Acordar com a luz do sol batendo na
janela, o cheiro de café fresco preenchendo o ambiente e sentir o toque de quem
te ama é algo capaz de iluminar o dia de qualquer um. Rachel manteve os olhos
fechados sentindo a mãozinha de George tocar-lhe o rosto.
Quando abriu os olhos, viu mais que
seu bebê lhe sorrir. Viu Neal com o café da manhã e um embrulho. Ele estava lhe
dando um presente?
- Olá mamãe... – Disse com a voz
infantil que ele adorava fazer para disfarçar os próprios sentimentos. –
Parabéns!!! Hoje é um dia muito especial!
- É? Por quê? – Ela realmente não
entendeu. Na verdade, não lembrava a data.
- É. – Neal olhou-a estranho. Como ela
podia ter esquecido? – Hoje é dia 3 de março, Rachel. Seu aniversário.
Sim. O dia 3 de março estava
registrado em sua certidão de nascimento como a data em que nasceu. Nunca deu
muita bola para o seu aniversário. E agora ainda mais. Era uma mentira, uma
data inventada por seus pais adotivos e pelo doutor Richard.
Neal lhe estendeu o embrulho e
Rachel pegou, um tanto constrangida. Achava que não tinha sentido em comemorar
uma data mentirosa. Por outro lado, o que contava era a intenção e Neal estava
ali, com o mais belo sorriso nos lábios. Abriu o presente e deparou-se com um
lindo colar. O pingente trazia o mais delicado desenho de uma família. Mãe e
pai envolvendo seu bebê.
- É lindo, Neal. Obrigada. – Ela
ficou realmente emocionada e resolveu brincar para não revelar a profundidade
daquele sentimento. – Esse não tem escuta? Posso usar tranquila?
- Não! Esse é só um colar. Não foi o
Mozzie quem comprou. – Ele respondeu rindo. – Nós também fizemos um cartão para
você.
Era lindo. Colorido, com fotos deles
com George e pezinhos de bebê circundando um lindo texto. Rachel ficou
encantada com o cartão.
- Os pezinhos são do George mesmo.
Eu marquei com tinta e fotografei. Ele adorou a brincadeira. – Ele contou.
- Eu posso imaginar. – Era um cartão
familiar...do primeiro aniversário que passava como mãe. Quem se importava com
a data? – Obrigada, Neal. Essa data...não é verdadeira, mas obrigada mesmo
assim. O George é verdadeiro, e está aqui com a gente. É isso que conta.
- E ele...ele te ama muito. – Neal
disse, constrangido. Não era bem isso que ele desejava falar.
- É...eu sei que ele me ama. –
Também não era bem isso que ela desejava ouvir dele.
Ao chegarem ao apartamento, na noite
passada, ela e Neal agradeceram a Mozzie por tudo que o amigo vinha fazendo e
foram ver George dormir no berço. O menininho ressonava tranquilamente. George
era uma criança feliz, segura do amor dos pais. Aquele bebê, ainda tão novinho,
os tinha unido para a vida toda. Não sabiam o que fariam no futuro, mas estavam
ligados porque ambos amavam demais aquela criança.
- Vamos descansar também? – Neal lhe
disse depois de um tempo.
- Sim. É tarde. Eu preciso tomar um
banho...tirar esse cheiro de hospital. Não sei por que me levaram para lá!
- Porque você está machucada,
Rachel. – A forma como ela não percebia o risco que correu ou não percebia os
próprios machucados era surpreende. Qualquer mulher estaria reclamando de
dores. – Fique a vontade. Tome seu banho com calma. Eu vou ver algo pra gente
comer. Apesar da hora...eu estou com fome.
Quando ela voltou, Neal tinha
preparado coisas para eles beliscarem. Era muito tarde para um jantar.
- Agora eu vou tomar banho...George
está dormindo tranquilo e na cozinha tem sanduiches. Eu não abri nenhum vinho
porque você foi medicada e tem mais uma dose de remédio para tomar em duas
horas. Mas tem suco se quiser.
Enquanto esperava, Rachel sentou-se
no sofá e tentou esquecer aquele dia terrível. Encostou as costas nas almofadas
para relaxar. O corpo parecia moído. O desgraçado do Rodrigues ainda seria
lembrado durante alguns dias. Pena que só tinha quebrado o nariz dele, não o
pescoço. Aos poucos, o cansaço foi tornando-se maior que a dor e ela adormeceu
ali mesmo.
Quando Neal voltou, encontrou-a
deitada no sofá, completamente apagada pelo sono, mas de mau jeito e gemendo de
dor por conta disso. A tentação em deixá-la dormir era grande, porém ela ia
acordar com dor, além não tinha comido nada. Os sanduiches continuava na
cozinha. Achou melhor chamá-la, fazê-la se alimentar e medicá-la antes de
dormir.
- Rachel...Rachel...acorda. – Ela
abriu os olhos. – Você não pode dormir ainda. Vem comer.
A sequência comer e engolir o
remédio foi difícil. Rachel achava que dor era uma coisa que devia ser
suportada, não tratada. Neal não queria nem pensar em como ela adquiriu esse
hábito. A criação de Rachel lhe soava muito estranha. Mas a dele servia de
modelo? Não tinha o direito de julgá-la. Comeram na cozinha mesmo e ela por fim
concordou em engolir o comprimido.
- Pronto! – Ele brincou. – Doente
você deve ser pior que criança, Rachel. Porque sentir dor se pode dormir
tranquila e confortável?
- Eu ia conseguir dormir sem
remédio.
- Mas vai dormir melhor agora. E eu
também vou dormir melhor, mais tranquilo. – Ele olhou para a sacada. Era uma
noite bonita. – Vamos lá fora um pouco.
Era uma madrugada de céu limpo, com
poucas estrelas e lua cheia. Rachel deveria estar se preparando para dormir,
mas ainda estava alerta. Todos os acontecimentos dos últimos dias estavam vindo
a tona.
Há duas semanas estava na prisão,
saiu e se agarrou a chance de viver uma vida normal com Neal e George.
Normal?!?!?! Não sabia onde estava se metendo. Seduziu um homem só para descobrir
que era um maníaco e se colocar nas mãos dele. Apanhou e chegou muito perto de
ser assassinada por ele. Foi no seu limite. Dessa vez realmente chegou perto de
morrer...se Neal não tivesse chegado, a essa hora George não teria mãe. E
perceber isso, agora, já com a cabeça fria, era assustador. Pela primeira vez
na vida pensava que tinha alguém por quem se manter viva. Sua mãe, Henry...eles
sempre foram importantes, sempre se preocupou com os dois. Mas sabia que se
morresse em uma missão, não demoraria a ser deixada de lado na vida deles.
