Entardecia
quando Christian voltou para casa. A notícia da sua volta havia se espalhado
rapidamente e logo surgiram assuntos para resolver. Ao que parecia, a fazenda
ia bem. James, apesar de um homem bruto e sem nenhum traquejo social, parecia
ser um sócio ativo no local. Mesmo sendo médico do vilarejo, provou que
entendia de cachaça. Isso era ótimo, já que nem fazia ideia de como cuidar de
uma fazenda. Seus negócios eram de outros ramos e ele teria que se desdobrar
para cuidar de tudo dalí, ainda mais com os sérios problemas de comunicação.
Raul, o biólogo que trouxe para cuidar da plantação também estava animadíssimo.
O negócio prometia gerar muito dinheiro.
- Pena que você não está aqui para
aproveitar de tudo isso, mano. – Disse olhando para o campo semeado. – Mas ela
vai pagar. Eu te garanto que ela sofrerá, em dobro, tudo o que te fez passar.
Saiu em direção a casa sem ter
exatamente um plano a cumprir, mas tendo certeza de que não teriam uma primeira
noite normal na casa nova. Chegou cansado e mais sujo do que desejava. A vida
no campo era boa, mas a poeira o incomodava e deixava com saudade dos
escritórios onde podia usar seus ternos e gravatas. Agora elas teriam apenas
utilidades...diferenciadas.
Passou pela sala do casarão, subiu
as escadas e foi direto para o seu quarto. A cena que encontrou não agradou em
nada. Anastásia e Jéssica tiravam roupas de malas estendidas sobre a cama.
Algumas estavam em cabides. Vestidos, calças e blusas femininas estavam
misturadas às suas roupas.
- Que merda está acontecendo aqui? –
Disse ao entrar.
- Patrão! – Jéssica só faltava se
ajoelhar a sua frente. Garota esperta. – Tá precisando de alguma coisa? Quer
que eu arrume seu banho?
- Não! Eu quero é saber por que as
roupas de Anastásia estão aqui?
- Porque aqui é o nosso quarto. –
Respondeu Ana. – Onde mais nós iríamos arrumar?
Irritado, Christian pegou uma das
malas, jogou algumas das roupas lá dentro e fechou antes de sair do quarto.
- Venha! E, Jéssica, pega as outras
coisas de minha esposa e traga também. – Gritou deixando o quarto sendo seguido
pelas duas mulheres.
- Christian...o que deu em você?
Ele entrou num quarto no final do
corredor. Era quase todo branco, estranho, destoava do resto da casa. Anastásia
se sentia perdida olhando para seu marido e para a cena que ele fazia na frente
da petulante empregada. Enquanto se banhava e descansava sozinha durante a
ausência dele, pensou muito e chegou a conclusão que ele estava nervoso devido
a morte recente do irmão. Deve ter sido informado da morte alguns poucos dias
antes do casamento e não quis contar e cancelar tudo. Estava irritado, triste e
de luto. Ela estava decidida a lhe dar amor e apoio para superar o momento. Só
que toda sua calma ia embora com o show que ele aprontava no momento.
- Christian! Eu estou falando com
você! Será que pode responder?
- Estou trazendo suas coisas para o
quarto que você vai ocupar.
Era muito para ela suportar em um
dia só.
- Eu sou sua esposa. Nós ocupamos o
mesmo quarto. – Falou implorando a sua Deusa interior por mais paciência.
- Eu não me recordo de tê-la
convidado a dormir na minha cama. -
Disse ele.
- Eu não sabia que precisava de
convite. – Revidou ela.
- Convite não, cara esposa, ordem.
Na próxima vez, espere eu ordenar.
- A patroinha quer ajuda com as
roupas? Ou vai arrumar sozinha? – Jéssica se divertia ao assistir a cena.
Revoltada e sentindo-se humilhada,
Ana pega uma das malas e atira sobre a garota com toda a força que tem.
- Sumaaaa! Suma daqui sua puxa saco!
– Grita em descontrole.
- Anastásia pare! Jéssica saia
daqui. – Ele espera a garota sair. -
Nunca mais faça isso. Jéssica é uma empregada de confiança da casa há
muitos anos. Você não vai chegar aqui criando briga.
- EU?!?!? Eu vou criar briga? Não,
Grey! Você! Você só criou briga desde que abriu os olhos essa manhã. Basta!
