Neal acordou da forma como sempre
quis. Abriu os olhos e a viu ali, ainda dormindo, calma e descansada. Na pele
branca tinha algumas marcas deixadas por ele. Provavelmente ela não ia gostar
nada quando visse... mas durante a noite não reclamou.
Olhou para o relógio: 8h45min. Eles
não dormiram quase nada. Mas era melhor levantar e se arrumar antes que Ell o
chamasse para ficar com George. Surpreendeu-se por não terem chamado ele e
Rachel nenhuma vez durante a madrugada. Tinha que agradecer Ell por cuidar de
seu filho e...segurar Peter.
Quando ia levantar da cama, Rachel
abriu os olhos. Estava sorrindo. Ele resolveu ficar mais um pouco.
- Quer dizer que não era sonho? –
Disse-lhe. – Bom dia, Neal.
- Bom dia. – Ele a beijou. – Dormiu
bem?
Rachel olhou para o relógio.
- Pouco...mas maravilhosamente bem.
– Foi a resposta.
- Eu vou tomar banho...dorme um
pouco mais.
Quando voltou para o quarto, Neal
vestia o roupão e ainda tinha os cabelos molhados. Percebeu que Rachel
realmente tinha apagado novamente enrolada no lençol. Organizou as roupas que
estavam espalhadas, a bagunça que ele e Peter deixaram enquanto trabalharam no
dia anterior e ficou pensando no rumo que as coisas estavam tomando. Um rumo
gostoso e perigoso na mesma proporção. Ela era viciante...e ele ia sofrer
quando voltasse ao presídio.
Uma batida leve na porta o acordou.
Quando abriu viu Elizabeth já arrumada e sorrindo. No fundo do quarto viu Peter
segurando George. O menininho não estava chorando, mas parecia inquieto.
- Oi...acho que agora ele quer o pai
e a mãe. – Ell disse suavemente.
- Claro. Eu não bati porque achei
que podiam estar dormindo. Muito obrigado, Elizabeth. – Peter se aproximou com
a expressão fechada. – Vejo que se deu bem com o tio Peter, George! Vem com o
papai agora.
- Ele não atrapalhou nada, Neal. Não
se preocupe. Dormiu a noite toda. – Disse o amigo que, aos poucos, se
acostumava a ter crianças por perto. – E Rachel?
- Dormindo. – Ele olhou-a. Estava
totalmente coberta pelo lençol. – Entrem. Eu já vou chamá-la.
- É...sei que deve estar cansada...mas
temos que estar no FBI em pouco tempo. – Peter respondeu. – Temos que cuidar
dos outros casos...e jogar aquela isca para Lucy.
- Ok...eu vou ligar para o Mozzie.
Ele vem e pega o George.
- Não! – Gritou Ell. – Diga que ele
vá lá para casa. Eles ficam lá e eu preparo um almoço delicioso.
- Você não tem trabalho hoje, Ell? –
Peter estranhou.
- Nada que não possa ser adiado. –
Ela queria curtir George mais um pouco.
Enquanto Peter e Elizabeth foram
arrumar algumas coisas no outro quarto, Neal colocou George ao lado dela da
cama. Ele sente seu cheiro e vai se aproximando. Com cinco meses, era fácil
rolar na cama...logo George ia estar engatinhando. Com o toque da mãozinha do
filho em seu rosto, Rachel acordou pela segunda vez naquela manhã.
- Bom dia...mais uma vez. – Disse
Neal. – Veja quem está aqui agora.
- Bom dia, rapazes. – Dessa vez os
olhos deva estavam no filho. Ele estava ficando tão lindo. Crescia a cada dia.
E ela sentia que logo não o veria mais todos os dias. Voltaria ao inferno de
vê-lo só aos sábados.
- Tem água quente. Eu vou preparar
uma mamadeira pra ele. Você tem que se arrumar, Rachel. Temos que sair logo.
- Ok. – Ela respondeu, mas ainda
ficou deitada brincando com George. – Acho que podemos começar a dar frutinhas
para ele. Esmagadas.
- Vamos tentar então. – Ele olhou
para o relógio. – Você tem 30 minutos para tomar banho e se arrumar, Rachel.
