Pov Bella
Se
ele pensa que vai me vencer pelo cansaço, está muito enganado! Pensa o quê,
pode comprar uma esposa e ainda querer um filho de brinde? Não. Está certo, eu
entrei no jogo. Nunca deveria ter aceitado me casar com Edward Cullen, só o fiz
pela pressão imposta por Charlie. Burra! Como pude ser tola o bastante para
acreditar que seria capaz de fazê-lo se apaixonar por mim e deixá-lo tão
viciado por meu corpo que ele jamais iria encerrar nosso relacionamento? É, eu
deveria mesmo ser muito tola e apaixonada para acreditar nisso.
Ele
não desconfia e nunca saberá de minha pesquisa quanto a sua via bem antes de
Carlisle nos procurar. Novos ricos, como a sociedade americana os rotulou,
sempre soube do pouco caráter de meu sogro, ele nunca pôde me enganar. Edward
naquela época já vinha assumindo parte dos negócios do pai e, segundo as
revistas, multiplicando ainda mais o dinheiro da família. E ainda por cima era
lindo e disputado pelas mulheres. E mulherengo, não passava uma noite
solitário. Pudera, com tudo aquilo para dar, eu também não perderia a
oportunidade. Edward não se prendia a ninguém, mas mantinha um relacionamento
estável com uma tal de Tânia Denali, loira oxigenada, vagabunda que surgiu na
alta sociedade ninguém sabe de onde. Mas a relação deles era estável por ela
não pedir nada que Edward não quer dar. Tânia não é mulher de um homem só e,
por isso, também não exige fidelidade. Quando aceitei casar ela era a última
das minhas preocupações. Podia provar ao Edward ser mil vezes melhor que ela e
sabia que ele a largaria para não arriscar um escândalo justo depois de
alcançar o status social que Carlisle tanto desejava.
-
Não quero crianças. – Eu disse quando tudo apenas começava.
Essa
poderia ter sido a frase mais mentirosa que já disse em minha vida, se houvesse
alguma forma de me tornar mãe. Não havia, eu soube ainda menina quando meu
primeiro ciclo menstrual me fez gritar de dor. Nunca tive mãe, não que me
lembre. Então gritei por meu pai. Charlie até tentou ajudar, mas para ele, como
para qualquer pai solteiro, não era fácil falar nesses assuntos. Ele então
preferiu fingir que era bobagem. Todo mês as dores se repetiam chegando a me
impedir de deixar a cama. Fui a uma ginecologista acompanhada de uma empregada
de nossa casa e descobri ter endometriose.
-
Se tomar os comprimidos terá uma vida quase normal.
-
Quase? – Perguntei.
-
Isabella, endometriose não tem cura, posso apenas minimizar seu desconforto. No
futuro, quando você tiver total desenvolvimento do sistema reprodutor deve
fazer exames para saber qual nível de infertilidade tem. Ele varia muito em
pacientes como você.
Eu
voltei. E descobri que não poderia ser mãe. Na época isso não teve grande significado.
E mesmo depois, quando Edward deixou claro o objetivo de nossa união, não
pensei na consequência de meu ato. Eu simplesmente queria ele para mim e menti
descaradamente. Arrependimento? Não, ao menos não por isso. Só me entristeço
por pensar onde chegamos.
Na
cerimônia de casamento tudo foi lindo e eu estava extremamente nervosa. Queria
que tudo acabasse, queria ficar à sós com meu marido. Dissemos o sim e fomos em
direção a recepção. Os convidados, em grande número, acreditavam que agora
seria o momento da festa. Para eles foi, mas Edward, eu, Carlisle e Charlie nos
reunimos no escritório da mansão dos Cullen e em frente a todos e na presença
de advogados foi feita a transferência de uma verdadeira fortuna para a conta
de meu pai. Minha VENDA estava concretizada. As palavras de Carlisle naquele
momento me enojaram:
-
Podiam pular a festa e ir direto para a lua de mel. Quanto mais rápido fizer,
mais rápido pari meu neto homem.
-
Achei que queria um neto, pai. Menino ou menina.
-
Sim, desde que saudável. Mas eu posso sonhar com o melhor ou não?
-
Sim pai, claro.
Hoje,
vendo tudo de longe, percebo que não foi o discurso de Carlisle, mas as três
palavrinhas finais de Edward que me fizeram ver a realidade onde estava metida
e as expectativas que ele tinham em mim. Expectativas estas nunca possíveis de
se tornar realidade.
