Anastásia
sabia que ser mãe solteira seria difícil e especial, mas não imaginava que
seria tanto. Difícil porque ela era responsável por tudo e especial exatamente
pelo mesmo motivo. Ela viu Theodore rolar pela primeira vez no berço, ouviu
suas primeiras palavrinhas, o colocou para dormir em cada uma das noites e se
preocupou quando ele deu os primeiros passos. A participação de Christian se
restringia a aporte financeiro.
A primeira vez que Ana viu pai e
filho juntos foi quando Teddy, como ficou conhecido na família, tinha quase um
ano. A grave alergia ao leite fazia com que quinzenalmente Taylor trouxesse
latas de um pó lácteo que Teddy podia beber. Era caro e ela aceitava por
insistência de Grace.
- Dê tempo ao meu filho. Chegará o
dia em que ele verá o erro que está cometendo. Enquanto isso, não lhe negue o
alento de participar ao menos colaborando com o sustento do menino. – Disse
Grace.
Mas numa tarde, na antevéspera de
natal, provavelmente pelas férias de Taylor, Ana foi avisada de que vieram
fazer a entrega das latas de leite. Ela estava na sala, com Teddy engatinhando
pelo tapete e apenas disse ao porteiro para liberar a entrada e dizer que a
porta estava destrancada.
Qual
não foi sua surpresa ao encontrar o ex, encostado na porta observando a ela e
ao filho. Ele tinha um olhar estranho. Por um momento pensou que ele iria
sentir algo. Mas quem disse que Christian Grey tem sentimentos? Na verdade ele
até tem, mas estão soterrados abaixo de tantas dores que nunca sobra nada
agradável para ninguém, muito menos para o filho dele.
- Continua sem se preocupar com a
própria segurança? A porta destrancada e você apenas com uma criança na casa. E
se eu fosse um assaltante?
- Menos Grey! Resolveu bancar o
entregador hoje?
- O Taylor tirou folga nos feriados
de fim de ano.
- Oooo meu amor, você ouviu? O tio
Tay não vem te ver esse mês. – Disse pegando Teddy no colo. – Obrigada. Deixa
sobre a mesa.
- Tio Tay? – Grey estranhou a
intimidade.
- Sim, Teddy é um bebê muito ativo e
simpático. Conquista a todos...menos ao pai, é claro. Taylor o adora. Mas foi
bom você vir. Assim não preciso mandar recados. Theodore já está comendo outros
alimentos. Vou reduzir o leite. Não precisa mais comprar.
- Ok. Eu vou pedir para Taylor
trazer o dinheiro e você compra o que o garoto estiver precisando.
- Não! Eu...eu aceitava o leite
porque era muito caro, mas pro resto não precisa. Eu consigo pagar. Não se
preocupe.
- Mas alguma coisa o menino vai
comer e eu quero pagar droga!
- Pra que Grey hemmm? Pra amenizar a
sua consciência? Pra poder dormir tranquilo achando que fez a sua parte na
criação dele?! Não! Não fez! Theodore precisa de muito mais que comida. Ele
precisa de um pai!
Droga! Já estava se descontrolando.
- Mas dinheiro é o que eu posso
oferecer. E a lei me garante isso. Portanto você vai aceitar. Outra coisa: você
vem passar o natal com a gente?
- Eu? O convite é só pra mim?
- Eu não espero que você largue um
menino de menos de um ano em casa e sozinho, Ana. Pode não parecer, mas eu não
quero o mal do Teddy. O convite é para ambos.
- Euuu agradeço o convite, mas acho
que não.
Aquele foi um natal muito triste.
Ele deu uma grande festa, chamou amigos, alguns funcionários mais próximos e a
família. Mas nada apagou a solidão de Grey. Era ainda pior ter de acompanhar a
felicidade de Elliot e Kate. Logo depois do casamento Kate anunciou que estava
grávida. Agora eram só mimos, carinhos e beijos na barriga. A felicidade deles
chegava a incomodar, a mostrar o que a vida dele e Ana poderia ter sido. Mas
era diferente.
- Elliot nasceu para ser pai. Eu
não, simples assim. – Era o que repetia a si mesmo.
Conforme Theodore foi crescendo Ana
permitiu que ele saísse com os Grey’s. Ela ficava com o coração na mão em todas
as ocasiões, mas Teddy estava crescendo e adorava brincar com Ava. A filhinha
de Elliot e Kate era apenas um ano mais nova que Teddy e eles faziam uma dupla
bem arteira. Segundo Grace, ter Ava por perto estava fazendo Grey ver como é
bom ter crianças na família.
- Pena que esse encanto dele por Ava
não alcance o próprio filho.
- Não é isso Ana. Apenas ele não se
sente responsável por Ava. Ser tio é fácil para Grey, mas do papel de pai ele
tem medo. – Grace dizia, mas não apagava a magoa de Ana. Seu maior temor era
que Theodore crescesse sentindo-se rejeitado.