Ela se assustou.
- Sério? Só? – Já tinha pulado da
cama e deixado George nos braços do pai.
- É. Por que a correria? É tempo suficiente.
– Só mulher mesmo para não conseguir se arrumar em meia hora.
- Não para chapear os cabelos! – Ela
se olhou no espelho. - Olha isso! Vou ter que lavar novamente, passar um creme
e deixar cacheado mesmo!
Neal rio e foi cuidar do filho
enquanto ela se arrumava.
Quando saiu do banheiro, Rachel
usava uma regata branca leve e calça comprida. O cabelo, bem crespo, estava
arrumado para o lado e os cachos vermelhos caíam livremente. Tinha uma
maquiagem leve no rosto. Estava maravilhosa.
- UAU – Neal disse com a vozinha
fina de uma criança. – Mamãe, você está linda assim.
A voz era infantil, mas o elogio bem
masculino. Ele achava ela linda assim. Até combinava mais com a personalidade
forte de Rachel. Era...indomável feito ela.
Peter e Elizabeth entraram cortando
o momento em família.
- Prontos? – Avisou, Peter. -
Precisamos descer. Parece que o Stone está nos esperando. Provavelmente veio
nos cobrar a solução do caso.
- Vão descendo. – Rachel disse. – Eu
só vou colocar umas coisas na bolsa e já desço.
Assim o fizeram e, na rua, colocaram
Elizabeth em um táxi com George. Mozzie ia direto para a casa dos Burke.
Peter e Neal ficaram esperando
Rachel na frente do hotel por alguns minutos depois que buscaram o carro. Não
demorou para Peter notar o bom humor de Neal. O motivo era óbvio demais até
para ser comentado.
- Eu sabia que vocês dois juntos ia
terminar assim. – Foi seu comentário.
- Somos adultos, temos desejo um
pelo outro, temos apenas mais alguns dias juntos. Por que não rolaria? – Neal
não tinha por que esconder que ele e Rachel haviam transado. Não deviam
satisfação. – Eu sou louco nela, Peter.
- Isso você não precisa dizer. – Era
claro feito água. – Só que eu achava que você amava a Rebecca, calma, delicada
e estudiosa, não a Rachel...que é melhor eu não descrever as características.
- A Rachel não é só isso que você
vê...ela tem coisas que eu gosto. Quer saber? Eu nem lembro mais da Rebecca lá
do museu... a Rachel é ela melhorada. – Ele estava completamente apaixonado e
isso assustava Peter.
- Só tenha cuidado, sim? Não jogue
fora por ela a vida que você conquistou depois que veio para o FBI. Não quero
que ela te jogue no crime novamente, Neal.
- Eu sei o que eu quero, Peter. Só
que a Rachel estará junto agora. Só isso. – Era simples assim.
- Você, George e Rachel...mas ela no
presídio...é isso? – Peter perguntou. – É essa a vida que você quer?
- Eu não tenho tanta certeza de que
será assim, Peter. As circunstâncias ainda podem mudar. – Ele sorriu e colocou
seu chapéu. – Além disso...hoje é um dia feliz! Vamos aproveitar!
O FBI seguia agitado naquela manhã.
Muitos agentes trabalhavam em vários casos. Algumas coisas esperavam por Peter,
outras corriam sem precisar que ele agisse. Quando chegaram, Jones atendia
Stone com informações de outros casos, livrando o chefe de ficar dando aquelas
explicações.
Mesmo assim Stone esperou-os. E
tinha um motivo para isso. Motivo que agradaria Rachel e deixaria Peter
preocupado.
- Senhorita Turner! – Disse depois
de cumprimentar a equipe. – Fiquei sabendo que o caso de Rodrigues teve avanços
surpreendentes. E devido a sua participação. Parabéns!
- Ainda não conseguimos o que
buscamos. – Ela não se empolgava com homens com Stone. Só queria resultado. A
chutaria se cometesse um erro. – Me dê parabéns quando eu lhe entregar os
títulos de governo que procura.
Stone olhou para todos e resolveu
passar a informação que trazia. Fora uma proposta ousada, mas ele conseguiu
fechar o acordo com o juiz e a MI5.
