Naquela tarde de domingo, enquanto Emily se recuperava
sob o olhar atento de Jonas, o único a ter autorizada a presença junto da
esposa, os demais familiares e amigos voltaram para casa. Jéssica e Lorenzo
tinham uma missão muito importante. Precisam contar para Clara que ela
realmente não mentia quando, há algumas semanas, anunciou que ganharia um
irmão. Antes dela, no entanto, precisavam se acostumar com a ideia de que os
três em alguns meses seriam quatro.
Jéssica ficou um tempo sozinha em casa enquanto Lorenzo
foi buscar a filha mais velha no hotel onde Milena cuidava dos avós e das
crianças. Pensou muito no quanto sua vida havia mudado nos últimos meses. E
iria mudar ainda mais agora. Seus planos de estudar, tornar-se uma
profissional, tudo agora ficava novamente em segundo plano para receber o bebê
que crescia em seu ventre.
Estava feliz. Já percebia o amor nascendo e criando
raízes. Seria mãe mais uma vez. Gerava o filho de um grande homem, o homem que
amava e que lhe dava todo o amor possível. Muitas decisões ainda precisavam ser
tomadas, mas, uma coisa era certa, aquele bebê era bem vindo. Não poderia ser
diferente.
Jéssica ergueu-se da cama onde descansava e foi até o
espelho. Olhou o corpo que, por enquanto, não apresentava nenhuma mudança. A
barriga que já havia abrigado Clara agora estava plana. Logo, porém, sabia que
estaria arredondada. E lá no fundo já ansiava por ver seu bebê crescer. Sorria
muito imaginando-se caminhando pela cidade no final da gravidez, com uma grande
barriga. No sonho, Clara corria à sua frente e ela sentia um braço protetor de
Lorenzo às costas. Foi nesse momento que Lorenzo interrompeu deus devaneios.
- Espero que seja eu o causador desse sorriso doce. –
Disse ele parado junto do patente da porta.
- É você sim. – Jéssica respondeu. – É sempre você.
Estava aqui pensando que esse bebê será muito amado e terá o melhor pai que eu
poderia lhe dar.
- Não sei se conseguirei ser o melhor. Mas eu vou tentar,
Jéssica. Eu sei que essa gravidez te pegou de surpresa e assustou um pouco, mas
eu não consigo sentir nada além de felicidade. Eu não imaginava que a essa
altura da minha vida eu fosse ter a chance de esperar a chegada de um filho. Eu
já tinha desistido dessa ideia. Até você aparecer.
- Bom saber que a gente mudou a sua vida também. –
Jéssica disfarçou a timidez.
- Muito. Completamente, amor. Antes eu pensava que era
feliz só com o trabalho. Hoje vejo que não era assim, havia um grande vazio na
minha vida, que você e Clara preencheram. E o nosso filho vai tornar perfeito.
Jéssica ficou sem palavras para responder àquela
declaração. Sim, ela também pensava ser feliz, apesar das dificuldades, ao lado
de Clara. E só agora que o tinha ao seu lado, passando força e confiança,
entendia o significava de se sentir completa. Mesmo que as palavras lhe
surgissem, não poderia falar porque Clara invadiu o quarto cheia de animação.
Mas parou ao ver os pais tão sérios e encarando um ao outro. Achou que
estivessem brigando.
- Eu não fiz nada de errado dessa vez, mamãe. – Ela já
avisou. Não queria levar bronca.
- Eu sei, filha. – Jéssica respondeu.
- Então porque estão aqui e não brincando comigo? E
porque você tá na cama essa hora?
- Porque a mamãe dormiu pouco essa noite, Clara. E ela precisa
descansar muito agora. – Lorenzo explicou enquanto pegava Clara no colo e a
colocava na cama, entre ele e Jéssica. – Nós temos uma coisa para te contar.
- O que é, papai?
- Lembra quando você disse que teria um irmão que
cresceria na barriga da mamãe? Esse bebê já está crescendo ali dentro.
- Já papai? Eu sabia! É a minha irmãzinha Ceci. – Ela não
havia esquecido.
Jéssica e Lorenzo riram na inocência e felicidade genuína
de Clara. Não lhe ocorreu nem por um instante sentir um pouco de ciúme ou pensar
que poderia receber menos atenção ou menos presentes dos pais por ter um irmão.
Clara adorou a ideia e tinha certeza se tratar de uma menina.
