Com a desculpa de que precisavam
ensaiar uma nova coreografia e aproveitando-se do fato de que Ruan Rodrigues
tinha muitos compromissos profissionais, coisas que ele não explicava, Peter,
Rachel e Neal tiveram como conversar.
O único problema foi que Ruan
questionou qual dança iriam ensaiar. Peter tinha que convencer como coreógrafo
e o único ritmo que sabia dançar era tango. Então essa foi a resposta mais
óbvia.
Não teria gerado nenhum problema, se
Rodrigues não tivesse feito um aviso.
- Maravilha! Adoro tango! Essa noite
venho ver vocês passarem a coreografia.
- Mas...mal começamos, querido.
Ainda não estará belo. Deixe para mais adiante. – Rachel tentou ganhar mais
tempo.
- Não, Rebecca. Quero acompanhar
todo o seu trabalho. Além disso, você e Nick são parceiros antigos. Tenho
certeza de que essa noite já terão algo satisfatório para apresentar. – Ele
beijou-a prensando-a conta uma parede e saiu.
Sozinhos e já sabendo dos detalhes
da morte de Gabriella, Rachel percebeu que teria de adaptar o plano e correr
ainda mais. O homem não era apenas bipolar. Era um assassino passional. Isso os
diferenciava muito. Em todas as vezes que matou, ela agiu friamente. Tinha um
objetivo claro. Ruan não. Era óbvio que ele ainda nutria a paixão que sentiu
pela falecida. Matou sem pensar...o que significava que mesmo desejando-a, num
momento de raiva poderia facilmente tentar repetir o crime. Era bom ficar
atenta e manter as mãos de Ruan Rodrigues longe de seu pescoço.
A manhã que se apresentou como a
chance de explorar a casa tendo somente de se desviar de poucos empregados,
agora os obrigava a ensaiar tango.
- Eu não faço ideia de como dançar
tango! – Neal avisou irritado. Estava acostumado a saber tudo de que o FBI
precisava e agora, justo nesse caso, lhe faltava um talento.
- Peter... - Rachel assumia o comando friamente. – Você sabe
dançar tango então fique aqui com Neal e o ensine os passos básicos, a postura,
o início de alguma pegada. Vamos montar algo simples...com alguns floreios, mas
sem grande dificuldade. Enquanto isso eu vou explorar a casa.
- Ok, mas tome cuidado. Não tem
câmeras, mas os empregados devem estar com os olhos atentos. – Peter pediu.
- Precisam ser instaladas
microcâmeras no quarto e no escritório dele, chefe. – Diana lembrou.
- Diana está pedindo para você pegar
equipamento de vídeo e esconder no escritório dele...e no quarto onde ficará
com Rodrigues. Precisamos poder acompanhar o que se passará nesses lugares. –
Peter disse. - A noite ele pode ficar violento ou perigoso e se você precisar
de ajuda nós estaremos vendo. – Mesmo sem nenhuma simpatia por ela, Peter se
preocupava com a segurança de Rachel. – Se precisar abortar a missão, nós
saberemos.
- Nós vamos encontrar ainda hoje os
papéis e isso não será necessário. – Afirmou Neal. Ele queria encerrar o caso
antes da ‘noite’.
- Nem pensem em abortar missão! Eu
não cheguei aqui para desistir assim! Só saio dessa casa levando os títulos. –
Rachel estava decidida.
Enquanto Peter e Neal ficaram
ensaiando o tango, Rachel caminhou pela casa. Pelo microfone, todos ouviam o
que ela fazia. Uma única empregada, que se identificou como Clare, aproximou-se
muito simpática e perguntou se precisava de algo.
- Não, estou apenas encantada com
tantas obras de arte. A casa lembra um museu. – Disse.
- Sim, Sr. Rodrigues gosta de arte e
acumula coisas da Sra. Gabriella.
- Deve dar muito trabalho manter
arrumado. A equipe de empregados deve ser imensa. – Ela jogou verde para tentar
descobrir se haveriam muitos olhos sobre eles.
- Não. O patrão não gosta de muita
gente na casa. Apenas eu e o motorista moramos aqui. O jardineiro e uma equipe
de faxina vem semanalmente. Os seguranças externos não entram na casa.
