Era o quinto dia usando o maldito
cinto. Ele não havia cumprido a promessa de retirar antes. Isso muito
provavelmente era culpa de Jacob. Ele aparecia na fazenda muito seguidamente
para dizer ‘oi’ ou trazer algum agrado. Nunca tentou nada ou foi desagradável,
mas estava sempre presente, despertando a ira e o ciúme de Christian.
Não tiveram grandes brigas nos
últimos dias. Grey passava muito tempo fora de casa e ela pouco conseguia
conversar com ele. A não ser logo cedo pela manhã. Hora em que ele vinha e,
constrangedoramente, abria o cinto. Ela usava o banheiro e tomava banho, antes
de voltar a restrição imposta por ele.
- Está sentindo algo de errado? Está
tudo bem? – Ele sempre perguntava.
- Se eu falar que não você abre essa
coisa?
- Eu vou olhar, Ana. Já que
confiança é algo que não existe entre nós.
- Você acha que eu te enganaria,
Grey? Pra que? Se eu quisesse, exigiria a chave e acabava com essa palhaçada!
Só fico porque, apesar de tudo, ainda te amo e...você curte essas coisas.
Aproveitando-se da vulnerabilidade
que ela mostrava naquele momento, Christian deitou-se na cama levando-a junto
beijou-a como sempre desejava, mas nunca fazia. Apalpou-a por todo o corpo até
alcançar a região temporariamente liberta do cinto. Colocou dois dedos nela e
sentiu-a apertada e molhada. Queria continuar, mas preferiu castigá-la...mesmo
que isso também representasse deixá-lo dolorido pelo resto do dia.
- Não seja tão oferecida, Ana. Assim
posso achar que realmente precisa do cinto para conseguir ficar sem sexo. –
Abriu-lhe as pernas de forma nada conservadora para olhar se havia algum
machucado ou sinal de que o cinto a estava fazendo mal. – Está avermelhado....mas
nada que um talquinho não resolva. Minha menininha vai se comportar hoje?
- Depende...se não apagar meu fogo...posso
procurar outro. Querido esposo. – Era claramente apenas uma provocação. Estava
há dias sem sexo e agora ele ainda a provocava daquela forma antes de
aprisioná-la.
Ana
sentia-se como um bebê tendo sua fralda trocada. Ele parecia se divertir com a
situação. Apertou bastante o couro rente a sua pele. Doeu, mas não iria
reclamar. Não ia se fazer de frágil para ganhar alguma migalha de Christian.
Não!
-
Vamos ver se agora você consegue procurar outro, Anastásia! – Caminhou vermelho
de raiva até a porta. – Eu não quero aquele Jacob intrometido na nossa casa
novamente! Ele não deve vir aqui. E também não quero que você saia.
Ana
achou que não valia a pena iniciar outra briga apenas para dizer pra ele que
não iria impedir ninguém de visitá-la e, muito menos, ficar sentada na sala
tricotando enquanto ele não voltava. Ele que fosse trabalhar que ela logo
encontraria uma coisa legal para passar o dia. Talvez pegasse seu cavalo e
fosse explorar melhor a região.
-
Nossa... dessa vez ele caprichou no aperto. – Falou vestindo uma calça jeans e
uma blusa leve. Afinal seria um dia quente.
-
Falou comigo, Ana? – Kate apareceu na porta.
-
Não Kate...falei sozinha mesmo. Essa terra deve estar me deixando louca. Já que
meu celular não funciona, comecei a falar sozinha. – Elas riram. – Como está a
Bia?
-
Bem...na verdade ela sente falta do movimento da cidade grande. De ter amigos.
De interagir. E quando fomos pro sul ela frequentava uma escolinha maternal.
Aqui só irá para escola quando ficar mais velha.
-
Eu entendo, Kate, isso é ruim. Na verdade acho que a sua vida não é aqui. – Não
quis ser desagradável. - Quero você aqui comigo. Mas esse lugar não é para
você.
-
E é para você, Ana?
Por
essa ela não esperava. Anastásia não podia dizer que amava aquela fazenda. Por
vezes nem se sentia a dona do lugar. Lhe era estranho não ter a companhia de
dança, não estar perto da família ou dos amigos, não ter contato com as pessoas
queridas a estava incomodando mais que qualquer cinto de castidade.
-
Não sei, Kate. Aqui pode não ser o meu lar...mas o Grey é o meu marido. E eu o
amo...então sim, eu acho que é o meu lugar no mundo. Mas eu estou aqui por que
desejo e não para me esconder.
-
Sim, eu sei. Ainda bem que vim parar aqui, Ana. Você me ajuda muito. Se fosse
embora, não sei o que faria.
-
Se um dia eu deixar esse lugar, Kate, eu levo você e Bia comigo.
___________#__________
Depois
de cavalgar pelos arredores da casa, Ana veio pra casa almoçar. Sabia que
Christian comeria com os peões e não se preocupou com horário. Quando chegou
recebeu um debochado recado de Jéssica.
