O que deveria responder? O que podia
falar para Miguel? Nada lhe vinha à mente. Ao menos nada capaz de por fim
aquele sentimento de perda. Estavam velando o corpo de um amigo que seria
enterrado após uma morte violenta. Ela e Miguel sofriam ainda a morte de um
casamento, mesmo o sentimento estando vivo. Muito vivo dentro deles. Tanto
quando o fruto dele. O qual ela faria de tudo para Miguel não ficar sabendo por
enquanto.
- Não adianta me ignorar, Liz. Eu
sou seu marido. E eu te amo. – Ele disse em tom baixo, sem fazer alarde aos
demais participantes da reunião.
- Não estamos no lugar adequado,
Miguel. Nem no momento certo.
- Você não me atende, então não me
deixou alternativa.
- Não é por me esquivar de você, é
por não desejar te ver. Nunca mais, Miguel. – Era difícil dizer aquelas
palavras. – Eu quero o divórcio.
- Eu não darei. De forma alguma.
Pode lutar o quanto for na justiça. Eu orientarei aos meus advogados que
coloquem todos os empecilhos possíveis para atrasar o processo até você abrir
os olhos e ver que te amo.
Era difícil resistir. Como sempre,
Miguel sabia o que dizer e quando dizer. Só que dessa vez seu talento único
para enganá-la não iria funcionar. Em meio a tantas inseguranças, a única coisa
da qual não tinha dúvidas era que não poderia passar a vida ao lado de um homem
no qual não confiava.
- Então fique com a certidão de
casamento. Se um papel te vale tanto. Mas mantenha distância de mim.
Miguel ficou chocado com a frieza de
Elizabeth. E, mesmo assim, não acreditava nos sentimentos que ela tentava
transmitir. Sua Liz não era assim. E ela estava sofrendo, muito. Teimosa e
orgulhosa, ela sentia a necessidade de excluí-lo de sua vida como um castigo
pela traição.
- Eu sei o que você leu no meu
celular. E sei que errei. Não tenho como voltar no que aconteceu. Alejandra
está grávida e eu não posso fazer nada para evitar esse sofrimento em você.
- O que deseja que eu diga? Parabéns
papai? Eu não preciso ouvir nada disso, Miguel! Agora seja homem e vá cuidar do
seu filho com Alejandra! Sua mãe deve estar felicíssima. Terá um neto de
Alejandra e...e vocês terão uma nova chance.
- Não! Isso não existe! Alejandra
não é nada. Eu não a quero.
- Não foi o que suas atitudes
demonstraram.
Não adiantava discutir naquele
momento e, respeitando o local onde estavam, Miguel resolveu não insistir mais.
Tentava, talvez pela primeira vez em toda sua vida, manter a calma frente a um
problema daquele porte. Tinha dois avisos concretos para dar a Elizabeth.
- Você é minha mulher e vai
continuar sendo. Goste ou não, Liz. Por isso o banco está emitindo e enviando
para o seu endereço cópias dos cartões de crédito e da nossa conta. Tudo
continua ativo e assim seguirá. Por ordem minha.
- Eu não tocarei em nenhum centavo
seu. – Ela afirmou em desafio.
- É uma escolha sua, mas os recursos
são seus e estarão, sempre, à sua disposição. Além disso, eu pessoalmente e a
BTez, estamos dispostos a ajudar no que precisar nas buscas de Beatriz. Sei o
quanto lhe dói ficar longe de sua irmã e imagino o quão aflita se encontra por
causa desse desaparecimento.
- A investigação não está nas minhas
mãos. E sim com a polícia civil. – Elizabeth respondeu.
- Minta para quem for trouxa de
acreditar, Elizabeth. Você irá atrás de Bia e vai caçar quem ousou machucá-la.
Eu conheço você e sei do amor que tem por ela.
- O que está me oferecendo, Miguel?
- Recursos, caso a Polícia Federal
os negue a você. – Miguel foi direto e agora sabia que Liz o tinha ouvido. –
Cuide-se e conte comigo. Apesar de você não atender as minhas ligações, eu
sempre estarei disponível.
Aquilo ficou na cabeça de Elizabeth.
Miguel podia lhe oferecer recursos, ilícitos, é verdade. Ela não podia interferir
na investigação. E precisava se afastar dele antes que sua gravidez ficasse
evidente ou de nada valeria se afastar. Miguel exigiria manter contato com ela
alegando que tinha direito de paternidade. E ela precisava afastá-lo, antes que
seu coração falasse mais alto e voltasse para os braços do marido.