George não...ele cresceria com um buraco na vida. Lhe faltaria a mãe. Daqui
para frente, teria que dosar melhor os riscos. Era mãe, tinha que se manter
viva por George.
E tinha Neal. Ele fez muito por ela,
talvez mais do que merecia. E mesmo após tudo isso, não sabia o que
representava na vida dele. Era mesmo somente a mãe de seu filho? E a mulher por
quem sentia tesão? Seria possível que ela não fosse mais nada? Se fosse sincera
consigo mesma, reconheceria que ainda amava Neal. Muito. Talvez até mais do que
quando era ‘Rebecca’. Amava a forma como ele encarou visitá-la no presídio e se
propôs a levar George toda semana, amava o fato de tê-la apoiado no FBI e
argumentado com Peter ao favor dela. Valorizava o temor pela segurança dela que
viu em seus olhos nos últimos dias.
E sabia que ele jamais aceitaria o
fato dela ser uma assassina. Mesmo que Neal sentisse algo mais profundo por
ela, jamais superaria isso. Por ter matado, seria para sempre a mãe de George e
nada mais na vida dele.
(N/A: Abra e deixe a música de fundo. O
vídeo tem a tradução da música e ela parece feita para esse casal. Vale a pena
ouvir essa música)
Concentrada olhando para o céu,
Rachel as lágrimas acumuladas das mais diversas emoções começarem a rolar por
seu rosto. Ela chorou de alegria por terem encerrado o caso com sucesso,
garantindo sua permanência Divisão de Colarinho Branco, chorou de tristeza por
sua situação com Neal e de alívio por ter terminado esse caso viva.
Neal
estava bem ali, vendo-a chorar silenciosamente e deixando-a desabafar. Aquelas
lágrimas o tranquilizavam. Mais preocupante era ela passar por tudo aquilo e
achar normal, encarar friamente, como se não sentisse nada.
-
Que bom que você está se permitindo sentir algo. – Nesse momento lembrava de
Mozzie lhe dizendo que o quarto da adolescência dela tinha algo de ‘disciplina
militar’. – Extravasar o que sente. Mostrar os sentimentos que estão aí. Você
não é uma máquina...é claro que está em choque pelo que Rodrigues fez. Chorar
vai te fazer bem.
-
Eu já fiz muita coisa na vida, Neal...a maior parte não muito boas. Algumas
mais ou menos. Eu acho que o George é a única coisa realmente boa que eu
deixaria no mundo se eu tivesse morrido hoje. – Algumas lágrimas ainda rolavam,
porém Rachel era naturalmente uma mulher controlada. Ela tinha o controle dos
próprios sentimentos.
-
Você está viva e tem muita gente que discordaria disso. Quando a gente te
procurava, você contou com a ajuda de algumas pessoas. Ninguém, Rachel, ninguém
te traiu. Nicolle, Henry, Richard, Zurik...fora aqueles amigos espalhados pelo
mundo que enviavam as fotos do George, tem muita gente que gosta de você.
-
Nicolle é minha mãe, para todos os efeitos, eu sei que me ama. Henry...bom só
não digo irmão porque a gente já namorou. Ele nunca iria me trair. Jamais. Com
o doutor Richard eu tenho uma dívida eterna e impagável. Ele manteve George
vivo e fez com que eu o mantivesse comigo. Porque se eu não tivesse descoberto
a verdade naquela noite, eu o teria abandonado ao dar a luz. – Seu choro se
intensificou. - Por mais cruel que pareça, é a verdade. Os outros...apenas
gostam de mim. E gostar não é amar. Eu sou leal a quem merece, Neal. Você sabe
que no crime é assim. Eu os ajudo e cobro quando preciso. Mas se eu morresse,
poucos sentiriam a minha falta. Não tem importância. Só George importa. Ele
basta para eu me manter viva.
Aquele
relato era muito triste de ouvir e, sem querer, Neal acabou tendo um pensamento
parecido. Quem sentiria sua falta caso morresse? Sua mãe estava morta. O
pai...só reapareceu em sua vida para trazer decepção e sumiu novamente. Mozzie
sim, esse era um grande amigo. Entre um roubo ou outro, era possível que Alex,
com quem já teve um caso e praticou alguns crimes, deixasse cair algumas
lágrimas. E Sara? Ela foi para Inglaterra assumir um ótimo emprego e
provavelmente não viria nem para o seu velório. No fundo, ele e Rachel eram
parecidos até mesmo nisso. A diferença é que agora ele tinha Peter, Ell e todos
os colegas do FBI. Mas assim como Rachel, o ser que realmente precisava dele
era George.
Sem
pensar muito, Neal puxou-a para o seu colo. Rachel deitou em seu peito e ambos
seguiram olhando as estrelas. Quando percebeu, Neal estava abraçando-a mais
forte do que precisava. Olhou para seu braço e viu a marca da mão de Ruan
gravada na pele clara. Demoraria muito para esquecer o que se passou nesses
dias. E desejava nunca mais ter de vê-la correr tanto risco.
-
Sente alguma dor?
-
Não. Dor é só dor, Neal. A gente...abstrai. – Ela já estava mais relaxada.
-
Não quero que sinta dor. – Cuidar dela era uma forma de demonstrar que era
importante sem ter que se comprometer com palavras.
-
Não se preocupe com isso. Mais difícil é esquecer...eu vou lembrar pra sempre
daquela noite ao lado do Ruan. Mesmo no tempo da MI5...eu nunca tinha levado o
‘serviço de campo’ tão a sério. A sensação de deixar ele me esbofetear só não é
mais horrível do que tê-lo incentivado a me tocar.
-
Eu também odiei. - Cada segundo estava gravado na sua memória.
-
Uma coisa é usar a sedução em um caso, o flerte. Isso eu fiz aos montes. Mas eu
tinha o controle. Quando eu queria, quando eu tinha a informação de que
precisava era só frear a sedução e dar as costas. Com Ruan eu iria até o fim. Eu
ia transar com ele...eu ia me prostituir por aqueles títulos. Isso eu nunca
fiz.
-
Esquece isso. Ruan e você nunca mais se encontrarão. – Neal lhe disse beijando
seus cabelos.