Saí
dali tremendo e disfarçando frente aos convidados. Tudo o que se passava em
minha mente era o que eu faria para contar para Edward que eu jamais seria mãe,
que de minha barriga não sairia o tão desejado herdeiro. Mas não tive tempo
sequer de achar uma alternativa. A visão de uma das convidadas me assustou.
Vestida
em renda vermelha a amante do agora meu marido veio em meu casamento. Achei que
ela iria se manter distante de mim, mas não, ela me chamou para uma conversa em
reservado. Tive vontade de arrancar seu pescoço com bofetadas e só não o fiz
porque seu olhar deixou claro seu perigo. Não queria e não podia fazer
escândalos ali. A acompanhei até uma sala reservada e a deixei destilar seu
veneno.
-
Satisfeita em dar o golpe do baú?
-
E você? Sofrendo de recalque por eu ter conseguido o que você tentou por anos e
FRACASSOU?
-
Eu nunca fracasso meu bem. – Mas seus olhos brilharam de raiva.
-
Que faz aqui? Veio pegar os restos do que é meu agora? Bancar a filial que
sonha em se tornar matriz?
-
Não. Longe disso.
-
Então diga de uma vez. Tenho que dar atenção ao meu marido!
-
Prefiro mostrar à dizer. – Ela tirou um papel da minúscula bolsa e desdobrou
calmamente. Parecia um xerox de documento. – Leia.
Eu
li e praticamente vi meu sonho desmoronar. Ali estava um exame médico meu, na
verdade o laudo que atestava minha infertilidade devido a endometriose. Devo
ter empalidecido enquanto ela gargalhava à minha frente. Não sabia o que fazer,
meu casamento desmoronava antes mesmo de começar.
-
Bom queridinha...agora vou sair. Tenho um compromisso nos fundos da casa...com
seu marido. Vá lá daqui a uns minutos. Ele acha que terá apenas uma rapidinha,
mas eu tenho um certo laudo original para entregar para ele.
Desmoronei
ali. O que fazer? Nesta hora só pensei em Charlie. Ele estava falido e contava
com aquele dinheiro para pagar os credores. Caso contrário arriscávamos ele ser
preso. Sem pensar, corri ao quarto e tirei o vestido, pegando apenas os
documentos e algum dinheiro. Fui em direção ao portão ainda sem saber a atitude
certa a tomar. A decisão apenas veio quando
já estava do lado de fora da casa. Saí sem ser percebida em meio a
confusão de convidados. Um rapaz desconhecido e montado em uma moto me chamou.
-
Festa ruim? – Ele sorriu charmoso.
-
Não sabe o quanto.
-
Quer uma carona. – Ele perguntou e eu apenas subi na garupa sem dizer nada. -
Para onde te levo?
- Para
onde quiser.
Assim
dei adeus ao meu passado. Ou ao menos pensei, já que anos depois Edward
apareceu a minha frente.
-
Hora Bella, achava mesmo que poderia fugir de seu MARIDO pelo resto de sua
vida?
Dali
para frente tudo virou um inferno. Ele exigiu seus direitos de marido. Todos
pelos quais pagou, como vivia repetindo. Fui obrigada a voltar, não só a morar
com ele mas virei sua prisioneira. Tenho um cão de guarda que além de me
vigiar, não tira os olhos de minha bunda e Edward faz questão de me tratar como
um capacho que usa e joga fora. Na cama ele continua fantástico, mas agora é
frio, não se preocupa com meus sentimentos e nem desconfia do que se passou.
Continua com Tânia e hoje sei que ela nunca entregou o tal laudo. Edward só
ficou sabendo de minha infertilidade quando passei mal.
Logo
que cheguei ele me tirou os anticoncepcionais e eu pensei em despejar tudo,
contar que nunca seria pai se seguisse ao meu lado, mas tive medo por meu pai e
não o fiz. Sei que Charlie está melhor. Edward o internou em uma clinica para
alcoólicos e ele estava em recuperação. Se desse um passo em falso ele seria
novamente um alcoólatra endividado e ambos seríamos presidiários. Enfim Edward
me tinha nas mãos e podia usar e humilhar como desejasse. Ao menos na cama era
bom. Mesmo que depois eu fosse dormir no chão, nos braços dele eu podia gritar
de prazer. Quanto mais vingativo, mais gostoso Edward se tornava.
