um golpe a atingir na barriga e outro na lateral do quadril.
- Pare! – Mesmo com George no colo
ele correu. Henry e Peter também foram. – O que está fazendo? Pare!
- Ela resistiu à prisão. – O homem
informou.
Só podia ser mentira. Ela estava desacordada
e algemada.
- Mentira! – A vontade era de
avançar no homem de uniforme policial. Só que o choro do filho que estava em
seu colo o impediu de agredi-lo. – Desgraçado!
- Calma Neal, você já teve problemas
demais com a lei para agredir um policial. – Peter disse.
Ele acreditava em sua profissão.
Acreditava no sistema. Acreditava na justiça. Policiais deveriam impor a ordem
e nunca abusar do poder.
- Agente Burke, do FBI – Gritou
mostrando a credencial. Quando olhou bem para homem, achou que seu rosto era
conhecido. –. Qual seu nome, policial?
- Mark Smith. - Peter levou apenas um segundo para lembrar quem
ele era. Mark era o policial que Rachel agrediu ao fugir da prisão tantos meses
atrás...mais de um ano. E ali estava ele. Devolvendo o golpe. Não podia fazer
isso. Era treinado para prender, sem ferir.
- Eu não vi resistência alguma, só
você a chutando. – Peter a tocou e sentiu a pulsação. - Arma de choque? Você
disparou? – Neal também já tinha se aproximado. Falou com ele. – Calma. Ela
está viva.
- Sim, Agente Burke. – Mark assumiu.
- Ela estava fugindo usando um homem como escudo.
- Deveria tê-la a algemado
simplesmente. – Pelo rádio Peter pediu por atendimento médico. - Nós dois
sabemos que depois do choque ela não poderia oferecer resistência alguma a
prisão.
- Ela resistiu. Você não estava aqui
para ver. Não pode afirmar o contrário.
- Eu afirmarei sim. No meu relatório
eu afirmarei o que eu vi, você fazendo uso de violência desnecessária. – Para Peter
era assim que se resolviam as questões.
Mas Henry também já estava no limite
do nervosismo e fez questão de liberar a raiva que sentia por tudo que
aconteceu. Esmurrou o homem com tanta força que ele caiu no chão.
- Eu nunca tive problemas com a lei.
– Disse a Peter que nem chegou a reclamar. O policial mereceu.
A sirene da ambulância soou alto. Ambos
viram duas macas sendo colocadas na ambulância.
Era muito doloroso ver que ia acabar
assim. Depois de tantas idas e vindas, ali estava Neal, com o filho nos braços,
mas vendo-a em uma ambulância. Henry também sofria, duplamente. A esposa e a
melhor amiga estavam feridas.
Peter
se aproximou novamente.
- O que aconteceu com o acordo de
‘sem violência’? – Agressivo, Neal perguntou. Estava com a raiva engasgada.
- Calma. Já falei com os
paramédicos. – Ele também dizia isso para Henry. – As duas ficarão bem.
Isso
não amenizava a dor que sentiam.
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