-
Eu pensava em você o tempo todo. O toque era diferente, o cheiro era diferente,
mas eu pensava em você. – Ela sabia que estava se abrindo demais para Neal, mas
depois de tudo o que viveram, o que mais faltava para ele entender que o amava?
– Era o melhor jeito pra não pensar no que eu estava fazendo.
Neal
não queria pensar nela com Ruan. Saber no que ela pensava naqueles momentos não
o ajudava. Sentia ciúme. E não queria sentir. Não era dono de Rachel.
-
Com a gente foi diferente, Neal. Quando eu procurava o diamante eu te enganei,
sim, é um fato, mas eu não precisava transar com você. Eu quis. Eu te quis
tanto. Eu não conseguia ficar sem você. E eu não consigo até hoje. – Ela
falava, ria e chorava tudo ao mesmo tempo. As emoções explodiam dentro dela.
Pensar
em Rachel enganando-o, mentindo descaradamente enquanto eles estavam na cama
era ruim demais. Neal queria cortar aquele assunto. Acabar com aquela emoção descontrolada
que ele mesmo tinha incentivado. Mas Rachel, sempre tão controlada, agora
explodia de uma forma que ele não sabia, não conseguia controlar. Não ia
controlar de forma alguma.
Mas
podia fazê-la extravazar aquela emoção de uma forma com a qual ele lidava
melhor.
- Vem aqui! – Ele se ergueu da cadeira
e virou-a em seus braços. – Chega de choro. Agora você esta aqui comigo e com George, como te prometi. E... como nosso
pequeno tá dormindo acho que quem vai se dar bem aqui sou eu. - Neal sorri, safado. – Sou só seu.
- E de
todas as outras. – Rachel retruca.
Para não
iniciar uma discussão Neal a beija ferozmente. Ela não reclamou, não
gritou. Talvez porque estava com a boca muito ocupada mordendo a dele.
Devorando-o. Sem nem se preocupar se tinha ou não alguma dor no corpo. Quem se
importaria? Na cama dele, novamente, depois de tanto tempo, foi delicioso
senti-lo rígido de desejo por ela. Neal podia nunca perdoá-la pelos
assassinatos e jamais amá-la completamente, mas a desejava muito. E por
enquanto isso lhe bastava.
Um
choro forte quebrou o momento. Eles riram da situação quase trágica. Era como
se George tivesse lhes dizendo claramente: vocês não são mais os mesmos nessa
cama. Agora vocês são os meus pais.
-
Acho que o George não quer que eu exagere nessa com a mãe dele. Normalmente
dorme a noite toda. Hoje...resolveu acordar. – Ele beijou-lhe mais uma vez e
olhou para o relógio. – Dorme...eu vou ver o que ele quer e já venho.
-
Será que eu consigo dormir depois disso tudo? – Rachel disse ainda pegando fogo
por ele.
-
Vai ter que conseguir...duvido dele dormir logo. – Respondeu Neal.
E
ele tinha razão. Demorou muito até George pegar no sono. Até um banho morno
Neal deu para ele voltar a dormir. E isso só ocorreu quando foi colocado na
cama com os pais.
-
Não se acostume, George! Você tem um berço só seu! – Neal brincou. – Muito
espertinho o senhor...chorar justo hoje? O papai e a mamãe aproveitando a
noite. Tudo bem...vamos dormir?
Depois de tudo que aconteceu naquela
noite, acordar e perceber que era seu aniversário, foi triste e feliz. O
presente e o cartão eram...familiares. Isso era bom. Mas intensificava o fato
de serem apenas os pais do mesmo bebê. Neal preparou um cartão e comprou um
presente que gritavam ‘mãe’, quando ela precisava se sentir mulher dele.
Precisava que ele dissesse o que sentia por ela. E Neal fugia desse assunto.
‘Ele te ama muito’, lhe disse referindo-se a George. E você, Neal Caffrey? O
que sente? Resolveu que era melhor deixá-lo falar sem pressioná-lo.
Tomaram café da manhã juntos. George
fez uma festa comendo papinha de mamão. Ele gostava de comer frutas, mas o mais
divertido era tentar pegar a colher. Roupa e chão ganharam tanto mamão quanto
ele. Era sábado, eles estavam de folga e não seria uma roupa suja que faria
Neal e Rachel perder o bom humor.
O relógio marcava 10h20min quando o
celular de Rachel tocou. Era Henry para desejar feliz aniversário.Claro que seu
amigo não esqueceria a data.
- Obrigada, querido. – Ela ouviu-o
lhe desejar muitos anos de vida, anos felizes ao lado do George. – Obrigada. E
o melhor é saber que você sempre estará por perto.
- Nisso não há a menor dúvida,
Rachel. – Henry respondeu.
Por fim, Rachel contou que estava na
casa de Neal. Mas não deu detalhes do que fez na semana anterior. Não queria
assustar Henry. Dando a entender que se tratava de uma comemoração em família.
- Na casa do Neal? – Ele se
surpreendeu. – Juntaram as escovas de dente? Interessante, Rachel.
- Deixa de ser bobo. – Henry sabia
que tinha liberdade com ela e aproveitava bem isso.
- Bobo por quê? Nada mais natural
para um casal... Nos vemos uma hora dessas. – Disse ele rindo antes de
desligar.
- Tchau, Henry.
Logo depois, Rachel teve mais uma
mostra da agitação que costumava ser a casa de Neal. Não que ele normalmente
recebesse muitas visitas. Era apenas uma. Mas essa valia por muitos. Mozzie
invadiu o apartamento, lhe desejou feliz aniversário e começou a falar
rapidamente, num ritmo que só Neal compreendia, sobre uma descoberta que fez.
Mozzie era um gênio! Estudava várias coisas ao mesmo tempo, além de ter uma
memória privilegiada. No mundo do crime ou da lei, era de grande ajuda sempre.
Só que entender o assunto dele e de
Neal naquele momento era improvável. Então Rachel resolveu ir se arrumar para
dar um passeio com George e deixá-los com seus assuntos. Arrumou seu bebê no
carrinho e foi se despedir de Neal.
- Não precisa sair! Fica com a
gente. – Neal disse.
- Melhor deixar vocês e seus
assuntos. Nós vamos ao shopping. Se quiser, nos encontra depois. – Ela beijou-o
antes de sair.
- Eu te ligo depois e a gente almoça
junto. – Disse antes de vê-la pegar um café e sair empurrando o carrinho.
Mozzie assistiu a cena como quem vê
um filme repetidas vezes. Ele viu o amigo amando assim uma vez, há muitos anos.
