Na
manhã seguinte o alojamento feminino acordou com choro, gritos e pessoas
nervosas. Duas garotas foram agredidas pelos homens com os quais passaram a
noite. Não seriamente, mas, ainda assim, serviu de alerta a todas. Uma delas
era Verônica. E Beatriz não tardou a se aproximar da cama onde ela chorava para
oferecer ajuda e ver como ela estava.
- Sai daqui! – Verônica tentou
enxotá-la.
- Quero te ajudar. – Beatriz
insistiu. Verônica não estava em condições negar ajuda. Ali nenhuma delas tinha
o direito de ser orgulhosa. – Me conta o que aconteceu.
- Aconteceu que aqueles dois são
doidos, nunca estão satisfeitos. Sebastian me deu um tapa e me machucou. Estou
toda dolorida.
A noite havia começado bem. Verônica
levou Sebastian para uma suíte e Maya seguiu até outra junto do amigo dele,
Leonardo. Ambos os homens estavam bêbados. Tudo rolou sem sobressaltos até o
meio da madrugada. Ao contrário de muitos dos clientes, Sebastian não gostava
de pagar por algumas horas das garotas. Passava a noite toda com elas, fosse
ali mesmo ou em algum hotel. Tratava-se de um homem exigente. Gostava de mulheres
jovens e de corpo perfeito. Tinham de ser sensuais e fazer de tudo para
satisfazê-lo. Apreciava que dançassem para seduzi-lo. Precisava se sentir
desejado. Ou surtava e ficava violento.
Escolheu Verônica ao vê-la dançando
no balcão em sua última viagem à Rússia, quando esteve na boate apenas para
beber rapidamente. Viu que era muito jovem e a rebeldia estava em seus olhos. Então
chamou Gregory e avisou que deveria reservá-la para ele na sua próxima visita.
- Não é o ideal. Ainda não consegui
domesticá-la. – O gerente avisou.
- Ótimo. Eu mesmo farei isso.
Quando levou Verônica para o quarto,
Sebastian já estava tonto pela bebida, mas convicto que a garota iria
desejá-lo. As mulheres costumavam disputá-lo e vir de bom grado para seus
braços. Mesmo que depois não mais o quisessem, como foi com a falecida esposa.
Pensar nela não era um costume. Deixou-a então esquecida no mundo dos mortos e
se concentrou em Verônica e seu corpo de menina. Em sua imaginação, ela tinha
uns 19 anos, ou não muito mais. A pele era de jovem, os cabelos tinham o brilho
da meninice. E o olhar era endurecido pela rebeldia. Tentou lhe ser paciente,
ela não colaborou, era agressiva. Então perdeu a paciência e a esbofeteou.
Gostava de mulheres bravas, mas não
ferozes. E se Verônica veio passar com ele aquela noite, deveria saber que seu
trabalho era satisfazê-lo. Ele a estava pagando muito bem para relaxar em seu
corpo. Se fosse delicada com ele poderia ter sido bem tratada. Mas foi feroz e
recebeu o mesmo tratamento quando ele a possuiu, entrando e saindo de seu corpo
com violência desnecessária, ferindo e tendo consciência disso.
Quando terminou, arrependeu-se, como
sempre ocorria. Aquelas explosões de ódio exacerbadas pelo álcool onde
descarregava na hora do sexo o que tinha de pior dentro de si já haviam se
repetido algumas vezes. A garota o tinha irritado sim, mas, ele reconhecia, não
fora ela a causadora de tamanha raiva. Não merecia ser machucada. Então, como
sempre fazia nessas circunstâncias, lhe deu muito mais dinheiro do que o
combinado e na saída ainda avisou Gregory do ocorrido.
- Ela não fez nada de errado. Eu é
que passei do ponto. – Disse ao o homem com quem sempre negociava os encontros
sexuais quando vinha até Moscou.
Só depois ficou sabendo que no
quarto ao lado Leonardo também havia tido problemas, ou os gerado. E que a
garota estava machucada. Tratou de ir embora antes que gerasse mais problemas.