- Interessante. – E perfeito. Ela poderia
facilmente desviar de Clare e o motorista tinha saído com Rodrigues. – Vou para
o meu quarto...depois termino de olhar as outras obras de arte da casa...deve
ter coisas lindas em vários cômodos, não?
- Sim, muitas. O Sr. Rodrigues disse
que a senhorita tem total liberdade na casa. Aproveite sua estadia. Verá que
algumas portas ficam trancadas...são locais que somente ele tem acesso. Para
todo o mais a senhorita tem autorização para entrar.
- Obrigada. – Respondeu Rachel
subindo as escadas. Neal teria algumas portas para arrombar.
Na sala de ensaio, Neal tentava se
concentrar nos passos de dança enquanto ouvia Rachel. Tango era uma dança muito
mais difícil que bolero e eles não tinham muito tempo. Esforçou-se ao máximo.
- O que queria que eu fizesse, Neal?
É a única coisa que sei dançar. – Explicou Peter.
- Mas eu não sei! E sou eu quem terá de dançar. – Neal
replicou.
- Então agradeça que eu estou aqui
para te ensinar e não reclame! Você não tem que ser perfeito. Não é uma
apresentação. Ele só que ver uma passagem de ensaio.
Eles ensaiaram por bastante tempo.
- Vamos Neal. Mais uma vez! Você
pegou bem a dança.
Depois de colocar a microcâmera
presa a um enfeite na mesa de cabeceira do quarto, e vistoriar o lugar, Rachel
concluiu que ali não havia nada de importante. Arrumou algumas coisas de sua
mala, em especial o leve calmante que tinha trazido. Não poderia lhe dar mais do
remédio da outra noite, afinal ele apagaria completamente e perceberia que
vinha sendo dopado. Mas...um calmante leve iria ‘ajudá-lo’ a sentir sono.
Só que teria de encontrar um meio
dele aceitar ir dormir sem sexo...ou, se não encontra-se outra forma, seria
obrigada a transar com ele, sabendo que Neal assistia. Claro que seria difícil,
mas pela chance de alongar o acordo, de ficar fora da prisão com Neal e seu
filho...faria. Valeria a pena. Só que não sabia como Neal encararia isso.
Resolveu lidar com um problema de
cada vez e foi em direção ao escritório de Ruan. Encontrou facilmente e viu que
não estava chaveado. Revisou os papéis, algumas gavetas, procurou por livros
falsos que escondessem algo. Nada. Atrás de um quadro descobriu um cofre. Nada
poderia ser mais óbvio. Duvidava que encontrassem algo realmente relevante ali,
mas Neal e Peter teriam que abrir e conferir.
Eram duas portas trancadas. Estavam
frente a frente, no lado oeste da casa. A desconfiança de Rachel ficou maior
quando percebeu que a fechadura não era reforçada, era simples, mas ao borrifar
seu perfume perto, foi possível ver o alarme em laser. Era ali, só podia ser.
Voltou a sala de ensaio e gostou de
ver como Neal tinha evoluído na dança. Iria gostar de dançar tango com ele. Era
um homem de ombros largos, tinha uma bela postura. Combinava com o bailado
marcado do tango. Um dia ainda iriam dançar de verdade, sem missões ou planos
malucos.
Planejaram o que iam fazer. Ela ia
chamar Ruan para almoçar fora enquanto eles iam vistoriar o lugar. As duas
portas com alarme, em especial. Tentar entrar pela janela era loucura. Podiam
chamar a atenção dos seguranças que cercavam a casa. Teria que ser pela porta
mesmo, abrindo a fechadura com muito cuidado para não disparar o alarme.
- Eu vou pegar os papéis, onde
estiverem. Quando voltarem do almoço, os terei e ele será preso. Fim do caso. –
Neal estava decidido.
Rachel não podia ter essa certeza
toda. Por isso já tinha que ir armando sua desculpa para a noite. Quando Ruan
chegou para buscá-la para o almoço, ela fez uma cara de dor. Quando ele
perguntou por que estava assim, lhe respondeu:
- Estou com cólicas...problemas
femininos. – Beijou-o suavemente. – Mas não se preocupe. Já estou medicada.
- Quer ficar em casa? Repousar? –
Ele realmente se preocupou com ela.
- Não, querido. – Precisava deixar a
casa livre para Neal e Peter. – Quero ficar com você.
Foram almoçar e ela seguia na corda
bamba. Tinha que seduzir, mantê-lo ligado a ela, mas sem deixá-lo excitado.