Quando conheceu Kate, Neal sorria dessa forma. Ele também entrou na vida de
Kate mentindo muito. Só que ela era realmente inocente e quando Neal contou toda
a verdade, escolheu ficar ao seu lado e se tornou uma ladra. Acabou morta por
se envolver com gente perigosa e deixou um gosto amargo de culpa para Neal
conviver o resto da vida. Nunca chegaram a ser uma família, nunca viveram essa
rotina.
Depois, viu Neal emendar uma paixão
na sequência de outra. A mais duradoura foi Sara. Mas não passava de comodismo.
Sara nunca foi mulher o bastante para Neal. Gostavam de sexo juntos, mas jamais
se tornariam parceiros. Ela não aceitava os ‘métodos’ de Neal. Ele jamais se
tornaria certinho o bastante para Sara. Aí, viu Rebecca aparecer. E Neal perdeu
a cabeça por uma mulher aparentemente sem graça. Chegou a desconfiar por um
momento. Mas ela os ludibriou muito bem. Quando Rachel mostrou as garras, Neal
estava completamente apaixonado, não tinha volta. E aquela mulher forte, voraz
e fatal, em todos os sentidos, essa sim, combinava com ele. Essa era a parceira
para Neal Caffrey.
- Você está curtindo brincar de
casinha. Você virou pai de família, Neal! – Ele brincou.
- Eu virei pai, Mozz! Que escolha eu
tenho!?!?!
- Pra cima de mim não, Neal. Sou eu,
lembra? Eu te conheço desde moleque! Já te vi apaixonado antes...e ela é
diferente. Você pode até não assumir, mas Rachel Turner é diferente.
- Ela é uma assassina, Mozzie. Ela
mata friamente e não demonstra nenhum arrependimento. Se tiver que matar
novamente, mata. Eu sou um ladrão, um falsificador, mas não um assassino.
Mozzie o conhecia há tempo
suficiente pra saber que o ‘não matarás’ era um mandamento importante para
Neal. Mesmo que o ‘não roubarás’ não representasse nada. Só que existiam coisas
ainda mais importantes. Neal era um homem explosivo. Comandado pelos sentimentos.
- Mas você já chegou perto de matar,
Neal. Lembra? Você caçou o responsável pela morte da Kate. E Rodrigues também
esteve na sua mira algumas horas atrás. Me diga...o que você teria feito se
Peter não tivesse chegado? O que seria mais importante para você? Não matar ou
proteger Rachel?
Neal não precisava pensar para
responder isso.
- Claro que ela. Rodrigues é um
maníaco e Rachel é a mãe do meu filho. Eu a protegeria sempre.
- Se você vai continuar se iludindo
com isso não tem porque conversarmos, Neal. Não é só isso. Você sabe!
- Mas ela não matou apenas maníacos.
Ela matou gente inocente! Pra conseguir um diamante! Isso é demais pra mim.
- Você ser um ladrão era demais para
Sara. Cada um com suas prioridades. Decida quais são as suas, Neal. – Mozzie
aconselhou.
- Não compare Sara com Rachel. A
Rachel apagou completamente a Sara da minha vida, Mozz. – E essa era uma
certeza que confirmava o que o amigo estava dizendo.
-
Vamos ao meu próximo negócio. – Mozzie encerrou o assunto. – Você pode estar
temporariamente aposentado, mas eu continuo na ativa. Quero sua ajuda nessa
falsificação.
Enquanto Neal e Mozzie trabalhavam,
Rachel mimava seu garotinho no shopping. George ganhou brinquedos. Ela se
presenteou com um sapato. Quando o relógio marcava 11h20min o telefone tocou.
Pensou que já fosse Neal vindo encontrá-los, mas era Nicolle.
- Parabéns, minha filha. Estou feliz
por passar esse aniversário com seu filho.
- Obrigada, mãe. Nós estamos
juntinhos agora. O Neal vem nos encontrar logo.
- Vocês estão juntos? – Nicolle
torcia para que sim. Ainda mais agora que Henry e Molly tinham voltado.
- Não exatamente. – Ela não sabia,
na verdade.
- Pra que complicar tanto! Mas
enfim...seja feliz minha filha.
- Obrigada, mãe. – E logo encerrou a
ligação.
O restante do ‘dia de aniversário’
de Rachel era para ter sido em família. Combinaram de almoçar em casa mesmo.
Ficaram juntos, se curtindo, cada um com as próprias dúvidas guardadas na
cabeça. George foi tirar um cochilo depois do almoço e eles ficaram juntos,
namorando no sofá. Por um momento, Neal chegou a pensar em dizer o que sentia
por ela. Confessar que era difícil para ele saber que a mulher que amava era
capaz de matar tão friamente.
Estavam sozinhos, conversando
bobagens, sorrindo e lembrando de aventuras que tiveram pelo mundo. Ela se
mudou tanto para os mais diversos países quando era criança e ele rodou o mundo
fugindo de Peter para não ser preso. Tinham tantas histórias.
Estavam ali, olho no olho, era o
melhor momento para colocar todos os sentimentos para fora. Era difícil ficar
só nos assuntos leves. Ela...ela era muito intensa. Olhar para ela sempre o
fazia se aproximar e desejar mais.
Rachel também sentiu o clima
mudar. E dessa vez, George estava cansado do passeio e não ia acordar. Tinham o
apartamento só para eles. A dúvida era...conversar e esclarecer tudo ou transar
sem pensar em mais nada. Era difícil raciocinar com ele ali, tão perto. Sua
boca a chamava.
Ia se aproximando, trazendo-o para
si....quando a campainha tocou. A casa estava agitada hoje. Rachel riu da cara
que Neal fez.
- Eles combinam isso! Só pode! – Disse
indo para a porta.
Quem batia eram Peter e Ell. Não
poderia ser num momento mais inapropriado. Ell estava um tanto constrangida,
Peter animadíssimo. O plano dele? Assistir a partida de futebol pela TV, beber
cerveja e jogar conversa fora. Ao menos isso foi o que Peter falou ao entrar.
Na verdade, ele queria ficar de olho em Rachel e ter certeza de que ela não
aprontaria nada, usando Neal em uma nova fuga. Afinal, ela estava com o filho e
nada a impedia de tentar sair dos EUA novamente. E Mozzie já tinha provado que
as tornozeleiras eram passíveis de fraude...nas mãos dele pelo menos.
- Futebol...acho que eu sobrei
nessa. – Rachel disse para Elizabeth.
