- Como assim você não sabe o que ele
tem? George é um bebê! Ele não sabe dizer o que sente! Vocês são médicos para
quê? – Neal, sempre tão educado com todos, perdeu o controle vendo o filho
doente.
- Qualquer coisa que eu lhe dizer
agora, Sr. Caffrey, seria um chute irresponsável. Não vou arriscar nada até
examiná-lo melhor e fazermos alguns exames. – Disse o pediatra.
Mas tanto Neal quanto Rachel sentiam
que havia algo de errado. O médico antes muito tranquilo, agora parecia mais
apreensivo. Ele já havia examinado George e disse que ia pedir exames...mas
dessa vez não falou que provavelmente era apenas uma virose, discurso mais
comum dos médicos nos últimos tempos. Ficaram ainda mais preocupados quando o
viram solicitar um radiografia do tórax.
- Por que isso? – Rachel se
preocupou. Exames de sangue ela já esperava, mas radiografia a assustou.
Neal percebeu qual era a
desconfiança do pediatra.
- Você acha que ele está com
pneumonia. – Ele teve isso no infância. Sabia como era. – Mas ele não tem
tosse, só febre.
- Nem sempre há tosse. Acalmem-se.
Pode ser apenas um resfriado mais forte. E, se for pneumonia, já vamos tratar.
Não há motivo para pânico.
- Não...apenas quando é o nosso
bebê. – Rachel não se conformava de George estar doente. – Qual é o
procedimento? Ele faz os exames aqui no hospital mesmo? Quanto tempo leva?
- George faz os exames agora. Um de
você tem de ficar presente.
- É claro! – Os dois responderam.
Como se eles fossem permitir que um desconhecido fizesse qualquer exame em
George sem que estivessem vendo! – E quando chegam os resultados?
- Já são 17h40....vou pedir
urgência. Amanhã pela manhã estaremos com tudo. Um de vocês poderia passar a
noite aqui com ele. – A última fala do médico pegou a ambos de surpresa.
- Você quer interná-lo? E quer que
não nos preocupemos? – Rachel se desesperou.
- Ele está bem. Podem ficar
tranquilos. Mas enquanto não tiver 100% de certeza do diagnóstico, prefiro
mantê-lo aqui. É uma precaução. Para o caso da febre voltar.
Acompanharam todos os exames ao lado
de George. Sofreram junto vendo-o tirar sangue pela primeira vez na vida. Ele
estava medicado e dificilmente a febre voltaria. Com o coração doendo, Rachel
voltou para o FBI para passar a noite. Neal ficaria a madrugada toda ali.
- Eu aviso de qualquer coisa que
ocorrer...vou ligar para o Peter também e dizer o que houve. Ele vai deixar a
portaria de aviso para liberarem a sua saída se precisar. Mas ele vai ficar
bem. – Ele a tranquilizou.
- É, eu sei que vai. – Eles
precisavam lembrar que tinham também outro problema. – Quando falar com Peter,
sonda a evolução do caso do Picasso. Temos que verificar o que faremos.
Neal aproveitou o tempo sozinho,
apenas vendo George dormir, para pensar nas atitudes que tomaria. Três mulheres
muito importantes em sua vida pareciam iniciar uma disputa. Não para ele. Não
havia disputa ali. Cada uma teve um papel em sua vida. Alex foi uma parceira de
crime, Sara um aliada no lado da lei e Rachel...ela era a sua mulher em
qualquer situação.
Família sempre lhe foi um assunto
muito caro. Crescer num lar de proteção a testemunha, sendo criado por uma
policial porque seu pai é um foragido e a mãe tornou-se relapsa, perdida apenas
na própria tristeza. Agora tinha uma família. Não ia arriscá-la por nenhuma das
mulheres que passaram por sua vida.
Tinha que resolver a situação do
roubo para Sara e Alex seguirem com suas vidas. Se recuperar o quadro Sara terá
uma vultuosa comissão depositada em sua conta. Se sair ilesa, Alex embolsaria
alguns milhões. A decisão estava nas mãos dele. A quem ele seria mais fiel?
Surpreendeu-se quando o celular
tocou. Já era muito tarde.
- Peter! Aconteceu alguma coisa?
- Eu é que te pergunto. Me avisaram
que Rachel retornou ao FBI e eu queria saber de você e de George. – Por mais
que disfarça-se, Peter tinha muito carinho por aquele bebezinho.