Sabia que ele tinha compromissos para a tarde e iria usar isso como arma.
- Estou fechando um negócio muito
importante. Em dois dias você será a rainha de um rei ainda mais poderoso. –
Naquele momento Rachel e o FBI souberam que ele estava negociando os títulos.
Não tinham muito tempo.
- E por quê? Que negócio é esse?
Fiquei curiosa.
- Minha bela...não pense nisso. –
Ele pediu a carta de vinhos. – Essa sua cabecinha ruiva não precisa se
preocupar com mais nada a não ser passos e figurinos de dança. E em me agradar,
é claro.
- Claro. – Ela respondeu
acariciando-lhe a mão.
Na
casa, Neal começou pelo cofre do escritório. Era bom nisso, podia arrombar com
facilidade. Depois, iram aos quartos trancados. Foi simples. Peter ficou
controlando o lugar onde a empregada estava, mantendo-a longe daquele cômodo
enquanto ele procurou pelo quadro indicado por Rachel.
Depois precisou encontrar a
combinação. Algo simples, já que tinha o equipamento correto.
Não demorou muito, obteve a senha e
o cofre se abriu.
Havia muita coisa lá. Não encontrou
os títulos, porém muita coisa comprometedora. Em uma caixa, havia fotos de
várias mulheres, todas sempre amarradas. Fetiche? Até aí, nada de errado. Ele
que amarrasse quem desejasse, menos Rachel. Em algumas imagens elas aparentavam
estar gostando da brincadeira. Em outras, tinham um olhar assustado. Ele não
aparecia em nenhuma daquelas fotos. Havia alguns DVDs, mas ele não tinha tempo
de olhar agora. Continuou verificando o conteúdo do cofre. Algumas joias.
Dinheiro em várias moedas. Duas pistolas. Munição.
O assustador, porém, estava em outra
caixa. Eram fotos de uma única mulher, a mesma dos painéis na sala dos tecidos.
Gabriella. Ela estava machucada em várias. Amarrada. Tinha pânico no olhar.
Aquela mulher havia sido torturada durante muito tempo. E a empregada que
denunciou Rodrigues sempre esteve certa. Nas últimas imagens ela estava
desacordada sobre a cama.
Neal tinha certeza de que estava
olhando para Gabriella já morta. Ruan teve o sangue frio de matar e registrar
tudo.
- Como estão as coisas no almoço? –
Neal perguntou para Diana pelo comunicador.
- Normal. Já estão comendo. E ele
vai fechar um negócio depois. Temos pouco tempo, Neal. – Ela respondeu.
- Como ele está com ela? Não dá
nenhum sinal de agressividade? Vocês não tem ideia do maníaco que ele é! Ruan
Rodrigues é doente! – Podia surtar a qualquer momento. Quando se colocaram
naquela situação, eles não imaginavam isso.
- Concentre-se, Neal. – Peter
lembrou. – É assim que vamos acabar com o caso mais rápido.
- Ele a matou mesmo. E fez coisas
bem ruins antes...tem provas aqui, Peter. – Neal não tinha a frieza habitual.
Peter achava que agora não podiam
sair do objetivo. Só assim conseguiriam terminar bem o caso.
- Se os títulos não estão aí, Neal,
deixe tudo como estava e siga para a primeira porta trancada. Não perca tempo!
– Era a ordem de um superior.
Quando o almoço já estava na
sobremesa Neal conseguiu abrir a porta sem disparar o alarme. Clare estava
ocupada no andar de baixo, achando que eles descansavam nos quartos. Por uma
câmera que instalaram, Jones cuidava a escada. Quando se aproximasse do segundo
andar eles saberiam.
Só que entrar naquele quarto não
adiantou muita coisa. Neal e Peter só viram mais um ‘altar’ bizarro em devoção
a mulher que Ruan amou e matou.
- Mas por que um alarme na porta?
Nada aqui é crime...loucura sim, mas crime? – Peter estranhou.
- Ele é um louco. Loucos não seguem
a lógica, Peter. Ele não quer dividi-la com ninguém nem depois de morta. Se
você visse o que eu vi...
- Concentre-se, Caffrey! – Ele
repetiu.
- Como?! Não consigo! É um lunático!
E está com ela! – Não tinha como simplesmente seguir trabalhando no caso, não
conseguia ser frio.