- Se me entregar os títulos,
Senhorita Turner, eu trarei mais que parabéns. – Disse assustando Peter.
- Sim...as algemas e um uniforme
laranja. – Ela o encarou desconfiada. – Eu sei que quando terminar o caso voltarei
para a cadeia. Não tente me enganar.
- Não. Não será assim! – Stone falou
e observou o sorriso de Neal Caffrey. Ele já desconfiava que isso ia acontecer.
– Como parece agradar o nosso consultor.
- Como será, então? – Peter perguntou
temendo a resposta.
- Eu vim aqui hoje justamente para
falarmos disso. – Todos encaravam Stone. Claro que Rachel era a mais ansiosa. –
Propus a MI5 um acordo e, com um pouco de negociação, eles concordaram. Desde
que eu garanta que você ficará na linha, você permanecerá definitivamente
cumprindo pena no EUA e, conforme for seu ‘rendimento’ nesse caso...podemos
alongar o acordo. Talvez torná-lo permanente.
Ela sorriu, Neal não cabia em si de
felicidade. Peter explodiu em ódio.
- O que?!?! Eu não solicitei isso!
Era um caso! Que nós nem solucionamos ainda! – Gritou.
- Peter...por favor. – Neal
interviu. Como ele podia não perceber o quanto isso era importante para eles?
- Não há volta, Peter. EU solicitei.
Esse caso é muito importante. E se Rachel conseguir os títulos, ela fica
conosco!
Ela daria a vida por esses títulos.
Conseguiria, independente do que lhe custasse. Ficaria no FBI, ficaria com Neal
e ficaria com George.
Passava das 14hs quando Rodrigues
entrou em contato. Ele estava desconfiado, não lembrava de quase nada da noite
e, certamente, não de terem transado. Mesmo tendo visto as evidências pelo
quarto, estava difícil acreditar na noite de sexo selvagem. Suas costas ardiam
com os arranhões feitos à unha, mas ele não lembrava do momento em que foram
feitos na sua pele. E Rebecca não estava ali quando acordou.
Telefonou para ela e a questionou
sobre isso. Como podia tê-la por uma noite em seus braços e ainda estar louco
de desejo? Ainda querê-la tanto?
- Querido, foi uma noite
maravilhosa...fabulosa...eu saí para te deixar descansar e também por vergonha.
- Vergonha?
- Sim...tudo o que fizemos...só
aquela dança. Nossa, eu devo ter bebido demais.
- Sim, da dança eu lembro. –
Lembrava do quanto ela o provocara, excitará...só não lembrava da transa. – Eu
preciso de você, Rebecca. Quero mais uma noite com você. Agora sem champanhe.
Rachel, Neal, Peter e Jones estavam
sentados a uma mesa. Trocaram olhares preocupados. Tinham que freá-lo, mas
também precisavam avançar para entrar na casa. Rachel teria que arriscar.
- Querido...eu estou em um ensaio
terrivelmente puxado! Meu coreógrafo está me olhando feio por não estar
concentrada na dança. As 19hs me encontre no bar do meu hotel. A gente tem que
conversar. Eu preciso te dizer uma coisa muito importante.
Seria noite de tudo ou nada. A
equipe do FBI estaria a postos no bar, mas o que realmente importava era
conseguir entrar na casa de Rodrigues. Se Rachel pressionasse demais, podia
perdê-lo, se não fizesse nada, andariam em círculos.
- Terei de mostrar as garras! – Ela
disse.
- Como assim? – Diana perguntou.
- Vou ter que fazer a apaixonada,
desesperada...achando que ele a trata como uma qualquer, que só a leva a
hotéis, que só quer sexo. E direi que vou retornar a paris ainda hoje.
Todos se olharam.
- É muito arriscado. – Disse Peter.
- Eu o acho desconfiado demais para
me levar na casa sem um...empurrãozinho.
- Sozinha você não pode ir pra casa
dele! – Neal disse.
- Claro que posso! Ele não vai levar
mais ninguém. – Seria impossível.
- Descobri que a esposa dele era
bailarina antes de morrer. Parece que morreu dançando...ainda não tenho todas
as informações. Mas comentam que ele mantém o estúdio dela intacto na sua casa.
