- Vai ficar plantada aí ou vai
desembarcar? Nós ainda temos três horas de carro, Anastásia! – Christian
gritou.
Eles tinham voado de São Paulo para
Cuiabá e feito outra parte do trajeto de barco. Agora ele informava que ainda
teriam mais três horas de carro.
- Meu Deus! Isso fica no Brasil??? –
Ana falou mais para si mesma do que para o marido.
- Se a princesinha está achando
longe demais, pode voltar daqui para a casa dos titios. – Grey continuava
demonstrando nervosismo.
Desde que acordaram da noite de
núpcias, maravilhosa, Christian estava estranho, bruto, grosseiro e mal
humorado. Ana simplesmente não entendia a razão disso. A noite tinha sido
ótima, o sexo fantástico. Foi como um encontro de almas. As peles se tocavam,
mas não era só pele, tinha uma paixão tão forte, tão inimaginável que não podia
ser efêmera. Mas foi o dia clarear para uma nuvem negra pairar sobre eles e o
humor de Grey parecia não melhorar. A primeira vez que o viu ao acordar ele
estava falando no telefone e nem lhe deu bom dia. Imaginou que ele estava
resolvendo algum problema ou recendo alguma notícia desagradável. Resolveu ter
paciência e relevar.
Mas o dia foi passando e ele seguia
sendo desagradável. Sua paciência tinha acabado.
- Basta Grey! – Gritou no mesmo tom
que o marido. E viu a raiva ferver em seus olhos como resposta. – Não adianta
olhar de cara feia. Sou sua mulher e não gosto de ser maltratada. É bom que
você se lembre disso.
Em silêncio ele se aproximou dela
numa calma fingida. No pouco tempo de namoro e noivado Ana nunca o tinha visto
com olhar tão furioso e amedrontador.
- Nunca mais fale nesse tom comigo,
Anastásia. – Disse. – Ou eu posso realmente te maltratar.
Como tinha certeza de que havia algo
de errado com ele, resolveu não contestar. Quando chegassem em casa, na
privacidade do quarto e sem empregados por perto, iria perguntar o que se
passava.
Sacolejando no carro, pensava que
era impossível aquele ser o caminha mais fácil até a fazenda. Como escoavam a
produção de cachaça? Como as pessoas viviam assim? Mas para evitar nova briga,
se calou. Notou quando passaram por uma cidadezinha. A igreja, os correios e o
posto de polícia ficavam enfrente a uma praça. Era o desenho de uma típica
cidade interiorana.
- Vamos descer? Assim eu estico as
pernas e conheço a cidade. – Perguntou.
- Não. – A resposta dele foi seca.
- Mas...
- Não. – Ele sequer a olhava nos
olhos. – Anastásia, quando irá aprender a me obedecer? Se eu disse não, você
não deve questionar.
- Eu não obedeço ordens suas.
- Não é o que dizem os papéis que
você assinou. – Com isso ele encerra o assunto. – E pare de morder os lábios
como se fosse uma garotinha mimada. É irritante e eu fico com vontade de
morder...só que de verdade, até machucar.
Sem querer assumir, mas já um pouco preocupada com as escolhas que fez,
Ana seguiu muda e entristecida até a fazenda. Apesar de tudo, tinha de
reconhecer que o lugar era um verdadeiro paraíso. Com arquitetura histórica,
muito verde, área de lazer com piscina e sala de ginástica, e um riacho que
passava relativamente próximo, o lugar reunia a beleza típica do interior e o
conforto da cidade. Era fantástico e Ana se sentiu feliz pela primeira vez
desde que acordou.
Tão feliz e
satisfeita que, num arroubo típico, pulou sobre o marido beijando-o.
- O que está
fazendo, Anastásia? – Disse ele depois do longo beijo.
- Te agradecendo.
- Agradecendo?
Pelo que? – Propositalmente ele havia sido grosseiro com ela o dia todo. Agora
era parecia feliz. Seria possível ou era mais um golpe dessa feiticeira.
- Por me trazer
para viver nesse paraíso. É lindo Grey. E eu sei que nós seremos felizes aqui.
Ele a encarou, pasmo. Não esperava por isso. Não
queria tê-la beijado novamente. E, o pior, estava fervendo de vontade de
levá-la para ‘batizar’ cada um dos cômodos daquele mausoléu isolado onde seu
irmão vivia e morreu. Odiava essa fazenda e queria Anastásia infeliz ali. Por
isso mandou retirar toda e qualquer ligação com a cidade. Não tinha mais
nenhuma linha telefônica na fazenda e os celulares não tinham sinal ali. Para
falar com a família, ela precisaria ir a cidade (e ele também). Fez tudo isso
para garantir a infelicidade dela. Agora ela saltitava apenas por ver uma casa
e alguns cavalos. INFERNO!