- Rapazes! – Diana chamou. – Eles
estão no carro indo para casa. Saiam daí agora.
Sem alternativa, a outra porta teve
que ficar para depois. Ruan Rodrigues estava ansioso, disse que tinha negócios
a fazer, mas não entrou no quarto com alarme. Sinal que ainda não ia se
desfazer dos papéis. Ainda teriam chance. Ele recomendou que Rebecca descansa-se
durante a tarde, para passar as cólicas, e tornou a sair.
Neal queria invadir o cômodo naquele
momento. Rachel os convenceu que não. Se não estivesse lá, precisariam manter o
disfarce até o outro dia para revistar o resto da casa. E, para isso, teriam
que apresentar uma coreografia de tango. Melhor ensaiar. A calma com que ela
encarava a possibilidade de passar uma noite na mesma cama que Rodrigues
enfurecia Neal.
- Você ouviu o que eu disse? – Ele
gritou. – O cara assassinou a mulher e guarda fotos dela morta no cofre! Ele
tem um monte de imagens de outras mulheres amarradas!
- Mas não vai me amarrar! Não vou
deixar! – Ela respondeu.
- Você não está pensando. Está se
arriscando demais. – Como ela não via isso?
- É a minha única chance e eu não
vou perder, Neal. Agora venha ensaiar essa porcaria de tango porque não vai ser
uma dança que vai entregar todo o nosso plano! – Ela encerrou o assunto.
E não foi. Naquela noite, após
jantarem juntos, Nick e Rebecca ‘ensaiaram’ na frente de Ruan. E ele gostou do
que viu.
Neal mostrou-se alegre e festivo
após o ensaio. Tudo uma farsa. Por dentro, tinha ódio de Rodrigues. Se soubesse
que ia terminar assim, não teria incentivado Peter a trazer Rachel ao FBI. O
risco estava alto demais. Peter também tentou puxar conversa, fazê-lo beber
para falar mais dos negócios. Já Rachel tinha que manter o teatro que iniciou
no almoço. Falou que só dançou para satisfazê-lo, já que as cólicas estavam
insuportáveis.
Foi impossível segurar Rachel e
Rodrigues até muito tarde. Mal passava das 11, estavam todos em seus quartos.
Neal e Peter apreensivos acompanhando por um tablet o que se passava no quarto
de Rachel e Ruan.
- Eu vou tomar uma
chuveirada...talvez alivie a dor. – Ela disse indo para a suíte e fechando a
porta.
- Coloque uma camisola bem
sensual...a sua primeira noite aqui merece. – Ele gritou em resposta.
- Ou querido...acho que eu estou
meio imprestável para sensualidades hoje...me desculpe por isso.
Nossa primeira
noite aqui no seu quarto. Eu queria que ela fosse perfeita. – Ela lamentou,
ainda do banheiro enquanto tirava a roupa.
- Sempre podemos inovar, querida
Rebecca. – Foi a resposta um tanto dúbia.
Neal e Peter não estavam gostando do
rumo que a noite tomou. Claro que Neal se preocupava com ela, mesmo que não
tivessem um relacionamento, mesmo que fossem apenas colegas de trabalho seria
assim. Se as posições estivessem trocadas e fosse Diana na van e Rachel no
quarto, ainda assim ele seria da opinião de que o melhor era parar por ali. Mas
era Rachel lá dentro e isso acrescentava ciúme à equação. Peter não gostava de
nada em Rachel. Só via falsidade em cada palavra que ela pronunciava. O sucesso
dela em enrolar alguém como Ruan só provava o quanto era perigosa. Mesmo assim,
reconhecia a importância e dedicação dela para aquela missão. E se preocupava
com as reações de Neal quanto ao que ocorreria naquela noite. Peter não tinha
dúvidas de que para manter a farsa Rachel não hesitaria em transar com
Rodrigues.
Depois que ligou o chuveiro, Rachel
tomou um banho rápido. Não queria demorar e dar a Ruan a ideia de que o queria
ali. Não passou de uma chuveirada rápida. Chegou ao quarto vestindo uma
camisola simples, nem fechada demais nem sensual. Algo comum. O encontrou nu e
quando ele se aproximou excitado achou que a história da cólica não iria colar
e ele ia querer sexo ali mesmo. Mas ele simplesmente lhe mordeu o pescoço e
disse para esperar na cama.
