- Como assim
mantenha a calma mãe? Você pensa que é fácil?! Eu estou na Inglaterra e sou
avisado que minha mulher está em trabalho de parto há 10hs e, teimosamente,
prefere ariscar a vida para insistir num parto normal e você quer que eu esteja
calmo?!
Do outro lado da linha Grace
respirou profundamente antes de dar uma resposta dura ao filho.
- Bom Chris, levando em consideração
que você não acompanhou a gravidez de sua ex-mulher e até hoje não assumiu seu
filho como devia, eu sequer deveria ter atendido a sua ligação. Você não tem
poder de decisão aqui Christian.
- Mãe! Eu estou preocupado com a
Ana! E é claro que vou registrar a criança. – Mesmo que não desejasse nenhum
contato mais próximo.
- Aaaa isso você vai mesmo! Nem
pense em deixar meu neto sem o sobrenome do pai! E agora tenho de desligar e
ficar com a Anastásia. Não ligue mais porque eu não lhe direi nada. E não
adianta ligar para o seu pai! Agora só terá notícias se vier aqui.
Ouvir o piiiipiiiipiiii do telefone
só serviu para deixar Grey ainda mais nervoso. Sem pensar duas vezes chamou
Taylor.
- Mande preparar o avião e tome
todas as providências. Preciso do jato pronto para decolarmos o quanto antes.
- Para onde, Sr.?
- Para casa. Tenho de colocar algum
juízo na cabeça da minha esposa. – Ele não percebeu, mas Taylor tinha um grande
sorriso nos lábios. Sempre achou seu patrão menos rabugento tendo Ana por
perto.
Os últimos meses foram como um
turbilhão de emoções. Ninguém entendia verdadeiramente as razões para se
afastar da sua fonte de felicidade. Alguns achavam que ele era um monstro.
Talvez essa seja a verdade. E ninguém o estava poupando de ouvir a verdade.
O primeiro a lhe fazer uma visita
nada amigável foi Ray. Fazia apenas dois dias que ele e Anastásia haviam
conversado na sala dela, na editora, e falava com meu advogado quanto ao que
faria para atrasar o processo de divórcio quando meu sogro invadiu o escritório.
- Seu desgraçado! – Foi só o que
ouvi antes de sentir o punho de Ray atingir meu queixo. Ele bate bem e eu
merecia, por isso não revidei. – Como pode abandonar Anastásia?
- O Senhor está mal informado. Foi
sua filha que me deixou. – Disse mesmo sabendo que ele já tinha essa
informação.
Meu advogado resolveu interferir.
- Srs., vamos manter a ordem? O
senhor Grey poderia lhe processar por isso. – Disse o emproado homem.
- A ele poderia sim, mas eu acho que
não fará! E sabe por quê? Porque ele sabe que merece bem mais que apenas um
murro! Tem de ser muito desclassificado pra fazer um filho e não assumir! E se
quer saber Grey? Ainda bem que a Ana abriu os olhos e te deixou. Ela vai criar
muito melhor esse filho sem você.
Depois ele saiu batendo a porta e eu
nunca mais vi meu sogro. O senhor Jenks, meu advogado para assuntos pessoais,
ainda perguntou se eu gostaria de deixar a conversa para depois, mas eu quis
seguir logo após colocar gelo no queixo. Droga! O pai da Ana é forte!
- Grey, eu preciso lhe perguntar
se...se você e a senhora Anastásia tinham um casamento normal ou...bom ou...-
Jenks trabalhava comigo há muitos anos e era de total confiança. Foi a ele,
anos antes, que confiei a redação dos dois documentos que exigia que minhas
submissas assinassem. Ou seja, Jenks é uma das poucas pessoas que conhecem o
meu segredo.
- Ana é minha esposa, Jenks, mas se
o que quer saber é se eu a levei até meu quarto de jogos, sim, ela esteve lá. Apesar
de jamais ter sido minha submissa, ela experimentou algumas práticas sádicas. E
isso foi, em parte, o que causou meu divórcio.
- E ela assinou o contrato?
- Não! Eu já disse, ela não era
minha submissa. Sempre foi minha companheira.
- E o termo de confidencialidade? –
O homem estava suando de nervoso.
- Ela assinou, mas...eu rasguei
depois que casamos.
- NOSSA Grey! Agora você está numa
enrascada. A julgar pelo seu sogro, não será um divórcio amigável. E você está
nas mãos dessa mulher. Não tem nada que a impeça de falar das suas práticas
sadomasoquistas e, além disso, vocês se casaram em regime de comunhão total dos
bens. Isso faz dela dona da metade dos seus bens, já que ela não tinha nada ao
casar.