- Estamos esperando pelos resultados
dos exames. Mas ele está dormindo bem.
- E você vai ficar acordado a noite
toda?
- É o que um pai faz quando seu
filho está no hospital, não? – Aproveitou para tentar encontrar respostas. –
Alguma novidade no caso do quadro depois que eu saí?
Depois de tantos anos de parceria,
as mentiras de Neal não passavam mais tão despercebidas a Peter. Ele estava
nervoso e mais interessado no caso do quadro do que deveria quando seu filho
estava hospitalizado. Neal estava de alguma forma envolvido no roubo.
- Não...nenhuma novidade. – Peter
começava a desconfiar de Neal. Melhor não lhe dizer que Alex estava no topo da
lista de suspeitos. – Só que você saiu do FBI sem me dar as suas ideias sobre o
caso.
- Sim, Peter. Você tem razão....era
uma mulher naquelas imagens.
- Eu senti uma ‘certeza absoluta’ na
sua voz? – Neal estava confirmando algo? – Neal...você sabe quem roubou? Você
teve algo a ver com o roubo daquele Picasso?
- Não, Peter. Eu não roubei. – Neal
olhou para George dormindo tranquilo. – Eu juro. Pela saúde do George, que está
na minha frente, eu juro que eu não fiz isso.
Não tinha como Peter desconfiar
daquela afirmação. Por George, Neal não juraria em falso. Só que ele também não
estava falando toda a verdade. Não roubar, não o impedia de acobertar o ladrão.
- Você sabe quem é. – Era uma
afirmação.
- Peter...eu...
- Alex Hunter. – Só podia ser. – Ela
estava na cidade já há algum tempo. Eu a vi na sua casa no dia em que
comemoraram os seis meses de George. E você me escondeu isso.
- Eu não menti. – Peter nunca tinha
perguntado, por isso não era mentira.
- Não, apenas omitiu...como está
omitindo agora. Alex Hunter roubou o Picasso, Neal? – Dessa vez, a pergunta foi
clara. Era falar a verdade ou mentir para Peter.
Ele ficou calado por alguns
instantes. Era uma decisão importante. Uma escolha entre ser leal a amiga do
passado e a um parceiro do presente. Alex podia ter evitado isso...acabou
saindo perdendo.
- É bem possível que sim, Peter. Mas
eu não tenho ideia de como e onde ela está. – Havia escolhido seu lado nessa
história.
- Vou precisar de um depoimento seu.
- Eu sei...mas você pode esperar o
George melhorar. – Assim ganharia algum tempo para Mozz encontrar Alex e
fazê-la sumir antes do FBI pegá-la. Falar a verdade a Peter não significava que
desejava vê-la presa.
Quando desligou o telefone, Peter
tinha a certeza de que Neal não falou tudo o que sabia. Isso foi um golpe
difícil de aceitar depois de tantos anos juntos. Parecia que, mesmo amigos,
estariam sempre envolvidos por segredos. Ele nunca saberia tudo sobre a vida de
Neal Caffrey. O que significava que tinha de descobrir por outros meios. Se
Neal não se abria, não podia reclamar de ser investigado. Pegou o telefone e,
mesmo tarde, discou o número de Jones e deixou tocar até que o agente
atendesse.
- Desculpe a hora...mas preciso que
amanhã cedo você cuide de uma coisa.
- É só falar Peter. – Jones sabia
que quando Peter ligava naquele horário, era porque algum caso o fazia
trabalhar 24hs. – Qual o problema?
- Neal...ele está escondendo algo. –
Era complicado assumir isso quando fora ele quem insistiu para o FBI
contratá-lo após o fim da pena. – Ele vai passar a madrugada no hospital com o
filho. A Rachel está no FBI. Amanhã cedo ela deve ir encontrá-lo e Neal ir para
casa descansar enquanto ela fica com o bebê. Eu quero que você coloque
vigilância nele.
- Você acha que ele roubou aquele
quadro?
- Não. Eu acho que não. Mas ele está
escondendo algo. Ele está acobertando a ladra e, se for quem eu penso, será
abusada o bastante para ir atrás do Neal novamente. E aí nós vamos pegá-la.
A primeira coisa que Rachel fez na
manhã seguinte foi ligar para Neal e ter certeza de que o filho estava bem.
Sentiu-o preocupado e cansado. Passar a noite em um hospital o deixaria
desgastado, mas a insegurança quando a procura do quadro era o que o
preocupava. Sabia que Neal só estaria tranquilo quando pudesse parar de mentir
para Peter.