Sem muito mais o que fazer, ela
pegou o copo d’água que trouxe mais cedo e colocou gotas do calmante. Em algum
momento teria que fazê-lo beber. Ficou deitada tranquilamente, assistindo
televisão, sabendo que era observada pelo FBI.
Quando saiu do banheiro, Ruan vestia
apenas a calça de um pijama e trazia um vidro com ele. Na hora ela imaginou o
que ele queria e, pior, não teria como negar.
- Tira a camisola. – Disse naquele
tom que não era bem um pedido. – Deita na cama de bruços. Vou fazer uma
massagem. Vai se sentir melhor.
- Obrigada, querido. – O que podia
fazer quando seu suposto amante faz uma oferta tão carinhosa quando você está
com dores pré menstruais?
Sem alternativa, ficou nua na sua
frente, e da microcâmera, e se deitou como ele pediu. Por alguns minutos Ruan
realmente apenas massageou-lhe a parte baixa das costas com um óleo perfumado.
Isso não a impediu de ficar apreensiva. Não exatamente com o toque, mas com a
certeza de que Neal estava vendo aquela cena e se descontrolando.
- Está tensa, querida. Precisa
relaxar os músculos. – Ele lhe beijou a Lina da coluna. – Vire de frente.
- Já basta...sei que vou ficar bem
agora, querido...obri...
- Eu mandei virar de frente,
Rebecca. – Ele disse simplesmente. – É para o seu bem.
- Claro. – Melhor não irritá-lo.
Ele lhe massageava a barriga agora,
delicadamente. E ela só encarava a câmera posta no criado mudo. Pensou em
tirá-la de lá para acabar com aquela tortura. Mas Neal não a perdoaria por
cortar o contato que tinham.
- Melhor? – Ele disse ao sair da
cama e levar o óleo de volta ao banheiro.
- Sim, obrigada. – Saiu da cama e
pegou a camisola para vestir.
- Fique sem ela. – Era mais uma
ordem. - Quero sentir você, Rebecca.
Sem alternativa, deitou-se e se
enrolou no lençol. Não parava de pensar no que fazer. O relógio marcava
11h50min. Ele tinha negócios a fazer no dia seguinte. Certamente queria dormir.
Mas seu instinto lhe dizia que a madrugada seria longa.
Ruan voltou do banheiro e ela sentiu
quando ele se deitou e a puxou para seus braços. Pensou que se fazer de frágil
era sua melhor alternativa. Deu-lhe um leve beijo nos lábios e deitou a cabeça
em seu peito. Fechou os olhos num claro recado de que desejava dormir.
Não adiantou. Sentiu quando ele
desceu o lençol e começou a lhe tocar os seios. Inferno! Será que não entendia
o recado!?!?
- Não...querido. Desculpe, mas hoje
não estou em condições para sexo. – Beijou-o novamente. – Estou dodói. Pode só
cuidar de mim, não pode? É só hoje.
Seus olhos ficaram mais escuros.
Ruan estava com raiva. Ia explodir a qualquer momento. Ele se aproximou ainda
mais dela, deixando-a sentir a ereção.
- E você? Não vai cuidar de mim? Vai
me deixar dormir assim? – Ele queria sexo. Não ia aceitar menos. – Preciso de
você, Rebecca.
Em um raro momento indecisão, Rachel
não tinha ideia do que fazer. Conseguia transar com ele, podia aguentar isso
pela chance de não voltar para a prisão. Mas não podia transar com Ruan sabendo
que Neal assistia tudo. Não conseguiria fazer isso com ele.
- Por favor, Ruan...eu não estou em
condições. Estou com cólica! Pare! Me deixe dormir! Amanhã eu estarei melhor.
No quarto do outro lado da cada,
Neal estava decidido a ir lá. Era claro demais que isso não ia terminar bem. As
opções eram apenas duas: ela irritá-lo tanto que ele ficaria agressivo até
realmente machucá-la ou Rachel ceder por obrigação e ele se satisfazer nela.
- Isso já foi longe demais, Peter! O
que nós vamos esperar acontecer para acabar com tudo?
- Ela sabe o que faz, Neal. – Peter
tinha certeza de que, se quisesse, Rachel colocaria fim no problema. Era
esperta. - Ela já provou que sabe enrolar ele.
- Tudo tem limite! – Droga! Será que
ninguém mais via isso?!
