Neal estava
enlouquecendo. Não ia conseguir ficar ali, sentado, esperando anoitecer.
Enquanto isso muita coisa poderia acontecer. Coisas ruins. Ainda haveria horas
de apreensão até que ela fosse até a clínica. Eles a tinham feito dormir e não
se ouvia nada pelo receptor. Então saiu para caminhar deixando Mozzie cuidando
para nada de errado ocorrer.
Foi
andando pelas ruas de NY, cheias de vitrines e pessoas carregando sacolas.
Bebês para todos os lados. Uma imagem perturbadora para quem sabe que o seu
bebê pode ou não estar vivo. A vitrine de uma loja lhe chamou a atenção. Rostos
de crianças felizes estampavam a fachada.
Em pensamento triste, deu-se conta
de que essa podia ser sua última oportunidade de comprar um presente para o
filho. Quando chegasse em casa poderia ouvir que ele estava morto. Então entrou
na loja e perguntou para a vendedora o que comprar para um bebê que ainda não
nasceu, mas que ele já amava muito. Ela sorriu docemente.
- É seu primeiro filho, né?
- É. – Ele falou com orgulho na voz.
– Ainda não sabemos se é menino ou menina.
- Então ainda vai ter muito tempo pra
comprar roupinhas e brinquedos. Eu levaria um móbile. Veja...são lindos.
Todos eram realmente bonitos. Mas um
deles era de uma delicadeza incrível. Pequenos ursinhos pareciam pender do teto
até cair no berço pra brincar com o bebê. Era aquele.
Quando saía da loja, carregando a
sacola estampada com símbolos infantis, quase cantarolava de orgulho e vontade
de dizer a todos que em alguns meses seria pai. Era seu filho. Não tinha nada
mais importante que isso. Vinha tão sorridente e distraído que não percebeu
Peter e Elizabeth lhe observando de longe.
- Neal! – Gritou ao amigo. – Me diga
que dentro dessa sacola tem um presente ao bebê de Diana...por favor.
Neal fechou a cara.
- Não. Tem um presente para o meu
bebê. - Ele respondeu sabendo que iriam começar uma briga.
- Sim...o filho que Rachel espera e
que você realmente acredita que seja seu. E vai entregar o presente como? –
Peter não entendia as atitudes do amigo e consultor. – Vai enviar para o
presídio quando eu devolver a Rachel pra prisão? Porque é lá o lugar dela!
- Amor...não! – Elizabeth
interferiu, mas até Peter já sabia que havia ido longe demais. – Ele está
sofrendo, Peter. Não é uma situação fácil.
Neal fervia de raiva.
- Já te disse que isso é assunto meu. É a minha vida. É meu filho e não
seu! Se é que um dia você terá um, pois você só pensa no FBI, Peter! – Ele
olhou para Elizabeth e viu que também tinha exagerado. Ela não tinha culpa. -
Me desculpa...não queria ter falado isso. Eu vou pra casa, Peter. Nos falamos
no FBI, amanhã.
Peter ficou olhando
seu amigo, quase um filho pra ele, lhe dar as costas e sair irritado.
- Não reclame. – Sentenciou
Elizabeth. – Você mereceu.
- Mas ele está fazendo uma loucura.
Está se apegando a uma criança que ele não sabe se é dele. Com quantos homens
ela pode ter estado? E se for dele...é filho de uma assassina!
- É uma criança, Peter. E o fato de
Rachel manter a gravidez deve representar algo a seu favor...ela pode realmente
ter amado o Neal e desejar ficar com o filho dele.
- Seria ainda pior. Neal teria pra
sempre um elo com essa criminosa.
Elizabeth o analisou.
- E nós, Peter? Nós não teremos
nunca esse elo?
Rachel estava apreensiva no
consultório médico. Tratava-se de uma clínica particular, de primeira classe.
Ela estranhou o fato de ter entrado pela ala de traumatologia.
- Ela também dá acesso aos exames de
imagem e, caso desconfiem e alguém procure, não haverá registros nas câmeras de
uma ruiva entrando no setor de ginecologia e obstetrícia.
Silenciosamente, Rachel elogiou o
médico. Estava gostando dele. Era esperto e parecia realmente leal a sua
família. A sensação de ter pessoas que gostavam dela por perto nessa hora era
realmente tranquilizadora. Fazia-a ter esperança.