Quando Peter chegou, foi conversar
com ele para convencê-lo a deixá-la ir ficar com George. Foi mais fácil do
imaginou. Ele a liberou rapidamente para ficar no hospital o dia todo ou até
que George fosse liberado para ir para casa. A noite, deveria retornar ao FBI.
- Simples assim? Não vai me dizer que
precisam que eu trabalhe no caso do Picasso?
- O caso está numa fase inicial
ainda...não temos pistas concretas. – Mentiu Peter. – E eu falei com Neal
ontem. Ele me pareceu muito cansado. Acho que ele deveria ir para casa enquanto
você fica no hospital.
- É, é esse o plano. – Havia algo
sendo escondido dela.
Só quando chegou no hospital foi que
Rachel entendeu parte do que acontecia. Neal esclareceu.
- Peter sabe que foi Alex. Irá atrás
dela. E vai nos manter afastados do caso.
- Talvez seja melhor assim. Eu sei
que ela é sua amiga, Neal, mas...a gente não pode evitar isso. E se ela for
esperta, já está longe daqui.
- Eu também acho. – Neal concordava
e torcia para isso. – George está melhor e o médico deve chegar logo com o
resultado dos exames.
- E depois que soubermos como ele
está, você vai para casa descansar. Você está exausto, Neal.
- É...eu preciso dormir mesmo. Mas
vamos ver o que o médico vai falar. Depois a gente decide isso.
Sentados observando George, eles
apenas se abraçaram. Não queriam que Alex tivesse trazido tanta confusão e
sabiam que Sara não a deixaria escapar tão fácil.
E o médico trouxe notícias boas e
ruins. Eles já esperavam, na verdade. George estava com pneumonia, mas não era
um caso grave. Seria medicado com antibióticos e tinha tudo para se recuperar.
Ainda ficaria mais debilitado na próxima semana e depois deveria voltar a ter a
mesma energia de sempre.
- Ele passará o dia hoje aqui no
hospital. É melhor para a medicação. – Disse o médico. - Amanhã vai para casa e
vocês mesmos podem dar o antibiótico na hora certa. Serão 10 dias de medicação
e muita água. Só terão que cuidar para não ter desidratação. E trazê-lo novamente
caso a febre volte forte ou ao final dos 10 dias para ser examinado. É normal
que não tenha apetite e então perda algum peso. Mas o ideal é que consigam
fazê-lo comer, mesmo que em menos quantidade, nos horários de sempre.
- Nós faremos o possível. – Rachel
respondeu e se despediu do médico. – Vai você também Neal. Já basta um dos meus
garotos doente. Você precisa se cuidar também.
- Bobagem! Eu nunca fico doente!
Acho que nunca fiquei. – Mas estava mesmo exausto. – Eu vou dormir um pouco...a
tarde eu volto. A menos que Peter me chame. Mas qualquer coisa, você me liga.
Com um beijo suave eles se
despediram.
Já no apartamento, Neal realmente
dormiu. Por algumas horas fez questão de não pensar em nada e apenas ‘apagar’.
Estava com o corpo dolorido e a mente cansada.
Já passava da 15hs quando acordou e
encontrou Mozz no apartamento. Nada estranho já que ele praticamente também
morava lá. E era bom porque eles precisavam tomar algumas decisões.
- Eu disse por aí que desejava falar
com Alex. Provavelmente ela vai nos contatar. A mim, pelo menos. Ela está na
cidade ainda.
- Mas porque? Ela já tinha que estar
longe! Peter vai pegá-la! – Neal não entendia porque Alex não fugiu com o
quadro antes do FBI ser avisado do roubo.
- Também não entendi. Acho que ela
teve tanta raiva de você deixá-la na mão que acabou vindo aqui para te dar
aquele ‘susto’ com George e então se viu apanhando em uma sala cheia de
federais. Ela deve ter escondido o quadro em algum lugar e está esperando a
hora de pegá-lo e fugir para entregar a algum comprador ou intermediário.
- Eu conheço o intermediário dela. É
o Robert. – Neal estava tendo uma ideia. O quadro pode estar com ele e Alex só
ter ficado aqui. Se a gente...devolver o quadro. A Sara fica feliz e a Alex não
vai presa. – Roubar de outro ladrão não deveria ser uma crime tão ruim assim.