Tinha de voltar para os EUA. Os dias de irresponsabilidade terminaram por
enquanto. Lá tinha um nome a zelar e uma empresa para conduzir, além da
família. Nunca ninguém jamais poderia desconfiar daquela parte obscura de sua
vida.
Sebastian embarcou sem saber que na
Rússia Verônica contava o que passou nas mãos daquele homem belo, elegante,
refinado e, por elas, temido. Ele ansiava por sua próxima visita à Rússia. Elas
torciam para não ser a sua escolhida.
- Beatriz, não se intrometa em
problemas que não são seus. – Natacha afastou Beatriz de Verônica. – Fique
feliz por não ter sido você. Só isso.
Não
era simples assim, não para Beatriz. Lembrava bem dos homens que serviu na
noite passada. Bonitos, bem vestidos, homens que atraíam olhares. Ainda assim,
ele foi capaz de forçar uma menor de idade, o outro feriu Maya a ponto dela
necessitar de atendimento médico. Era por eles que aquele absurdo seguia.
Famílias perdiam suas filhas porque outros homens, muitos com família formada,
às sombras faziam uso daquele serviço. Homens da alta sociedade que gostavam de
transar com escravas ou não se preocupavam em conhecer a história por trás
daquelas mulheres com as se relacionavam.
- Isso tem que acabar. De uma forma
ou de outra, tem que acabar. – Beatriz não cansava de pensar em um jeito de
pedir socorro a Elizabeth.
- Desculpe o atraso, querido. – Ele
a esperava na recepção da elegante clínica classe A na qual ela seria atendida.
– Mas esse calor infernal me fez ter uma queda de pressão. Venho me sentindo
muito mal. Acho que até algum inchaço já tenho nas pernas. E olha que estou
apenas no início da gravidez! Imagine nos últimos meses.
- Você é médica, Alejandra. Sabe tão
bem quanto eu que as gestantes sentem calor. E que inchaço nos membros
inferiores ocorre no final da gravidez. Você está longe disso. E, se está com
tanto calor, não deveria usar preto num dia de sol intenso.
- Mas querido! Minha silhueta está
naquela fase em que já não estou tão magra, mas também não aparento a gravidez.
Pareço gorda! Então preciso disfarçar.
- Então não canse meus ouvidos com
queixas sem fundamentos. E vamos logo para a consulta porque meu tempo vale
dinheiro e sua obstetra está aguardando.
Apesar das inúmeras queixas da
gestante, a médica não encontrou nenhuma razão para mal-estar além das normais
adaptais do corpo e dos distúrbios hormonais observados em qualquer grávida. O
calor era um deles e, levando em consideração que Alejandra não passava mais do
que 10 minutos em um lugar sem ar condicionado, ela iria sobreviver. Os dois
puderam ainda ouvir os batimentos cardíacos do bebê. Aquilo emocionou Miguel,
mais do que esperava. Era forte, era a prova de uma vida. Um bebê que ele não
podia ignorar.
- Bom, estou diante de dois médicos,
então já sei que esse bebê receberá todo o cuidado. – A médica chama Margô afirmou.
Não os conhecia bem, obviamente. – Se tudo seguir nesse curso, teremos uma
gestação muito tranquila.
- Até quando a senhora considera
seguro viagens internacionais? – Miguel perguntou.
- Bom, vai depender do estado geral
da gestante. Mas a grosso modo, até o sétimo mês é seguro. Depois é necessário
avaliar.
- Ótimo. – Ele esperava que bem
antes disso sua ex mulher percebesse que sua vida era na Espanha.
- Vocês têm mais alguma dúvida?
- Nenhuma, doutora. – Ale respondeu.
- Dúvida não, Drª Margô. Mas preciso
lhe pedir a realização de um procedimento para assim que for seguro.
- É, claro. Qual procedimento?