Neal também achou o médico
aposentado muito esperto. Todos na vida de Rachel pareciam ser assim,
escorregadios. E ela parecia despertar bons sentimentos nos outros.
- Precisamos descobrir de onde é
esse médico. Seria nossa melhor pista. – Falou quase que para ele mesmo.
- Tem noção de quantos médicos com
nome de Richard há nos EUA, Neal? Seu filho teria 18 anos até analisarmos
todos. – Mozzie falou.
O médico a examinou longamente.
Mediu a pressão arterial, auscultou o coração e os pulmões, mediu a barriga e
já avisou que ela faria exames de sangue e urina. Também a fez se pesar.
- Sabe qual era seu peso antes de
engravidar? – Richard perguntou. – Costumava ter muita alteração no peso?
- Não. Tenho 54 quilos há anos.
- Engordou 1k e meio até agora. Está
ótimo. Até o final, espero que engorde de 11 a 15 quilos.
- Por quê? Com quantos quilos uma
criança nasce? – Parecia peso demais.
- Por volta de três, espera-se. Mas
não é só o bebê que pesa em você. Mas vamos acompanhando isso aos poucos. Não
se assuste. – Ela realmente ficou surpresa com a informação. – Costuma ter uma
vida saudável? Alimentação saudável?
- Sim. Sempre me alimentei bem e
pratiquei exercícios a vida toda.
- Ótimo. Os exames de sangue vão nos
confirmar isso.
- Não tenho nenhum apresso por
agulhas...mas ok.
- Ótimo. – Respondeu o médico. –
Agora preciso que tire a parte de cima da roupa.
Ela obedeceu. Tirou o casaco leve
que vestia e entregou para Nicolle antes de descer as alças da camisola.
- Belo colar. – O médico disse ao
iniciar o exame. – Posso perguntar por que você insistiu tanto em ficar com
ele?
- Foi um presente do pai do bebê...bobagem
minha. – Ela respondeu.
- Não é bobagem. Acho justo o pai
estar representado aqui. Sentiu alguma diferença no seio? – Ele perguntou
enquanto a examinava.
- Sim. Estão mais pesados e
sensíveis.
- Ótimo...seu corpo está se
preparando para amamentar o bebê.
Depois disso ele lhe mandou deitar
na mesa ginecológica.
- Você acha que tem 11 ou 12 semanas
de gestação...então faremos um ultrassom transvaginal. Os próximos podemos fazer
o usual, sobre o abdômen.
- Os próximos? O senhor não disse
que desconfiava que meu bebê estivesse morto? Agora fala como se ele fosse
sobreviver.
- Sou um otimista, Rachel. A
medicação e o descanso lhe fizeram bem. Você não teve mais sangramentos nem
sentiu dores. Tenho boas perspectivas para esse exame. Acho que vamos ver um
bebê forte e cheio de vontade de viver. Agora flexione as pernas e relaxe.
A fala do médico fez Neal sorrir.
Ele estava concentrado ao lado do receptor, os olhos brilhavam de expectativa.
O otimismo do médico lhe tocou...também achava que o bebê estava bem. Algo lhe
dizia que seu filho sobreviveria. Ele tem pai e mãe fortes, sobreviventes. Vai
viver.
- Isso...mantenha os músculos
relaxados. – Com delicadeza o experiente médico ia registrando imagens para
análise. – Seu sistema reprodutor parece saudável.
- O fato de eu estar grávida não
confirma isso?
- Não. Já vi muita gravidez
problemática. Não parece seu caso. O que é bom, já que você começou esse pré
natal muito tarde. Agora vamos ver esse bebê...
Ela não esperou muito...
- E aí? Como ele está? – A fala foi
de Rachel, mas poderia ser de Neal que também aguardava essa resposta de um
distante ponto do país.
- Pelo tamanho...creio que você
tenha 13 semanas de gravidez. Seu bebê está com 8cm e 30 gramas. E está bem,
Rachel. Pode se tranquilizar.
- Eu..estava tranquila.
- Não, não estava. O tempo todo você
segurou com força, apreensiva, a lateral da mesa de exame. Não sinta
vergonha...não há nada de errado em se preocupar com o bebê que está dentro de
você.
Ela não respondeu.
