O sexo fora fantástico, mas ambos
sabiam que não derrubava nenhuma das barreiras ali presentes. Barreiras essas
que um desconhecia a do outro. Ele achava que ela estava sendo falsa, fria e
calculista como sempre, agindo de modo a seduzi-lo para ir embora assim que se
cansar. Ela tentava entender o que o levou a se tornar um sádico e até que
ponto isso explica seu comportamento estranho. Querer lhe dar palmadas naquele
quarto estranho? Ok, podia entender como algo sensual, uma fantasia. Mas ser
grosso a todo o momento, cheio de mistérios e...isso sim era inaceitável.
Após o gozo ficaram por alguns
minutos descansando nos braços um do outro e curtindo uma paz que não duraria
muito. Logo ele se levantou e ela ficou observando-o ajeitar as roupas em
silêncio.
- Não vai me falar nada? – Ana
questionou?
- O que você quer ouvir? Que foi
bom? Que você é tão linda e gostosa que eu poderia ficar aqui com você até não
ter mais forças para respirar? Tudo isso você já sabe. Tenho certeza que um dos
seus amantes já disse.
- Certamente já ouvi coisas do tipo.
– Não iria se humilhar negando nada. – Mas é sempre bom, ainda mais se vindo do
homem com quem escolhi casar.
- ‘Você é linda e gostosa. Eu já
estou louco pra te foder novamente!’ Está ok assim? – Disse ele ironicamente.
- Impressionante como você consegue
ser desagradável, Grey, Você esqueceu seus bons hábitos no altar, acho.
- Chega dessa bobagem, Anastásia.
Nós dois queríamos foder, fizemos e acabou. Pronto! Sem drama, sem
sentimentalismo. Agora, por favor, levante, se vista e vá para o seu quarto.
Ela o olhava com mágoa...mas também
com curiosidade. Quem era esse homem? Onde estava o jovem carismático por quem
se apaixonou instantaneamente? Para evitar brigas fez o que ele ordenou.
- Vai ser sempre assim? Você me
bate, me come e manda que eu vá dormir sozinha naquele quarto sem vida?
- Já te expliquei que não durmo com
ninguém e você pode decorar o quarto como preferir.
- Sim, claro. – Mostraria que ironia
não era exclusividade dele. – Eu vou agora mesmo butique finérrima que vende
móveis e decoração exclusiva...afinal é bem próximo. É só eu abrir um espaço na
minha agenda na minha vida movimentadíssima.
- É isso que está te incomodando?
Não ter seus mimos e luxos? – Questionou ele com os braços cruzados.
- Se quer mesmo saber, tem muita
coisa me incomodando! A começar por não ter um marido! Além disso...não ter o
que fazer durante boa parte do dia também.
Ele não respondeu e saiu indo direto
para seu quarto. Estava confuso. A mulher que se entregava a ele tão
livremente, que parecia tão aberta a coisas estranhas e que lhe dava mais prazer
do que qualquer outra conseguiu...poderia estar de alguma forma enganado?
- Não! Não se engane Grey! Tem que
ser ela...o mesmo charme e encanto que joga em você ela atira para todos. Foi
assim que fisgou Emmett e o enlouqueceu, levando-o a morte. – Disse para si
mesmo embaixo do chuveiro. Queria tirar o cheiro dela de seu corpo.
O pior, pensava ele, é que mesmo
após realizar a fantasia de espancá-la nas nádegas e foder com ela no ritmo que
desejava, pouco tempo depois já a queria. Pela primeira vez se arrependia de
mandar uma mulher se retirar aos seus aposentos. Se estivesse deitada em sua
cama, esperando por ele, poderiam alongar a noite e ele seguiria mapeando suas
curvas. Nunca quis tamanha intimidade, ela acabaria tocando-o onde não gostava,
vendo cicatrizes que ele não gostava de explicar como foram feitas. Só Elena
sabia de tudo.
Mas o que faria agora? Dormiria?
Como? Ia até ela e a seduziria no quarto que ela considerava sem vida? Não! Ela
poderia ser experiente em sexo, mas não em sadomasoquismo e não poderia fazer
nada além de baunilha com ela.
- Será que ela está bem? – falou
perdido em pensamentos.