- Não saia desse quarto, Neal. – Era
uma ordem. – Não se esqueça de que são esses títulos que impedem Rachel de
voltar para a cadeia. Pense antes de acabar com o caso.
Por enquanto ele ficou. Mas Peter
sabia que se Rachel não segurasse Ruan, logo a missão iria pelos ares. Nada
faria Neal ficar ali.
Do outro lado da casa, a discussão
sexual continuava.
- Você não quer transar...ok,
Rebecca...mas não posso ficar assim, nesse estado. – Ele disse.
- Vá tomar um banho frio. É tarde
Ruan... – Sua paciência estava no limite.
- Não...a gente pode resolver de
outro jeito. Você pode usar a sua boquinha e resolver o meu problema. – Não
chegava a ser o mesmo tom impositivo de antes, mas certamente não era um
convite.
Com isso Rachel chegou no seu
limite. Era tudo ou nada! Ergueu-se na cama feito uma gata e, levando o lençol
consigo, mostrou as garras.
- Quer que eu resolva o seu
probleminha é? Com a boca? Pois resolva sozinho! – Gritou.
O clima na equipe do FBI ficou apreensivo. Ninguém sabia
como ele ia reagir.
- Ei! Rebecca! Eu... – Ele se
espantou com a explosão dela.
- Ei nada! Eu estou com dor e você
não consegue pensar em outra coisa que não a própria ereção! Não! Ouviu bem?
Não! Me nego a me sujeitar a essa humilhação! Quando me convidou para sua casa,
não me disse que eu pagava a hospedagem te chupando!
Quem ouvisse a cena, acharia que ela
era realmente uma mulher ofendida.
Ruan acreditou.
- Desculpe, querida. Não quis te
ofender assim. – A bipolaridade atacava novamente. – Eu não quis te ofender...é
claro que não precisa fazer nada que não quiser. Era só um convite...
‘Assunto resolvido’, pensou Peter.
- Eu disse que ela ia enrolar ele? –
Disse para Neal. – Pronto. Ele vai se acomodar agora.
- Você sabe muito bem como isso
podia ter terminado! – Para Neal o assunto não estava resolvido. – Defende
tanto os ‘métodos do FBI’...abuso sexual agora é permitido.
- Eu não vou levar a sério o que
diz. Está nervoso, Neal. Está agindo como se ela fosse uma mocinha inofensiva.
Não é.
Continuaram acompanhando tudo.
- Eu senti bem o convite, Ruan! –
Ela continuava irritada. – Quer saber? Me deixe dormir. Apenas isso.
- Não fique assim...eu devia saber
que você está nervosa. Nessa fase do mês toda mulher fica. Não devia ter te
pressionado assim. Me desculpe.
- Ok...eu estou nervosa mesmo. – Era
hora de acalmar os ânimos. – Só vamos dormir. Sim?
Com isso, ganharam algum tempo de
tranquilidade. Rachel ficou deitada, de olhos fechados, fingindo dormir. Ele se
aconchegou nela. Não falou mais nada. Só cheirava seus cabelos. Neal e Peter
observavam já imaginando que Rachel sairia do quarto assim que ele dormisse.
Ficaram ali observando. Por garantia ela esperou por 20 minutos. Até que teve
certeza que Ruan tinha a respiração calma, ritmada.
Levantou-se da cama, vestiu a
camisola e saiu do quarto agradecendo a porta silenciosa. Caminhou até o quarto
onde seus parceiros estavam.
- Tudo bem? – Neal perguntou
abraçando-a assim que entrou.
- Sim. – Ela beijou-o no rosto. –
Tudo sob controle.
Ela via a apreensão dele.
- Me escutem vocês dois: aconteça o
que acontecer, não vão lá. Não abortem a missão. – Era um aviso aos dois, mas
em especial para Neal.
Até mesmo para Peter, essa
insistência de Rachel era assustadora. Qualquer mulher sensata diria para ele
que desejava parar. Ela iria no limite.
- Vamos tentar entrar no quarto
agora? Pegar esses papéis e acabar com isso logo. – Dessa vez foi Peter a achar
que era o melhor. Acabar logo com tudo.
- CHEFE! – Diana interrompeu. –
Rachel tem que voltar. O cara tá acordando.
INFERNO!
- Rodrigues percebeu sua saída. –
Peter deu o recado. – Corre! Vai lá e segura ele.