Algo profissional. Você pode explorar isso. – Diana orientou.
- Sim...dizer que tenho que me
preparar para uma apresentação. Com minha equipe, meu ‘partner’. – Olhou para
Neal. – E meu coreógrafo. – Olhou para Peter.
- Assim nós também entraríamos na
casa e enquanto você o distrai, eu e Neal procuraríamos. – Peter gostava do
plano.
- Sim, se ele topar que vocês
entrem. Acho que terei de pressionar. Ele não vai querer. Vou conseguir
ameaçando ir a Paris. – Ela tinha que conseguir. Era sua única chance de ficar
com George e Neal.
Rachel vestiu-se de forma sensual,
mas não exagerado. Precisava ainda esconder as marcas que Neal deixou mordendo
sua barriga e suas pernas!
Foi confiante e aceitou seu beijo
logo que se aproximou, no bar. Ruan estava nervoso, sentiu isso. Teria de usar
a seu favor. Como de costume, não usava fone de ouvido por aquilo a
desconcentrar durante a missão, mas tinha o microfone. Peter, Neal e o restante
da equipe acompanhavam tudo.
- Eu quero você, Rebecca! E quero
lembrar que a tive em meus braços.
- E me terá...acalme-se.
- Ainda não acredito que estivemos
juntos e não lembro. Nunca fui de esquecer o que faço, mesmo bêbado. – Ele
estava desconfiado demais.
Ela teve que arriscar. Pensou
rápido.
- O que acha que se passou então?
Acha que sonhei a noite que tivemos? – Ela se fez de brava. – Assim você me
ofende? Acha que criei as marcas de mordida que deixou na minha barriga e nas
minhas coxas?
- Eu te deixei marcada? – Ele não
acreditava.
- Sim! – Ela afirmou olhando em seus
olhos.
Surpreendendo-a, Rodrigues a puxou
pelo braço e levou até o corredor dos banheiros. Não havia ninguém naquele
momento, mas poderia aparecer.
- O que está fazendo? Pare! – Ela
gritou.
- Eu quero ver as marcas que deixei
em você! – Ele estava completamente descontrolado.
Peter estava nervoso na van. Sentia
que estavam perdendo o caso. E nem poderia culpar Rachel por isso. Ela estava
fazendo seu melhor. O cara é que era um completo desequilibrado. Neal passava
as mãos pelo cabelo, nervoso. Queria que ela estivesse de fone para poder gritar
para abortar a operação. Mas não! Claro que não! Rachel só fazia o que desejava
e não colocou os fones.
- Droga! – Peter disse. – Ele vai ver
que não há marca nenhuma e vai surtar!
- Não...ele vai confirmar que há
marcas. – Respondeu Neal.
Mesmo com a situação apreensiva para
todos foi impossível não surgir um riso baixo. Todos ali sabiam que não foi
Rodrigues quem deixou-a marcada na barriga nem nas coxas. Logo...Neal assumia
para todos a noite que teve com ela.
Mas não tiveram tempo de fazer
piadas.
Rachel tentava improvisar e
contornar a situação improvável. Sem nenhum senso de ridículo, Ruan ergueu-lhe
a saia para olhar as coxas brancas. E viu as marcas de dentes bem visíveis. Ela
tinha a pele tão clara que qualquer coisa ficava marcada e Neal tinha deixado
um rastro com os dentes.
Essas
mordidas salvaram o caso.
- É verdade...eu te deixei marcada.
– Ele sorria vendo as marcas.
‘Era hora de atacar’, Rachel pensou.
- Claro que é verdade! – Gritou afastando-o
e arrumando a saia. – Quem você pensa que é para me expor assim? Qualquer um
podia ter me visto aqui! Com a roupa assim! O que iam pensar de mim?! – O
primeiro passo era deixá-lo culpado.
- Desculpe...me perdoe
Rebecca...eu...- Ele chegou a gaguejar.
- Depois daquela noite maravilhosa
você me trata assim! Eu devia imaginar! Vocês homens não prestam! Não é porque
eu sou dançarina que...que pode me tratar como se eu fosse uma vadia! – Tinha
que fazê-lo se odiar pelo que fez. Saber que estava perdendo-a.