- Eu também...só vim porque Peter
queria. Não era para atrapalhar vocês.
- Não se preocupe. – Ela não ligava
mesmo. – Vem ali para a sacada comigo. Vamos conversar.
Mas a campainha soou novamente.
Todos se olharam e Neal foi abrir a porta novamente.
- Uau! Um dia agitado no meu lar. –
Disse ele sorrindo...até ver o entregador de flores. – Pois não...
- Entrega para a senhorita Rachel
Turner. – Disse o jovem.
A reação às flores foram diferentes.
Rachel achou lindo e sorriu ainda mais ao ver de quem eram.
- Henry quem enviou. Ele é um
querido. – Disse.
Neal tinha uma expressão triste no
rosto. Não era ciúme. Henry realmente não tinha nenhum interesse romântico nela
e estava se acertando com Molly, já tinha investigado. Só que ele tinha uma
liberdade com Rachel que lhe doía observar. Porque Henry podia lhe enviar
flores e demonstrar todo esse carinho enquanto ele precisava fingir que falava
em nome do filho? Isso era tão injusto! Queria ser como Henry e simplesmente
não ver os problemas que os cercavam.
Elizabeth e Peter viram a tristeza
nos olhos de Neal. Peter estava assustado com a profundidade que aquele
relacionamento estava ganhando. Agora ou depois, seu amigo ia acabar sofrendo.
Cedo ou tarde Rachel ia acabar voltando para a prisão. E ele ia sofrer por ela.
- Belo presente....mas por algum
motivo? – Ell perguntou.
- Sim! É meu aniversário. Ele nunca
esquece. – Rachel respondeu.
Ell não resistiu e fez outra
pergunta.
- E essa gargantilha linda? Está com
cara de presente de aniversário.
- É, do Neal. Linda, não é?
- Muito bonita. – Ell respondeu
pensando que era um presente delicado, dado por um homem amoroso e sensível. –
Um lindo gesto, Neal.
-
Eu vou colocar as flores na água e nós vamos na varanda conversar para os rapazes
poderem ver seu jogo! – Rachel mudou o assunto.
Quando ficaram sozinhos, Peter
tentou conversar com Neal sobre futebol, Fórmula 1 ou os novos lançamentos da
BMW. Mas não estava agindo naturalmente. E por mais chato que Peter pudesse
ser, Neal preferia quando ele era direto.
- Diz logo, Peter. Fala o que está
querendo me dizer. – Incentivou.
- Você está se envolvendo demais com
ela. Ela não vai mudar Neal, você a viu...com Rodrigues. Ela é perigosa, é
ardilosa. Tome cuidado. Tenha sempre o pé atrás. Ela sempre será uma
assassina...
Era hora de assumir uma coisa com
todas as letras e ninguém melhor do que Peter para ouvir.
- Pode ser. Mas acima disso, ela é a
mãe do meu filho e eu tenho sentimentos por ela, Peter. Não adianta negar. Eu
quero que Rachel permaneça em minha vida. – Disse.
- Ok. – Peter não podia fazer nada
contra isso. – Mas tenha em mente que ela é diferente de você. Você cumpriu a
sua pena e é livre. Mantendo-se na linha, está limpo. Ela nunca terá isso.
Mesmo estando no FBI agora, será sempre uma criminosa.
George não os deixou continuar a
conversa e, chorando, chamou a atenção do pai e da mãe. Neal e Rachel largaram
o que estavam fazendo e foram ver o menino. Ell e Peter trocaram um olhar
emocionado ao ver os dois cuidando daquela criança. George ser uma criança bem
cuidada e feliz era o mais improvável. E ali estava, contente sendo cuidado por
seus pais, um ladrão e uma assassina. Elizabeth sussurrou algo para Peter. Ele
não ouviu, mas pode entender o que seus lábios pronunciavam: ‘tenha fé’. Ela
lhe disse isso anos atrás, quando Neal começou, desacreditado, como consultor
no FBI. Talvez estivesse certa novamente.
Eles cuidaram de George juntos.
Trocaram a fralda e colocaram outra roupinha para ele vir dizer ‘oi’ as
visitas. O garotinho veio animado para a sala e arrancou sorrisos de Peter e
Ell.
- Quer pegá-lo, Elizabeth? – Neal
ofereceu.
- Quero. – Ell segurou-o e cheirou
os cabelinhos finos que já foram mais claros. Provavelmente iam ficar como os
do pai. – Parabéns! Ele é lindo.
- Obrigada! – Ambos os pais do bebê
agradeceram juntos.
As duas foram novamente para a
sacada e Neal e Peter voltaram a conversar. Mas dessa vez foi o dono da casa
quem trouxe um assunto difícil.
- Por que você foge tanto da
paternidade, Peter? Tá na cara que pela Ell vocês teriam filhos e...você tem
mais de uma década de casamento! Mas preferiu ter um cachorro!
- O trabalho no FBI exige muito. É
arriscado para a Ell e isso já me assusta o suficiente. Eu não iria trabalhar
sossegado sabendo que meu filho seria um alvo. Então eu conversei com a Ell e
ela aceitou.
Os dois olharam para a sacada onde
Elizabeth sorria com George nos braços. Ela era muito maternal.
- Aceitar não é gostar da ideia. –
Neal disse. – Será que não vai magoá-la com essa decisão?
- Não sei, Neal. – Ele queria muito
poder realizar todos os sonhos de Ell. – Mas não posso. A ideia de falhar com
um filho...me assusta. Eu não vou ser pai.
A relação dos dois, mesmo que Peter
não fosse velho o suficiente, tinha algo de paternal. Peter o amava como a um
filho. E se preocupava com ele assim também. De muitas formas, Peter supriu na
vida de Neal o papel de pai, vago desde a infância.
- Eu nunca pensei em ser pai, Peter.
Nunca mesmo. Nem com a Kate eu pensei em ter filhos...era tão novo. Mas eu
quero ser o melhor pai para o George, quero ser o pai que eu desejei quando
criança. Um pai legal, um pai de quem ele possa se orgulhar.
Os sentimentos que George despertava
também era o assunto na sacada do apartamento. Rachel não demorou para perceber
a maternidade ‘gritando’ em Elizabeth. E a questionar isso.
- Eu quero, Rachel! Quero tanto um
bebê. – Ela reconheceu. – Mas essa vontade não é maior que o amor que tenho por
Peter. E ele tem suas razões. Não posso arriscar meu filho. Então é melhor não
termos.