- Mas e se não for Cecília o nome que nós escolhermos? E
se for um menino? Um irmãozinho, que nome daremos a ele? – Jéssica questionou.
Primeiro Clara pensou, colocou o dedo na boca, mexeu nos
fios loiros de seu cabelo, olhou para a mãe e o pai e decidiu que não sabia.
- Não sei mamãe. Mas eu acho que é a Ceci que tá aí
dentro da sua barriga. – Respondeu.
Lorenzo e Jéssica ficaram satisfeitos. Ao menos, se fosse
menino, eles poderiam escolher o nome já que Clara havia definido o nome da
irmã antes mesmo dela existir. Curiosamente, não passou despercebido de Jéssica
que sempre que se referia ao bebê, Lorenzo falava como se fosse um menino. Isso
não a preocupava em nada.
Sabia que menina ou menino, ele amaria igual. Prova disso era
a atenção que dava à Clara.
Apesar de Jéssica insistir que estava bem o bastante para
acompanhá-los, Lorenzo avisou que levaria Clara para brincar na pracinha do
condomínio enquanto ela repousava. Não houve forma de convencê-lo do contrário.
- Você está grávida, precisa de descanso para meu filho
nascer bem. E se alimentar! Acho que vou assar uma carne agora a noite. – Lhe
explicou e Jéssica notou que ele faria de tudo para vê-la ganhar peso.
- Isso seria uma desculpa para fazer churrasco?
- Também. Eu gosto de assar. Mas é uma boa maneira de
fazer você consumir proteína animal. O que acha Chiara? Quer que papai asse
churrasco?
- OBA! Com coraçãozinho! – Clara adorou a oferta.
- Com coração, para a minha filhinha. – Lorenzo ria,
satisfeito em conquistar seu apoio. – Vá colocar um casaco, Clara. Você vem com
o papai no mercado enquanto a mamãe descansa.
- OK, sou voto vencido. – Jéssica riu, vendo a filha
correr pelo apartamento. – Tenho que ir no hotel ver minha mãe antes que ela
embarque para casa.
- Eu te levo depois. Agora volte para cama e tire um
cochilo. Te fará bem. – Disse Lorenzo antes de pegar as chaves e sair com Clara.
Lorenzo chegou com Clara trazendo as compras e desceu com
a filha para brincar. Retornou, salgou e espetou a carne com Jéssica ainda
adormecida. Antes de colocar fogo na churrasqueira ele a despertou e disse que
era hora dela se trocar para ir visitar Laura.
Durante a rápida viagem de carro, Jéssica estava nervosa.
Iria, enfim, conversar com sua mãe. Para acalmá-la, Lorenzo lhe lembrou que não
precisava encarar como um encontro definitivo. Se elas não tinham mais uma
relação de mãe e filha, que construíssem uma nova. O importante era deixarem
para trás toda aquela mágoa e dar a Clara a chance de conviver com os avós. E
permitir que Laura recebesse o amor dos netos.
Quando chegou ao quarto onde a mãe estava hospedada,
Jéssica não soube como cumprimentá-la. Laura cumprimentou a filha e lhe serviu
chá. Já estava nervosa, achando que ela não viria. Não houve um silêncio
inicial para superar. Tinham um assunto, o mais doce de todos. Clara e seus
cinco anos. Laura estava encantada com a beleza e inteligência de sua neta.
- Clara é uma menina especial, Jéssica. Você teve muita
sorte em tê-la. E
muita dedicação para criá-la. Eu...queria ter estado do seu lado nessa hora.
- Eu nunca me arrependi de tê-la, mãe. Clara é minha
vida.
- Nunca se arrependa, nunca! Ela não merece um sentimento
assim. E... aquele rapaz? Ele a visita?
- Não. Bruno nunca pôs os olhos em Clara e espero que
continue assim. Ele foi preso recentemente.
- Por quê? – Laura sempre soube que a prisão era o
destino de Bruno, mas, estranhamente, a conclusão correta desse fato não a
deixava feliz. Se tivesse se enganado no passado e Bruno fosse um bom homem,
sua filha teria sofrido menos.
- Por me agredir e tentar chantagear Lorenzo, entre
outras coisas. A lista de crimes de Bruno não é pequena. Você e papai estavam
certos o tempo todo.
- Eu não me orgulho disso, filha. Preferia ter me
enganado e saber que vocês estavam juntos e felizes numa família honrada.