- É uma ideia, mas para isso, teremos
que ter certeza de que está com ele. – Mozzie já articulava o plano.
- Sim. Procure por ele.
Enquanto falavam, Neal observava o
quadro que fez de Rachel.
Ela
ainda ruiva, deitada no sofá. Linda. Lembrou-se que precisava ligar para saber
de George. Já era fim de tarde e ela logo deveria voltar ao FBI e ele ao
hospital.
- Ficou boa essa pintura. – Mozz
elogiou. – Você deveria fazer mais quadros autorais, Neal. E expô-los.
- Um dia, Mozz, um dia. - O quadro
era realmente belo.
Quando retornou ao hospital, viu que
o filho estava melhor e mais animado. Na manhã seguinte George já iria para
casa e tudo se ajeitaria. Informou a Rachel que era para ficar de olho em Peter
e em algo estranho que visse pelo FBI. Ele estava escondendo algo.
- Eu vou ficar de olho. – Ela o
beijou. – É uma das vantagens de ter o FBI só para mim nas madrugadas.
- É...mas não esqueça da vigilância.
E eu sei que o Peter vem trancando a sala dele.
- Sim, eu sei. Mas vou ficar de olho
no que planejam. Boa noite, Neal.
- Boa noite, amor. – Ele lhe deu
mais um beijo antes de ficar sozinho com o filho.
Passava das 10hs da noite quando
George realmente adormeceu. Ele tinha dormido muito durante a tarde e quis
brincar quando todos já estavam dormindo no hospital. Neal ficou mais de uma
hora caminhando com ele pelo quarto e pelos corredores. Agora que dormiu,
provavelmente não acordaria até sentir fome.
Achando que teria uma madrugada
tranquila e monótona, surpreendeu-se em ver quem veio lhe fazer uma visita
noturna.
- Sara! Entre. – Não esperava vê-la
ali.
- Oi, Neal...eu liguei pro FBI agora
a tarde e perguntei se você estava lá e eles me disseram que ia descansar
durante o dia pra cuidar do George a noite então eu...
- Você achou que era um bom horário
para conversar comigo longe da Rachel. Eu entendo. Entra...a gente pode
conversar. Só não podemos acordar o George.
Sara se aproximou do bebê
adormecido.
- Ele é parecido com você. Parabéns,
Neal. Você construiu a sua família.
- Eu queria isso há muito tempo
Sara...por um momento eu pensei que seria com você. O destino quis diferente.
Eu sei que foram novidades demais pra você encontrar em NY.
- É a cidade das surpresas, não? –
Ela brincou. – Foi difícil, Neal. Eu não esperava que você estivesse
sozinho...só não imaginava que a Rachel tivesse te amarrado tão bem amarrado
assim.
- Não é o George que me mantém com
ela, Sara. É o que eu sinto por ela. Desde o início, desde que eu coloquei os
olhos nela. Eu não sabia que ela era uma criminosa...eu senti vergonha de
contar pra ela da minha ficha policial. Eu senti medo por ela não me aceitar,
como você fez.
Sara apenas o observou por algum
tempo.
- Mas ela aceitou...ela quis o Neal Caffrey exatamente como ele era. – Um sorriso amargo cortou sua fala. – Ela fez
o que eu não tive coragem.
- Não! Ela é uma criminosa. Ela é
como eu. Por isso me compreende e me aceita. Eu não poderia esperar isso de
você, Sara. Eu e a Rachel...nós somos iguais.
- Você não é um assassino, Neal.
Você não pega numa arma! Ela mata friamente!
- Eu aprendi a entender a Rachel,
Sara. E eu a amo mesmo assim. – Era bom que Sara ouvisse com todas as letras.
- Uauuu...o que posso dizer se não:
me desculpe se criei algum problema entre vocês. – Ela estava definitivamente
desistindo de Neal Caffrey.
- Não causou...nada que não tenha
sido agradável resolver. – Muito agradável. Eles sorria lembrando da noite em
que a amarrou na cama para poder provar que era ela quem desejava.
- Eu posso imaginar. – Aquilo estava
ficando constrangedor demais. Melhor ir para um assunto profissional. – Neal,
sobre o quadro...Peter acha que está com Alex Hunter. Eu sei que ela é sua
amiga.
- Sim. Eu não sei onde Alex está,
Sara.
- E, se soubesse, não me diria, não
é? – Era uma pergunta retórica...não havia mais de uma resposta.