E
eu me aproveitava para exercer um poder que tinha sobre ele, o ciúme, o
sentimento de posse que ele sentia sobre mim. Deixei ele louco me oferecendo
para alguns, fora os que a imaginação dele inventou. Pensa o que Edward? Acha
que vai desdenhar de graça dizendo que a loira aguada é melhor do que eu e nada
seria feito? Não, ele teve de descobrir que se não desejava, outros apareciam.
Tirando
James tudo ia relativamente dentro do esperado e tinham momentos em que ele era
até agradável, quase compensavam as grosserias. Mas ai a falta das pílulas
cobraram seu preço e eles descobriram tudo. Vi ódio nos olhos de Edward, pena
nos de Ana e desdém nos de Carlisle. Eu não tinha mais nada para fazer aqui,
mas Edward não me permitiu partir. Estava obcecado por um filho meu.
Estou
fazendo o tal tratamento que ele exigiu, mas quando chegar a hora da
inseminação vou fugir. Edward não tiraria um filho meu.
Depois
que ele descobriu não fizemos mais sexo e parecia haver sempre uma explosão de
fúria esperando por mim. Isso, além do fato dele achar que eu vivia fugindo.
Mas isso é culpa de James. Ela ficava colocando essas coisas na mente de Edward
e como ele nunca confiou muito, preferia acreditar nele do que em mim. Hoje não
sei o que sinto por Edward, não é mais a mesma paixão de antes, não poderia ser
após tantas ameaças e humilhações, mas também não consigo ser indiferente ao
seu toque. Nem me ver livre do ciúme. Meu sangue fervia ao imaginar meu marido
na cama de Tânia.
Agora
ele estava no México. Ligou algumas vezes para falar com Ana e com a mãe e até
perguntou por mim, mas fiz questão de dizer que não queria falar com ele.
Talvez fosse culpa daquelas injeções hormonais, mas eu estava subindo pelas
paredes. Não tinha paciência para os deboches de Edward Cullen e muito menos do
pai dele. Mas este não apareceria por aqui no próximo mês. Não com Esme na
casa. Essa sim, junto com Ana, era quem mantinha minha sanidade. Era um anjo, a
mãe que sempre sonhei. Não sei se foi o ambiente familiar, mas meu pai me fez
falta, senti saudade e liguei para Edward pedindo para vê-lo.
-
Que quer aqui?
-
Lhe ver. Saber se está bem.
-
Estou, mas até quando hemmm? Quanto tempo acha que vai enganar os Cullen?
Carlisle quer ver você grávida logo e nunca verá.
-
Eles já sabem e eu estou fazendo um tratamento para engravidar.
-
Hummmm isso é bom. Talvez haja saída no final das contas.
-
Mas não sei o que fazer. Não quero isso pai.
-
E prefere que eu vá para a cadeia? Pois saiba que te levo junto!
No
dia seguinte sai com Esme e ela me levou ao shopping para compras. Foram
sapatos, vestidos, maquiagem e... roupinhas para seu futuro neto. Até ela, que
eu já chegava a amar, queria essa criança que eu teria que abandonar naquela
família de malucos. Eu estava desesperada. Ainda em compras passamos em uma
banca de revistas onde uma das publicações tinha uma chamada na capa que chamou
minha atenção. Comprei discretamente enquanto Esme estava distraída e escondi
na bolsa. Depois aguardei pela solidão de meu quarto para ler a notinha sem
fotos que afirmava que meu marido curtia férias no México com a amante loira.
Tânia, só podia ser ela. Eu podia ter chorado, mas resolvi tomar uma atitude
tão covarde quanto. Saí correndo e passei na sala onde sabia Esme havia largado
a bolsa. Nela estava um dos controles do portão, coisa que obviamente eu não
tinha. Pretendia seguir rapidamente até a garagem. Ligar o carro e acionar o
mecanismo antes de James perceber. Aí, quando ele ouvisse seria tarde. A única
alternativa seria fechar o portão pela chave geral que ficava na cozinha. Ele
não teria tempo de correr da garagem até a cozinha a tempo. Era com isso que eu
contava.
Tudo
estava dando tão certo, tudo perfeito. Até que vi há poucos metros da saída o
portão começar a se fechar. Podia ter freado, mas decidi tentar. A última coisa
que ouvi foram os gritos de Ana.
-
Menina Bella, por Deus, por que fez isso? Alguém chame uma ambulância.
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