E sequer pode pensar nisso naquele
momento porque precisava resolver outra questão grave. Eva, sua sobrinha e
afilhada, tão pequena, estava agora sem a mãe. Rafael, seu pai que apenas
recentemente passou a dividir com Bia a guarda da filha, estava muito assustado
com o que aconteceu. Em especial porque a polícia o chamou. Ele era um dos
suspeitos. Então, ao menos inicialmente, ele também não era uma alternativa
para ficar com a menina. Ela estava cuidando da afilhada, mas, com tudo o que
tinha para fazer, pediu que Matheus e Patrícia assumissem temporariamente a
tarefa de ficar com a menina.
- É claro que nós ficamos com ela,
Liza. – Matt disse. – Mas não tem mais nada que possamos fazer? Não dá para deixar
a investigação na mão da Polícia Civil. Não quando nós temos outras
informações.
- Eu sei, Matt. E vou verificar o
que é melhor fazer. Paty, eu vou precisar muito de você.
- Eu...já imaginava.
- Você os conhece. Sabe seu modo de
agir. Já esteve lá. Você será os meus olhos lá dentro, Paty. – Ela olhou para
Matt. – Eu sei o quanto você tenta protegê-la desse mundo. Mas é pela Bia.
- Eu sei. Vou encontrar um meio de
protegê-la, mesmo enquanto pegamos essa gente e resgatamos Bia. Ela é a minha
irmã mais caçula também.
- Obrigada! Eva está com uma babá na
minha casa. Peguem-na, por favor. Ela precisa do carinho de alguém conhecido.
Bia precisava e muito da irmã.
Contava com Liza para tirá-la daquele lugar horrível no qual foi jogada. Horas
sozinha, sem ver ninguém, sem ouvir nada, sem ter o que comer ou beber. Por um
breve momento teve o pensamento de que a haviam deixado lá só para esperar a
morte chegar.
O choro compulsivo não aliviou em
nada seu sofrimento. E ela deixou-o de lado percebendo que só a força e a
inteligência a ajudariam a sair dali. Ficou firme e esperou. Estavam testando-a
e ela mostraria o quão forte poderia ser. Não importa quanto lhe custasse, quão
baixo tivesse que descer ou o tanto de humilhações fosse obrigada a suportar, sairia
com vida dali.
Quando uma porta se abriu a
claridade ofuscou seus olhos. Ela piscou repetidas vezes tentando ver qualquer
coisa. Um homem apareceu e ela apertou o maxilar decidida a não demonstrar o
pânico que a afligia.
- Acordada, ótimo! Você é forte para
remédios. A dose que te deram era para mantê-la apagada por mais tempo. Na
verdade, em algumas podia até ser fatal. Sabe como é, são doses medidas pelo
peso e, às vezes, a gente se engana.
- Quem é você? – Ele tentava lhe
assustar. Se estava ali, era porque a desejavam com vida.
- Regra número 1: calada. Você fala
quando eu mando. Chame-me de Gregory. E sempre me obedeça. Será melhor para
você.
Ele falava sorrindo, como se fosse
natural mantê-la dopada por horas e impor regras. Para ele era mesmo. Gregory nasceu
e cresceu no Brasil. Ainda falava português quase sem nenhum sotaque, mesmo
após muito tempo vivendo na Rússia. Isso tinha suas vantagens, afinal, muitas
das prostitutas também tinham esse país de origem. Falar português era útil. Elas
entendiam suas ordens. E logo percebiam que obedecer era a melhor escolha. Sem
alternativa, Beatriz manteve-se calada.
- Tire a roupa. – Disse acendendo as
luzes do lugar. – Não me ouviu? Tire a roupa.
- Por quê? – Ela não resistiu a esse
novo questionamento e sentiu a face esquerda arder quando ele lhe esbofeteou.
Quando sentiu que ele continuaria, gritou. – AH! Pare!
- Não me questione, Beatriz. Você
vale pouco demais aqui para se arriscar assim. Ou eu deixo você morrer de forme
aqui, jogo seu corpo em qualquer vala e no minuto seguinte trago outra garota
para o seu lugar. Entendeu?
- Si...sim.