- Entendo. – Ela entendia
duplamente, na verdade. – Minha mãe viveu o mesmo que você. Ela engravidou meio
que escondido de meu pai e...acabou não dando certo porque perdeu o bebê em um
atentado contra papai. Depois eles me adotaram. Não é mesmo a melhor profissão
para se criar um filho. Eu sou prova de que pode...bagunçar a cabeça de
qualquer um.
- Uau Rachel! Você viveu todos os
lados dessa história. Eu queria conhecer a sua mãe! – Surpreendeu-se Ell. –
Você foi a filha do agente, trabalhou para o governo, foi presa por ele e agora
cria um filho trabalhando como informante do FBI.
- Sim. Animada a minha vida, não?
Mas o que conta mesmo é o George. Ele é a minha vida, minha razão em viver.
Ouvi-la falar só deixava Elizabeth
com mais vontade de ter um filho. Ela via o tempo para uma gravidez se esgotar
e sentia que teria que falar com Peter. Eles não eram covardes. Podiam
enfrentar isso. Ell deixou o assunto de lado e continuou conversando com
Rachel.
- Eu e o Peter sempre atrapalhamos
você e Neal. Hoje é seu aniversário. Deveria estar a sós com ele! – Ela realmente
estava constrangida.
- Não tem importância. Com o George
a expressão ‘a sós’ ganhou outro significado. Nem ligamos mais para a falta de
privacidade. E o Neal gosta muito do Peter. Ele disfarça, mas gosta!
- Peter também! Sempre foi assim.
Desde quando Neal era um foragido. Peter sempre gostou de procurar os melhores.
E Neal é o melhor...sem querer ofender a você.
- Nãoooo...eu sei bem como Neal é
bom. E Peter é bom também. Ele sempre desconfiou de mim...lembro bem quando
vocês apareceram num restaurante em que eu e Neal íamos jantar. Peter já devia
desconfiar de mim. – Isso fazia tanto tempo que parecia outra vida.
- Não! Nunca! Peter desconfiava de
Neal? – Ell entregou.
- Sério? – Ela realmente sempre
enganou Peter!
- Sim. Achávamos que Neal estava
enganando você...e ele estava, pelo menos tecnicamente. Por isso fomos ao
restaurante. Mas aí resolvemos não entregar as mentiras do Neal porque Peter
sempre achou que ele precisava de uma companheira. Desde a morte da Kate, Neal
não se acertou com ninguém de verdade. – Ell continuou falando.
- Não precisa mentir, Ell. Eu
pesquisei sobre Neal. Sei como ele é...rodado. Sei de Alex e sei de Sara. Além
dos casinhos rápidos dele. – Rachel sabia que Neal nunca esteve completamente
só.
- Mas nenhuma realmente o deixou
louco...até você aparecer.
Isso animou Rachel.
- Louco? Louco como? – Incentivou.
- Bom...ele sofreu achando que você
ia deixá-lo quando soubesse que era um ladrão. E quando...bom...
- Continue, Ell. Quando souberam que
Rebecca era uma farsa...
- Ele desmoronou, Rachel. Até bêbado
o Neal ficou. Ele sofreu de verdade por você. Mesmo antes de saber que havia
uma criança. Ele queria você. – Ell viu que isso balançou Rachel. Também
percebeu Neal se aproximando da sacada e continuou. – E pra você? O que o Neal
é?
- Ele é muito importante para mim.
Muito mesmo. Ele é muito mais que apenas o pai do George...eu o amo desde o
início. Mesmo quando eu o enganava.
Neal ficou emocionado ouvindo isso.
Essa lógica de ‘amar e enganar’ ao mesmo tempo era muito comum para ele. Neal
sentia que sua vida foi sempre assim. Amor e mentira juntos. Isso tinha que
mudar.
Ele bateu antes de entrar na sacada
e perguntou se elas precisavam de alguma coisa. Não precisavam de nada. E
Rachel percebeu que ele tinha ouvido tudo. Corou de vergonha. George viu o pai
e estendeu os bracinhos.
- Vai com o papai, vai. – Elizabeth entregou
o bebê a Neal.
Algum tempo no colo do pai e George foi
ficar com Peter. O tempo passou e o garotinho voltou a adormecer. Foi aí que
Peter percebeu com era tarde. Hora de ir embora e deixar a
família aproveitar o aniversário a sós.
Como
era uma data importante para ela, Peter mostrou cortesia e a deixou passar a
noite de seu aniversário com George e Neal.
-
Não precisa voltar para o FBI hoje. Passe mais essa noite aqui...é seu
aniversário. – Ele disse.
- Obrigada. – Ela e Neal responderam
juntos...mas na verdade pensaram que não pretendiam fazer algo diferente mesmo
que ele não falasse nada.
- Eu vou acompanhá-los até lá
embaixo. Volto logo. – Avisou Neal.
- Ok. – Ela respondeu.
Aquela noite e o domingo foram a
perfeição. Apenas os três, juntos. Quando George estava acordado, brincavam e
cuidavam do filho, quando ele dormia, se entregavam a paixão.
No meio da tarde ela o provocou só
de toalha. Disse que queria lembrar daquela noite no banheiro do hotel, ele
possessivo gritando que era ‘só dele’.
Não precisou de muita insistência
para atiçá-lo. Logo estavam no chuveiro, e, depois, na cama.
- Está pensando que vai me provocar
e ficar por isso mesmo, é? – Neal dizia beijando-a.
- Não, querido. Eu sabia que você
iria tomar uma atitude. – Ela ria e se entregava aos carinhos dele.
A segunda-feira trouxe de volta a
rotina profissional no FBI e eles foram os únicos a não notar que saíram do
elevador do FBI de mãos dadas. O restante do escritório entendeu o recado. Foi
um dia calmo, até mesmo monótono. Haviam casos, mas nada que realmente
assustasse. Trabalharam em investigações diferentes. Peter preferia assim.
Diana encontrou Neal no arquivo e
aproveitou para convidá-lo para o aniversário de Ted. Seu menininho completava
1 ano e várias crianças iriam.
- O convite é para a família, Neal.
– Ela avisou.
- O que?
- Família...pai, mãe e bebê.
Entendeu? – Ela adorava tirar sarro de Neal.
- Aaaa claro. Nós vamos. Pode
deixar. – Família? Ele, Rachel e George eram uma família...lhe soava bem isso.
Apesar de achar que poderia se sentir estranho com todos olhando para Neal
Caffrey como um homem comprometido.
