Já com o computador em mãos e com um
dispositivo de internet 4G, Rachel conseguiu descobrir que sua fuga foi
amplamente divulgada na mídia. Ela era uma assassina perigosa e violenta que
deveria ser denunciada por qualquer um que a visse. A polícia de Nova York não
tinha pistas de onde ela havia se escondido e existia a possibilidade de já ter
deixado o país.
- Ótimo. Talvez então eu possa ficar
aqui até...por mais tempo. – Rachel disse sentada no sofá da sala enquanto a
mãe secava a louça do almoço.
- Por que diz isso?
- Eles acham que eu fugi pra outro
país. – Ela se sentia mais leve. – Isso significa que eu posso ficar mais
tranquila. Respirar. Parar de ficar o tempo todo pensando em ser presa a
qualquer momento.
- Que bom, filha. – Ela olhou para
trás e viu a escuridão. – Abre a janela, Rachel. Pelo menos a cortina.
- Não. Ninguém pode me ver. Você
sabe. – Ela fechou o notebook. – Eu subo pro quarto e você abre tudo.
-
Não, filha. Eu só não quero você nessa escuridão total. – Nicolle largou o que
estava fazendo, veio até o estofado e, tirando o computador das mãos de Rachel,
sentou-se ao seu lado. – Vem aqui. Deita.
- Vou ganhar cafuné de mãe?
- Vai...como quando era criança. –
Ela começou a acariciar o cabelo da filha e sentiu o colar de pedra esverdeada
que ela nunca tirava. – Lindo colar.
- Foi presente do Neal...pra
Rebecca.
- Rachel...por que você não consegue
deixar a Rebecca no passado e esquecer esse passado. Filha...você já tem
problemas o bastante. Esquece esse rapaz. Você tem vocação pra ser feliz. Eu
quero te ver sorrir.
Ouvindo a conversa, Neal sentiu medo
de que Rachel tirasse ou até destruísse o colar, dando adeus a qualquer chance
de vê-la novamente. Também ainda se assustavam com a facilidade com que Nicolle
conseguia superar o fato da filha ser uma assassina. A mulher era estranha, a
vida de Rachel era estranha.
- Neal me acusou de não existir.
Disse que a Rebecca é a cópia das mulheres que ele amou.
- Ela é?
- Um pouco. Eu as estudei sim,
mas...não era só isso. Elas nunca o amaram como eu amei. Ele se derrete
pela...Sara. Ela é investigadora de seguros e até já ajudou a prender ele e,
mesmo assim, ele prefere ela a mim. Eu matei por ele.
- Isso não é prova de amor, Rachel!
- Eu sei...mas eu iria no inferno
por ele!
- Calma...fala baixo. Ficar 100% do
tempo nesse estado de nervos não vai te fazer bem. Você tem que se controlar.
- Mãe...poucas vezes na vida eu
disse a verdade, pra poucos eu abri meu coração. Mas com ele eu fui sincera.
Quando eu disse que o amava, que a gente podia fugir e ficar juntos...era
verdade. Eu tava disposta a ser a Rebecca pra sempre. Mas ele me tratou feito
lixo! Disse que eu não estava em nenhum dos seus planos.
- Então tire ele dos seus e siga em
frente. Rachel...você lembra quando a gente se mudava e você sentia falta de
algum amigo? Seu pai sempre dizia: sobreviva, apenas sobreviva. Você é uma
mulher linda. Não vão te faltar amores na vida. Você tem que esquecer esse
homem e sobreviver a tudo isso.
- É meio difícil quando eu sei que
tem um pedaço dele dentro de mim! – As frases eram duras, mas vinham secas. Ela
não derramava sequer uma lágrima. – As vezes eu tenho vontade tirar esse bebê
só pra me vingar dele.
- Não diz isso. – Nicolle suspirou.
- Mas as vezes eu quero ficar com o
bebê só pra ter comigo um pedaço dele. – Era difícil pra ela reconhecer isso. -
Maldita a hora que eu coloquei os olhos em Neal Cafrey.
- Filha...carregar um bebê no ventre
é a coisa mais especial que uma mulher pode viver. – Nicolle olhou bem nos
olhos da filha. – Os homens não entendem nada disso. Nunca vão entender a força
que há em ter dois corações batendo dentro de você. Quando você tiver essa vida
nos seus braços você vai amá-la sem nem lembrar que Neal Caffrey existe. Esse
rapaz pode não sentir nada por você, mas ele te deu um presente muito mais
importante que um colar...mas ele fica bem em você. Se te faz bem, use-o.