- É normal ele ter só 8 cm? Minha
barriga já está tão grande.
- Perfeitamente normal. Seu corpo se
adaptou a ele. Há uma cama em você perfeita para acomodá-lo pelos próximos
meses.
- Quando saberemos se é menino ou
menina? – Emocionada, Nicolle se manifestou.
- Mais tarde. É cedo ainda. – O
médico respondeu. – Vamos ouvir o coração do seu filho?
- Sim. Eu quero ouvir. – Ela
respondeu sorrindo.
Quando o TUM...TUM...TUM...TUM
ritmado tomou conta da sala mãe e filha se olharam e deram as mãos. Era sem
dúvida uma ligação especial a de mães e filhos. Como se pode amar tanto alguém
que tem 8 cm? Sem expressar pra ninguém, intimamente, Rachel reconheceu que
amava aquela criança. Não poderia ficar com ela, mas faria o que fosse
necessário para que nascesse saudável.
- Aumenta o volume! – Gritou Neal ao
ouvir o coração do filho.
Mozzie obedeceu e não disse uma
palavra. Na verdade, desejava passar despercebido. Era um momento íntimo,
familiar. E em qualquer outra situação, ele não deveria ter acompanhado o exame
ginecológico da mãe do filho de Neal. Quando o som acabou ele abriu os braços
ao amigo e disse:
- Parabéns, papai!
Neal retribuiu.
Quando chegou ao FBI naquela manhã
Neal tinha o maior dos sorrisos nos lábios. Seu filho estava crescendo
saudável. Isso era o mais importante. O médico ainda havia conversado com
Rachel e pedido que ela mantivesse algum descanso já que o bebê tinha sofrido
um trauma na noite anterior. Aventuras noturnas com fuga de policiais, tiros e
quedas de portões estavam fora de cogitação.
- Sim, eu contei pra ele. – Disse
Nicolle.
- Está bem...eu vou me manter em
segurança até o final da gravidez.
Ele ainda lhe deixou algumas
vitaminas e disse que voltaria com os resultados dos exames. Mas que não
acreditava em muitos problemas. Ela e o bebê estavam saudáveis.
Nada poderia atrapalhar o bom humor
de Neal naquela manhã. Então ignorou Peter nas primeiras horas. Não estava
interessado em continuar a discussão de ontem. Fez trabalho burocrático,
analisou as possibilidades de uma possível falsificação de obra de arte...e o
viu lhe chamar para sua sala, no segundo andar. Era hora de encarar o chefe.
- Olha Peter...desculpe se eu
exagerei ontem...mas você tam...
- Questões pessoais ficam fora do
escritório, Neal! É isso que eu espero do meu consultor. E espero também que
você saiba separar sua relação com Rachel Turner do fato de que ela é uma
procurada pela polícia. E nós vamos achá-la, grávida ou não.
- Eu sei. – Isso é o que você pensa,
Peter.
- Ótimo...porque acaba de chegar uma
testemunha importante. Henry Roussel, amigo de longa data de Rachel. Eles
mantém uma relação amorosa há anos. Em algum momento ela vai entrar em contato
com ele, se é que não entrou ainda.
- O que quis dizer com amorosa? –
Não era verdade.
- Neal...o que falamos sobre misturar
o profissional e o pessoal?
- É profissional. Quero entender por
que ela procuraria por ele.
- Ela sempre procura...amigos ou
namorados, não sei, mas são muito ligados. Só que ele tem ficha limpa. Nunca
foi preso. Tem uma empresa na área de TI. Tem grana. Não temos nada contra ele.
Mas deve saber de muitas coisas sobre ela. Ele já pagou por fiança para tirá-la
da cadeia uma vez...Henry é nossa melhor pista. Você quer participar do
interrogatório?
Querer, não queria. Mas era melhor
estar presente.
- Claro. Conta comigo. Já te
disse...sou o principal interessado em descobrir onde Rachel está.
Quando entraram na sala de
interrogatório, Neal imaginava ver um nerd da computação. Enganou-se feio.
Vestido casualmente, Henry Roussel encarava ele e Peter com tranquilidade e
segurança. Era um homem forte. E parecia disposto a defender a amiga.
Neal
ainda não decidiu o que achava desse homem, mas Peter estava certo. Ele era uma
ligação com Rachel.
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