- Não estou preocupado com isso.
- Pois deveria! Uma mulher revoltada
causa desastres! Ela pode até mesmo te chantagear Grey. Ela sabe de muita
coisa.
- Mas é de total confiança. Minha
Anastásia é de uma integridade sem tamanho.
- Sua? – O homem perguntou.
- Sim e é aí que você entra. Eu não
me importo nenhum pouco com acordos financeiros. Mas faço questão que a
Anastásia continue sendo minha mulher. Quero que você inicialmente aguarde para
ver se ela entrará com o processo de divórcio e, quando isso ocorrer, faça com
que se prolongue. Eu não quero me separar.
- Eu entendo, senhor Grey, mas devo
alertá-lo que, se sua mulher realmente não quer nada seu e com pouco tempo que
ficaram juntos, o juiz não levará muito tempo para dar um parecer favorável. Se
ela exigisse muito dinheiro, nós ainda poderíamos questionar o valor e atrasar
tudo, mas se ela aceita sair sem nada, nada pode segurá-la.
- Aí é o outro ponto. Jenks, eu
exijo que Anastásia saia amparada desse casamento.
- Nós não podemos obrigá-la a
aceitar dinheiro Grey.
- Terá de encontrar um meio! Eu
quero sustentar Ana pelo resto da vida. Ela é minha mulher e não vai passar
nenhuma necessidade. Fui claro?
- Sim, muito. Realmente, esse não
será um divórcio comum. – Depois de um suspiro o advogado voltou a falar. – Só
que lei é lei Grey. A única coisa que posso garantir é que você dará uma pensão
alimentícia à criança caso você não conteste a paternidade. Para nada além
disso eu tenho aporte legal.
Depois que Jenks foi embora cheguei
a sorrir. No final, era justamente o bebê que me garantia algum contato com
Ana.
Depois disso tudo tomou um ritmo
muito ágil. Os meses passaram e o natal chegou. Sabia que Ana estava morando no
apartamento que ocupou com Kate logo depois da faculdade. Ela não veio passar o
natal conosco. Eu já imaginava. Mesmo assim lhe mandei um presente. Era um
vestido divino. E Mia me entrou a caixa rejeitada pela dona.
- É bem feito Chris! Não pode lhe
mandar um vestido desse quando ela está grávida de quatro meses. – Eu me senti
um idiota quando ela me mostrou uma foto de Ana com o ventre já bem
arredondado. – Além disso, para o bebê você não enviou nada.
- Eu não quero me aproximar!
- Então terá que se afastar da Ana
também.
Em fevereiro saiu o divórcio. Ana e
eu ficamos frente a frente com o juiz e eu ainda lhe pedi para reconsiderar.
- Minha decisão está tomada Grey. Eu
e meu filho seremos felizes longe de você.
Nem mesmo a questão financeira
consegui fazer do meu jeito. Ana alegou que não era obrigada a receber pensão
alimentícia enquanto o bebê não gerasse gastos alimentares. Quando seria isso?
Daqui a um ano talvez? Para lhe melhorar as condições, aumentei seu salário na
editora. Para isso precisei elevar os rendimentos de todos os editores. Mas
isso não era problema. O importante era Anastásia não passar nenhuma
necessidade. Além disso, mensalmente eu pedia para Taylor lhe levar um cheque.
Mas ele sempre voltava com a mesma resposta.
- Nós não estamos precisando. Diga
para o Grey depositar em uma poupança...talvez no futuro o filho dele aceite o
presente. Enquanto a decisão for minha, a resposta será não.
O menino nem tinha nascido e já
acumulava uma gorda poupança.
Em abril veio o casamento de Elliot
e Kate. Eu pensei em deixar de ser padrinho. Kate deixou claro que adoraria
essa mudança, mas meu irmão ficaria magoado e essa era minha oportunidade de
ver, de estar novamente junto com Ana. Ela estava linda, mas o vestido tinha
uma cor triste.
Tentei conversar.
- Como você está, Ana?
- Ótima. Melhor impossível. – Mas eu
via em seus olhos que isso não era verdade.
Quando ela abraçou Kate eu pude
ouvir o que disse à noiva.
- Tenho certeza de que seu casamento
será mais feliz que o meu.
Depois de tantas horas em claro passadas
durante um longo voo, repleto de lembranças dos últimos meses aqui estou,
frente ao hospital onde Anastásia daria a luz...se é que ainda não nasceu.