- Deixe eu te apresentar os funcionários
da casa. Esse é o Taylor, meu braço
direito. –Informou.
- Seja bem vinda, senhora Grey. –
Disse o homem bem arrumado e sério.
- Esse é James. Ele não é
funcionário, na verdade meu irmão firmou com ele uma parceria aqui na fazenda.
Ele me ajuda com algumas coisas, mas é médico na cidade.
- Boa tarde, Senhora. – Disse o
homem com cara de poucos amigos.
- A esposa dele ajudou a preparar a
casa para você. Ela se chama Gail...você se darão bem, acho. E essa moça é
Jéssica. Ela auxilia Esme, nossa cozinheira, e ajuda na arrumação da casa. O
marido de Esme, Carlisle, é o administrador do lugar.
- Que bom que está de volta, patrão.
– Jéssica não cumprimentou Ana.
- Os outro você vai conhecer depois.
– Ele olhou em volta. – Entre, eu vou checar como está tudo e depois nos
falamos.
Ele saiu sem falar mais nada. Fugiu
dela....tentava desesperadamente se desvencilhar do feitiço que ela tinha sobre ele. Iria cuidar
dos negócios e deixar que ela se instalasse sozinha. Se entrasse com ela, seus
planos iriam por água abaixo. Ou levaria Anastásia para cama e transariam até
ele matar todo aquele desejo que o estava deixando desesperado ou, a segunda
alternativa, apresentaria a ela o quarto de jogos que montou ali e bateria nela
até cansar, até descarregar naquela pele branca e perfeita toda a sua raiva.
Mas não podia. Sabia disso. Podia ser um dominador, mas não era imbecil. Queria
castigá-la, não afugentá-la. Melhor ir trabalhar.
___________#____________
De modo geral, todos na casa foram
simpáticos. Respeitavam Christian e pareciam nutrir carinho por ele. Menos
Jéssica...essa parecia nutrir mais que carinho e não ter respeito algum pela
nova dona da casa.
- Eu corto suas asas bem rapidinho.
– Disse ela olhando Grey se afastar com Taylor.
- Disse algo patroa? – Esme
perguntou.
- Não, nada não. Estou apenas
cansada. Por favor, me mostre onde fica o meu quarto e de meu marido.
- Claro, senhora.
- Esme, por favor, me chame de Ana.
Somente Ana.
A simpática senhora apenas sorriu.
Entrar no quarto foi uma surpresa.
Não era o que espera. O lugar não combinava com a fazenda. E era muito parecido
com o do hotel onde Grey se hospedava. Não parecia o lar de ninguém. Era um
ambiente frio. Combinava com ele, era contraditório como Christian. Deixou tudo
sobre a cama e pediu que Jéssica a acompanhasse em um tour pela casa.
- Aaaa sim, mas é que eu tenho muita
coisa pra fazer agora e...
- Agora eu, sua PATROA está dizendo
que quer conhecer a casa e você irá me mostrar os cômodos.
- Sim senhora. – Disse ela a
contragosto.
- Olhe Jéssica...eu costumo tratar a
todos bem e acho bonito sua fidelidade ao Christian, mas eu sou a esposa dele e
dona dessa casa. Por isso acho bom você me respeitar.
A jovem não respondeu. Estava claro
que a convivência não seria fácil.
Cozinha, salas de TV e de jantar,
escritório, dois banheiros e a área de empregados dominavam a parte de baixo da
casa. O segundo piso tinha a academia, biblioteca, sala do piano, o quarto dela
e de Grey e mais três quartos de hóspedes, cada um com seu banheiro privativo.
- O que há nesse quarto? – Perguntou
Ana ao tentar abrir uma porta trancada.
- Não sei. Só o patrão sabe. Era um
quarto antes, mas ele mandou reformar e se trancou aí um dia todo. Ninguém sabe
o que tem...mas deve ser algo que ele gosta muito. A senhora...que é a
esposa... devia saber.
Sem conseguir entender e com medo de
tentar descobrir, Ana deixou isso passar. Tinha que falar com Grey. Não gostava
de ser surpreendida na própria casa. Lembrou de outra questão.
- E o irmão de meu marido? Pensei
que ele vivia nessa casa. Onde fica o quarto dele?
- Do que a senhora está falando? –
Jéssica empalideceu.
- Estou falando de Emmett, o irmão
mais velho de meu marido. Ele não vive aqui?
- O patrão Emmett vivia sim. Mas ele
está morto.
Ana sentiu as pernas fraquejarem.
Morto? Como morto? E ela sem saber disso.
- Faz pouco tempo? – Perguntou.
- Sim, pouco tempo. – A garota
estava estranha. – Eu já lhe mostrei tudo...será que posso ir fazer meu
trabalho agora.
- Pode. Eu vou tomar um banho e
descansar antes de desfazer as malas.
E foi o que fez. Tinha muito o que
pensar antes de enfrentar Grey.
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