- Um exame de DNA. – Ele falou e viu
ambas as mulheres ficarem tensas. Alejandra manteve a compostura, mas seu rosto
enrubesceu. – Creio que não preciso lhe pedir descrição desse assunto.
- Miguel...por favor... – Alejandra
o fuzilava com o olhar.
- A certeza da paternidade é um
direito que pretendo exercer, Alejandra.
- Bem, Sr. Benitez, é claro que
posso fazer o encaminhamento para esse exame agora mesmo, mas preciso que vocês
tenham ciência que o ideal é esperar o bebê nascer. O exame gestacional oferece
riscos, mesmo que pequenos. Em último caso, eu indico esperar até o quinto mês
de gravidez. Quando a chance de aborto é de apenas 1%.
- Não! Ouviu bem, Miguel. –
Alejandra gritou à frente da médica. – Não farei nenhum exame que ponha meu
filho em risco. Nenhum !
É revoltante o que você está me fazendo passar.
- Sem escândalos, por favor. – Ele
agia friamente com ela. Como se ela não valesse o esforço de uma briga. – É
claro que eu não tenho a intenção de ferir o bebê, Drª. Se a sua indicação é
aguardar o parto, nós assim o faremos. E o exame será feito, assim que ocorrer
o nascimento.
- É, claro. Afinal, esse é um direito
seu. – A médica confirmou.
Se dependesse de Alejandra, os dois
teriam discutido no caminho de volta. Mas Miguel não lhe deu a chance de
iniciar uma briga. Colocou-a dentro de um táxi com a indicação de cuidar-se e
lhe telefonar apenas em caso de urgência. Algo que, já sabia, ela não
obedeceria.
- Miguel! Ele é seu filho! Não tem o
direito de duvidar disso!
- Eu tenho, Ale. Tenho
principalmente por não lembrar-me de nada daquela noite. E mesmo que lembrasse,
não confio mais em
você. Entendeu agora?
- Poderia ao menos fingir que eu sou
minimamente importante para você e me levar em casa, não é?
- Você pode ir de táxi. E eu tenho
coisas mais importantes para fazer do que servir de motorista pra você. – Antes
de fechar a porta do táxi ele parece se arrepender de toda aquela
agressividade. – Essa brigas não fazem bem ao bebê, Alejandra. Vamos evitá-las.
Eu não quero você, eu não te amo, nem vou passar a amar porque você engravidou
numa noite da qual eu não tenho nenhuma recordação. Cuide-se para que ele nasça
com saúde. É só o que posso te desejar. – Disse e fechou a porta fazendo sinal
ao motorista.
- Miguel! – Alejandra voltou a
chamá-lo.
- O que é?
- Está se enganando se pensa que o
DNA poderá dar negativo e salvar seu casamento. O filho é seu. E devia tratá-lo
melhor. Porque Elizabeth jamais lhe dará um.
Miguel deu as costas e seguiu como
se não tivesse ouvido a provocação. Já estava atrasado para seu próximo
compromisso. E esse além de envolver uma mulher trabalhadora e com agenda
ocupada, lhe era muito importante. Iria conversar com Rebeca, amiga e colega de
trabalho de total confiança de Elizabeth. Motivo pelo qual, não esperava muita
simpatia dela. Mas se enganou.
- Eu não estou confortável com essa
conversa, Miguel. Elizabeth não sabe que eu estou aqui e mentir para a minha
amiga não me agrada. – Rebeca lhe disse assim que ele entrou em sua sala e lhe
ofereceu um café.
- Fique tranquila, Rebeca. Como eu
já te adiantei, não é sobre o meu casamento que eu desejo falar. É da segurança
de Liz. Eu a amo mais do que tudo, Rebeca. E estou preocupado. Conheço minha
mulher e sei que ela está se colocando em risco.
- Nisso nós concordamos.
- Não vou lhe pedir que me conte o
que Liz está aprontando, Rebeca. Sei da sua lealdade e respeito isso. Mas
preciso avisá-la que coloquei tudo o que tenho à disposição de minha mulher. Eu
estou à disposição! Na noite passada Elizabeth esteve numa área de
prostituição, correu perigo. E vai voltar à procura de uma pista que a leve até
Beatriz.