Deu-se conta que confirmou a
presença sem saber se Rachel ia desejar ir. Lembrou que não estava mais sozinho
e devia falar com ele antes. Ainda bem que Rachel gostou da ideia.
- O um aninho de Ted? Claro! George
vai conhecer outras crianças. Vai ser ótimo. – Ela disse.
- É. Que bom que pensa assim. – Ele gostou
da ideia de passar mais um dia junto dela e fora do FBI.
A
semana transcorreu naturalmente e sem nenhum caso específico ou especial.
Quando chegou o dia da festa, Neal não se sentiu nada estranho quando entrou com a mão na cintura de Rachel e seu filho no
colo. Ao contrário, sentia orgulho. Poderia dizer que tinha uma família mesmo
com algumas dificuldades e empecilhos os três eram uma família, a única família
que tinha.
O
lugar estava decorado com super heróis.
As crianças tinham sido convidadas a
também vir vestidas com o tema. George foi de Batman.
- Obrigada por virem. – Disse Diana.
- Claro que viríamos. George veio
dar parabéns ao amiguinho! – Rachel respondeu.
- Acreditam que Ted não quis colocar
a fantasia de jeito nenhum? Eu convido as crianças a virem de super herói e o
aniversariante não se veste assim. Que vergonha! – Mãe sempre encontrava algo
para se culpar.
- Porque? A festa é dele! – Neal
brincou. – Tem que se vestir como preferir. Onde ele está?
- Brincando ali ao lado. Todo contente.
- Bebê Ted tem personalidade. Só vai
vestir o que tiver vontade. – Mozzie lembrou a todos. – Ele aprendeu com o tio
Mozzie!
A festinha foi divertida. Muitos
conhecidos, a maioria correndo atrás de alguma criança que não parava quieta.
Alguns bebês adormecendo no meio da festa, o parabéns, o bolo e muitos pacotes
sendo abertos. Ted parecia mais empolgado em abrir e rasgar os papéis do que em
brincar.
Mozzie
agia como um Tio babão com Ted. Estava tão feliz e animado quanto qualquer uma
das crianças. Jamais desgrudava dele e de George. Mozzie sempre os unia. Ted e
George cresceriam juntos, graças ao Tio Mozzie.
Os adultos assistiam a tudo. Alguns
imaginavam o aniversário dos próprios filhos, outros queriam distância de tanta
confusão. Peter encarava Ell preocupado. Era muita criança perto dela. Podia
ter ideias. Mas ela parecia bem distraída conversando com Nicolle. A mãe de
Rachel tinha vindo visitar a filha no FBI e conheceu Ted. Diana a convidou para
a festa e Nicolle veio para passar algum tempo com a filha.
Peter só não entendia o que ela
tanto conversava com Elizabeth. Se soubesse o assunto, não ia gostar.
- E porque não engravidou ainda? –
Nicolle a incentivou. – Se dependesse dos homens, nossa espécie já tinha sido
extinta! Eles nunca se sentem preparados para a paternidade.
- Mas eu entendo meu marido. A
situação não é fácil. – Ell disse.
- Eu também entendia John. Mas engravidei
mesmo assim. E ele não tardou a gostar da ideia...pena que o destino não nos
sorriu. Mas não perca a chance de ser mãe. Um dia vai se arrepender e aí pode
ser tarde. – Nicolle foi categórica. - A hora de ter um filho é decisão nossa.
É no nosso corpo que eles crescem, é a mãe que o alimenta. Quando está com dor
é pela mãe que o bebê chama. Nós sabemos quando é a hora de ter um
filho.E...enganos sempre acontecem...todo contraceptivo falha. – Ela piscou
para Ell.
A semana seguinte a festinha de Ted
foi repetitiva para Rachel. Ela passava o dia trabalhando em casos que, no
geral, não tinham serviço externo. Análises de documentos, falsificações,
fraudes...crimes de Colarinho Branco, conforme Peter lhe lembrou quando ela
reclamou. Depois, todos iam embora e ela ficava ali. Não estava curtindo isso.
Queria ficar no apartamento de Neal.
Só
tinha uma coisa que a irritava mais que o tédio. Era ver Peter e Neal de
segredinhos. Os dois estavam trabalhando em algum caso interessante, algo
importante, mas não lhe contaram.
Na
quarta-feira recebeu uma ligação de Henry. E ele tinha uma notícia arrasadora!
-
Diz logo! Estou curiosa! – Henry adorava fazer um suspense.
- Vou ser pai! Molly está grávida de
5 semanas. – Ele disse e Rachel pode imaginar o sorriso do amigo.
- Uauuuuu foram rápidos hem? – Ela brincou.
- Nós nem pensávamos agora nisso...e
aconteceu.
- É, esses pequeninos adoram nos
surpreender. Eu e Neal que sabemos. Parabéns, Henry.
- Quem sabe um dia nossos filhos não
vão brincar juntos? – Henry e seus sonhos de mundo perfeito.
- É... quem sabe. – Rachel encerrou
a ligação pensando que era bem improvável que Molly deixasse seus filhos
conviverem.
Ainda havia mais um aniversário
próximo. O de Neal! Eles faziam aniversário muito perto. Ela em 3 de março. Ele
no dia 21. Depois de todas as surpresas que ele preparou, Rachel achou que
podia e deveria preparar algo especial. Cairia em uma terça-feira...ela pensou
em esticar a comemoração. Mas para isso teria que fazer algo muito
desagradável...contar com a colaboração de Peter.
- Você quer ficar na casa de Neal
esse final de semana? – Ele repetiu sua frase.
- Sim. É aniversário dele. Mas é uma
surpresa então...agradeço se não falar nada.
- Vai dar uma festa?
- Não. Quero fazer um jantarzinho.
Só isso. – Peter a encarou. – Por favor.
- Ok. Você vai para lá. Mas sem
surpresas, Rachel. Preciso do Neal com a cabeça fresca na semana que vem. Ele
está envolvido num caso importante. Não crie problemas.
- Sim, sim, sim. – Ela quase o
abraçou de tão feliz. Quase. – Obrigada, Peter.
Na
terça-feira, Rachel levantou cedo e foi levar café pra Neal antes dele acordar.
Queria lhe dar os parabéns e levar o presente que havia comprado para George
dar ao pai.
- Feliz aniversário! – Ela disse
assim que entrou.
- Ganhei café da manhã surpresa? –
Ele estava encantado por vê-la ali.
- Sim...eu, você e George.