-
O patrão procurou pela esposa...e ela não estava. – Disse a petulante garota.
-
Não me diga! Vai ver você não procurou ela bem. – Respondeu. – Ele deixou algum
recado?
-
Disse que virá a tarde e quer encontrá-la aqui. Eu se fosse você não saía mais.
Essa
ela não podia deixar passar.
-
Essa é exatamente a questão, Jéssica. Você não é eu e você, apensar de desejar
muito, não é a patroa dessa casa. Você é uma garotinha que fica se oferecendo para
o meu marido...apenas isso.
-
Você nem o quer...nem dá atenção pra ele. Se eu fosse mulher dele ficaria em
casa esperando para almoçar junto, mas você sai.
-
Você não é! Eu sou a esposa de Christian. E eu sei bem que está louca para eu
sair, vai correndo contar pra ele e ficará imensamente feliz se nós brigarmos.
Pois pode comemorar...eu vou sair para nadar assim que almoçar. Passe bem!
____________#_________
Cumprindo
exatamente o que havia dito, Ana almoçou sozinha e depois de urinar e fazer a
demorada higiene que precisava repetir sempre que usava o banheiro estando com o
cinto, saiu com seu cavalo. Ele realmente não tinha nada de manso, mas
costumava obedecer sem refugar muito. Ainda não eram amigos...mas já estavam se
relacionando bem.
-
Jacob exagerou. Você é um cavalinho lindo e dedicado...só não obedece qualquer
ordem. Tem gênio forte. Gosto de você!
Cavalgar
usando o cinto apertado era bem desconfortável, mas suportável. Era um preço
válido para relaxar nas calmas e lindas águas da cascata. A primeira coisa que
fez ao chegar foi tirar as botas e molhar os pés encostava o corpo nas pedras.
O barulho da água e a brisa refrescante eram deliciosos. Parecia o paraíso.
Quase
1h30min depois, estava de olhos fechados quando sentiu água sendo espirrada em
seu rosto.
-
O que quer aqui? – Nem precisou abrir os olhos para ver quem era.
-
Não gosto quando você sai...muito menos quando eu disse que era para ficar em
casa. Nós somos casados!
Agora
ela se revoltou.
-
E para você o que é ser casado?
-
Viver juntos. – Ele respondeu calmamente.
-
Só isso? Nada mais? Confiança...quem sabe?
-
Confiança que nós não temos um no outro. – Ele respondeu, amargo.
-
Eu confio em você, Christian, posso não entender porquê me trata mal as vezes,
mas confio em você.
-
Eu não confio em você.
Ela
ficou observando-o, triste com essa resposta. O que fez para ele não confiar
nela? Christian percebeu que foi duro demais. Não sabia como se comportar com
ela. As vezes desejava que ela o obedecesse e sofresse calada os castigos que
merecia, mas logo depois queria que ela o desafiasse. Gostava desse ímpeto de
Anastásia. Nunca nenhuma outra o encarou de frente, era sempre obedientes. Ana
o enfeitiçava com sua paixão e teimosia.
-
Vamos embora pra casa! – Tentou puxá-la pelo braço.
-
Não! – Ela o afastou. – Se quiser, vá você! Eu vou nadar um pouco. – Começou a
abrir a roupa. – Um banho de cachoeira iria te fazer bem...melhorar esse humor
de cão!
Ele
olhou em volta e ficou feliz por constatar que não tinha ninguém por perto.
-
O que isso, Anastásia! Você não pode sair nadando nua por aí!
-
Como você adivinhou que eu nado nua todas as tardes?! – O tom era provocador. –
Os passarinhos já ficam esperando pelo meu show! AAA Grey vá cuidar da sua
vida! Já me basta esse troço me apertando e ainda tem que aturar besteira sua!
-
Ana não! – Ele segurou-lhe a mão antes dela tirar a blusa. – Você não vai ficar
nadando pelada aqui!
Ela
resolveu mudar de tática.
-
Não? – Ana se agarrou ao marido. – Então me beija, Grey.
Ela beijou-o.
Não esperou, não iria permitir que ele saísse fugido. Sentiu suas mãos se enlear
nos fios de seu cabelo. Não um carinho delicado, não um chamego. Isso não era
Grey! Ele tomava posse. Com aquele toque dizia: é minha e de mais ninguém. E
isso a alegrava. Até a que a machucou.
- Assim não,
Christian! Mas porque você não consegue ficar sem me machucar...porque?!
- Eee eu não
sei Ana...eu não sei. – Ele ficou sem saber o que falar porque naquele momento
queria ser o amante que ela desejava e não conseguiu.
- Vai embora
Grey...eu vou nadar e já vou. Depois a gente conversa...você sabe que não tem
ninguém aqui e eu ficarei com o sutiã. Por favor...eu não quero brigar mais. Eu
estou cansada disso! Christian, apesar de tudo, eu te amo. Mas está ficando
difícil ficar com você se NUNCA parece me amar. Você as vezes parece desejar
apenas me ferir.