- Danada! Ela fez isso pelas minhas
costas! – Rebeca não imaginava isso tudo. Liza poderia ter morrido graças
aquela atitude. – Ela está na pista certa, Miguel. Temos motivos para crer que
Beatriz está viva e mantida em cárcere privado em algum lugar da Rússia. E isso
torna ainda mais perigosa a atitude de Liz. Ainda mais...
- Ainda mais o que, Rebeca? Tem
mais?
- Não! – Isso não lhe dizia
respeito. – Eu preciso ir, Miguel. Mas ficarei atenta. E se Elizabeth se
colocar em risco novamente, eu mesma o avisarei!
Miguel convenceu-se e ficou mais
tranquilo. Não totalmente, mas teve um alento no próprio desespero. Liz em
segurança lhe daria calma para reconquistá-la. Fez então algo que lhe era um
costume. E enviou um ramalhete de flores para a delegacia. Isso iria irritar a
esposa, mas essa já não era uma preocupação. Assim ao menos ela seria lembrada
do quanto ele a amava.
- Veja! Eu cheia de problemas e
Miguel me mandando flores! – Elizabeth falou para Rebeca assim que a encomenda
chegou. - Ele deveria é estar cuidando do filho dele!
- E do seu...diga-se de passagem. –
Rebeca respondeu.
- Eu não quero falar desse assunto!
- Como quiser, Elizabeth. Mas não é
certo o que você está fazendo. O bebê que está dentro de você é tão filho de
Miguel quanto o da espanhola. E no dia que Miguel souber ele ficará furioso com
você. E com razão!
- Eu já conheço a sua opinião,
Rebeca! Acredite, minha consciência já está pesada o bastante. Agora vamos nos
concentrar no trabalho. Pode ser? – Elas eram amigas o bastante para poder trocar
palavras duras. – Preciso da sua ajuda, mas é extra-oficial. Sobre Bia.
Descobri um nome que preciso que você cheque. Pedro. Não tenho sobrenome.
- Não tinha nenhum nome mais comum
não?
- Se fosse fácil, não pediria para a
mais competente e de minha confiança. Creio que ele matou Caleb e assumiu seu
lugar, por tanto, participou do assassinato de Willian e do sequestro de Bia.
Tenho imagens dele feitas por Bia, com uma câmera escondida.
- Aí já melhorou.
- É, preciso rever todo o arquivo e
procurar qualquer ligação a ele. Quando eu pegá-lo, Pedro me levará até
Beatriz. Vou voltar no ponto dele logo e nós estaremos frente a frente.
- Mas não sozinha! Elizabeth! Será
que você pode ao menos por um minuto se lembrar que há um bebê dentro de
você!?!
Ela lembrava. E muito. A cada
amanhecer tentava observar alguma mudança em seu corpo ou rosto. Nada ainda.
Mesmo assim, já não era mais a mesma. O fato de não fazer ideia de como era ser
mãe, ser responsável por um ser dependente não a tornava menos consciente da
contagem regressiva que vivia. Além disso, os enjôos e mal estares repetitivos
tornavam impossível fingir que não tinha um intruso dentro de seu corpo.
- Bom dia para você também, Bebê. –
disse para ele logo após chegar na central de polícia e vomitar no banheiro
depois de sentir o cheiro de café.
Logo depois, quando já se sentia
bem, percebeu que nos momentos mais impróprios começava a conversar com o
filho. Sim, ela já o tinha aceito. Mesmo que mudar sua vida, preservar-se e
zelar pela saúde ainda não estivessem em suas prioridades. Ela não era
programada para se cuidar ou cuidar de um filho.
- Eu sei que ele está aqui, Beca.
Não consigo esquecer. Agora me deixe que eu preciso fazer um interrogatório.
- Está bem. Vou sair para almoçar.