- Não foi assim. Nós terminamos quando eu tinha uns
quatro meses de gravidez. Talvez nem isso. – Jéssica assim assumia que tinha
feito uma escolha errada ao não confiar nos pais. – Eu não devia ter saído de
casa, mãe. Me arrependi muito disso.
- E porque não voltou? – Elas estavam frente a frente. As
xícaras de chá preparadas foram esquecidas.
- Com Clara na barriga?
- Sim, com Clara na barriga! Eu e seu pai não somos
monstros. Não íamos te deixar na rua!
Jéssica então contou a mãe tudo o que fez nos últimos
anos, cada sacrifício necessário para dar à Clara uma vida digna. Não foram
anos fáceis. Ela teve de aprender a trabalhar, a ser mãe e a sobreviver sem
ninguém com quem contar nas horas difíceis. Era impossível dizer que as mágoas
daquele período estavam mortas. Elas deixaram marcas muito profundas.
- Papai não me aceita mesmo hoje, mãe! Ele não me olhou
nos olhos! Me escorraçou de casa. E eu nem pedi para ficar. Só fui lhe fazer
uma visita! Porque devo acreditar que ele me acolheria no passado?
- Porque então você estaria sem um teto. Isso ele não
permitiria. – Laura respondeu.
- Ótimo então! Amor eu não mereço, mas piedade sim. Quer
dizer que se ele soubesse que eu passava fome teria me dado um prato de comida,
mas um abraço ele não consegue?
- Seu pai nunca foi muito bom em revelar os sentimentos,
mas ele te ama Jéssica! Disso você não deveria duvidar.
- É a forma como ele me trata que faz com que eu duvide.
Eu não preciso da caridade dele, mãe.
- Dê-lhe tempo, Jéssica. Só isso o permitirá se acostumar
com a ideia de que você tem uma vida honesta e digna, diferente da qual ele
havia imaginado na sua infância. Seu pai só quer a sua felicidade.
- Pois é ele quem me impede de ser completamente feliz.
Minha vida ao lado de Lorenzo é mais feliz do que um dia eu pude imaginar. Por
nada eu abriria mão dele ou de Clara.
- Sim, você parece mesmo muito feliz. E isso acalma meu
coração, Jéssica. – A mãe, enfim, abraçou a filha. – Eu te amo. E vou amar para
sempre. Não importa o que aconteça. Quero que seja sempre feliz ao lado de sua
filha. E, se esse homem, seu noivo, é a fonte dessa felicidade, que seja um
longo relacionamento, com a benção de Deus.
Jéssica havia pensado muito se contava ou não para Laura
sobre a gravidez. Era estranho, não tinham ainda a relação aberta e maternal na
qual as filhas ligam para a mãe e contam esse tipo de coisa, assim, sem nenhuma
preparação. Mesmo assim achou que deveria falar e ver nos olhos da mãe se a
reação seria de recriminação ou felicidade.
- Estou grávida. De uns dois meses, eu acho. – Falou
rápido. – Lorenzo quer adiantar o casamento por isso. Mas eu não me importo. Já
tenho uma filha mesmo. Não é como se eu precisasse me esconder.
Laura olhou para a filha. Ela era tão jovem. Preocupação
e felicidade travaram um luta dentro do coração da avó. Quando a segunda se
sobrepôs, Laura tornou a abraçar a filha e lhe dar parabéns pela gestação.
Aquele abraço e aquele cumprimento que faltaram quando ela esperava Clara.
- Obrigada! – Disse ela para a filha.
- Pelo quê?
- Por me dar a chance de ser sua mãe nesse momento
especial. Eu sei que não foi comigo que você aprendeu a trocar fralda nem a dar
o peito. Mas esse bebê é a minha chance de ser uma avó de verdade. Obrigada por
me deixar saber que ele está a caminho. Eu quero participar da vida dele.
- Você vai participar, mamãe. – Jéssica estava
emocionada, se sentindo amava pela mãe como nunca antes. – Mas não quero que
conte para o papai.
- Não faça isso, Jéssica. Ele...
- Ele vai se envergonhar de mim mais uma vez! Dirá que eu
fui irresponsável, que deveria estar estudando e não tendo mais um filho. Ele
não entende porque Lorenzo se interessou por mim, se souber que espero um
filho, dirá que foi para segurá-lo. Não quero isso. Estou te pedindo para não
contar, mãe. Por favor.