- Eu não preciso de mais ninguém. –
A frase saiu sem pensar, mas foi muito verdadeira.
- Ótimo. – Rachel respondeu. – E eu
acho que nós vamos começar com o presente.
Rachel foi ao berço de George e
voltou equilibrando o menino, ainda meio sonolento, o cartão e o presente.
Esperava que Neal gostasse do que preparou. Eram duas gravatas. Uma de verdade,
prateada, e outra de papel, escrito ‘surpresa para o papai’, que era o cartão.
- Obrigada, meu filho. – Neal pegou
George no colo. – Papai vai usar a gravata. É linda. Eu acho que podia usar as
duas na verdade!
O
sábado chegou e Rachel não disse que ia para lá a noite. Mozzie o tirou de casa
durante a tarde e, quando chegou, Neal encontrou-a escondida sob um sobretudo e
usando um chapéu seu. Neal andava sempre elegante e não precisa de oportunidades
para estar bem vestido. Estava pronto.
-
O que é isso? – Neal sorriu ao vê-la.
-
A continuação do seu aniversário, querido.
-
Achei que já tinha ganho meu presente.
-
Aquele era o presente do George. Agora ele está dormindo e o meu presente está
começando. Pode sentar...e fechar os olhos. – Ele obedeceu. – Fique quietinho
aí enquanto eu termino algumas coisas.
Já
estava tudo pronto na verdade. Só terminou de montar a mesa e trançou os
cabelos. Neal estava sentindo o perfume do molho que borbulhava na cozinha e
ouvi-a caminhar de salto alto. Era sensual.
-
Pronto. Estou pronta. Agora pode abrir os olhos.
Quando pôs os olhos nela, Rachel estava
linda em um vestido negro. Não dava vontade olhar para mais nada.
Mas
seguiu olhando o que ela tinha preparado. A mesa estava maravilhosa.
O cheiro do molho que
ela colocava sobre um macarrão o estava deixando com fome.
- Quer que eu abra o vinho? –
Perguntou.
- É claro. Seja cavalheiro e abra o
vinho.
Comeram quase em silêncio. Queriam
aproveitar o momento. Só os dois ali, sob o luar curtindo o aniversário de Neal
da melhor forma que podiam.
- Você não cozinhou para mim antes.
Só vou ganhar jantares assim nos meus aniversários? – Neal brincou.
- Eu não te mostrei esse meu
talento...amo culinária. Posso preparar outras coisas. O problema é o Peter me
liberar para ficar aqui mais vezes.
- É, a gente vai ter que resolver
isso. – Ele pegou em sua mão. – Obrigada pelo jantar. Estava maravilhoso.
- Fico feliz que tenha gostado...eu
pensei muito no cardápio. Não queria que fosse pesado demais...pra nós termos
energia para o resto da comemoração.
Neal se levantou e levou-a com ele.
- Eu acho que...que você sabe,
Rachel, mas eu nunca disse o quanto você representa para mim.
- Represento? – Ela ficou animada.
- Muito. Você me deu o presente mais
maravilhoso do mundo...o George. E, além disso, você faz com que eu me sinta
amado. Eu não sei como vamos seguir com nossa vida Rachel...mas eu quero que
você esteja comigo. Sempre.
Rachel não o deixou terminar de
falar. Avançou sobre Neal e exigiu o que queria tanto. Desejava-o. Naquela
noite, Neal Caffrey era só dela.
Neal levou-a para cama sem muita
delicadeza, o que normalmente não ocorria. Ele costumava ser mais galanteador,
mais sedutor. Hoje, no entanto, Rachel assumira o papel de sedutora, algo que combinava
bem com ela.
- Esse penteado é lindo...mas eu
gosto do seu cabelo solto então, se você não se importa, vou desmanchar a
trança.
- O aniversário é seu Neal. Hoje eu
sou sua da forma que me desejar.
Logo ela estava só de calcinha, com
e com os cabelos espalhados sobre o travesseiro. Curtia o seu toque e sentia o
sangue ferver nas veias. Precisava dele, mas hoje queria dar mais do que
receber.
- Shiiiiii quietinho aí, Caffrey!
Comporte-se! – Ordenou.
Ela tirou suas roupas lentamente.
Beijou-o em cada pedacinho de pele que aparecia. E algumas partes a enlouqueciam
completamente. Como esse homem podia ser tão perfeito? Tirou-lhe a camisa e foi
descendo para arrancar a calça. Mas precisou parar na barriga bem delineada.
Seguiu seu objetivo e puxou calça e
cueca juntas. Acariciou-o com as mãos e com a boca. Arrancou-lhe gemidos ao
raspar os dentes pelo pênis duro. Se quisesse, o tinha feito gozar ali mesmo.
Mas não queria um aperitivo quando podia ter o banquete completo.
- Você é muito gostoso! – Disse-lhe
safada.
- Se está pensando que vou deixar
você brincar sozinha...você não me conhece. – Neal respondeu.
Ele veio também distribuindo beijos
em frente e verso, por tudo o seu corpo. Sentia como se ele conhecesse cada centímetro
da sua pele. Neal a virou de costas e deixou um rastro de beijos e arrepios na
linha da sua coluna.
Quando chegou ao bumbum, tirou a
calcinha e lhe mordeu bem forte. Pra deixar a marca.
- Ai! – Ela gritou. Estava longe de
ser uma reclamação.
- É minha...eu posso morder. – Ele respondeu.
E podia mesmo. Era toda dele e ele
era dela. Até o fim da noite, também pretendia lhe deixar algumas marcas de
recordação.
Mas
não teve tempo para pensar nisso agora. Muito rapidamente e de costas mesmo,
sentiu-o se encaixar nela e entrar profundamente.
-
AaaaaAAA vem! Eu quero mais! Vem! Mais. – Ela gritava a cada estocada. Com ele
era assim. Quanto mais tinha, mais desejava.
Os
gritos acabavam excitando-o ainda mais. Virando-a de barriga para cima, ele
ficou sobre ela, fez com que sentisse seu peso enquanto também o sentia
internamente.
-
Quer mais? Quer? – Ele a provocava.
-
Quero! Sempre mais! HAAHAA!!! Vemm!! – Abraçou-o forte com as pernas. – HAAA!!!
Rachel
cravou as unhas nas costas dele quando sentiu-se no ápice do prazer e despencou
no colchão. Neal ao lado. Levou algum tempo para voltarem a falar e sabiam que
era apenas um intervalo. Os dois sabiam.
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