- Ótimo! – Repugnante, ele voltou a
sorrir e a gesticular com os braços enquanto acendia um cigarro naquele lugar
abafado. – Agora faça o que mandei. Você está bem fora do padrão de mulheres
que recebo normalmente. Quero ver se você tem potencial para o nosso negócio.
Tire tudo, agora!
De forma geral, as mulheres de
origem russa têm a pele e olhos claros. Mesmo as morenas, têm cabelos muito
finos e delicados. São altas, magras e longilíneas. Belas, sem dúvida. Mas as
latinas, com suas curvas e pele bronzeada, eram sucesso garantido por lá.
Principalmente se bem jovens.
Aquela boate era o que chamavam de
‘classe A’. Atendiam homens poderosos, dispostos a pagar bem por algumas horas
de prazer com a mulher que lhe agradasse. Geralmente, gostavam de peles muito
jovens, meninas, adolescentes. Apreciavam a sensação, falsa na maior parte dos
casos, de que ela ainda era inocente e pouco sabia do que estava fazendo. Desde
que iniciou nesse trabalho, Gregory já havia visto muitas garotas de 15 anos
serem disputadas. Dois, três ou mais homens queriam ser seus primeiros
clientes. Se tinham uma boa atuação com eles, poderiam até tornar-se suas
exclusivas. Mas a maior parte voltava para rua diariamente, até perder a beleza
e o encanto da juventude e se transformar em mais uma prostituta que a boate
oferecia.
No caso de Beatriz, nem mesmo essa
benesse a auxiliava. Segundo Gabriela, Beatriz tinha 29 anos. Muito. Praticamente
fim de carreira. Na visão de Gabriela não faria diferença porque não eram os
lucros que lhe importavam naquele caso. E sim mantê-la ali, distante do Brasil
e a sua mercê. Para Gregory não era bem assim. E ele pretendia fazer dinheiro
da passagem de Beatriz pela boate. Ela precisava pagar a estadia, de uma forma
ou de outra.
Sem alternativa, Beatriz despiu-se
na frente de Gregory. Ele viu uma mulher normal. E muito bonita. Nem gorda nem muito
magra, um corpo bem formado, com curvas capazes de mexer com a libido de um
homem. E também de algumas mulheres. Coxas grossas, quadril redondo, cintura
marcada e seios fartos. Tudo coroado por um rosto harmônico e longos cabelos
castanhos, clareados por luzes. Sim, ela servia para o que precisavam.
- Bonita. Gostosa. Acho que você tem
alguma chance de sobreviver no nosso mundo. – Ele se aproximou e começou a
tocá-la. Estava às suas costas e Beatriz mordeu o lábio inferior para reprimir
o ódio. Ele percebeu seus músculos enrijecendo. - É só me ouvir e aprender a
controlar o seu gênio. Muitos vão te tocar das formas mais íntimas que pode
imaginar. E você terá de fazer mais do que permitir. Vai por um sorriso nessa
cara e fingir que gosta. Meus clientes gostam da ilusão de que estão te dando
prazer. Independente do que você estiver sentindo, é isso o que irá demonstrar.
Entendeu?
- Sim. – O que mais ela poderia
responder ali, sozinha com ele e sem chance alguma de se defender.
- Ótimo. Então sorria. Agora. Vamos
fazer um breve treinamento.
Seus toques foram ficando cada vez
menos leves. Apertando sua carne. Podia sentir o hálito quente em sua nuca e o
tecido áspero da camisa tocando suas costas. Num movimento rápido Gregory jogou
seus cabelos para frente e enquanto arranhava seu pescoço com os dentes,
apertava-lhe os seios fortemente. Desejava machucá-la.
- Ai! – Ela reclamou.
- Quieta. Isso não é nada perto do
que eles farão. Alguns dos clientes têm gostos bem peculiares e você aprenderá
rapidamente que eu não aceito reclamações. Tem de satisfazê-los em tudo. – Ele sussurrou
em seu ouvido. E nesse tom conseguia ser ainda mais ameaçador. Uma de suas mãos
desceu e agora estava dentro dela que, seca, era obrigada a aceitar sua invasão
íntima. – Algumas jovenzinhas se fingem de inocentes e até conseguem
enganá-los. Não é o seu caso. De você eles cobrarão eficiência. Faça-os gozar
rapidamente e lhes arranque dinheiro. Só assim se sairá bem por aqui. Eu
realmente gostei de você Beatriz. Acho que se dará bem, com algum esforço.