Com esse show, agora, as risadas
tomavam conta da van. Até Neal relaxou.
- Ela virou a mesa ao nosso favor! –
Disse Jones.
- Sério! Ela é muito boa! – Diana
elogiou.
- Graças as mordidas do Caffrey! –
Jones teve de complementar a colega.
Neal não respondeu.
- Calados! Escutem! – Peter também
ria, mas queria acompanhar o resto.
Rachel achou que era hora do ‘ato
final’. Estava confiante.
- E eu ainda preocupada com como eu
ia te dar essa notícia...idiota que eu sou! Quer saber, Rodrigues?! Eu tenho
que me preparar para outra apresentação e...preciso ir para Paris. Eu e Nick
embarcamos amanhã! Nosso coreógrafo vai também! Estamos com as passagens
compradas! Eu ainda tinha dúvidas, mas depois do que você fez aqui...
- Não...não diga isso. Eu preciso de
você aqui, comigo. – Ele só faltava chorar de tão desesperado. - Fique comigo.
- Não...a distância nos fará bem.
Quem sabe no futuro... – Ela o estava preparando para o golpe.
- Não! Preciso de você. Agora! Não
no futuro!
- Eu preciso me preparar para o
concurso e papai...papai está certo. Em casa eu tenho um estúdio profissional,
que tem tudo o que eu preciso. Aqui estou sempre sem espaço, trocando de
academia. Voltar é o melhor que faço! – A deixa tinha sido dada...viu nos olhos
dele a tentação de convidá-la. Era agora. – Meu trabalho é minha vida, Ruan.
Preciso voltar a ensaiar com qualidade. Nick e Peter, nosso coreógrafo, querem
melhor de minha parte. Toda minha dedicação. Adeus, Ruan...quem sabe um dia nós
não nos reencontramos em algum concurso de dança. – Disse e deu-lhe as costas.
Um,
Dois, Três segundos se passaram.
- Espere Rebecca! – Rodrigues
gritou.
- Não torne ainda mais difícil. –
Ela respondeu e o riso tomou conta do pessoal da van.
O
chefe e a equipe da Colarinho Branco sentiam a vitória se aproximando.
- Fique! Fique comigo, Rebecca.
Venha para minha casa...com Nick e Peter. Eu tenho um estúdio completo. Você
terá tudo o que precisa...e será tratada feito rainha. A minha rainha.
- ISSO!!!!! – Peter comemorou.
Tudo ocorreu rapidamente. Rachel
terminou o show no bar com Rodrigues e combinou com ele que arrumaria suas
coisas, conversaria com Peter e Nick para mudar os planos e na manhã seguinte,
ele enviaria um carro para buscá-los.
Tinham vencido aquela partida. Agora
seria preciso encontrar os papéis o mais rápido possível para que Rachel
tivesse que segurar Rodrigues por pouco tempo. Obviamente, ele esperava mais do
que dança de ‘Rebecca’.
Naquela noite, Ell e Mozzie se
juntaram a equipe do FBI para um drink comemorativo. Também combinaram o dia
seguinte, ou os próximos, caso demorasse mais. Neal pediu que Mozzie e Ell
cuidassem de George. Afinal, da casa de Rodrigues não poderiam sair e fazer
tantas visitas para ver o menino.
- Sentirei tanta falta. – Disse
Rachel para Neal naquela madrugada, deitada em seus braços depois de transarem.
- De fazer sexo comigo ou de ver
George? – Ele brincou cheirando seus cabelos.
- Dos dois. – Era a mais pura
verdade. – Mas serão esses dias difíceis com o Ruan que me garantirão mais
tempo com vocês aqui fora, depois.
- Rachel...não esqueça que tem de se
preservar. Se não der certo, se algo ocorrer e precisarmos desistir...
- Não! Nem pense em desistir! Eu
preciso conseguir...é isso que vai me garantir estender o acordo. Vai me deixar
fora da prisão, com vocês. – Era só nisso que ela pensava.
- Sempre temos outras
alternativas...você pode fugir. Se precisar. – Era melhor do que arriscar a
vida.