Você também deveria fazer isso. Quer que te traga algo?
- Não! Nada desce na minha garganta.
Mas aproveite que vai sair e suma com essas flores. O cheiro que deixa mais
enjoada. – E a visão deprimida. Pensar em Miguel era lembrar-se de algo muito
desejado e que já não podia ter.
Duas semanas se passaram sem que
Miguel visse Elizabeth. Não por falta de tentativas. Ela continuava lhe
ignorando. E isso o estava fazendo perder a paciência. Quase que em provocação,
mandava-lhe flores quase diariamente. A esperança era que ela repetisse o gesto
do início do relacionamento, quando veio até a BTez devolver um arranjo. Mas
isso não ocorreu. O máximo que Liz fez foi lhe escrever um e-mail, pedindo que
não mais lhe enviasse presentes. Ele respondeu com a mesma combinação de paixão
e delicadeza de sempre.
[Minha Liz;
Es mi esposa. Y, como tal,
será tratada. Muitas flores ainda enviarei para embelezar teus dias. Meu
convite para um jantar segue em
oferta. Sabe que nossa história não terminou.
Do eternamente seu;
Miguel]
Com lágrimas nos olhos Elizabeth leu
aquela mensagem. Mas logo depois engoliu o pranto e seguiu com suas
responsabilidades. Ela e Rebeca tinham conseguido avanços e naquela noite ela
iria à procura de Pedro.
Naqueles dias Beatriz seguiu em sua
nova e indesejada vida. Habituar-se jamais serviria para explicar a sensação
vivida por ela nos últimos dias. Porém, impossível não perceber que até mesmo
no inferno havia rotina. E ela estava aprendendo a sobreviver naquele mundo. Um
lugar onde as mentiras prevaleciam. Isso ela aprendeu rápido. Fingiu aceitar
seu destino e convenceu Gregório e Samantha. Somente por isso foi autorizada a
sair da boate naquele dia.
Não que o objetivo a agradasse. Foi
até um hotel classe A de Moscou atender a um rico empresário do país. Tão conhecido
e respeitado que não frequentava a boate e exigia que as garotas fossem até
ele. Por volta dos 65 anos, o homem chamado Arman gostava de mulheres com
classe, lhe avisaram. Por isso, foi vestida elegantemente.
- Ele quer uma acompanhante, não uma
prostituta barata. – Samantha lhe disse. – Mas não se anime. Você será levada
até o hotel. Subirá ao quarto e lá permanecerá enquanto ele desejar. Quando ele
a liberar, sairá discretamente e descerá até o bar, o segurança estará lá para
trazê-la de volta. Arman não lhe dará dinheiro. O acerto será feito depois com
Gregory. Entendeu?
- É claro. E ao menos entenderei o
que ele fala?
- Não. Ele fala russo. Tenho ordens
para que seus clientes assim sejam. Mas não se preocupe, o único interesse de
Arman na sua boca, você cumprirá calada. Agora vá. Arman não gosta de esperar.
Depois de tudo e todos que passou
nas últimas semanas, Beatriz não podia se queixar de Arman. Um homem refinado,
de toque suave, quase frágil. A voz baixa e suspirante pronunciava palavras
incompreensíveis e que não se lembrava de ter ouvido de outros clientes. Poderia
facilmente imaginá-lo em casa, cercado por esposa, filhos e netos. Sorridente,
ele estaria na cabeceira de uma grande mesa e cercado pela família à qual
ostentava uma reputação ilibada. Ali estava ele, pagando para possuí-la em um
hotel classe A. Ou, conforme Natacha lhe explicou logo após sua chegada ali,
não pagava para tê-la, mas sim para mandá-la embora na hora em que não mais
precisasse de seu corpo.
Foi rápido. Chegou ao hotel às 15hs
e quando o relógio avisava que faltavam poucos minutos para as 18hs, ela tornava
a colocar sobre o corpo o discreto e elegante vestido com o qual ali chegou.