- Não! – Neal interferiu. – Ele vai
estar...
- Eu consigo. – Disse ela já saindo.
Mas no fundo ela sabia que a
situação tinha saído do seu controle novamente. Correu em direção ao quarto
pensando numa desculpa. Não teve tempo de falar uma palavra. Encontrou-o no
corredor, a expressão confusa, o rosto avermelhado.
- Querido! Saí por um m... – Ela
começou a falar e não terminou.
- Passou a dor? Para me agradar dói
demais, mas assim que eu durmo você sai! Porque Rebecca? Ia me abandonar? Ia
embora no meio da noite?
Ruan lhe agarrou um dos braços,
apertando. Com o outro, lhe deu bofetada no rosto.
- Há?!?! – Ela gritou ao sentir o
rosto queimar. – Não...eu só sai um instante. Ia na cozinha.
- Mentirosa! – Ele a puxou para
dentro do quarto. Arrastou pelo braço.
Rachel podia lutar com ele. Até
derrubá-lo, se desejasse. Mas isso seria entregar o disfarce. Então aguentou.
Apanharia sem se defender. Era o preço a pagar.
Ao entrar no quarto, Ruan jogou
Rachel sobre a cama e ela se chocou contra a cabeceira. Ele deu-lhe mais um
tapa no rosto.
- Pare! Está me machucando! Pare,
Ruan! – Era o que podia fazer, implorar.
- Não vai sair daqui! – Ele segurou
seus dois antebraços e a sacudiu. – Não vai!
- Eu não quero! Eu só...
Mais um tapa explodiu em sua face.
- Não minta pra mim! – Ele estava
fora de si e Rachel optou por se deixar chorar. Sua última chance era
comovê-lo.
Naquele momento, Peter tentava segurar
Neal. Impedi-lo de fazer uma loucura indo confrontar Ruan. Se ele aparecesse lá
agora, os dois começariam a brigar e não terminaria bem.
- Me solta! Ele vai matar ela!
- Não, Neal. Não vai! Pense! Sabe
que se ela desejar derruba ele, é só querer! – Neal não queria ver. Rachel não
corria perigo de verdade. – Ela está jogando com ele.
- Ela está apanhando dele! – Os
títulos que fossem para o inferno.
- Ela está apanhando para manter-se
no plano. Há minutos, aqui mesmo, ela lhe pediu para não ir lá!
Neal não acreditava no que estava ouvindo.
Peter ia deixar aquilo chegar até onde exatamente? Um estupro? Um assassinato?
Em função dos malditos papéis, iam ficar ali, vendo um crime ocorrer?
- Ele está espancando ela! Já não é
um crime bom o bastante para a polícia invadir essa casa e pegá-lo?
- Não temos certeza de onde os
papéis estão! Eu não posso parar! – Precisava que Neal colaborasse. – E ela
sabe se cuidar! Ela é treinada!
Não era só Neal que estava nervoso.
Peter também estava no limite no estresse.
- Não saia desse quarto, Neal
Caffrey. Ela vai enrolar o Rodrigues mais uma vez e amanhã nós vamos pegar os
papéis e prendê-lo. Fim! E você a terá no FBI, fora da cadeia, como deseja. –
Disse para lembrá-lo como aquilo era importante.
- Ela vai enrolar ele como,
exatamente? Apanhando até ele extravasar toda a raiva? Permitindo que ele a
obrigue a transar?
- Não seria a primeira vez que ela
faz sexo em serviço! – Peter gritou em resposta.
E sentiu que havia ultrapassado
qualquer limite quando o punho de Neal o esmurrou.
Neal não ficou ali nem mais
um minuto. Correu para o outro lado da casa até chegar a porta onde os dois
estavam. Em seu ouvido, o discreto fone lhe permitia ouvir o que ocorria lá
dentro.
Não havia mais som de Ruan lhe
machucando, porém continuavam discutindo. Ela chorava.
Neal forçou a maçaneta da porta.
Trancada.
- Porque tinha que sair do quarto,
Rebecca? Por que me força a te machucar? – Ruan se mostrava cada vez mais
louco. Ia da raiva à culpa em segundos.
- Eu..não ia sair. – Ela só podia
tentar deixá-lo mais culpado. – E você me feriu assim.
- Não devia ter saído sem me avisar!
Não devia...me obedeça...me obedeça e isso nunca mais ocorrerá.