- Eu teria que viver fugindo com
George...ou deixá-lo com você. Não quero nenhuma das alternativas.
Neal não comentou nada, mas ficou
chateado ao perceber que ela não o colocava no plano de fuga. Era ela sozinha
ou com George. Não confiava nele. Ou não queria confiar.
Dormiram e acordaram cedo para
poderem curtir o filho antes de ir. O seguraram com força. Não sabiam
exatamente quanto tempo ficariam separados. Seria doloroso. Um dia longe de
George parecia muito mais.
- Mamãe volta logo filho...eu
prometo. – Ela disse deixando-o nos braços de Ell.
- Comporte-se garotão! Papai vem te
pegar assim que puder. – Neal completou.
Para Ell e Peter também foi um
despedida. Ela já estava acostumada a vê-lo sair em missões. Porém sempre
sentia o coração gelar de medo. Achou que quando ele assumisse a gerência da
Colarinho Branco isso ia mudar. Pensou que Peter faria apenas serviço
burocrático. Mas não! Ele amava aquilo. E seria sempre o Agente Peter Burke!
- Se cuide, querido. Volte inteiro
pra mim. – Elizabeth pediu.
- Sempre. – Ele respondeu enquanto a
via segurar George. Por tantos anos evitou ser pai para não ver aquela cena.
Parecia seu destino.
Chegaram a casa de Rodrigues mal
passava das 9hs da manhã. A segurança pesada que evitava qualquer aproximação
do FBI, agora lhe abria as portas da mansão. Era um palacete fabuloso. Com
olhos e mãos treinados, os três rapidamente confirmaram que a informação era
correta: Ruan Rodrigues usava segurança pesada fora da casa, mas gostava de ser
livre dentro dela. Não haviam guardas no interior, apenas empregados em que ele
confiava. Ele também não instalava câmeras internas de segurança. Não deixava
provas do que fazia ali dentro.
Eles haviam trazido equipamento e
pretendiam deixar microcâmeras e microfones em alguns lugares. Mas primeiro
precisavam conhecer o ambiente. Jones e Diana estariam acompanhando em tempo
real e se comunicando com eles.
- Tudo ok com a comunicação, chefe.
– Jones informou a Peter pelo fone de ouvido. – Estamos ouvindo vocês
perfeitamente. – Você e Caffrey nos ouvem?
- Sim. – Disse Peter.
- Perfeitamente. – Falou Neal.
Rachel novamente usava apenas o
microfone.
Eles estavam na sala, esperando
Rodrigues. Como estavam sozinhos, podiam falar em voz baixa. Ninguém imaginaria
que não conversavam entre si.
- Diana não está com você? –
Perguntou Peter.
- Ela está recebendo umas informações
que você pediu. – Jones avisou. – Parece que tem coisa bem interessante.
- Passem assim que puder. – Ele
sabia que se tratava da mulher de Rodrigues.
- Finalmente você está aqui! – Ruan
Rodrigues entrou na sala vivaz. Satisfeito por tê-la no lar. – Minha bela
Rebecca!
Ele beijou-a na frente dos dois
convidados, que ignorou completamente, e Peter temeu que Neal entregasse o
plano. Rachel contornou a situação.
- Ruan...calma. Vai me ter aqui por
muito tempo. Não precisa agir assim. – Ela se afastou dele. – Seja um bom
anfitrião. Nick você já conhece e esse é Peter, nosso coreógrafo.
Eles trocaram breves apertos de mão.
Mas a verdade é que Ruan não estava interessado em ninguém que não fosse
Rebecca.
- Quero conhecer a casa! Nos mostra?
– Ela disse agitada. – Quero ver tudo! Em especial o lugar onde poderei
ensaiar. – Tinha que manter o disfarce.
- É claro, minha bela. – Ele
segurou-lhe a mão enquanto um rapaz uniformizado subia com as malas. –
Michael...por favor...acompanhe os cavalheiros até a parte norte da casa. Eu já
tinha pedido para prepararem dois quartos de hóspedes.
- Dois? – Rachel perguntou fingindo
uma expressão de surpresa.
- É claro. Você ficará no meu
quarto. – Ele respondeu simplesmente.