Sara o conhecia muito bem. Como
ladrão e como homem. E sabia que Caffrey agia com lealdade. Jamais entregaria
Alex.
- Eu só te peço que não atrapalhe. –
Ela continuou. – Neal...isso é importante. A diretoria da seguradora está no
meu pescoço. Eu não posso simplesmente deixar a Alex fugir com um Picasso que
vale milhões. Ainda mais quando o FBI tem pistas claras. Nós vamos pegá-la.
- Faça o seu trabalho, Sara. – Ele
não disse que não atrapalharia nem confirmou nada.
Na manhã seguinte, George apresentava
uma melhora significativa e, sorridente, voltou para casa com os pais. Nunca
clara ação para afastá-los do caso, Neal e Rachel receberam folga para ficar
com o filho. Era sexta-feira e eles só precisariam voltar ao FBI na segunda.
- Ele está se livrando de nós. –
Rachel disse quando desligou o telefone pelo qual recebeu a liberação;
- Claramente. – Respondeu Neal. –
Ele está armando alguma embosca para Alex e não quer que eu tenha a chance de
avisá-la.
- E o que você fará?
- Mozzie está investigando o
intermediário com quem a Alex trabalha. Se estiver com ele, eu vou roubar e
devolver...fim do caso.
- E se não estiver?
- Aí a Alex vai ter que se safar
sozinha...não vou arriscar o nosso pescoço. – Ele apontou para o filho. – Essa
pessoinha aqui precisa de nós.
- É, precisa. – Rachel o abraçou,
cansada.
- Você está bem? Está pálida. – O
que era estranho, afinal foi ele quem passou a noite com George.
- Sim...estive preocupada com vocês
aqui. Só isso. Vamos pra casa?
Ficaram em casa sozinhos. Neal
aproveitou para contar da visita de Sara no hospital. Rachel não gostou nada e
achou muito ardiloso da investigadora armar uma situação para ficar a sós com
Neal.
- Calma. Nós somos só amigos e ela
entendeu isso. – Neal falou a verdade justamente para não ter problemas com
Rachel. – Nem amigos de verdade. Logo ela vai para Londres novamente e nunca
mais vou vê-la.
- Até outro quadro ser roubado e ela
desejar sua consultoria. – Rachel não a queria por perto. Mas deixou o assunto
de lado.
Tiveram
apenas uma breve visita de Mozz. E ele vinha trazer uma notícia nada boa.
Robert, o intermediário de Alex, não estava com o quadro.
- Pelo contrário! – Mozzie explicou.
– Ele está querendo o fígado da Alex porque soube que o quadro foi roubado, mas
ela não apareceu para entregar.
- Mas se a Alex roubou e não
entregou para o intermediário...o que ela fez com o Picasso? – Neal tentava
entender.
Onde estava o quadro também era a
grande dúvida de Peter e Sara. Precisando contar com alguém para ajudá-lo a pensar
nas alternativas, Peter abriu o jogo com a investigadora de seguros. Contou que
colocou vigilância em Neal porque acreditava que Alex ainda estava em NY e
podia contatá-lo. Ela ria pedir ajuda para fugir e Neal era um grande
falsificador. Com uma nova identidade, não a encontrariam.
- Vão ficar de tocaia durante todo o
final de semana. – Ele disse.
- Ok, Peter...vamos esperar então.
- Espero que dessa vez você não
conte nada ao Neal...sei que em outras investigações vocês tiveram seus
segredinhos. – Sara chegou a ajudar Neal em ações bem duvidosas.
- É claro que não, Peter! Quem
roubou esse quadro tem que ser preso. Isso vale o meu emprego...não podem
desconfiar que eu ajudaria alguém a atrapalhar uma investigação de um quadro
que vale uma comissão milionária.
- Ótimo...qualquer novidade eu te
aviso então, Sara. – Iria confiar nela.
A tocaia foi longa e exigiu
criatividade. A van não enganaria Neal, Mozzie ou Rachel. Eles conheciam o FBI
demais para cair em velhas estratégias. Agentes a paisana se revezavam
caminhando ou lendo jornal na praça que dava visão ao apartamento de Neal. Eles
estavam sob a supervisão de Jones. Durante todo o sábado apenas Mozzie entrou e
saiu. Neal e Rachel passaram o dia no apartamento cuidando do filho.
- Pais modelo, Peter. – Jones avisou
ao chefe. – Nada de anormal.