Aquele hotel servia de pouso para políticos e empresários por algumas razões
além do luxo. Era muito bem localizado e extremamente discreto. Arman estava
muito longe de ser o único a receber acompanhantes naqueles quartos.
Beatriz não poderia chamar a noite
de agradável, mas surpreendeu-se ao ser tratada com delicadeza por ele. Curioso
como, após tempos de muita humilhação, um simples afago conseguia fazê-la
sorrir. Arman tocou-lhe a curva dos quadris sem apertá-la ou feri-la, mordiscou
seus seios sem deixar marcas e penetrou seu corpo sem deixar um rastro de dor.
Ao final, acariciou seu rosto e abriu a porta. Era o sinal que ela estava
livre.
Ao sair no corredor Beatriz não
demorou para ouvir a porta se fechar. Arman não queria ser visto junto dela,
compreensível para quem tem família. Uma rápida e discreta olhada pelo lugar
lhe confirmou a existência de câmeras. Aquele hotel não permitia fugas, seria
pega antes de chegar à rua. Então abaixou a cabeça, chamou o elevador e ficou
esperando. Quando ergueu a cabeça viu que já não estava sozinha. Um rosto
conhecido a observava de dentro do elevador. Ela o reconheceu e, pelo olhar que
observava do outro lado, a lembrança era recíproca.
- Você! – Beatriz disse em
português, surpresa e sem pensar. Aquele era Sebastian, o homem a que tinha
servido bebidas na noite em
que Verônica foi ferida. Foi Sebastian a machucá-la durante
um programa.
- Eu. – Para sua surpresa ele
respondeu. Sebastian falava português. O primeiro cliente da boate de quem ela
entendia uma palavra. Impossível não sentir um pouco de satisfação. Mas era bom
lembrar-se que por trás daquele ar charmoso havia um homem capaz de ferir. – Eu
me lembro de você...um pouco diferente.
No tom de voz era percebido o
álcool. Sebastian não estava bêbado, também não estava completamente sóbrio.
Ele tão tirava os olhos dela e Beatriz sentiu-se obrigada a devolver o olhar.
Eram olhos fortes, perigosos. Definitivamente, aquele não era o homem certo
para gritar por socorro. Percebendo que ele continuava pressionando o elevador
a ficar no andar, ela deu três passos em sua direção.
- Estava com cliente? Quem era o
sortudo? – Sebastian falou quando já estavam descendo. – Pelos seus trajes deve
ser um velho conservador e enfadonho.
Somente quando as portas se abriram
Beatriz voltou a falar. E, ainda assim, foi apenas após deixar o claustrofóbico
elevador.
- Tenha uma boa tarde. Eu preciso ir
agora. – Disse sem olhá-lo nos olhos e afastando-se o mais rápido que pode.
Deu poucos passos até sentir a mão
dele fechar-se em seu antebraço. O olhar dele para seu corpo era o mesmo que os
homens lhe ofereciam na boate, quando ela estava praticamente nua. Sebastian
parecia ver muito mais do que o discreto vestido permitia. E isso a incomodava.
Quando ele aproximou o rosto do dela, Beatriz pode sentir o hálito mascarado
bela bebida. Sentiu medo e mesmo assim o encarou.
- Não vai embora. Acabou de achar
mais um cliente. Agora é a minha vez. Eu quero você.
Beatriz não teve de responder por
que viu o homem de confiança de Gregory se aproximar. Sebastian a soltou, ela
deu vários passos para longe dele e os dois homens seguiram conversando. Nenhum
deles ergueu a voz e a conversa em inglês foi totalmente compreensível para
Bia. Sebastian a queria por aquela noite, mas não a teria. Leonardo, o
segurança, afirmou que não tinha o poder de liberá-la e que, se a desejava,
Sebastian teria que acertar antes com Gregory.
- Eu farei isso. Essa noite eu
estarei na boate. – Avisou. Leonardo acenou em concordância com a decisão.
Beatriz apenas seguiu olhando para baixo, não tinha coragem de encará-lo.
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