- É claro. – Rachel manteve a farsa
enquanto Ruan passava a mão por sua cintura. – Vão meninos...e não demorem para
voltar. Estou louca para conhecer a casa e fazer nosso primeiro ensaio.
- Até porque...quarto de hóspedes é
para visita. – Rodrigues continuou quando eles saíram. – E você não é visita.
Será a minha companheira, a dona da casa. A rainha desse lugar.
A loucura dele era ainda mais
intensa ali.
- Nossa Ruan...assim me sinto mal. –
Disse torcendo para Neal e Peter virem logo. Ele era um saco de aturar.
- Por quê?
- Ora...essa casa abrigou sua esposa
e...
- Essa casa está sem uma rainha há 9
anos, Rebecca. Ela está carente da presença feminina. Tenho certeza de que você
gostará daqui. Eu te darei tudo, Rebecca. Tudo. Para você nunca desejar ir
embora.
Quando começaram o tour pela casa,
foram fazendo anotações mentais sobre os lugares em que Ruan não fez questão de
mostrar. As portas que ele não abriu eram as que interessavam. Mas viram muito.
O lugar era cheio de arte, original e falsificada, as quais Neal identificou
logo. A decoração era antiquada, parecia ter parado no tempo, mas cara.
Notava-se que Gabriella tinha total liberdade financeira.
Quando deixaram a casa principal e
foram para outra construção no fundo do imenso terreno, Rachel se surpreendeu.
Ele tinha realmente uma grande academia. De ginástica e de dança.
- Nossa! É imenso! – A surpresa foi
100% sincera. Nunca tinha visto nada assim. Era dividido em várias salas.
- Gostou? – Ele perguntou.
- Claro. É perfeito.
- E vocês? – Perguntou Rodrigues
para Nick e Peter, que se encontravam calados pelo choque.
- Maravilhas acomodações, sem
dúvida. – Respondeu Peter.
- Ótimo. Assim, Rebecca terá como
dançar lindamente. – O homem provocava tocando-a sem parar. – É tudo separado.
Ali é a sala de musculação. Eu utilizo, às vezes. O resto está parado há anos.
A esquerda tem a sala de ensaio com barras e espelhos, do outro lado os
vestiários. E ao fundo vocês poderão encontrar uma piscina coberta e a sauna.
- E a direita? – Perguntou Peter
questionando a única porta que ele não havia esclarecido.
O
homem completamente pirado respondeu.
- O lugar que Gabriella mais
apreciava...a sala dos tecidos. Vamos ver. – Respondeu.
Quando entraram, todos se
surpreenderam. Ali o forro era mais alto e reforçado. Longos tecidos pendiam do
teto. E imensos painéis decoravam o lugar.
- Ela praticava ginástica acrobática
diariamente, assim como a dança. – Ele falava com amor. O lugar era quase um
santuário à falecida.
- É Gabriella nas fotos? – Perguntou
Rachel.
- Sim. – Ele parecia emocionado. – É
minha falecida esposa. Amava esses tecidos.
- Eu também pratiquei por muitos
anos. Ginástica vertical...era assim que meu professor chamava. – Nisso Rachel
foi sincera. – Faz maravilhas pelo corpo e a sensação é ótima.
- É conhecido por vários nomes.
Alguns chamam de tecido acrobático. – Ele parecia em outro mundo. – Gabriela
dizia voar aí. Para ela fazia bem para a mente, mais que ao corpo. Era o que me
falava.
Paralelamente, Diana assumia seu
posto e aparentava choque. Neal e Peter a ouviam.
- Chefe! Preciso que me ouçam. É
importante e é sobre o que queria saber...
Mas Rodrigues estava exigindo
atenção.
- Ora rapazes...depois
disso...vocês, como eu, não desejam uma demonstração de Rebecca nos tecidos? –
Neal e Peter não sabiam se ela era mesmo boa nisso. Então não responderam. - Eu
exijo. Vamos! Troque-se. Deixei uma malha para você no vestiário.
Peter e Neal tiveram que conversar
com Rodrigues antes de dar atenção a Diana. Estilos musicais, vida de
bailarino, assuntos aleatórios. Nada que levantasse suspeita.