- Gregory! Acho que já posso me
encarregar dela. – Foram interrompidos por uma negra alta e bela que entrou sem
se anunciar.
Ela usava um vestido longo e justo.
O tecido marcava suas pernas compridas, grossas e bem torneadas. O decote era
muito profundo e mostrava seios médios e firmes. Seus cabelos alisados eram
muito bem cuidados, assim como a pele. E sua voz disfarçava a raiva que
brilhava nos olhos. Gregory deve ter percebido que a cena a desagradou porque
tirou os dedos de dentro de Beatriz e se recompôs como se nada de anormal
tivesse ocorrido ali.
- Claro, meu amor. – Ele respondeu
sorrindo. Gregory aproximou-se da negra e beijou-a. Beatriz ficou
perguntando-se como ela conseguia aceitar o beijo dele após ter visto-o tocando
outra mulher. – Que acha dela?
- É apenas mais uma. Tem o que eles
gostam. – A negra respondeu ao analisar a novata. Aproximou-se e apertou a
bunda dela. – Bem cuidada. Pele tratada. Pode render alguma coisa. Temos alguns
que gostam desse perfil.
- Foi o que eu pensei também. –
Gregory concordou.
- Se ela souber mexer esses quadris
pode render algum dinheiro. – Por iniciativa dela, trocaram mais um beijo e
logo depois se afastaram. – Como se chama?
- Beatriz.
- Não se te darei um nome de guerra.
Gosto de Beatriz. É, será Beatriz mesmo. Venha comigo. Vou te ensinar algumas
coisas sobre como sobreviver aqui. É ficar atenta. Eu não gosto de me repetir
e, com uma ordem minha, é fim da linha para você.
- E como eu devo chamá-la?
- Samantha. Mas não chame. Espere eu
chamá-la.
Nua como estava, Beatriz seguiu
Samantha pelos corredores escuros daquele lugar imenso. O falatório feminino
vendo de duas portas mais adiante, com guardas na porta, fez Bia acreditar que
conheceria as outras garotas. Mas Samantha seguiu na direção contrária.
Entraram numa porta larga, dupla e, lá dentro encontraram o ambiente mais claro
que ela viu ali, até aquele momento. Lá estavam três macas normais e uma
ginecológica.
- Nós cuidamos aqui das garotas.
Depilação e outras coisinhas. Tenho certeza que você me entende. – Samantha
disse.
- O que vai fazer comigo? – Aquele
lugar, uma espécie de enfermaria clandestina, a fazia sentir calafrios.
- Pouco, se comparado com a outras.
Abra a boca. – Quando Bia demorou, Samantha irritou-se. – Você tem de aprender
a obedecer sem pensar. Abra a boca.
Quando Beatriz obedeceu, Samantha
olhou seus dentes e pareceu satisfeita com o que viu ela estava fazendo uma
análise completa de seu corpo. E com isso conseguia humilhá-la tanto quanto os
abusos de Gregory. Olhava-a como um pedaço de carne onde procurava alguma parte
estragada. Algo que baixasse o valor de compra.
- Você é bem cuidada, garota. Apesar
da idade tem a pele, cabelo e dentes melhores que a maioria que chega aqui. E
está depilada. Lisinha. Do jeito que eles gostam. A maioria, pelo menos. Faz
com cera?
- Sim.
- Ótimo. Se já está acostumada não
vai fazer um escândalo quando for usar essa maca aqui. – Enquanto falava
Samantha preparava uma seringa e Beatriz perguntava-se o que ela faria com
aquilo. – Relaxa o braço. Vai ser só uma picadinha.
- Para que é isso?
- Você é curiosa demais. É um
anticoncepcional. O que você esperava? Ir ao médico regularmente? – Ela aplicou
o remédio e Beatriz aceitou. Àquela altura nada mais a surpreendia. – Boa
menina. Não iria querer se deitar naquela outra maca ali. Os procedimentos
feitos nela costumam ser bem mais desagradáveis que uma sessão de depilação.
Depois de apenas largar a seringa
com a agulha no lixo Samantha abriu um armário e retirou algumas peças de
roupa. Tudo era justo, curto e brilhante. A não ser por uma única peça, um
sobretudo preto.