Tudo o que Ana desejava era que Grey
pudesse ser um homem normal e, mesmo separados, conseguissem educar Teddy bem.
Mas isso tornou-se impossível. Então ela se mantinha afastada. Era Kate quem
lhe contava que nas tardes em que passavam na casa de Christian, ele pouco
interagia com o filho.
- Eu nem sei por que ele construiu a
tal casa e se mudou pra lá. É imensa. – Ana dizia.
- Eu não sei Ana. Ele faz questão que
Teddy seja convidado. Encomenda comidas feitas sem leite especialmente pra ele,
mas quando Teddy o chama pra brincar, fecha a cara e diz que não. A senhora
Jones ama o menino e o Taylor também. Pode ficar tranquila porque nada ruim
acontecerá com ele por lá. – Disse sua amiga.
-
Será que ele pensa que mandando dinheiro cumpre com todo o seu papel de pai? –
Pergunta Ana.
- Não sei Ana. O Christian é tão
estranho.
- Mas hoje você o odeia menos.
- Sim, acho que hoje eu entendo ele
mais e...bom ele é muito generoso e bacana para a Ava. Com o Teddy também...os
presentes são fantásticos.
- Sim. Quando Teddy fez três anos
ele mandou um videogame que ele não consegue usar ainda. O filho dele ficaria
satisfeito com um jogo de lego, mas Christian não faz ideia porque não o
conhece.
- Sim. Para Ava ele também manda
umas coisas sem pé nem cabeça. Mas não dá pra negar que, do jeito dele, Grey
está tentando.
- Eu sei Kate. Mas o tempo está
passando. Meu garotinho vai completar quatro anos e nunca ganhou um abraço
verdadeiro do Christian. Ele está cada dia mais esperto e já nota que há algo
de errado.
- Por falar nisso...o Christian te
mandou um recado.
- Katherine trazendo recados de
Christian Grey! O charme dele te conquistou mesmo hem? Elliot que tome cuidado.
- Não fale bobagem. É só que...já
faz tempo e você continua sozinha. Não acho isso bom. Talvez você e o Christian
ainda pudessem...tentar. Ele também nunca namorou outra...o Elliot acha que ele
voltou a se envolver com umas mulheres esquisitas, mas ele as leva só para o
Escala, jamais pra casa onde vocês iriam morar. Se você acenar com uma
reconciliação ele topa.
- E o Teddy? – Ana respondeu.
- Eu aposto que ele está arrependido
Ana. Poxa! Ele está há quatro anos de castigo! Vocês não tiveram nenhuma
recaída?
- Eu não vou falar disso!
- Eu sabia que você estava me
escondendo algo Anastásia! Conta! Quando foi? Onde?
- E quem te falou que eu não tenho
ninguém?
- E tem???? Mas como você não me
conta mais essas coisas?
- Tem um cara...se aproximando. Ele
é escritor e também tem um filho e...
- E é bom de cama?
- KATE!
- O que...nesse quesito você sempre
falou bem do Grey. Como foi a recaída?? Conta...
- Chega Kate! Qual é o recado do
Grey?
- Ele quer que Teddy tenha uma festa
de aniversário de 4 anos. E como você não quis comemorar nenhum dos outros
aniversários, pediu pra eu te convencer.
- Sem chance!
- Mas Ana...
- Não Kate! Ele não pode comer
brigadeiro nem nenhuma dessas guloseimas. Porque eu vou forçar o meu garotinho
a ver os amiguinhos comendo o que ele não pode? Sem falar nos pais que vão
junto e eu terei de explicar mais uma vez que o pai dele é muito ocupado e não
pode ir. A não. Nem pensar!
Kate foi embora, distraída com a
questão da festa, mas Ana sabia que ela iria retornar na história da recaída
dela e de Christian. Nunca iria lhe dar detalhes. Até hoje se envergonhava.
Fora apenas uma vez...justo no aniversário de 1 aninho de Ava. Teddy estava
brincando com as crianças e ela foi até o estacionamento buscar o presente.
Christian estava chegando para a
festa com um imenso urso de pelúcia. A paixão explodiu como uma faísca próxima
de um paiol cheio de pólvora. Até hoje Anastásia se recriminava por se deixar
levar por aqueles olhos acinzentados, por sentir tanto prazer novamente. Mas
foi bom...muito bom.
-
Nunca mais! Isso fui um erro e nunca mais vai ocorrer.
- Mas foi bom Ana, muito bom. – Ele ainda
mordiscava-lhe o pescoço. – Sempre será bom entre nós.
Esquecer. Isso era a única coisa
para fazer. E Raff era capaz de ajudá-la. Bonito, com uma vida estável e
disposto a ter família. Raff era o homem certo!
- É isso! Vou aceitar seu convite
para jantar Raff! – Ela decidiu.
Algum tempo depois gritinhos vieram
até ela. Era Teddy com o telefone.
- Mamãeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- Fale meu amor. É a tia Kate no
telefone?
- Não. É o papai e ele quer falar
com você.
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