Dizendo que era apenas uma questão
de justiça já que, mesmo sendo uma fera teimosa ela havia se submetido a ele,
pegou um tubo de creme de arnica e foi até o quarto dela, entrando em seguida. Ela
estava em pé, nua, na frente do espelho olhando as marcas vermelhas que deixava
seu bumbum ainda mais lindo. Tinha lágrimas nos olhos.
- O que você quer? – Perguntou.
- Deite na cama.
- Que eu saiba esse quarto é meu.
Saia! - Ela se afastou, parecia
temerosa.
- Não vou te bater mais. – Mostrou o
frasco de remédio. – Não sou um inconsequente, Ana, e sei que você não está
habituada com as sessões de spanking. Só quero te dar esse remédio.
- Deixe na mesa, eu mesma aplico.
- Deite na cama, Anastásia! – Por
que tinha que ser tão teimosa?
Mas qualquer teimosia era esquecida
vendo a linda curva de seu traseiro, agora salpicado de vermelho. Não estava
muito marcado, apenas rosado. Não devia estar doendo muito, mas, mesmo assim,
espalhou carinhosamente. Ela se arrepiou ao toque e, muito lentamente, foi
relaxando com aquilo que, na prática, era o primeiro ato de carinho de
Christian que não visava nada. Não iam transar. Ele veio ali exclusivamente
para lhe dar conforto.
- Porque estava chorando? – Ele
perguntou quando acabou o serviço.
Silêncio.
- Fale Ana. Você não estava chorando
quando eu a mandei ir para o seu quarto. Você não chorou enquanto eu te
disciplinava. Diga o motivo.
- Estou me sentindo usada e não
entendo porque você me trata tão mal.
- Você não é esse anjo que tenta
aparentar, Anastásia. Por isso não se faça de inocente.
- Você age como se eu fosse um
demônio.
- Eu descobri que você não é uma
mulher confiável e não vou deixá-la me ludibriar como fez aos seus outros
homens...comigo seu feitiço não terá sucesso.
- O que eu fiz a você? Eu me
casei...quero te fazer feliz.
- Então me obedeça...é só o que pode
fazer.
Ele saiu novamente sabendo que ela voltaria
a chorar. Pensava que não deveria ter dito nada, apenas ter entrado no quarto e
exigido o que era seu de direito...mas aqueles olhos inchados de choro o haviam
derrubado ainda mais. A cada dia ela conseguia colocar mais dúvidas onde antes
ele tinha certeza.
Após uma madrugada onde ambos não
dormiram bem, na mesa do café da manhã havia uma tensão no ar. Uma tensão que
poderia facilmente ser resolvida na cama, mas a que nenhum dos dois estava
disposto a se entregar. Ele percebeu seu traje entranho e questionou a razão.
- Vou dançar.
- O que?
- Dançar. Sempre fiz dança. Você não
exigiu naquele seu contrato que eu me exercite? Então? A dança é o meu modo de
fazer exercícios. E você? Vai para o campo?
- Primeiro vou a cidade.
- Eu também gostaria de...
- Não! – Foi categórico. - No final
de semana, se você se comportar, eu a levo.
Sentindo-se como uma criança posta
de castigo, Ana seguiu em direção a sala de ginástica onde pretendia dançar.
Serviu para extravasar toda a energia acumulada. Ensaiou dança de rua e samba
durante toda a manhã antes de tomar um longo banho. Depois foi ficar com Kate e
sua linda filha. A nova amiga comentou algo que a envergonhou.
- Eu vejo como ele é bruto com a
senhora.
- Não precisa me chamar de senhora,
Kate. Somos amigas. Sim, meu marido está numa fase complicada...eu espero que
seja uma fase apenas.
- Eles sempre dizem isso. E nós
acabamos sendo machucadas por eles. Tenho medo pelo futuro de minha Bianca.
Tomara que ela também não precise suportar um homem violento. – Disse Kate, que
demonstrava muita mágoa pelo que passou quando morou com a pai de sua filha.
- Ela será uma moça esperta, nós
vamos lhe possibilitar estudar e ter o que desejar da vida.
- Eu estudei e ainda assim fui
espancada por meu ex. Você vem de boa família, Ana, e aqui está, se submetendo
a esse homem. Todos ouvimos você gritar, ontem. – Ela percebeu que falou
demais. – Desculpe. Não devo me intrometer.
Era tão
constrangedor.