Ruan e Rachel ouviram alguém esmurrando a porta.
Rachel sabia exatamente quem era.
Ruan voltou a sentir a raiva
crescer. Quem vinha se intrometer na sua ‘conversa’ com Rebecca? Quando abriu,
viu Nick...o ‘partner’ dela. A roupa que mais cedo era alinhada agora estava
amarrotada.
Percebeu quando Nick olhou o quarto
e sentiu percebeu a raiva dele quando viu Rebecca. Nick tinha ódio nos olhos.
- Eu o convidei para minha casa,
Nick. Não para meu quarto. Saia daqui agora. – Ruan gritou.
Neal o segurou pela camisa. Seu
desejo era esmurrá-lo com toda a força.
- Eu ouvi os gritos dela! – Neal disse
sem saber se valeria a pena continuar com algo do plano. Olhava para Rachel e a
via o fuzilar com o olhar, mas também percebia seu rosto ferido. O que fazer?
- Não se meta nos nossos problemas.
– Gritou Ruan.
- Não a machuque! – Neal respondeu.
Não podia simplesmente dar as costas.
Rachel saiu da cama e interferiu.
Separou-os. Pegou nas mãos de Neal e olhando em seus olhos disse:
- Acalme-se, Nick. Sei que se
preocupa comigo. Mas está tudo bem. Foi um desentendimento de casal...já
passou. Eu vou colocar gelo em meu rosto...e amanhã estará tudo bem. Nós
ensaiaremos como sempre.
- Tem certeza? – Como ela podia
conseguir manter o plano depois disso?
- Tenho, querido. Está tudo bem!
Amanhã eu estarei pronta para dançar. Agora vá dormir, Nick! Vá!
- Isso, Nick. Vá! – Repetiu Ruan.
Neal voltou ao quarto ainda
ouvindo-os conversar. Rodrigues realmente parecia bem mais calmo.
- Eu vou buscar gelo para colocar em
seu rosto. – Ele parecia arrependido. – Vou cuidar de você.
Quando ele saiu do quarto, Rachel olhou
no espelho e ajeitou os cabelos. Estava fervendo de ódio. Ao menos tinha
conseguido segurar Neal. Viu as marcas em seu rosto. Quando pudesse tirar o
disfarce, ia se vingar daquilo.
- Está tudo bem. – Falou alto para o
FBI, e Neal, ouvir. – E eu garanto que ele vai pagar caro por cada bofetada. A
vai!
Era hora de, agora com calma, Neal e
Peter se encararem.
- Não precisava ter ido lá, Neal. O
que se passou naquele quarto foi escolha da Rachel. – Disse Peter, mesmo
internamente reconhecendo que deveria ter interferido.
- Se fosse Diana naquele quarto você
já tinha parado! – Era uma afirmação que não tinha contestação. Peter jamais
havia exposto outro agente daquela forma. Só o fez porque não se importava com
Rachel.
Diana se manifestou.
- Eu já teria parado Neal. Rachel
brinca com fogo. – Ela disse.
- Eu sei. – Neal respondeu. – Eu devia
ter parado ela.
Passava da 2 horas da manhã e eles
ainda viam Rodrigues colocar gelo no rosto dela, nos ferimentos que ele mesmo
provocou. Ruan acariciava-lhe os cabelos e sussurrava palavras doces.
Consolava-a, mas falava como se ela fosse a culpada do descontrole.
- Nunca me assuste assim...tenho
medo de te perder. – Ele dizia.
- Meu rosto vai ficar marcado. – Ela
choramingava para mantê-lo assim, culpado.
- Não. Acalme-se – Ele viu o copo de
água ao lado da cama. – Bebe a água, meu amor. Você precisa se acalmar e
dormir.
Ela sabia que na água havia um
calmante. Pegou o copo, fez que bebeu um gole e, sorrindo, tirou a bolsa de
gelo de suas mãos e deu-lhe o copo.
- Nós dois precisamos dormir...e
deixar essa noite no passado. Bebe também um pouco d’água. E vamos descansar,
sim? – Lhe deu seu sorriso mais doce e frágil. – Bebe, sim?
Ele fez o que ela pedia. Terminou
com o copo d’água e deitou-se ao seu lado. Sabendo que a equipe do FBI ia se
revezar observando tudo, Rachel tentou dormir.
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