Afinal fazem horas que minha mãe não atende ao meu telefone.
Meu sobrenome facilita muito as
coisas e em minutos eu estava na sala de espera da maternidade. Meu pai
apareceu.
- Como ela está? Foi tudo bem?
Nasceu?
- Filho! – Meu pai me abraçou. – Eu
sabia que você viria. Sabia que não abandonaria seu menino aqui.
- Pai eu...eu vim ver a Ana. – Disse
apenas para ver as feições de meu pai se fechar.
- Então pode ir embora. Nasceu e Ana
está bem.
- Carrick, preciso de você aqui. Fique com
Ana. É uma emer...- Mamãe parou quando me viu.
- O que há com Ana, mãe? Qual é a
emergência?
- Não há nada de errado com
Anastásia e, como você não se importa com seu filho, não há porque saber o que
se passa Christian. – Ela deu as costas e saiu pelo corredor chamando meu pai.
A criança tinha algum problema? Será
que é isso? Mas porque meu pai deveria ir ficar com Ana? Não esperei e segui
minha mãe.
- O que há? Fale mãe? Eu sei que
está brava comigo, mas...
- E eu não tenho razão para estar
brava, Christian? Eu, que acolhi e amei vocês, agora vejo meu neto sendo
renegado! Tem noção do sofrimento que você está me causando?
- Eu não posso mãe! – Disse.
- Ótimo. Então vá embora. – Ela
seguia andando e eu a seguindo pelos corredores do hospital.
- Diga o que há de errado? Não
nasceu bem a criança?
- Nasceu Christian. Você é pai de um
lindo menino de 2.950kg e 50 centímetros. Depois de mais de 14 horas de
trabalho de parto a Doutora convenceu a Ana de que era necessário uma
cesariana. Foram momentos tensos, mas tudo acabou bem. Ambos passaram bem pelo
parto.
- Então qual é a emergência? –
Quando percebi estávamos na frente do berçário. Havia choro. Muitos choramingos
de bebês e um choro mais forte, mais desesperado. Não sei por que, mas eu soube
que esse choro mais forte era do meu filho. – O que há com ele? Por que está
chorando assim?
- Está chorando de fome Christian.
De fome? Como assim? Um bebê recém
nascido choraria com tamanho desespero apenas por fome. Eu sei o que é sentir
fome, o que é chorar de fome. Meu filho não vai passar por isso nunca.
- Oraaa então levem ele pra Ana dar
o peito logo! – Eu sabia que a minha Anastásia não seria dessas mulheres que não
desejam aleitar os próprios filhos por pura vaidade. Ela seria uma grande mãe.
– Não o deixem chorar assim droga!
- Ele foi levado pra mamar assim que
Anastásia foi para o quarto, mas começou a passar mal. Achamos que ele tem
alergia a proteína do leite.
- Eu achava que isso era contra
leite de vaca, não leite materno.
- Sim, a maior parte, mas ele
rejeitou o leite materno. Fizemos uma lavagem estomacal no pobrezinho e estamos
fazendo testes para saber a quais proteínas presentes no leite ele é alérgico.
Quando o resultado sair, vamos comprar um leite específico.
- E enquanto isso ele fica com fome?
- Não a nada que possamos fazer. Ele
não pode mamar outra coisa porque vai passar mal novamente.
- Doutora Grey...aqui, saiu o
resultado que a senhora pediu urgência. O menino precisa desse leite. Nós temos
um pouco na enfermaria. – Disse uma enfermeira que veio correndo.
- Ótimo. Dê a ele. – Depois ela me
olhou. – E você, pegue essa receita e vá a uma farmácia comprar uma lata desse
leite. Ele é caro e você vai prover isso ao seu filho. Ana não poderá negar
isso porque ela não teria condições de arcar com mais esse custo.
- Ok. Eu nunca me neguei de pagar
nada. – Respondi.
- Vá agora Grey! E é você que vai
comprar. Nada de mandar o Taylor. Não estava preocupado com o menino chorando
de fome? Pois bem! Faça algo de útil Christian Grey.
O leite era realmente caro, não pra
mim, é claro, mas pessoas pobres teriam dificuldade em comprar o alimento.
Cheguei com duas latas para deixar no hospital. Depois mandaria mais para a
casa de Ana. Quando fui procurar minha mãe para entregar, vi uma enfermeira dando
o leite ao garoto num copinho.
- Melhor não mãe. O leite está
entregue e eu pedi pra mandarem flores pra Ana.
- Christiam, por favor...
- Não! Eu não quero ficar vendo ele.
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