- Ok. – Por um lado, foi um alívio
ouvir isso. – Eu ficarei no comando durante a noite. Você assume às 8hs da
manhã.
Na madruga também não houve
absolutamente nada. Neal e Rachel apagaram as luzes por volta das 11hs da
noite. Ninguém entrou ou saiu do apartamento.
No horário marcado, Jones reassumiu
o comando para passar o domingo de olho em quem visitaria Neal Caffrey. Se algo
anormal ocorresse, o alerta seria dado e a polícia invadiria para prender Alex
Hunter. Peter e Sara também seriam avisados.
Depois de horas e horas de uma
espera monótona, Jones deu alerta exatamente 15hs12min. Alex Hunter tinha ido
fazer uma visita a Neal Caffrey.
Quando entrou no apartamento, Alex
não imaginava que a polícia já estava a caminho. Seu plano era pegar algo muito
especial e sair dali o quanto antes. Tinha dado um golpe de mestre.
Ela não se surpreendeu ao ver uma
expressão de desgosto na face de Neal e de raiva na de Rachel.
- Pode ficar tranquila porque não é
pelo seu filho que eu vim. – Ainda lembrava bem da surra que havia tomado.
- E veio porque? – A paciência de
Rachel era curta. – O FBI já sabe do roubo e você é suspeita. Acho que deveria
sumir enquanto tem tempo, Alex. Sumir para bem longe de nós.
A ladra riu percebendo que eles não
faziam ideia do que veio fazer ali.
- Eu farei isso, Rachel. Mas não sem
levar o que me pertence.
- Do que está falando, Alex? – Neal
já estava cansado disso tudo. – Aqui não tem nada seu. Sabe disso.
- Será que não, querido Neal? – Ela
ia contar...ia dizer para eles onde escondeu o Picasso...mas as sirenes da
polícia a assustaram.
Um instante depois, o apartamento
estava sendo invadido pelo FBI.
Alex
ficou acuada. Sabia que sairia dali presa. Se ela era suspeita do roubo como
Rachel havia dito, devia ter deixado algum rastro quando entrou ou saiu do
museu.
-
Você me traiu! Você me viu chegando, Neal e chamou a polícia. Chamou os seus
amiguinhos do FBI. – Alex olhava diretamente nos olhos de Neal.
-
Não. Eu não sabia que eles estavam vindo. Acabou Alex, acabou. – Não podia
fazer nada por ela agora.
Alex
não acreditava nas palavras de Neal. Ele só estava ajudando o FBI para ficar
bem com eles e com Rachel. Aquela assassina o tinha feito se esquecer dos
amigos. Neal era um traidor.
Agora
ela pensava que tinha duas opções. Ir presa e negar o envolvimento no crime
sendo que, se eles tivessem alguma prova, passaria muito tempo presa. Ou fazer
com que o quadro aparecesse, ‘ajudar’ o FBI e, de brinde, ferrar com Neal para
ele sentir como era bom ser traído.
-
Você está presa, acusada do roubo do quadro ‘Les Noces de Pierrette’, furtado do museu de NY há mais de duas semanas.
– Peter a algemou enquanto via Sara chegar. – Onde está o quadro, Alex?
Entregue-o e será melhor para você.
Na verdade, Peter estava blefando. Tudo o que tinha
contra Alex era uma imagem borrada de uma mulher com capuz no telhado e a
opinião de Neal afirmando que poderia ser ela. Por mais que eles tivessem
certeza, se não confessasse, ela não passaria mais do que um dia presa. Não
haviam provas. Seu único trunfo era o fato de Alex não saber disso. E essa foi
uma das razões para afastar Neal e Rachel da investigação. Não queria que Neal
a alertasse do que o FBI tinha.
Alex pensou rápido. Toda a paixão que tinha sentido
por Neal no passado, agora se transformava em ódio. Olhá-lo de mãos dadas com
Rachel só a fazia piorar. Sem pensar mais, jogou fora os anos de amizade do
passado. Perderia o quadro, mas faria Neal pagar pela traição e Rachel saberia
que aqueles tapas lhe custaram caro.
- É a última vez que pergunto, Alex. Se entregar o
quadro, sairá mais rápido da cadeia: onde está o Picasso que roubou do museu? –
Peter gritou dessa vez.
- Tem que perguntar ao Neal. – Alex respondeu
surpreendendo a todos. – Foi ele quem guardou para mim.