- Escute Kate...por algum motivo eu
já gosto muito de você e confio como se fosse minha amiga há muito tempo. Mas
mesmo assim não posso dividir detalhes sobre minha relação com meu marido. Só
te garanto que não é o mesmo que você viveu. É muito diferente. Nós brigamos
sim, eu gritei, mas ele jamais esteve descontrolado me espancando. Se um dia
ele o fizer, eu me separo na hora.
Enquanto elas conversavam, Christian
estava na cidade fazendo algo que jamais pensou. Pedindo conselhos a um padre.
O padre Henrique, o mesmo que tinha lhe dado a triste notícia do suicídio do
irmão e que sabia o que ele fora fazer em São Paulo, o encontrou de cabeça
baixa e preocupação nos olhos.
- Ouvi falar de que voltou casado. –
Comentou.
- Sim. Eu a encontrei...e a trouxe.
- Era isso que eu temia, Christian.
Por que? Não percebe que só Deus pode dar ou tirar? Castigar ou não?
- Eu não sou um homem religioso,
padre. Eu mesmo castigarei Anastásia, ao meu modo. – Mas de algum modo já não
estava tão seguro do que pretendia.
- Não é certo. – Insistiu o padre. –
Não lhe trará felicidade.
- O que ela fez não foi certo.
- Um erro não justifica o outro. –
Logo o Padre percebeu que falava em vão. O ódio havia tomado conta do coração
daquele jovem. – Ela confessou?
- Não. E isso me irrita ainda mais.
Se fosse honrada o bastante para assumir o que fez e pedir
perdão...talvez...talvez eu pudesse deixá-la ir.
- Como tem tanta certeza de que é
ela? – Talvez a dúvida o fizesse parar com essa vingança que machucaria os
dois.
- Até a família dela sabe do
aborto...a prima me disse o quão volúvel era e eu a observei...se atira para
vários homens ao mesmo tempo, brinca com eles. É fútil, não teve pais que lhe
dessem educação, foi mimada ao estremo pelo tio e...é linda e deslumbrante o
bastante para enlouquecer qualquer homem.
Para o padre não havia mais dúvida.
- Você sente algo por ela, meu
jovem. Algo bom. – Disse em tom de afirmação.
Christian ia responder quando outro
homem, moreno e forte, entrou na sacristia. Estranho, não o conhecia e ele o
encarava fortemente.
- Bom dia Jacob. – O
padre disse estendendo a mão. – Conheça o Senhor Grey. Jacob é tem uma fazenda
criadora de cavalos de raça, além de empresas de logística.
- Muito prazer. – Disse Christian
estendendo a mão. O homem aceitou o cumprimento com frieza. – Cria cavalos?
Estou interessado em comprar um.
- Acabei de fechar uma grande
venda...só estou com um e... – Dizia Jacob quando foi interrompido.
- Ótimo! É um mesmo que preciso.
Pode mandá-lo para minhas terras. Minha mulher sempre montou e...será uma boa
companhia.
- Sinto muito. Mas como estava
explicando...esse animal não é muito dócil. Ainda mais sendo para se tornar
montaria de uma dama...não é o animal certo.
- Não se preocupe...minha mulher
monta melhor que eu e você juntos. Saberá lidar com ele. – Ele tinha segurança
disso. – Bom dia a vocês. Tenho uma colheita para liderar na fazenda.
Christian não percebeu, mas deixou
os dois homens bem descontentes. A falta de preocupação com a esposa junto com
alguns comentários de que o ‘patrão’ era bruto com a esposa deixou Jacob com o
pé atrás.
- Acho que farei uma visita a
Senhora Grey, Jacob. – Disse o padre.
- Acho muito bom. Também irei levar
o cavalo pessoalmente....alertá-la do perigo. – Ele tinha um tom amargo. – Já
que o marido parece não se importar.
- Eles têm problemas.
- Mas Padre! Acabaram de se casar!
Nunca vou entender alguns homens que não cuidam das suas mulheres.
Jacob havia perdido a esposa quando
eram ainda um casal muito jovem, à espera do primeiro filho. Era um homem bom,
honesto e de família rica. Tinha muitas candidatas a segunda esposa, mas seu
coração ainda era da que ele enterrou anos antes.
- Eu tentarei ajudá-los, meu filho.
– Disse. – Não se preocupe.
- Eu sei Padre.
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