- Está bem. Não contarei. Mas me mantenha informada.
- Sim, claro. O Lorenzo resolveu assar um churrasco agora
a noite. Vem jantar com a gente. – Jéssica convidou.
- Não posso, meu voo sai em duas horas. – A senhora
sorriu. – Bem coisa de gaúcho. Comemorar a chegada do filho com um churrasco.
Gostei de meu genro. Me pareceu um homem íntegro, de boa família e bom pai. E
ele parece te amar muito.
- Sim. E está muito feliz. Estufa o peito para dizer ‘meu
filho’ precisa que você descanse. Acho tão lindo vê-lo assim.
- E ele está certo. Vá para casa, descanse e curta sua
família. Eu vou te ligar para saber como está.
- Vou esperar a ligação, mãe. – Estava, enfim, selada a
paz entre mãe e filha.
Na mala de viagem Laura levava muitas fotos e lembranças
de Clara. Duvidava que o marido não fosse se render por seu sorriso infantil e
olhos curiosos. Clara conquistaria o avô rabugento, Laura tinha certeza.
Jéssica voltou para casa de táxi e ao entrar encontrou
Clara vendo desenhos na sala enquanto o pai virava os espetos na churrasqueira.
Pela quantidade de carne, Jéssica esperava que os pais, avós e irmãos de
Lorenzo viessem jantar. Enquanto mexia na carne, ele falava ao celular. Pelo
que pôde entender, era com Jonas e o assunto o orgulho de ambos por seus
filhos.
- Tudo bem com Emily? – Jéssica perguntou assim que o
noivo desligou.
- Sim, ela saiu da sala de observação e foi para o
quarto. A partir de amanhã pode receber visitas. E, segundo Jonas, Bernardo
está ótimo. E muito esfomeado, o que prova que como todo Vicentin, preza pelos
prazeres da gula! – Ele era só sorrisos. – Tudo bem com a sua mãe?
- Tudo, nós conversamos. Acho que no futuro será mais
fácil. Quem mais vem jantar?
- A família toda vem. Menos Jonas, que não quer deixar
Emily em momento algum. Ele trocou com mamãe por uma hora apenas para tomar
banho e ver Vida. Vai passar a noite lá.
- Ele não se sentiria bem aqui com ela hospitalizada.
- Sim, eu compreendo. Faremos outro churrasco, lá no sul,
quando Emily estiver bem. E nesse Bernardo já participará! – Lorenzo disse
bebendo de uma taça. Pela alegria dele, Jéssica desconfiou que havia bebido um
pouquinho demais. – Agora não posso mais te oferecer cerveja nem vinho. Mas tem
suco.
- Essas crianças já nascem gostando de carne? É isso?
- Quase isso. Mamãe conta que eu e Jonas não tínhamos os
dentes ainda e papai nos dava carne para chupar. – Ele se abaixou e beijou a
barriga ainda plana da noiva. – Com você também será assim. Papai vai te
ensinar a gostar de churrasco desde pequeno.
- Vou tomar um banho e me arrumar para esperar seus pais.
Precisa que prepare algo? Salada? Arroz?
- Não! Milena fará um arroz quando chegar. Salada está
pronta. Vá tomar seu banho.
Após os momentos de tensão no hospital, a família relaxou
na casa do filho mais velho. Vida participou passando de colo em colo enquanto
seus pais não podiam estar ali. Alguns bochichos começaram quando Lorenzo tirou
das mãos da noiva uma taça de bebida alcoólica e aumentaram quando lhe pediu
que sentasse para descansar pela terceira vez. O auge da desconfiança foi
quando ele lhe disse para pegar carne mal passada, pois lhe faria bem.
- É o que eu estou pensando, não é? – Vovó Ângela
perguntou. – Você está esperando um bisnetinho? Eu sei que está! Não minta para
essa velha aqui.
Lorenzo e Jéssica trocaram um olhar comprometedor. Estava
respondido, faltava apenas dizer oficialmente.
- Sim, vovó. Estou grávida. – Jéssica disse para todos
ouvirem. – Como a senhora descobriu?
- Meu neto está agindo como se você fosse feita de um
cristal precioso.
- Ela é muito preciosa, vovó. Por isso a trato com
cuidado. – Lorenzo respondeu. – Só que agora ela abriga meu filho. E devo cuidá-la
ainda mais.