- Isso não é verdade. Alex! Pare! – Neal gritou e
olhou em volta. Queria ver nos olhos dos presentes quem acreditou naquilo. Só
viu 100% de confiança nos de Rachel. – Eu não roubei!
- Alex...eu espero que você saiba que uma mentira
desse tipo pode complicar sua vida ainda mais. Pode provar isso que diz? –
Peter questionou torcendo para que ela não pudesse. Seria uma grande decepção
ter de prender Neal novamente.
- Ele me ajudou no roubo. E guardou o quadro aqui
nesse apartamento. – Alex até pensou em voltar atrás na afirmação, mas já era
tarde. – Procurem.
Sara estava pálida assistindo a tudo. Não podia
acreditar que depois de tudo Neal voltou a roubar um quadro e ela o iria
prender novamente. Por anos ela o procurou por conta de um Rafael que ele
roubou e, apenas com ele já no FBI, conseguiu recuperar o quadro. Agora havia a
chance dele ter roubado um Picasso e mentido novamente, negado sucessivas
vezes, mesmo sabendo que aquilo era muito importante para ela. Sem conseguir
olhar em seus olhos, Sara observava os policiais revirarem o apartamento.
- Olhem bem atrás dos outros quadros que há na
casa. O Rafael nós encontramos assim. – Ela disse amargamente. Seria
profissional ali.
- Sara! Você não pode acreditar. - Neal esperava mais confiança dela.
- Eu só acredito no que eu vejo, Neal. Por enquanto
eu não acredito em nada. – Ao contrário, torcia para não encontrarem nada.
Alex já havia sido levada presa e os policiais
agora só faziam as buscas. Ao acusar Neal de guardar o quadro, ela confessou o
roubo. Era contra Neal que a busca policial serviria de evidência.
- Isso é um disparate, Peter! – Rachel reclamou. –
Meu filho está dormindo naquele berço...acha mesmo que o Neal ia esconder um
roubo aqui. Expor o George a isso?
Os policiais continuavam fazendo a varredura.
- Não, eu não acredito, Rachel. – A resposta foi
para ela, mas o olhar estava em Neal. – Mas eu não posso deixar de procurar. Eu
espero não encontrar nada.
A prova de confiança de Peter, no entanto, durou
pouco tempo. Quando um policial percebeu que atrás do quadro que retratava
Rachel, havia algo escondido. Não demorou muito para encontrarem o Les Noces de Pierrette.
- Eu não sabia que estava aí, Peter. Tem que
acreditar em mim! – Muitas vezes mentiu para a polícia, para o FBI e para Peter.
Dessa vez era verdade.
- Você está preso, Neal. – Doeu em Peter dizer
isso.
- Acho que deve chamar seu advogado. – Era a Mozzie que ele se referia e Rachel sabia. - Você terá oportunidade de se defender.
- Acho que deve chamar seu advogado. – Era a Mozzie que ele se referia e Rachel sabia. - Você terá oportunidade de se defender.
Após ter escapado do FBI tantas vezes, Neal Caffrey
seria preso injustamente. Logo o quadro que não roubou o devolveria para a
cadeia. Era orgulhoso e ser preso ali, com George presente, mesmo que
adormecido, doeu. Sabendo que não seria barrado pelos policiais, caminhou
lentamente e com os pulsos algemados até o berço onde o filho dormia e se
debruçou para se despedir do menino. Rachel o seguiu.
- Filho...você sabe que o papai não fez isso, né?
O papai jurou por você que não foi ele que fez isso e não foi. – Beijou a testa
de George. – Eu te amo e sempre estarei com você...logo o papai vai estar aqui
cuidando de você, então, por favor cuida da sua mãe. – Lhe fez mais um carinho
no rosto. - O papai volta logo para irmos ao parque.
Quando ergueu o corpo, olhou nos olhos de Rachel.
Não via nenhuma dúvida. Só tristeza, raiva e preocupação. Sabia o quanto ela
ficava incontrolável nervosa. Precisava que Rachel mantivesse a calma. Por
George.
- Você está pálida novamente. Calma. Tudo vai dar
certo. – Ele teria que encontrar uma saída para aquela situação. – Descansa e cuida
do George... eu vou ficar bem. - Ele se aproxima, sorri e tenta lhe passar uma
tranquilidade que não sente. Lhe beija os lábios calmamente. Sente que ela está
gelada. O nervosismos a deixava assim. Sussurra então em seu ouvido: - Se cuida,
minha Afrodite.