- Não me provoque, Anastásia, não me
provoque. Ou você pode se arrepender.
Sem se deixar intimidar Ana o olha
bem dentro dos olhos.
- E você, não me ameace ou pode
ficar sem esposa bem rapidinho. Não me tire pra idiota, Grey. Eu não sou!
Esse era um trunfo que Anastásia
sempre teria. Queria sim castigá-la, muito, mas não podia deixá-la fugir e
também não teria como evitar que, em algum momento, algum parente viesse à
fazenda. Sua vontade era tirar o cinto e lhe dar uma lição agora mesmo, mas ela
sairia correndo em busca de socorro. “Ou devolveria cada golpe...selvagem como
é”, sua consciência o lembrou. Não podia arriscar.
- Você é minha mulher, é a dona
dessa casa. Não quero que vá embora, Ana. – Disse aparentando muita calma. –
Mas gosto de dormir sozinho. Por isso quero quer tenhamos quartos separados.
- Isso não tem cabimento.
- Será assim. Está decidido. Não
aceito que me contrariem, Ana. – Sabia que ela era teimosa...teria que corrigir
isso no quarto de jogos. Por agora apitou por uma resposta amena. Parte da
verdade de sua vida. – Eu tenho meus traumas e meus problemas Ana, as vezes
tenho pesadelos, gosto de estar sozinho a noite.
- Eu não me importo. Quero cuidar de
você.
- Não!
Ainda revoltada, mas entendendo que
ele tinha suas razões para fazer o que fez, Ana mudou de assunto.
- Porque não disse nada quando a
Emmett? Questionou e viu os olhos dele voltarem a pegar fogo.
- Quem te falou dele?
- Jéssica me disse que ele morreu.
- Você realmente não sabia? – Ele a
encarava. – Tem certeza que você nunca foram mais...próximos.
- Tenho! E pare de me olhar assim.
Só pode tá louco...o que isso? Crise pós núpcias? – Mais uma vez ela optou pelo
carinho. – Vem aqui...não quero brigar, quero te beijar, te amar. Ser feliz ao
seu lado.
“Tratou de tentar me seduzir para
desviar o assunto”...Alertado pela própria consciência Christian a afastou.
- Arrume suas coisas, nós estamos
cansados da viajem, vamos nos ver depois. Eu quero tomar e banho e repousar
antes do jantar.
- Mas...
- Sem mas, Ana. Aprenda a não
contestar o que digo.
Ela pensou em responder que aquilo
era impossível, mas ficou calada apenas para não recomeçarem a brigar.
- Nos vemos na hora da janta.
Mesmo indignada, pensou que talvez
fosse mais fácil lidar com Grey sem cobranças. Uma hora ele ia ceder. Arrumou
seu novo quarto e se arrumou para o jantar. Seria uma refeição a dois, bem
íntima e ambos terminariam na cama. Seria tão maravilhoso quanto a lua de mel e
ela poderia fazê-lo melhorar o humor.
Desceu e ficou na cozinha auxiliando
observando Esme preparar a janta. Foram conversando e logo percebeu que Emmett
e sua morte eram um assunto proibido. Estranho. Quando estava quase tudo
pronto, um peão veio procurando pelo patrão e Esme chamou Taylor para cuidar do
assunto.
- O que houve? – Perguntou o braço
direito de Christian ao homem.
- Tem uma mulher, loura, com uma
criança aí na entrada. Tá pedindo pra ficar aqui.
- Aqui? Não. Não estamos precisando
de mais ninguém e o patrão não gosta e colocar desconhecidos pra dentro da
casa. – Respondeu Taylor.
- Sim, senhor Taylor.
- Não, espere. – Ana se intrometeu.
– A fazenda é longe da cidade e já é noite. Não pode colocar ela e uma criança
na rua. Mande que entre. Ela come aqui, passa a noite e, se realmente não tiver
nenhum emprego pra ela, amanhã a levamos até a cidade.
- Mas o patrão...
- A patroa da casa deu uma ordem,
Taylor. Eu seu que você é de total confiança de meu marido e confio que também
poderei contar com você. – Se impôs, Ana.
- Como desejar, senhora Grey. –
Respondeu o homem antes de se voltar ao subordinado. – Você ouviu a patroa.
Faça o que ela mandou.