Combina com seus olhos.
- Por enquanto eu vou deixar ele
aqui.
- Agora chega de tristeza. Eu tenho
uma coisa que pode te animar.
- O quê? - Rachel disse enquanto a mãe ia mexer numa
caixa.
– Veja essa foto. Lembra?
– Veja essa foto. Lembra?
A saudade daquele tempo calou fundo
quando ela colocou os olhos na imagem que tinha quase 15 anos. Ela e Henry,
ainda em Paris, numa antiga estação rodoviária onde marcaram de se encontrar
para conversar. Dalí seguiriam direto para o ensaio de dança. Eram bons tempos.
- Claro que eu lembro. Eu e o
Henry...eu tinha 17 anos aqui e ele tinha acabado de fazer 18. A gente tava
indo ensaiar alguma dança e ele me disse que não estava com vontade dançar, mas
ia pra me acompanhar.
- Vocês tinham uma amizade bonita.
Foi um pecado o que seu pai fez pra afastá-los. O John achava que ele ia tirar
você do caminho que...ele tinha traçado. Mas ele te fazia bem. Não deviam ter
se afastado.
- Nunca nos afastamos...eu sempre
mantive contato com ele.
- Como assim? Seu pai...
- Me proibiu de ver ele. – Ela
sorria falando. – E essa foi a única ordem do papai que eu descumpri na vida.
Eu e o Henry mantivemos contato por todos esses anos, mãe. É um bom amigo.
Alguém a quem eu confiaria minha vida.
- Só amigos...eu sempre achei...
- Hoje só amigos. Já fomos mais...eu
perdi a virgindade com ele, bom...acabou. É um amigo. Eu tenho que mandar uma
mensagem pra ele, inclusive. Se viu os jornais, deve tá nervoso e...numa dessas
o FBI descobre alguma ligação e chama ele.
Por algum tempo Rachel ficou quieta
lembrando daquele tempo. Dias em que estudava, fazia aulas intermináveis de
lutas, música, línguas e, sua preferida, danças. Sorria olhando pra foto.
-
Eu tinha uma acordo com o pai. Se fosse a melhor aluna da turma e tivesse bons
resultados em todas as atividades extra curriculares, no sábado podia fazer a
aula que desejasse...aaa e como era bom dançar.
-
E eram muitas atividades extra.
-
Sim. Pela manhã eu tinha a escola regular. A tarde eu intercalava lutas,
línguas e artes. No sábado a dança...no início papai odiava. Depois parou de
reclamar. Nunca entendi por que.
-
Foi porque ele viu que você já não era uma menina. Era uma mulher linda que
estava desabrochando. E pra uma mulher a sensualidade podia ser uma arma
importante. – O ambiente ficou pesado. - Que pena que eu não trouxe seus
vídeos. Você fez apresentações lindas de dança.
-
Você os tem ainda?
-
Claro, Rachel. Um dia nós ainda vamos assistir juntas.
-
Combinado.
Assim que Nicolle encerrou a
conversa dizendo que ia tomar banho, Mozzie foi até uma caixa e pegou um DVD.
Pelo jeito teria que devolver ou fazer uma cópia, afinal Nicolle parecia
interessada no que ele roubou. Neal tinha dito que não desejava ver, mas isso
podia mudar. Agora ele estava conhecendo um pouco da verdadeira Rachel.
- Não vai mesmo querer assistir o
vídeo?
Neal o olhou pensativo.
- O que pode ter de tão especial?
- São algumas das apresentações a
que a mãe da Rachel se referia. Realmente é bonito. Ela é talentosa. Ela muda
muito de visual desde nova. E Neal...que pernas sua ex tem. Fantásticas.
- Coloque. Vamos ver Rachel dançar.
- Me deixe sozinho, por favor,
Mozzie. Eu preciso pensar em tudo que eu vi e ouvi sobre Rachel. – Disse Neal
pegando uma garrafa de vinho e saindo da sala.
Mozzie resolveu fingir que não
percebeu a raiva que Neal tinha nos olhos. Neal Caffrey podia odiar Rachel
Tarner...mas estava com ciúmes dela.
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