Até que ‘Rebecca’ voltou usando a
roupa adequada e começou a forçar os tecidos. Puxou um com força, depois o outro.
- Pensa que permitiria que corresse
algum risco, minha bela? – Ruan brincou.
- Meu corpo é meu instrumento de
trabalho, Ruan. Tenho por hábito sempre conferir. – Ainda mais sendo ele louco
daquela forma que aparentava. – Coloque uma música, sim?
- É claro! – Ele foi até o aparelho
de som e uma batida instrumental preencheu o ambiente.
Ela começou a subir e isso deu a
possibilidade de Neal e Peter ouvirem Diana já que Ruan estava embevecido dela
naquele momento. Não via nem ouvia mais nada.
- Fale. – Peter sussurrou. Dali em
diante, só ouviriam para não chamar a atenção de Rodrigues. Os olhos de ambos
seguiam no belo trabalho corporal que Rachel fazia dependurada nos tecidos.
- Acabo de receber um relatório
completo sobre a mulher se Ruan Rodrigues. – Diana começou. – Ela foi
encontrada morta exatamente nesses tecidos onde agora Rachel está!
Neal virou-se tão bruscamente para
Peter ao ouvir essa informação que chamou a atenção de Ruan. Ele estranhou o
clima. Podia ser louco, mas era inteligente.
- Algo errado, Nick? – Perguntou.
- Não...estou encantado com os
movimentos. – Disfarçou.
Rachel notou que algo ocorreu. Eles
tinham recebido alguma informação importante. Por isso não gostava de fones. A
concentração era importante em qualquer missão. Estava no alto dos tecidos e,
para chamar a atenção de volta para ela, deixou-se cair, desenrolando-os até
centímetros do chão. Veio em velocidade. Assustou a todos.
- Nossa! – Ruan disse. – Devagar,
querida. Não queremos acidentes.
- São os anos parada. – Pronto!
Tinha a atenção dele novamente. - Vou me exercitar um pouco mais. Está
gostando?
Diana sentiu que podia voltar a
falar.
- A princípio, não passou de um
acidente. Ela teria enrolado o próprio pescoço ao tecido e se sufocou. Ele
chegou a ser acusado pela empregada da casa, que foi babá de Gabriella durante
a infância, de matá-la e usar o equipamento como desculpa. Foi a julgamento e
foi absolvido. – Eles escutavam sem se mover para não atrair Ruan. Por dentro,
no entanto, Neal e Peter estavam em choque. Mesmo inocente, como ele conseguia
ver ‘Rebecca’ nos mesmos tecidos? Como conseguia estar ali sorrindo? – Ocorre
que anos depois esse mesmo juiz foi afastado por corrupção. Então não podemos
ter certeza quanto a sentença. E a empregada acusou-o, até morrer, no ano
passado, de ser o culpado. É daí que vem a fama dele de bipolar! Ela disse no
julgamento que Ruan a espancava em crises de ciúme sem razão. Que depois se
arrependia e pedia perdão. Mas tudo voltava a se repetir. Então, em uma noite
em que o casal deu folga a ela e ao motorista, únicos empregados que ficavam na
casa, ela morreu. Segundo a empregada, Ruan a teria sufocado durante uma briga
e colocado o corpo já sem vida nos tecidos para disfarçar o assassinato. – Ela
se calou por um minuto. – Acho melhor encontrarem logo esses títulos, chefe. E
saírem daí o quanto antes.
Quando Rachel desceu e fez uma
saudação ao público, Ruan aplaudiu-a, seguido por Peter e Neal. Ela sorria sem
entender porque os dois parceiros estavam tão estranhos. Algo tinha se passado.
Precisava ficar sozinha com eles para saber.
- Linda, linda, maravilhosa! – Ruan
gritava esfuziante. – Sabe, minha bela, foi tão maravilhoso vê-la atada nessas
cordas que senti vontade de amarrá-la a nossa cama e roubá-la só para mim.
- É? – Ela fingiu achar graça.
- Sim. Não deixar mais ninguém ver
você. Guardá-la só pra mim. – Ele concluiu com uma seriedade que incomodava.
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