Ele não ouviu
quase nada. Ficou preso a primeira parte do que ela falou.
- Eu não
suporto que diga que me ama. Nunca repita!
- Por que?
- Não
interessa! Só não repita!
- Mas eu o
amo! E nós podemos ser felizes.
Ele até
desejou essa felicidade, mas a realidade se impôs.
- Não posso
ser feliz sabendo que meu irmão está morto! – Disse esperando que ela
confessasse sua culpa.
- E o que isso
tem a ver? – Parecia uma loucura.
- Você não se
importa nenhum pouco? Hora como pode ser tão fria? Se você tivesse algum
sentimento sincero no corpo você assumiria os seus erros Anastásia.
- Do que você
está falando?! – Ela pensava que um dos dois precisava estar louco. – O seu
irmão morre e a culpada sou eu?
- Vai
confessar agora? – Ele lhe dá mais um beijo. Mas logo a solta. – Eu te odeio,
Anastásia. – E sai deixando-a sozinha.
__________________#_____________
4horas
depois...
Ana estava
deitada na cama contorcendo-se de dor. Com raiva pelas coisas que Christian lhe
falou, ela nadou na cachoeira antes de voltar para casa. Isso tornou a sensação
do couro molhado e apertado friccionando contra a pele muito pior ao cavalgar o
cavalo.
Ao chegar,
secou-se bem, mas a sensação era de carne viva. E, o pior, não tinha como fazer
nada, a não ser esperar Christian voltar. Não queria assumir que ele estava
certo em lhe dizer para não nadar ali...mas como aceitar que errou e pedir pra
ele abrir a o cinto antes.
Não o fez.
Aguentou a dor calada, fechada em seu quarto. Pediu para Kate avisar que estava
indisposta e não iria descer para jantar. Esperava que ele viesse ver como
estava. Demorou, mas já tarde da noite ele apareceu no quarto.
- Tudo bem com
você? – Perguntou com o rosto amarrado.
A vontade de
dizer que não era imensa. Mas o orgulho foi maior.
- Tudo bem
sim...a água estava deliciosa. – Respondeu segurando o choro pela dor.
_________#__________
Christian
estava nervoso na cama. Não gostava da forma como sua relação com Ana estava se
encaminhando. Não eram um casal, mas também não tinham uma relação de
dominação. Não só fazia o que desejava e se submetia conforme suas vontades.
Agora também
não descia para jantar e isso o irritava terrivelmente. Não subiu e a obrigou a
comer porque estava exausto de brigas. Mas a ideia dela ou qualquer outra
pessoa passando fome o inervava. Nervoso, passou a madrugada acordado andando
pela casa. Anastásia estava destruindo inclusive com seu sono.
As 4h27min da
madrugada um barulho no quarto de Ana chamou sua atenção. Achou que ela havia
acordado com fome e ia descer, mas percebeu que não era isso. Correu para o
quarto. Encontrou-a no centro do cômodo, ainda no escuro, com o abajur no chão.
Ela o tinha derrubado tentando acender. Mas o que lhe chamou a atenção foi a
expressão de dor que tomava conta de sua face.
- O que você
tem? – Não queria, mas estava preocupado.
- Nada! Sai
daqui!
- Não
mente...o que você tem Anastásia? – Será possível que ela não tinha limites na
teimosia.
- A cinta tá
me machucando. – Ela disse mordendo o lábio.
A primeira
coisa que ele fez foi dentá-la na cama e correr até o seu quarto para pegar a
chave e logo estava abrindo a peça de tortura sexual. Tinha consciência que
independente dos seus planos de vingança, aquilo era para dar prazer e não para
machucar sua mulher. SUA Ana.
Quando abriu a
peça e viu a pele irritada e arranhada, sentiu-se culpado. Claro que ela estava
sentindo dor. A peça deixou-a com assaduras bem sérias.
- Pela manhã
não estava nem perto disso. – Comentou.
- Eu cavalguei
molhada. – Ana assumiu.
Aí Christian
entendeu o que se passou. O atrito do couro molhado a machucou. Mesmo assim,
não parou de se culpar. Ela não tinha obrigação de saber, ele, como dominador,
tinha a obrigação de protegê-la. Com estrema intimidade ele a lavou delicadamente,
tendo o auxílio de uma toalha macia. Depois passou talco.
- Parece que
você está cuidando de uma criança. – Ela brincou já sem sentir tanta dor.
- Não acho o
infantilismo sensual, Ana. Preferiria você com uma lingerie sensual, acredite.
Mas agora você está precisando de talco mesmo, então é isso que te dou. – Deu-lhe
um comprimido para a dor. – Bebe água e toma o remédio, vai se sentir melhor
amanhã.
Logo amanheceria
e nenhum dos dois tinha descansado.
Christian tomou uma decisão rápida. Deitou-se da cama dela e puxou-a, de
costas, para seus braços. Era ali que um desejava o outro.