- Para você chegar nos lugares
quando algum cliente chamá-la. Eles gostam de vagabunda entre quatro paredes.
Elas jamais devem envergonhá-los.
- Eu não vou ficar só aqui?
- Não, eu espero. São as saídas que
rendem mais dinheiro. – Samantha respondeu. – Agora me escute bem, porque não
gosto de me repetir. Normalmente eu teria mais tempo para te treinar. Não será
assim, essa noite mesmo você subirá para o salão.
- É aqui em cima?
- Sim. O alojamento fica no subsolo
da boate. E hoje a noite você estará lá, sorrindo e dançando para atrair
clientes. O que te desejar, e estiver disposto a pagar, leva. Pode ser aqui
mesmo. Há quartos no segundo andar. Se eles gostarem muito de você, te levam
para passar a noite em algum hotel. E nem pense em tentar escapar! Aqui tem
muitas brasileiras e sul americanos, na rua você não entenderia uma palavra.
Além disso, terá guardas esperando por você.
- Eu já entendi isso.
- Ótimo. Então trate de obedecer.
Leve suas coisas. Vou deixá-la no alojamento. Aconselho que descanse e se
arrume bem. Será uma noite interessante.
Quando Samantha abriu a porta
Beatriz viu um lugar bem organizado, apesar da quantidade de garotas. Algumas
estava deitadas, outras conversavam sentadas em roda no chão. Algumas arrumavam
as unhas ou escovavam os cabelos. Apenas uma pequena tela na parte alta da
parede tornava possível a circulação de ar.
- Atenção! – Samantha disse ao
entrar. – Essa é Beatriz, ela começa hoje. Cuidem bem dela. Natacha, é sua
conterrânea. Apresente as garotas.
Natacha, Beatriz logo percebeu, é
uma mulher falante e hiperativa. Não fosse a expressão assustada, poderia
parecer feliz. Sua constituição é delicada. Seios pequenos, cintura muito fina.
Pernas delicadas. Ela parecia não mais do que 22 ou 23 anos. Mas sua pele
parecia envelhecida. A carteira de cigarro em sua mão direita podia ser
responsável por isso. Seus cabelos crespos tinham um tom de castanho quase
avermelhado. Se fosse bem cuidada, sem dúvida seria uma bela mulher.
- Beatriz. Não digo bem vinda porque
não é o caso. Sou Natacha. Você é do Brasil então. De onde?
- São Paulo. E você?
- Pernambuco. Mas faz tanto tempo
que nem me lembro direito. – Ela deu mais uma dragada no cigarro. - A bruxa
negra quer que eu te apresente o pessoal. Então aí vai: A loirinha ali é
Verônica. É mexicana, não aceitou as coisas muito bem. Por isso a cara de
poucos amigos. Naomi é aquela de olhos puxados. Não estranhe se não ouvir a voz
dela. Ela não se manifesta muito. E a loura lá no fundo, de cabelão ondulado, é
Maya. Ela é australiana mau humorada. É só ignorar. Lá no fundo estão Carla, é
brasileira também, Lya é a ruiva, ela nasceu Colômbia. E aquela negra alta é
Bianca, também brasileira.
- Gostam de brasileiras. – Beatriz
disse.
- Gostam de qualquer uma que for
burra o bastante pra eles conseguirem capturar. – Natacha disse, amarga. – Mas
há muitas brasileiras sim. Por isso todos entendem português. Gregory e a bruxa
também são de lá.
- Ela é mulher dele?
- É a puta dele. Saiu daqui, fazia o
mesmo que nós. Seduziu o imbecil e virou exclusiva dele. Fez o idiota casar com
ela e agora posa de rainha. Mas no fundo morre de medo dele se interessar por
outra e ela deixar a realeza. Fique longe dela. O melhor é que ela te esqueça.
Quando implica com alguém ela manda Gregory se livrar da menina. E ele a
obedece. É muito macho pra bater em nós, mas é pau mandado dela. – Só então
Natacha olhou bem para Beatriz. – Você não fazia programas antes né? Não parece
de rua.
- Não. Nunca fiz isso.
- Coitada. Deita naquela cama ali.
Ta vaga. E tenta dormir. Sua noite será exaustiva.
Beatriz só conseguiu seguir uma
parte do conselho. Deitou na cama e tentou descansar. Mas dormir foi
impossível. Estava desesperada demais.
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