Rachel ficou nervosa vendo a cena, muito nervosa.
Sentiu sua pressão subir. Não era só vê-lo preso novamente. Era saber que ele
era algemado por alguém tão querido e na sua presença e do filho, além de
‘parceiros’ de FBI. Saber que ele sofria a estava machucando também.
- Não! Não pode levar ele preso! – Ela gritou
perdendo o controle das emoções. Olhou para Peter, Jones, Sara e Diana e de
outros agentes presentes. – Vocês sabem que não foi ele. Sabem e não vão fazer
nada!
- Se acalme Rachel. – Diana disse. – Nesse momento
não dá para fazer nada. Se o Caffrey não tem ligação com o crime, terá que
provar isso.
A frieza com que Diana agia irritou
ainda mais Rachel, mas o ponto final foi ver Sara se aproximar de Neal algemado
e já com seu quadro nas mãos ir lhe falar.
- É mesmo impossível confiar em Neal
Caffrey. Por mais que a gente queira. Lá no hospital, diante do seu filho você
negou que estivesse com o quadro e me mandou fazer o meu trabalho. E era tudo
mentira, Caffrey! – Havia decepção em cada palavra dita por ela.
- Saia daqui Sara! Saia antes que eu
te retire na rua. – Rachel gritou mais furiosa do que nunca.
Diana se aproximou de Rachel
calmamente e de forma disfarçada lhe deu um aviso.
- Se acalme. Peter não fez nada
porque você não foi acusada, mas não se esqueça de que você também ‘mora’ aqui
e pode ser envolvida. Não faça Peter também te prender. Pense no seu filho. –
Disse a experiente agente. Peter observou e lhe agradeceu com um olhar.
Rachel tentou se acalmar, via suas
mãos tremerem. Não aceitava vê-lo sendo preso por uma vingança de Alex. E
também era sua culpa. Ela se vingou pela surra que tomou. Por que ela não se
vingou diretamente? Porque não veio encontrá-la? Não! Alex se vingou de Neal e
sabia que ia atingi-la assim. Rachel começou a sentir uma tontura. Era o nervosismo.
- Eu não posso simplesmente me
acalmar! Peter! Você sabe que isso não encaixa! Sabe! – Ela voltou a gritar.
Neal estava calado. Não acreditava
no que vivia.
- Tudo será investigado. – Foi a
resposta de Peter. – Levem ele. Agora.
- A gente se fala Rachel...liga para
o Mozz...e cuida bem do George. – Ele apenas foi saindo conforme os policiais
indicaram.
Vê-lo saindo assim era desesperador
demais. Rachel estava fora de si. Até mesmo Sara, que ainda observava a cena na
sala, estava surpresa com a reação de Rachel. Ou ela tinha certeza de que não
fora ele ou merecia um Oscar pela sofrimento que fingia.
- Não! Não! Não! – Ela continuava
tentando convencê-los. Mesmo vendo-o sair ela continuava buscando um argumento
que convencesse a todos. – Não! Ele não deixaria aqui...
Todo o turbilhão emocional pareceu
emergir na mesma hora. A tontura voltou e de repente ela não enxergou mais
nada. Tudo ficou negro e ela desabou no chão.
- Era só o que faltava. – Peter
correu para prestar socorro...e também para conferir se não se tratava de
fingimento. Não, ela estava gelada. Tinha realmente desmaiado. – Chamem um
paramédico.
Neal voltou, forçando os policiais
que, conhecendo-o, não fizeram muita força para detê-lo.
- Eu vou esperar, Peter. – Ele sabia
bem que dificilmente Peter permitiria isso. – Como quer que eu sai se ela não
está bem? E o George? Quem cuidará dele se chorar agora? Eu espero ela melhorar
e vou com os policiais. Tem minha palavra de que não vou fugir.
- Sua palavra não vale muito nesse
momento, Neal. Você vai agora! Será melhor se ela acordar e você já tiver
saído...foi a cena de você saindo algemado que a deixou assim...até parece que
ela nunca foi algemada. – Intimamente, no entanto, Peter reconhecia que foi
doloroso para ele também, mesmo já tendo efetuado tantas prisões. – Vou pedir
para Ell ficar aqui com ela e George. E Diana avisará Mozzie. - Era o que podia fazer. – Agora, policiais,
levem o suspeito.
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