- Vamos fazer um brinde! – Leonel ergueu sua taça. Dessa
vez cheia com cerveja. – À Clara, Vida, Bernardo e ao meu mais novo neto! À
nova geração Vicentin que chega ao mundo para alegrar nossa família.
- Viva! – Todos gritaram. Festa de italianos jamais era
silenciosa.
Enquanto as visitas estiveram proibidas, Jonas era o
único a ter acesso livre ao quarto da esposa. E apesar de ficar na cama e ser
cuidada por enfermeiros estar longe de ser algo bom ou comum em sua vida, Emily
estava feliz. Aquela proibição lhe dava a chance de curtir Bernardo sem ter de
dividi-lo com ninguém. Ninguém além de seu pai, de quem ele havia herdado
alguns dos mais belos traços físicos. Bernardo tinha o mesmo queixo marcado e
lindo de Jonas, os mesmos olhos lindos. Bernardo era uma miniatura perfeito de
seu marido.
- Mamãe ainda não pode embalar você pelo quarto, Bê. Mas
logo logo estarei forte o bastante. Você verá, mamãe e papai vão te levar para
casa.
Emily dividia-se entre beijar e conversar com o pequeno
Bernardo. Por ainda estar convalescendo, não podia erguer-se na cama por
orientações de Leonor. Não ia sequer no banheiro. Os primeiros dias seriam
assim. O resultado disso era depender muito de Jonas. Sempre que Bernardo era
trazido, ele estava junto. Aquele era um momento raro de intimidade entre ela e
o filho. Jonas saiu para falar a sós com a médica por um instante no corredor e
deixou Bernardo sobre seu peito. Ele estava bem aconchegado.
- Acho que
começarei a sentir ciúme do novo membro masculino da família, se só ele
continuar ganhando beijinhos. – Jonas disse ao entrar. – É um chamego só com
essa mamãe.
- Claro papai, eu sou o bebê da minha mamãe. – Emily
respondeu fingindo uma voz infantil.
- Ótimo. Mas agora ele irá voltar ao berçário onde uma
mamadeira o aguarda. E você vai dormir.
- Mas já? Por quê? – Aquele planejamento desagradou
Emily. – Tragam a mamadeira e eu dou.
Jonas já esperava aquela reação. Só mostrava que Emily
continuava sendo a Emily que ele conheceu há tantos anos e que se mostrou aos
poucos, revelando-se uma mulher forte e apaixonante. Desde que Vida entrou na
vida deles, a tinha observado desabrochar. Era como se só agora com quase 40
anos Emily alcançasse a plenitude de sua vida. E Bernardo chegou com sabor de
vitória, veio coroar a família que finalmente se sentia completa e podia dar
adeus ao temor que Emily voltasse a ter a saúde agravada pela endometriose.
No corredor, há poucos instantes atrás, naquele início de
segunda-feira, Leonor lhe trouxe boas notícias. Emily evoluía bem, melhor até
do que o esperado. Leonor creditava isso à sua imensa vontade de viver, ao lado
do marido e dos filhos, de voltar à rotina e ao trabalho. Emily ama a vida que
construiu e agarrou-se a ela com toda a força.
- Porque você precisa descansar, ficar forte, recuperada
e ir para casa logo. – Ele já havia pego Bernardo e o embalava nos braços.
- Mas eu...
- Sem ‘mas’, Emily. Eu vou levar Bernardo para se
alimentar enquanto a enfermeira vem lhe dar banho e trocar os curativos. Eu já
volto.
- Está bem. Não gosto de pessoas estranhas me dando
banho, mas gosto menos da ideia de você aqui vendo isso. – Ela respondeu,
aceitando.
- Pois se acostume. Porque eu já volto e vou ajudar sim
no seu banho. Depois você receberá visitas, Leonor liberou. Então trate de
descansar para poder vê-las.
Emily assistiu Jonas se afastar carregando Bernardo com
segurança. Muito diferente de quando pegou Vida nas primeiras semanas. É, Jonas
sabia o que estava fazendo. E parecia muito satisfeito em cuidar dos filhos
enquanto ela se recuperava. Talvez, ainda mais satisfeito ainda em cuidar dela.
Surpreendentemente, ela já não sentia pesar algum em se deixar cuidar. Era
amada, sabia disso e estava muito satisfeita em curtir aquele momento feliz. Ao
entrarem, as enfermeiras encontraram Emily sorrindo e sonhando com a felicidade
que lhe acenava.
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