Logo depois pode conversar com a tal
mulher. Era loira, alta e linda. Se chamava Kate e, obviamente, não era uma
empregada doméstica qualquer. Tinha estudo e fugia de algo. A menina tinha
menos de 3 anos, praticamente um bebê, linda, chamada Bianca.
- Posso saber o que você procura
aqui? Um lugar tão afastado. – Perguntou enquanto a moça dava uma sopinha a
neném.
- Quero trabalho. Posso ajudar na
casa, limpar, cozinhar. Ela quase nunca chora, não vai atrapalhar. – Disse
quase implorando.
- Kate, você não é doméstica, nem é
dessa região, não tem o sotaque das pessoas daqui. Acho que você entende que
não posso colocar dentro da minha casa uma desconhecida. Quem me garante que
essa menina é realmente sua?
- Sim, é minha filha! Tem de
acreditar. – A loira exuberante disse. – Sou de São Paulo, jornalista formada.
Mas fugi com Bianca.
- Fugiu de quem?
- Do pai dela.
- Seu marido? - Já estava decidida a ajudar a moça. Gostou
dela.
- Ele era meu noivo, não chegamos a
casar. Era muito ciumento. Achava que eu o traía, quando engravidei ficou pior,
começou a me agredir mais e, quando eu tive minha bebê eu fugi.
- Por que veio para o Mato Grosso?
- Fui pro sul, mas tive medo dele me
encontrar então viajei pra cá. Na cidade me disseram que essa fazenda tava
sendo reconstruída pelo novo dono então eu vim. Aqui ele nunca vai nos achar.
- É...a julgar pela viagem que eu
fiz pra chegar aqui, nunca mesmo. – Que história louca. – Você tem estudo, por
que não o denunciou? Sabe que tem direitos!
- Tive medo e...no início eu gostava
dele.. Depois, quando vai se repetindo...a gente se acostuma a apanhar. Sabe?
Não, Ana não sabia. Até Grey vir com
aquele sexo mais violento, nunca tinha levado um tapa na vida. E, mesmo assim,
era diferente. Era prazeroso, era autorizado. Kate estava fugindo de um homem
violento ao ponto de colocar a vida dela e da filha em perigo. Não, não poderia
comparar homens como esse ao seu marido.
- Esme, por favor, tem algum quarto
onde Kate e Bianca possam ficar?
- Tem...a ala dos funcionários é
muito boa e foi reformada agora. – Ela balançou a cabeça. – mas acho melhor falar
com o senhor Grey antes.
Isso já estava enchendo o saco!
- Leve as duas para o quarto e as
ajude a se instalar. Eu falo ao meu marido que acabo de fazer essa contratação.
A casa ganhou uma nova arrumadeira. – Era bom ter uma aliada ali. Aquela Jéssica
não era confiável. – Será bom ter mais alguém da minha terra por aqui. Também
sou de São Paulo.
Christian não gostou muito da ideia,
mas aparentemente estava esgotado demais para brigar.
- Como assim você contrata alguém
sem me falar? Coloca uma estranha na casa?
- Para mim todos aqui são estranhos,
Grey. Ela precisava do emprego, tem uma filha, não pude deixá-la na rua.
Ele a encarou, mas cedeu.
- Tudo bem. Mas é mais uma que vai
pra sua conta...que já está grande.
- Conta? – Ela estranhou.
- Sim, conta. Digamos que a cada
desobediência, sua dívida aumenta comigo.
- E eu irei pagar essa conta com os
seus joguinhos de submissão, imagino?
- Sim. – Respondeu seco.
- Até que pode ser divertido. – No
fundo ela achava sensual, não tinha medo. Ele não seria louco de machucá-la de
verdade. – Pena que, em quartos separados fique difícil fazer qualquer coisa.
- Oraaaa querida Anastásia, não se
preocupe. Eu preparei um cômodo todo especial para nossos jogos. – Ele se
levantou da mesa. – Venha ver.
Curiosa, ela obedeceu, coisa rara de
fazer. Ele parou em frente a misteriosa porta trancada. Tirou uma chave do
bolso, destrancou, mas não girou a maçaneta.
- Vá! – Ordenou.
Ela levou um minuto para tomar
coragem. No fim, a curiosidade venceu o medo. Entrou...e sentiu a pernas
tremerem.
Amarras no teto, objetos que
lembravam salas de tortura, um grande X na parede, algemas, cordas, chicotes,
varas, muito couro e uma imensa cama.
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